Monday, May 31, 2010

Reprodução diferencial

Esse aspecto crucial da teoria darwiniana muitas vezes é mal compreendido. Mais importante que a capacidade de um organismo sobreviver, sob o prisma da evolução, é a sua capacidade de reproduzir-se; de nada adianta um macho ser feroz e cobrir todas as fêmeas se ele for estéril - na próxima geração estarão representados unicamente os genes daqueles poucos competidores que conseguirem burlar a vigilância exercida pela força sobre o harém. Reprodução diferencial, mais que sobrevivência (embora seja óbvio que é preciso estar vivo para reproduzir-se), é o mecanismo da seleção natural; e a proporção relativa de genes associados com características que se revelarem adaptativas, nas gerações seguintes, é que definirá o rumo evolutivo da espécie em questão.

Esta, segundo Ernst Mayr, é uma das maiores inovações introduzidas pelo método darwiniano de interpretar e investigar a natureza: o modo populacional de pensar, em substituição ao pensamento tipológico, de fundo platônico, que só atenta para os tipos ideais, as essências. "Para o tipologista, o tipo (eidos) é real e a variação, uma ilusão, enquanto para o populacionista o tipo (média) é uma abstração e só a variação é real. Não há duas maneiras de encarar a natureza que possam ser mais diferentes".

Marcelo Leite - de Origem à síntese moderna / A Vida Depois do H.M.S. Beagle / Folha Explica Darwin
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Saturday, May 29, 2010

Na internet toda a informação ou surge ou é filtrada pelos amadores. http://dudewearelost.blogspot.com/ é um dos inúmeros endereços que cobriram a saga de LOST com requintes de profissional, ainda que, claramente, produzido nas horas vagas. A chamada "repercussão" do último episódio, nos vários blogs e sites de discussão tende sempre à platitude. Selecionei aqui alguns comentários, vindos do Dude, que considerei interpretações interessantes. Talvez não por acaso, grande parte deles escritos por  gente que ganha a vida como jornalista.

“E no fim não mais importaram os números, as teorias, os mistérios ou mitos. A realidade paralela foi apenas um ponto de encontro daqueles que a todo custo viveram juntos e não queriam morrer sozinhos, a “antessala” do paraíso para os que precisam dar um nome a tudo. Mas o maior feito deste final foi o de criar algo atemporal, completo e ainda assim aberto para (milhões de) interpretações.”

Bruno Carvalho – Ligado em Série

“No fundo, a gente precisa das pessoas. São elas que dão sentido à tudo. E os melhores momentos da vida são aqueles que a gente passa com quem a gente ama. O resto, é tempo perdido.”

Rosana Hermann – Querido Leitor

“Não, as grandes perguntas não foram respondidas – o que é, antes de mais nada, um modo muito inteligente e orgânico de manter a mitologia da série viva ab aeternum (para citar outro pedaço da mitologia). Mas A grande pergunta que os show runners Damon Lindelof e Carlton Cuse decidiram abraçar neste fim de série – a própria natureza humana e seu destino – foi completamente respondida, com a eficácia dos bons contadores de história , em volta da fogueira, desde o princípio dos tempos.”

Ana Maria Bahiana – Hollywoodianas

“Um final que vai dividir os fãs. Mas talvez por um tempo, até que o impacto passe e as idéias sejam organizadas. Então, todos nós estaremos novamente juntos. De certa forma, tivemos sim um final aberto e podemos usar nossas crenças, ou não-crenças, para encontrar uma resposta. Mas sempre terá uma nova pergunta...”

Leco Leite – Teorias Lost

“ Nós, fãs de Lost, perdemos nossa ‘constante’ – a série com a qual nos conectamos com a alma de forma profunda por seis anos, e parece que não perdemos apenas uma série de tv, mas sim um verdadeiro amigo... Obviamente, cada um reage de forma diferente frente esse final, mas para mim particularmente, foi a experiência de tv mais catártica que já tive.”

Kristin dos Santos – Watch with Kristin

“Quanto às respostas que ficaram no ar, confesso que apenas esperava pela resposta final: a de como as duas realidades iriam se encontrar. Isso, sim, era importante para mim, a ponto de me forçar a reexaminar a trama da realidade paralela, a temporada e a série como um todo. E daí que não responderam por que Walt era importante, ou por que as grávidas morriam? Não estou nem aí para Walt; e penso que este último episódio foi uma verdadeira homenagem aos fãs da série - e à série em si.”

