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Friday, January 28, 2011

Quando o assunto é África...


Fábio Zanini
24 / 01 / 2011

O Egito é o próximo?

As últimas semanas transplantaram para o norte da África uma tese que já esteve em voga no Sudeste Asiático, Leste Europeu e América Latina, sobretudo no auge da Guerra Fria: a teoria do dominó.

Diz a tese que a queda do ditador da Tunísia há duas semanas provocará algo semelhante em regimes totalitários na região. O próximo a passar por uma revolução democratizante já está escolhido: seria o Egito.

Isso sim seria um terremoto geopolítico. A Tunísia é inspiradora e simbólica, sem dúvida, mas periférica do ponto de vista geográfico, econômico, militar e populacional. O Egito tem 80 milhões de habitantes e a capacidade de mudar o panorama do Oriente Médio. Nada na região se decide sem sua opinião.

Mas realmente há condições suficientes para um repeteco?

À primeira vista, sim: um regime autoritário, um ditador decrépito no poder (Hosni Mubarak, há longos 30 anos), uma bomba populacional prestes a entrar em ignição: sem emprego nem perspectiva, o número crescente de jovens zangados só pode mesmo explodir em cima dos governantes.

Em tese, portanto, Mubarak tem de se coçar, e rápido, antes de ser a Maria Antonieta da vez.

Na vida real, é bem mais complicado, e se tem uma aposta que eu faria (e que eu gostaria, honestamente, de perder) é de que a hora de Mubarak ainda não chegou.

Colocar Tunísia e Egito no mesmo saco apenas porque são árabes é como igualar Brasil e Argentina apenas porque são latino-americanos.

Primeiro, porque o Egito é “grande demais para mudar”, parodiando a expressão que ficou famosa durante a última crise financeira, em que bancos não fechavam porque eram “grandes demais para falir”.

O Egito é aliado dos EUA e, visto do Pentágono, é um bastião de estabilidade numa região conturbada.

Mesmo que essa estabilidade seja na base da porrada, e mesmo que a mudança seria para melhor, haveria inevitavelmente um período de incerteza (como o que vive agora a Tunísia). Esse curto período seria perigoso demais, segundo a tese dominante em capitais ocidentais.

Segundo, o Egito tem uma “desculpa” que vem a calhar para se manter repressor: do outro lado estão os islâmicos da Irmandade Muçulmana. Noves fora o fato de a maioria desse grupo negar o fundamentalismo, eles assustam o suficiente. Seu pedido de democracia, de “um homem, um voto ,“é repelido com uma expressão carregada de sarcasmo: “um homem, um voto, uma vez”.

Ou seja, a democracia (um homem, um voto) seria a porta de entrada para levar ao poder regimes que logo depois aboliriam o sufrágio universal, a democracia.

Na Tunísia, lembremos, nunca houve nada que se assemelhe a um movimento islâmico forte.

O Egito, também, não tem classe média forte e secular como na Tunísia. Ironicamente, algo que é um tributo ao governo que acabou derrubado.

Por fim, como disse a última edição da revista britânica Economist, a repressão total à imprensa tunisiana (ao contrario da egípcia, que é um tanto mais livre) tirou do governo um mecanismo de aferição do nível de descontentamento social. Quando perceberam o tamanho da crise, já era tarde. Mubarak tem mais mecanismos de fazer jogadas populistas antes que o tsunami ataque.

Por isso, a tese de que o Egito é o próximo, é muito simpática. Mas ainda pago para ver.

Escrito por Fábio Zanini às 23h22

Monday, January 24, 2011

Separação do Sudão recebe aval de 99% em referendo

Cerca de 99% dos sudaneses do sul votaram a favor da sua secessão, aponta a apuração oficial do referendo que foi realizado na semana passada.

O site da Comissão do Sudão do Sul para o Referendo já mostra que cerca de 3,64 milhões de pessoas nos 10 Estados do sul votaram pela separação contra apenas 16 mil favoráveis à unidade.

Os números finais oficiais deverão ser divulgados no dia 7 de Fevereiro, se não houver recursos.

Se a secessão se confirmar, o mundo terá um novo país, a partir de 9 de Julho. Este deverá ser também o país mais pobre do planeta.

Realizada entre os dias 9 e 15 de Janeiro, a votação estava prevista nos acordos de paz assinados a 9 de Janeiro de 2005, pretendendo pôr fim a duas décadas de guerra entre o norte e o sul, com um saldo de aproximadamente 2 milhões de mortos.

