Wednesday, June 30, 2010

Monday, June 28, 2010

Sunday, June 27, 2010

As pessoas precisam conjugar mais o verbo "me fudi".

Guilherme Fiuza - Capítulo 10 / 40 mil Havaianas - Bussunda: a vida do casseta

Em matéria destacada na revista "Domingo" do Jornal do Brasil, Bussunda aparecia falando de sua vida como se estivesse na sala de casa.

[...] Ao jornalista Mauro Ventura interessavam os bastidores da ascensão de um pirata à TV, mas também seu pensamento, seus hábitos, enfim, o Bussunda way of life. Sem cortes. E o entrevistado não cortava. Dizia que acordava às quatro da tarde, ligava a televisão e passava horas assistindo. Explicava que era natural ter sido convidado para trabalhar na TV, depois de tantos anos esperando sentado em frente a ela.

[...] A psicanálise cura? - indagava o jornal.

- Eu acho que a psicanálise tem cura.

Antes de desligar o telefone, o entrevistado daria um esclarecimento adicional: no seu caso pessoal, a psicanálise tinha ajudado muito. O bom preço das consultas no consultório de sua mãe garantira a ele casa e comida por 25 anos.

Guilherme Fiuza - Capítulo 7 / O famoso Buzunga - Bussunda: a vida do casseta

Os gays estavam entre as minorias prediletas dos piratas. Com a chegada da Aids, eles podiam reunir humor negro e sexista na mesma piada. Seriam duramente questionados por insuflar o preconceito, mas fincariam pé em sua lógica: não se pode fingir que o diferente não é diferente.

Maior amante das piadas sobre gays no grupo, Marcelo Madureira alegava que o combate ao preconceito contra os homossexuais não podia eliminar o direito de rir deles: - O viado é um homem que não é homem. Isso é engraçado. Ponto.

Guilherme Fiuza - Capítulo 7 / O famoso Buzunga - Bussunda: a vida do casseta

A TV Pirata  era tão diferente de tudo, tão malcriada com o status quo, tão abusada no esculacho às instituições e aos costumes que bagunçara os padrões de julgamento. O machismo podia ser caricatura do machismo. A piada de português podia não estar ridicularizando o português, mas a própria piada. Como sempre ocorre quando o senso comum fica confuso, a TV Pirata  ganhou o carimbo de "moderna".

Foi assim que, de modernidade em modernidade, passou a boiada inteira pelo crivo da Globo, da opinião pública, das autoridades. O país tinha só três anos de volta à democracia, o jogo era não censurar nada.

Guilherme Fiuza - Capítulo 7 / O famoso Buzunga - Bussunda: a vida do casseta
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Saturday, June 26, 2010

Friday, June 25, 2010


Monday, June 21, 2010

dois - Luiz Claudio Lins

Sigamos em frente
Como dois cachalotes
Serenos, sonolentos e sábios
Sigamos incrustados
Com nossas lembranças cracas
Com nossos sonhos frascos
Sigamos atentos
Contra as intempéries
Contra os que nos querem fenecidos
À espera do nosso âmbar.

Sigamos marinhos
Admirando
A elegância dos cavalos
A alegria das lontras
As tatuagens dos marujos.

Sigamos amigos
Sem sangue nas feridas
Singrando entre os males
Com nossos corpos pachorrentos
Nossos corações imensos
Imersos
sob os sofrimentos.

Sigamos, então, encostados
Sabendo que o eco do nosso canto
É que nos protege
Daquilo e daqueles
que teimam em seguir nosso rastro.

Junho - 2007

http://istomefazbem.blogspot.com/ 
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Thursday, June 17, 2010

Wednesday, June 16, 2010

[...] Dou outra fungada nas amilas e quando chego ao bar meu coração está tomado de alegria. Eu me sinto uma reencarnação monstruosa de Horatio Alger... um Homem em Movimento, doente o bastante para se sentir totalmente seguro de si.

Hunter S. Thompson - parágrafo final de Medo e Delírio em Las Vegas

"Quem faz de si um animal selvagem fica livre da dor de ser um homem." - DR. JOHNSON

Medo e Delírio em Las Vegas - Epígrafe

Tuesday, June 15, 2010

Era um ambiente tão sórdido, tão imundo, que não parecia impossível se safar argumentando que se tratava de uma "reprodução tridimensional" inspirada na Haight Street para mostrar aos policiais do resto do país o teor de sujeira e degeneração que os drogados eram capazes de alcançar se não fossem detidos.