Daniel Levi – Papo Série

“Lost contou a história da experiência humana, como todo mundo por aí tem tentado fazer. Imaginação é fazer isso através de um conjunto de histórias fabulosas, fantásticas, literárias, ao invés de me apresentar uma minissérie HBO sobre a Idade da Pedra. É fazer um tratado sobre a circularidade do tempo enquanto joga elementos quase despretenciosos aqui e ali durante seis temporadas. É deixar pontas soltas porque a vida não amarrou todas elas. Boa parte da literatura moderna surge a partir de um grupo de pensadores que descobriu que não há coerência em ser coerente. Aviso novamente àqueles que não prestaram atenção: a vida não amarra pontas.”

Vana Medeiros – Spoiler Cotidiano
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Sunday, May 23, 2010

Algumas coisas mudam; outras, não

SUZANA SINGER
ombudsman@uol.com.br

Inclusão de Palocci entre colunistas e manutenção do nome de Sarney causa preocupação entre leitores

O "Jornal do Futuro" mal começou e os leitores já estão preocupados, principalmente com a renovação do time de colunistas. A despedida, sentida, de Paulo Nogueira Batista Jr., que descreveu seu desligamento como uma "execução sumária", provocou indignação.

Muitos temem que o seu afastamento e a mudança do nome do caderno de Dinheiro para Mercado signifique a rendição a políticas neoliberais. "Ele escrevia sem fazer reverências ao deus mercado e à turma da bufunfa", escreveu o promotor de Justiça e professor universitário Jorge Alberto Marum, 44, de Piedade (SP).

O desconforto dos leitores só aumentou com o anúncio de que o deputado Antonio Palocci passa a escrever sobre economia. Palocci é um dos coordenadores de campanha de Dilma Rousseff e foi investigado por corrupção e por violação de sigilo bancário - em ambos os casos, nem chegou a se tornar réu.

"A Folha vai contratar também o coordenador de campanha do PSDB e dos demais candidatos?", perguntou Fernando Domicildes Carvalho, 58, tradutor.


A Secretaria de Redação afirma que "a Folha, um jornal pluralista, possui colunistas representativos dos mais diversos setores da sociedade e visões de mundo". E que "o fato de Palocci ser da campanha de Dilma não é impeditivo. Ele é ex-ministro da Fazenda e um dos mais influentes parlamentares do PT. Vale ressaltar que sua coluna será publicada no caderno Mercado".

É difícil avaliar se a renovação de colunistas compromete o equilíbrio e o pluralismo de opiniões, porque, até sexta-feira, não havia sido divulgado o quadro completo de nomes.

Mas faz sentido questionar o convite a Palocci, que estava até ontem em Nova York apresentando Dilma a investidores estrangeiros. Uma de suas missões na campanha é torná-la "palatável" aos que temem as ideias da ex-militante de esquerda. Dar-lhe uma coluna agora é, no mínimo, extemporâneo.

JOSÉ SARNEY

Da mesma forma, não faz sentido manter a coluna semanal de Marina Silva. Apesar de ser formalmente "pré-candidata", ela está em plena campanha, ninguém duvida. Pelas regras da Folha, ela só perderá seu espaço fixo depois da convenção partidária, o que deve ocorrer em 10 de junho.

Outra decisão discutível é a de manter a coluna do presidente do Congresso, José Sarney. Desde que estouraram as denúncias contra o senador, no ano passado, o ombudsman recebeu 338 mensagens pedindo seu afastamento do jornal, sem contar as encaminhadas ao "Painel do Leitor".

"Vi as mudanças anunciadas e pensei: só falta chegar a sexta-feira e eu ver aquele nome ali de novo! Para ler a página 2, que tem articulistas excepcionais, eu cubro com um papel a coluna vertical", diz Olga Bolzan Batista, 73.

A Secretaria de Redação afirma que "José Sarney continua sendo uma pessoa muito influente no Congresso e na política nacional".

É justo lembrar que o fato de tê-lo como colunista não impediu a Folha de publicar as denúncias contra o senador. O jornal não o poupou.