A eleição só seria dada como válida se 60% da população comparecesse às urnas.

Surpreendentemente, a participação foi de aproximadamente 96%.

As autoridades do sul da nação africana têm-se contido na reacção aos resultados preliminares e alertado os sudaneses contra comemorações antecipadas que poderiam criar tensão com o governo do norte.

Um membro do alto escalão do Partido do Congresso Nacional disse que iria esperar até ao anúncio final. «Mas a expectativa é que o resultado será de secessão», disse.

«O partido está a trabalhar agora nas questões pós-referendo, como a delimitação das fronteiras. Nós estamos a fazer o nosso melhor para nos prepararmos para as consequências da secessão», acrescentou.

O nome da nova nação é uma incógnita. Poderá ser Sudão do Sul ou Kush, nome para uma das primeiras civilizações da região, que apareceu por volta de 1500 a.C.

Copyright Diário Digital 1999/2011 - http://diariodigital.sapo.pt


RESULTADOS

Com mais de metade dos resultados dos dez estados do Sul do Sudão, anunciados, a comissão do referendo continua a juntar os dados que lhe vão chegando e a separação vai registar uma vitória arrasadora.

Com 83,4 por cento dos votos contados no Sul, mais o norte e o estrangeiro, 98,6 por cento votaram na secessão.

Em termos numéricos, às 18h00 horas de hoje os votos de 3.197.038 eleitores tinham sido contabilizados e só 1.4 por cento é que escolheram a separação.

Mesmo no Norte do Sudão, com a contagem completa, 57,6 escolheram a independência contra 42,4 que querem a unidade.

O resultado mais surpreendente foi o dos sulistas a viverem no Darfur: 55 por cento escolheram a unidade.

No Condado de Lafon, na Equatória Oriental, o voto foi 100 por cento para a separação.

Os resultados podem ser seguidos no sítio preparado pela Comissão do Referendo do Sul do Sudão.

http://jirenna.blogspot.com/

Sunday, August 08, 2010

Parece mentira!

Em 1997, Charles Taylor havia acabado de ser eleito presidente da Libéria, por uma votação esmagadora, muito na base da intimidação. É famoso um slogan de campanha: “Ele matou meu pai, matou minha mãe, mas eu voto nele”. Um ex-líder guerrilheiro, Taylor prometia a paz se eleito - mas apenas se eleito.

Leia mais sobre o atual julgamento de Taylor e o depoimento de ninguém menos que... Naomi Campbell, em Haia, em:

Thursday, August 05, 2010

Wednesday, July 14, 2010

03/05/2010
Fome, como eu nunca tinha visto

Fábio Zanini

Juba (Sudão) – Fome. Eu já andei razoavelmente pela África para ver gente obviamente com fome, prostrada e sem energia nem mais para mendigar. Em Juba, eu vi algo novo, que só conhecia por imagens de TV. Crianças esqueléticas, obviamente com parcas chances de sobreviver, com moscas passeando pelo seu rosto, corpo curvado e pernas que parecem varetas. Aquelas crianças famosas da Etiópia, do Live Aid, do We are the World.

Elas existem ainda na África, é certo, mas são bem menos frequentes agora do que há 15 ou 20 anos. Para chegar às crianças famélicas, é preciso enfiar-se em terras de ninguém, vilarejos colados a desertos, aonde não chegam estradas, a centenas de quilômetros das cidades mais próximos. E ainda assim há uma época certa para esse macabro turismo da fome. A colheita tem de ter fracassado. Uma guerra precisa ter estourado. A chuva precisa não ter aparecido.

Juba, a cidade que em um ano mais ou menos será a capital do mais novo país do planeta, muda os conceitos de qualquer um bitolado nesses paradigmas. Em Juba eu vi a fome como nunca havia visto. No centro, a 10 minutos do aeroporto, ao lado de hotéis, lojas e restaurantes.

Só não foi uma surpresa completa porque a mulher responsável pela coordenação da ajuda humanitária da missão da ONU, Lise Grande, já havia me alertado. Altos funcionários da ONU geralmente morrem de medo de jornalistas e respondem platitudes qualquer que seja a pergunta, mas essa senhora, uma norte-americana, foi direto ao ponto. Mal havia começado a entrevista ela sacou um folheto com o título de “scary statistics”. Estatísticas assustadoras.

