Sunday, August 04, 2013

25 - 52 = 624


Longa vida aos 25 policiais militares da tropa de elite paulista acusados da morte de 52 presos que estavam no terceiro pavimento do pavilhão 9 do Carandiru no dia 2 de outubro de 1992 para que possam desfrutar cada minuto das 24 horas dos 365 dias de cada um dos 624 anos de reclusão a que cada um foi condenado. Endereço garantido, depois disso, para eles, no Maranhão do Inferno que terá, finalmente, governo de José Sarney em pessoa e onde, como se sabe, o Bumba-Meu-Boi é tocado com levada de tecno-brega, todas as toadas começam com a palavra "Prepara!" e o IDH é igualzinho ao do Maranhão aqui da Terra. Que as pulgas de mil camelos infestem desde já o cu de cada um dos 25, dos outros 23 condenados em abril, do Sarney e dos que, como ele, ainda não foram a julgamento e que seus braços sejam muito curtos para coçar, por toda a eternidade.

Saturday, August 03, 2013

Retomar a Paulista


FOLHA DE SÃO PAULO - Editorial 13/06/2013

Oito policiais militares e um número desconhecido de manifestantes feridos, 87 ônibus danificados, R$ 100 mil de prejuízos em estações de metrô e milhões de paulistanos reféns do trânsito. Eis o saldo do terceiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL), que se vangloria de parar São Paulo - e chega perto demais de consegui-lo.

Sua reivindicação de reverter o aumento da tarifa de ônibus e metrô de R$ 3 para R$ 3,20 - abaixo da inflação, é útil assinalar - não passa de pretexto, e dos mais vis. São jovens predispostos à violência por uma ideologia pseudorrevolucionária, que buscam tirar proveito da compreensível irritação geral com o preço pago para viajar em ônibus e trens superlotados.

Pior que isso, só o declarado objetivo central do grupelho: transporte público de graça. O irrealismo da bandeira já trai a intenção oculta de vandalizar equipamentos públicos e o que se toma por símbolos do poder capitalista. O que vidraças de agências bancárias têm a ver com ônibus?

Os poucos manifestantes que parecem ter algo na cabeça além de capuzes justificam a violência como reação à suposta brutalidade da polícia, que acusam de reprimir o direito constitucional de manifestação.

Demonstram, com isso, a ignorância de um preceito básico do convívio democrático: cabe ao poder público impor regras e limites ao exercício de direitos por grupos e pessoas quando há conflito entre prerrogativas.

O direito de manifestação é sagrado, mas não está acima da liberdade de ir e vir - menos ainda quando o primeiro é reclamado por poucos milhares de manifestantes e a segunda é negada a milhões.

Cientes de sua condição marginal e sectária, os militantes lançam mão de expediente consagrado pelo oportunismo corporativista: marcar protestos em horário de pico de trânsito na avenida Paulista, artéria vital da cidade. Sua estratégia para atrair a atenção pública é prejudicar o número máximo de pessoas.

É hora de pôr um ponto final nisso. Prefeitura e Polícia Militar precisam fazer valer as restrições já existentes para protestos na avenida Paulista, em cujas imediações estão sete grandes hospitais.

Não basta, porém, exigir que organizadores informem à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), 30 dias antes, o local da manifestação. A depender de horário e número previsto de participantes, o poder público deveria vetar as potencialmente mais perturbadoras e indicar locais alternativos.

No que toca ao vandalismo, só há um meio de combatê-lo: a força da lei. Cumpre investigar, identificar e processar os responsáveis. Como em toda forma de criminalidade, aqui também a impunidade é o maior incentivo à reincidência.

Flores de Inverno


ANDRÉ SINGER

Muitos perguntam se as jornadas de junho retornarão na primavera. Parodiando a presidente, responderia que não podem voltar porque nunca foram embora. A diferença é que, agora, apresentam em separado as cores que se juntaram no ramalhete daquele outono.

Em julho, uma pluralidade de tendências se fez presente na avenida, algumas delas tensamente contrapostas entre si. Ou alguém acha que os peregrinos do sumo pontífice no Rio de Janeiro viram com simpatia a Marcha das Vadias, com mulheres dançando sobre a imagem de uma santa, passar na mesma faixa de trânsito em que pouco depois apareceria o papamóvel?

A fragmentação do inverno era inevitável, porque não se tratava de um movimento, mas de vários, como ficou claro no auge do outono quente, a famosa quinta-feira em que o Itamaraty foi atacado. Naquela noite, de suposta alegria pela redução das passagens, o próprio Movimento Passe Livre foi expulso da av. Paulista.

Em artigo recente, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos escreveu que "a conjuntura é fascistoide". Aponta que "os de boa-fé, os lúdicos, os solidários com as iniciais demandas sobre transporte, até mesmo sobre saúde e educação", saíram das demonstrações. Teriam ficado apenas "grupos anônimos de jovens de algumas posses, grupos neonazistas e pré-fascistas, organizações niilistas nacionais e internacionais, além das gangues ordinárias de ladrões e assaltantes" (Valor, 26/7).

O professor tem razão quanto ao fato de que pequenos agrupamentos ultramobilizados são capazes de ocupar a cena com ações de impacto, mesmo tendo representatividade próxima a zero.

O fenômeno está, no entanto, longe de esgotar a pauta hoje nas ruas, como se pôde ver nas manifestações de médicos, funcionários da Infraero, delegados da Polícia Civil e demitidos da TAM, para ficar só em algumas das corporações mobilizadas nesta semana em São Paulo. Sem mencionar que as centrais sindicais marcaram outra data nacional de pressão unificada para 30/8.

Na verdade, as demonstrações de junho assinalaram um ponto de inflexão a partir do qual os diversos segmentos organizados da sociedade tendem a se mexer em função dos seus interesses. Não foi um gigante que acordou, mas as suas diferentes classes, frações de classe e grupos que resolveram sair da passividade.

Com isso, abriram uma conjuntura nova, em que a luta social ganha maior intensidade e radicalidade. Será um teste de fogo para o lulismo, cujo modelo implica arbitrar forças, evitando o confronto entre elas. Ocorre que, desatado o processo de mobilização, as negociações se tornam mais difíceis. Ou, em alguns casos, impossíveis.