Interromper seus artigos durante o tiroteio político mais intenso que ele sofria em 2009 poderia ser visto como uma forma de cercear um dos poucos espaços que Sarney tinha para expressar-se livremente.

O difícil de entender é por que agora, no jornal do futuro, não se atendeu o apelo dos leitores. Como diz a campanha publicitária, "a Folha podia perfeitamente não mudar, mas aí não seria a Folha".

Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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Monday, May 17, 2010

http://dudewearelost.blogspot.com/

 “Sabíamos daquela analogia da rolha e da garrafa que Jacob fez, que a ilha é um mecanismo que impede o mal de se espalhar pelo mundo. Sabemos de Charles Widmore que se ele escapar, é o fim para ‘todos que amamos’. E descobrimos nesse episódio que o homem de preto absorveu toda a luz da ilha, tornando-se a forma do mal puro (o monstro de fumaça). O homem de preto quer sair da ilha, mas só pode fazer isso se todos os candidatos estiverem mortos. E ele não pode matar os candidatos por conta própria – que é o motivo pelo qual o vimos ‘scaneando’ os losties ao longo de seis temporadas (Quem poderia esquecer daquela cena com o monstro cara a cara com Eko, de quem vimos flashes de sua vida)”.

Kristin dos Santos – Watch with Kristin



“Jacob e seu irmão nunca foram os opostos de uma balança. Os dois sempre foram a balança. Pedras ora equilibradas, ora misturadas, ora em desalinho. Eles são Jack, Locke, Desmond, Sawyer, aquilo que eles e que nós encontramos no espelho: existências imperfeitas, capazes de temer e admirar o novo ao mesmo tempo, abraçar e rejeitar o que não entendem, e que por momentos e anos a fio gastam e continuarão despendendo tempo e esforço em entender qual o sentido e os porquês da vida, essa coisa ora bendita, ora miserável, que tanto nos leva a momentos esplêndidos quanto a ânsias de fim. Esperanças e desilusões que nascem, morrem, renascem.”

Carlos Alexandre Monteiro – Lost in Lost 
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tABBAjara

Surgiram comentários de que o show do ABBA na Virada Cultural havia sido fraudado. Que o empresário vendeu o grupo como autêntico e trouxe um cover. Esta matéria do dia 15 de maio mostra que já era sabido que a atração não era o ABBA original.

Virada Cultural é prato cheio para covers

RONALDO EVANGELISTA - Colaboração para a Folha
15/05/2010 - 14h30

Se você está interessado em ouvir sucessos, não importa de quando e não importa por quem, a Virada deste ano não economizou na programação de covers, homenagens, tributos e lembranças póstumas.

Uma das principais atrações, no domingo às 15h em um dos maiores palcos da Virada, é uma versão do grupo sueco ABBA, cujos membros não se apresentam juntos desde 1982. O grupo ABBA The Show tem dois músicos de apoio da banda original e promete "o melhor ABBA desde o ABBA". Nesta quinta, o produtor da banda chegou a ser preso em Goiás acusado de propaganda enganosa.

No palco rock, localizado na avenida São João, a programação já decola com homenagens. Abrindo o palco às 20h toca a banda Grand Mothers Re:Invented, versão dos Mothers of Invention formada por músicos como o baterista Jimmy Carl Black e o tecladista Don Preston, que tocaram com Frank Zappa e prometem composições dele. Na sequência, às 22h, toca a Big Brother & the Holding Co., banda californiana de blues rock que nos anos 60 contou com Janis Joplin como vocalista, no clássico álbum Cheap Thrills. Espere sucessos da época.

Outros tributos acontecem: no Sesc Pompéia, a partir das 20h, a Orquestra Imperial desfila sucessos de antigos bailes. No palco de samba, na República, acontece às 23h homenagem a Wilson Simonal e bandas de samba-rock cantam sucessos do estilo. No palco Bulevar São João, à 1h, os Temptations lembram os tempos de sucessos como My Girl, hoje interpretados pelo cantor Glenn Leonard.

Já no Sesc Consolação, a proposta de versões foi assumida por completo e durante toda a noite acontece a Virada Pop Show, com sósias, aulas de dança e shows de Del Rey em homenagem a Roberto Carlos, Miranda Kassin cantando Amy Winehouse e o grupo Beatles Forever.