Mas que tipo de viciado precisaria de tantos cocos partidos ao meio? E as cascas de melão? Será que as drogas justificariam a presença de tantas batatas fritas intocadas? De poças de ketchup endurecido na cômoda?

Talvez. Mas como explicar toda a bebida? E as fotos pornográficas grosseiras, arrancadas de revistas de quinta categoria como Vadias da Suécia  e  Orgias no oásis, pregadas no espelho quebrado e com jatos de mostarda que tinham virado crostas amarelas... e todos os sinais de violência, as estranhas luzinhas vermelhas e azuis, os cacos de vidro fincados no gesso da parede...

Não; aquilo não eram as marcas de um viciado normal, temente a Deus. Era selvagem demais, agressivo demais. Aquele quarto continha evidências de consumo excessivo de todos os tipos de drogas conhecidas pelo homem civilizado desde 1544. Só poderia ser explicado como uma espécie de montagem, uma forma exagerada de exposição médica, armada com muito cuidado para demonstrar o que poderia acontecer se 22 drogados barras-pesadas - cada um com um vício diferente - fossem trancados juntos no mesmo quarto por cinco dias e cinco noites, sem descanso.

De fato. Mas é claro que isso nunca aconteceria na Vida Real, cavalheiros. Armamos todo esse negócio somente  para fins de demonstração...

De repente o telefone começou a tocar, me arrancando do estupor das minhas fantasias. Encarei o aparelho. Trrrriiiiimmmmmmm... Jesus, e agora? Será? Sou quase capaz de escutar a voz aguda do Gerente, o sr. Heem, informando que a polícia estava a caminho do meu quarto e pedindo que eu fizesse a gentileza de não atirar na porta quando eles começassem a arrombá-la.

Trriiiimmmm... Não, eles não telefonariam antes. Assim que decidissem me pegar, imagino que armariam uma emboscada no elevador: primeiro gás de pimenta, depois espancamento. Aconteceria sem aviso.

Atendi o telefone. Era meu amigo Bruce Innes, ligando do Circus-Circus. Havia encontrado o sujeito que queria vender o macaco pelo qual eu tinha me interessado. Custava 750 dólares.

"Mas com que tipo de verme ganancioso estamos lidando?", perguntei. "Ontem à noite era quatrocentos".

Hunter S. Thompson - 12. Voltando ao Circus-Circus... Atrás do macaco... Que se dane o Sonho Americano - Medo e Delírio em Las Vegas
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No momento (nesta desventurada Era Nixon), estamos todos buscando a sobrevivência. Nada restou da velocidade que abasteceu os anos 60. Os estimulantes estão saindo de moda. Esse foi o efeito fatal na viagem de Tim Leary. Ele cruzou os Estados Unidos vendendo a "expansão da consciência" sem parar para pensar nas realidades sinistras e dolorosas à espera das pessoas que o levaram à sério demais. Depois de West Point e do Sacerdócio, para ele o LSD deve ter parecido completamente lógico... Mas não fico exatamente satisfeito ao saber que ele se deu muito mal, porque acabou levando muitos outros consigo.

Não que isso tenha sido injusto: sem dúvida eles Tiveram o que Mereciam. Todos aqueles usuários de ácido pateticamente entusiasmados, achando que poderiam comprar Paz e Compreensão por três dólares a dose. Mas sua perda e seu fracasso também são nossos. Em sua derrocada, Leary levou consigo a ilusão central de todo um estilo de vida que ele mesmo ajudou a criar... uma geração de mutilados permanentes, perseguidores fracassados, que nunca compreenderam a falácia mística essencial da Cultura do Ácido: o pressuposto desesperado de que alguém - ou ao menos alguma força - está cultivando a Luz no fim do túnel.

Hunter S. Thompson - 11. Fraude? Furto? Estupro? Um momento brutal com a camareira Alice - Medo e Delírio em Las Vegas
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Monday, June 14, 2010

A experiência é como um farol iluminando para trás.

Pedro Nava
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Saturday, June 12, 2010

[...] Parece uma vida inteira, ou no mínimo uma Grande Era - o tipo de auge que nunca mais volta. San Francisco na metade dos anos 60 era um lugar muito especial para estar, em um tempo muito especial para viver. Talvez tenha significado algo.


[...] Havia loucura rolando por todos os lados, a qualquer hora. [...] Todos compartilhavam uma sensação fantástica de que estávamos fazendo algo correto, mesmo sem saber o que era... sentíamos que estávamos vencendo...

E acho que essa foi a armadilha - essa sensação de vitória inevitável sobre as forças do Antigo e do Maligno. Não num sentido cruel ou militar; não precisávamos disso. Nossa energia simplesmente prevaleceria. Lutar não fazia sentido - tanto no nosso lado como no deles. Aquela era a nossa hora; estávamos na crista de uma onda imensa e linda...

