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SIMPÓSIO SOBRE ANÁLISE DE CRIANÇAS
(1927)
Nota Explicativa da Comissão Editorial Inglesa
Em artigos anteriores, Melanie Klein estava preocupada apenas em relatar seu trabalho. Nesse simpósio com Anna Freud o seu tom muda e ela passa a defender de forma direta seu ponto de vista. Há apenas um outro texto, a Introdução a A Psicanálise de crianças, em que Melanie Klein se refere às diferenças entre ela própria e Anna Freud.
O problema entre as duas é a natureza da análise de crianças. Trata-se de um equivalente da análise de adultos? Melanie Klein argumenta, como já fizera um ano antes, em "Princípios psicológicos da análise de crianças pequenas", que a analogia é perfeita: a criança forma uma neurose de transferência e apresenta, através de sua brincadeira, o equivalente das associações livres do adulto para o analista, cuja única função é analisar ao máximo tudo o que seu pequeno paciente lhe traz. Nessa época, Anna Freud tinha uma opinião contrária a respeito de todos esses pontos. A discordância entre as duas vinha das concepções divergentes que tinham da mente da criança e da natureza da ligação entre ela e os pais.
Igualmente importante é a discussão acerca do superego. Num artigo anterior, Melanie Klein apresenta uma concepção do superego em que esse surge numa idade bastante tenra com uma forma severa e cruel, desenvolvendo-se lentamente até se transformar numa consciência mais normal. Aqui ela oferece uma explicação para o fato de o superego primitivo ser tão cruel. Seu argumento é que a natureza rigorosa, punitiva e irreal do superego se origina dos impulsos sádicos e canibalescos da própria criança, opinião que Freud, em uma de suas poucas referências publicadas a Melanie Klein, endossa em uma nota de pé de página de O mal-estar na civilização, E.S.B. 21, p.133. Melanie Klein parte desse ponto para chegar a uma conclusão de ordem terapêutica. A tarefa da análise de crianças não pode ser fortalecer um superego frágil, como acredita Anna Freud; ao contrário, ela deve reduzir a força excessiva do superego primitivo. Ao longo de todo o artigo, Melanie Klein enfatiza a importância fundamental de se analisar a ansiedade e a culpa. Um relato de seus escritos a respeito do superego está na Nota Explicativa de "O desenvolvimento inicial da consciência na criança" (1933).
Nessa época, Melanie Klein já tinha uma experiência de oito anos analisando crianças e ao longo desse simpósio apresenta suas descobertas sobre a técnica num exame que continua e amplia o relato do artigo anterior. Ela chama atenção para a necessidade de se analisar não só a transferência positiva, mas também a transferência negativa, visando uma maior eficácia da análise e protegendo os pais de atitudes negativas não-analisadas. Discute os modos de comunicação da criança, a quantidade de material que ela apresenta e a relação do analista com os pais dos jovens pacientes. Melanie Klein também registra suas opiniões a respeito dos métodos a que se opõe. Avalia em particular os efeitos negativos da análise incompleta do material e do uso de técnicas introdutórias não-analíticas, assim como de procedimentos educacionais ou diretivos. A descrição mais completa de sua técnica do brincar pode ser encontrada em A Psicanálise de Crianças. "A técnica psicanalítica através do brincar" ("The Psycho-Analytic Play Technique") (1955) apresenta uma história dessa técnica e as anotações clínicas diárias de Narrativa da análise de uma criança (Narrative of a Child Analysis) (1961) mostram Melanie Klein trabalhando.
Este artigo também contém novas descobertas sobre o complexo de Édipo. Numa nota de pé de página de um artigo anterior ("Uma contribuição à psicogênese dos tiques"), Melanie Klein afirma que a mãe, ao desmamar e treinar o bebê para os hábitos de higiene, faz com que a criança se volte para o pai. Agora, ela afirma explicitamente que o complexo de Édipo e, portanto, a formação do superego, começam no desmame. Também coloca o auge do complexo de Édipo em outra época, de modo que ele não coincide mais com o fim da infância inicial e a aproximação da latência, como na teoria de Freud. Para ela, aos três anos de idade a criança já atingiu a parte mais importante de seu desenvolvimento edipiano. Para um exame do trabalho de Melanie Klein a respeito do complexo de Édipo, o leitor deve consultar a Nota Explicativa de "O complexo de Édipo à luz das ansiedades arcaicas" (1945).
KLEIN, Melanie. Amor, Culpa e Reparação e outros trabalhos 1921 - 1945