Sesc Consolação

18h - Oficina de Games Anos 80
19h - Banda Heroes Canta David Bowie
19h30 - Bee Gees One
20h30 - Grupo Vocal Juke
21h - Jumbo Elektro
21h30 - Michael Jackson Cover
23h - The Presley Band
23h - Madonna Cover
00h30 - Amy Winehouse por Miranda Kassin
01h - Del Rey
03h - The Beatles Forever

Av. São João

20h - Grand Mothers Re:Invented
22h - Big Brother & the Holding Co.
24h - Patrulha do Espaço
1h30 - L.A. Guns
3h30 - Velhas Virgens - Tributo a Adoniran Barbosa
11h30 - CPM 22 - Só Ramones
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Tuesday, May 11, 2010

OS 23 CONVOCADOS

 

Júlio Cesar
Inter/ITA
Goleiro
Doni
Roma/ITA
Goleiro
Gomes
Tottenham/ING
Goleiro

Maicon
Inter/ITA
Lateral

Daniel Alves
Barcelona/ESP
Lateral

Michel Bastos
Lyon/FRA
Lateral

Gilberto
Cruzeiro
Lateral

Lúcio
Inter/ITA
Zagueiro

Juan
Roma/ITA
Zagueiro

Luisão
Benfica/POR
Zagueiro

Thiago Silva
Milan/ITA
Zagueiro

Gilberto Silva
Panathinaikos/GRE
Volante

Felipe Melo
Juventus/ITA
Volante

Josué
Wolfsburg/ALE
Volante

Kleberson
Flamengo
Volante

Kaká
Real Madrid/ESP
Meia

Ramires
Benfica/POR
Meia

Elano
Galatasaray/TUR
Meia

Júlio Baptista
Roma/ITA
Meia

Luís Fabiano
Sevilla/ESP
Atacante

Robinho
Santos
Atacante

Nilmar
Villarreal/ESP
Atacante

Grafite
Wolfsburg/ALE
Atacante

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Sunday, May 09, 2010

Ouvido como citação numa aula de português durante o cursinho em 1980, guardado de cór e, por aproximação, usado como epígrafe para uma faixa de CD em 2000. Localizado pela busca do google em 2010. 30 anos em 30 segundos.

Sou um punhal d´ouro cuja lâmina embotou. A minha alma é esguia - vibra de se elançar. Só o meu corpo é pesado. Tenho a minh´alma presa num saguão. Não sou covarde perante o medo. Apenas sou covarde em face de mim próprio... Tive apenas frio... 

Mário de Sá-Carneiro,  in Eu - Próprio. O Outro
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Flaubert, a julgar pela Bovary, é um grande d-escritor. Pouquíssima paciência tenho para paisagens, ambientes, palavra por palavra, sutileza após sutileza. Vamos aos fatos, como nas histórias infantis, resmunga o leitorzinho imaturo que aluga um cômodo no âmago do meu eu. Vez por outra, no entanto, uma passagem se impõe à atenção. Eis aqui apenas um exemplo.

Era o início de abril, quando as primaveras se abrem; um vento morno rola nos canteiros lavrados, e os jardins, como as mulheres, parecem enfeitar-se para as festas do verão. Por entre os barrotes do caramanchão e ao redor, mais além, via-se na pradaria o rio que desenhava na relva sinuosidades vagabundas. Os vapores da noite passavam entre os choupos sem folhas, esfumando seus contornos com um tom violeta mais pálido e mais transparente do que uma gaze sutil presa sobre as suas ramagens. Ao longe, o gado caminhava; não se ouviam nem seus passos, nem seus mugidos, e o sino, tocando sempre, prolongava nos ares sua lamentação pacífica.

Gustave Flaubert – Madame Bovary

Friday, May 07, 2010

Leituras* apoia também

Especialistas em tráfego e arquitetura apoiam possível demolição do Minhocão


* que não é especialista em porra nenhuma
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Thursday, May 06, 2010

The Vanishing Point

[...] O amor, pensava, devia chegar de repente com grande estrondo e fulgurações - furacão dos céus que cai sobre a vida, transtorna-a, arranca as vontades como folhas e arrasta para o abismo o coração inteiro. Ela não sabia que no terraço das casas a chuva faz lagos quando as calhas estão entupidas e permaneceu assim em sua segurança, quando descobriu subitamente uma fenda no muro.