E agora menos de cinco anos mais tarde, basta subir um morro íngreme de Las Vegas e olhar para o Oeste com a predisposição adequada para quase enxergar a marca da maré - o lugar onde aquela onda enfim quebrou e se retraiu.

Hunter S. Thompson -  Medo e Delírio em Las Vegas /-http://ralphsteadman.com/
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Wednesday, June 09, 2010

Monday, June 07, 2010


Menos cor no arco-íris

Em ano eleitoral, Parada Gay evitou colorido para defender projeto que torna homofobia crime; nenhum pré-candidato à Presidência apareceu

Neste ano, a Parada Gay de São Paulo foi menos colorida que o habitual.

Encontrar as tradicionais bandeiras do arco-íris não foi tarefa fácil. As espalhafatosas drag queens estavam lá, porém em número escasso.

Pessoas fantasiadas - cueca de couro, peruca Tina Turner ou roupa apertada de oncinha - também eram vistas apenas aqui e acolá.

Não que a 14ª edição da Parada Gay tenha sido esvaziada ou desanimada.

Pelos cálculos dos organizadores, 3,5 milhões de pessoas encheram a avenida Paulista e a rua da Consolação dançando atrás de trios elétricos - 400 mil a mais que no ano passado. A Polícia Militar não fez contagem.


Neste ano, a organização decidiu que os trios seriam monocromáticos. E pediu a gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, simpatizantes e curiosos que comparecessem sem cor.

Observada do alto, a marcha do orgulho gay poderia ser confundida com micareta ou festa de Ano Novo.

"Não deveríamos esconder a bandeira. É a nossa marca", reclamava a drag queen Samara Rios, 28, luxuosamente vestida como a Rainha Vermelha de Alice no País das Maravilhas.

A razão da falta de cor foi política. A parada quer que os pré-candidatos à Presidência da República se comprometam com um projeto de lei, em tramitação no Congresso, que transforma a homofobia em crime, da mesma maneira que o racismo.


"Gente, vamos votar num candidato que apoie nossa luta", discursou um militante num dos trios elétricos.

Nenhum dos principais pré-candidatos apareceu.

Quem foi à festa creditou a falta de plumas e paetês ao excesso de "simpatizantes".

"Cheguei na menina, e ela disse que gosta de homem", queixava-se a atendente de bar Marisol Dionísio, 22.
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Sunday, June 06, 2010

Wednesday, June 02, 2010

Aos 103, morre bailarino Kazuo Ohno


Morreu ontem, aos 103 anos, por insuficiência respiratória, Yoko Ohno. O artista japonês fundou, ao lado de Tatsumi Hijikata, o gênero de teatro-dança conhecido como butô.
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Charles Darwin
Origem das Espécies, pg. 366 [489-490]

É interessante contemplar-se uma vertente verdejante revestida de diversos tipos de plantas, com pássaros cantando nos ramos das árvores, uma variedade de insetos adejando pelo ar, além dos pequenos seres vivos rastejando naquela terra úmida, e então refletir que essas formas construídas de maneira tão elaborada, cada qual tão diferente da outra, e contudo de uma interdependência tão complexa, teriam todas sido produzidas por leis que prosseguem atuando neste nosso mundo. E essas leis, de maneira geral, são as que se seguem: a do Crescimento, que caminha ao lado da de Reprodução; a da Hereditariedade, quase sempre englobada na precedente; a da Variabilidade, decorrente da ação direta e indireta das condições externas de vida e do uso e desuso; a da Multiplicação dos Indivíduos, tão acelerada que acaba por acarretar a Luta pela Existência, e consequentemente a da Seleção Natural, atrás da qual seguem a da Divergência dos Caracteres e a da Extinção das Formas menos aptas. Assim, é da batalha natural, é da fome e da morte que advém o mais elevado objetivo que somos capazes de conceber: a produção de animais superiores. Existe efetiva grandiosidade neste modo de encarar a Vida que, juntamente com todas as suas diversas capacidades, teria sido insuflada numas poucas formas, ou talvez numa única, e que, enquanto este planeta continua a girar, obedecendo à imutável Lei da Gravidade, as formas mais belas, mais maravilhosas, evoluíram a partir de um início tão simples, e ainda prosseguem hoje em dia neste desenvolvimento.

Marcelo Leite - As Lágrimas de Darwin / A Vida Depois do H.M.S. Beagle - Folha Explica Darwin
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