Gustave Flaubert - Madame Bovary
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The Turning Point


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Tuesday, May 04, 2010

A invenção da adolescência
(03/05/2010)

O triunfo espetacular de As melhores coisas do mundo, de Laís Bodanzky, no Festival de Recife, lança uma forte luz sobre o que parece ser um novo filão do cinema brasileiro: os filmes de adolescentes. Mais precisamente: filmes sobre adolescentes, ou ambientados entre eles.

Outros dois novíssimos longas-metragens abordam esse universo movediço e fascinante: Sonhos roubados, de Sandra Werneck, atualmente em cartaz, e Antes que o mundo acabe, de Ana Luiza Azevedo, que estreia no próximo dia 14. Curiosamente, os três são dirigidos por mulheres.

Mas de que adolescência se fala nesses filmes?

O ambiente social e geográfico de cada um deles é completamente diferente dos outros. As melhores coisas do mundo se passa entre alunos de uma escola de classe média paulistana; Sonhos roubados, em meio a meninas de uma periferia pobre do Rio; Antes que o mundo acabe, numa cidadezinha do Rio Grande do Sul.

O que é a adolescência?

Cotejar esses três filmes talvez seja interessante para averiguar o que há de substrato comum entre experiências de vida tão diversas nesse período tortuoso de passagem da infância à idade adulta. Em outras palavras: existe uma adolescência, assim em abstrato, para além das situações sociais e históricas concretas? Em que consiste ela?

Já vou avisando que não farei esse cotejo aqui e agora, por falta de espaço e de estofo, e por não ter visto ainda o filme de Sandra Werneck.

Gostei bastante dos dois que vi por considerar que suas diretoras tiveram inteligência e sensibilidade para captar justamente as turbulências emocionais dessa fase da vida (que tem muito de "idade das trevas") conjugando o que há de universal e de particular no comportamento e no imaginário dos personagens retratados.

Os sentimentos de rejeição ou de inadequação, as dificuldades de entendimento com os pais, os amores não correspondidos, a insegurança quanto às próprias potencialidades, a angústia diante do futuro, a necessidade de auto-afirmação... Alguns temas parecem aproximar os dois filmes. Mas cada um deles está atento às referências específicas que conformam a experiência de vida e as expectativas de suas jovens criaturas.

Dos garotos e garotas ultra-urbanos de As melhores coisas do mundo, filhos de intelectuais e profissionais liberais, saturados de informação e de códigos globais de comportamento, aos garotos (e garota) de Antes que o mundo acabe, que têm um modo de vida bucólico, quase rural, e só se comunicam com o resto do planeta por meio da internet, há uma distância enorme.

São como primos distantes, mas em todos eles pulsa aquela energia vital tão intensa que, não raro, faz uma fronteira tênue com a morte. É essa intensidade, essa perigosa aproximação ao coração selvagem da vida, que marca a adolescência, ou pelo menos a imagem da adolescência forjada pelo cinema americano (e pelo rock) desde os anos 50.

Quando ia começar a rodar seu Vidas sem rumo (Outsiders, 1983), Francis Coppola reuniu sua equipe e disse: "Este é um filme sobre o crepúsculo". E explicou: a adolescência é como esse momento em que o sol atinge sua maior beleza - e logo em seguida desaparece. É ao mesmo tempo intensa e fugaz: intensa por ser fugaz, fugaz por ser intensa.

Cada uma à sua maneira, Laís Bodanzky e Ana Luiza Azevedo buscaram captar esse crepúsculo sem perder de vista o skyline específico em que ele se dá: os caóticos prédios paulistanos ou as montanhas gaúchas.

E aqui vai, como aperitivo, o trailer do belo Antes que o mundo acabe. Depois que o filme estrear, volto a falar sobre ele aqui* e talvez também na Ilustrada.

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Sunday, May 02, 2010

Alice in Wunderland


http://www.videolife.tk/wasikowska/
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http://www.youtube.com/themcrookedvultures

(onde a tela não está cortada)
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