Sinta o drama:

- mais de 90% da população do sul do Sudão vivem com menos de US$ 1 por dia, o índice considerado a linha de pobreza;

- a fome atinge 45% da população. Destes, 18% sofrem de fome “crônica”, um estado mais perigoso;

- uma em cada sete mulheres grávidas morre por falta de assistência;

- um em cada dez bebês morre antes do primeiro aniversário; um em cada 7 morre antes do quinto aniversário;

- menos de 10% das crianças são vacinadas;

- apenas 6,4% da população têm acesso a esgoto tratado;

- apenas 1,9% das crianças completa a educação primária;

- 92% das mulheres são analfabetas.

E, para ela a pior das piores estatísticas: uma garota de 15 anos tem mais chance de morrer dando à luz do que de completar o primeiro grau na escola.

Assustou? Esse é o futuro novo país, que já nascerá o mais pobre do mundo. E que muito provavelmente desabará num ciclo destrutivo de pobreza e guerra civil, se não houver ajuda externa.

Mas estatísticas são apenas estatísticas, e era preciso ver esse quadro de perto. Encontrei as pessoas que dão vida a esses números no Al-Sabah Children Hospital, no centro de Juba.

São apenas cem leitos, insuficientes para a demanda. Não há máquina de raio-x. A ventilação é insuficiente, então o jeito é passar as tardes calorentas no pátio, sentados embaixo de árvores, ou nos corredores.


Lá se reúnem mães com seus filhos esquálidos. Alguns de tão magros rejeitam a receita do Unicef para a desnutrição crônica, um composto de leite enriquecido com vitaminas e uma pasta de amendoim. Eles desenvolveram anorexia e choram toda vez que pinga uma gotinha em suas bocas.

Amuna, 45 anos, segura seu filho Lege, de 2 anos, no colo. “Não tenho comida nem trabalho”, diz, numa frase que se repete pelo ambiente.

Um garotinho de nome Emanuel, 1 ano, está assustadoramente desnutrido, o crânio inchado e os membros sem força para se manterem rígidos. Chora o tempo todo no colo da mãe, Mary, 30.


“Ele sofria de malária. Eu vivo sozinha desde que meu marido morreu”, afirma ela. O bracinho dele mede 6,5 cm de circunferência. Qualquer coisa abaixo de 12 cm já é estágio crítico de desnutrição.

Ronia Okote, um garoto de 1 ano de idade, teve, além da desnutrição, o acervo completo de doenças tropicais: febre amarela, malária, tifo. Mesmo assim, está há três semanas “internado” sobre um lençol no chão do hospital. Milagrosamente, sobreviveu e está melhorando. Já ganhou peso e deve ter alta em breve. Mas nunca se sabe quando precisará voltar.


Em um ano, volto a dizer, Juba deve ser capital de um novo país, se os habitantes dos dez Estados do sul do Sudão disserem “sim” à independência num plebiscito. Uma nação com dez milhões de habitantes, com área equivalente ao Estado de Minas Gerais, deve nascer.

Que país será esse?

Saturday, July 10, 2010

Vem aí um novo Estado fracassado?
26/04/2010

Fábio Zanini

Juba (Sudão) – A primeira reação que tive ao chegar a Juba foi me perguntar: como uma cidade assim aspira a ser capital de um país independente em menos de um ano?

Não há nada ali, além de duas avenidas asfaltadas, alguns hotéis que brotaram não sei de onde e muitos prédios do governo, agências humanitárias e órgãos ligados à ONU. Comércio? Dois postos de gasolina, um ou outro mercadinho e só. Dois hospitais (se bem que um deles, vou te falar, só com muita boa vontade para chamar de hospital), uma ponte metálica sobre o rio Nilo, um porto que na verdade é um barranco para balsas enferrujadas e mais nada digno de nota.

O aeroporto é um casebre, com um sistema “revolucionário” de entrega de bagagem. Na falta de uma esteira, um funcionário empurra as malas no chão, uma a uma, de um canto a outro do “terminal” de desembarque.

Mas é verdade, essa cidade poderá muito em breve ser a capital do 193º Estado soberano do mundo, o Sudão do Sul (se bem que desconfio que vão arrumar um outro nome para o lugar).

Para janeiro, está previsto um plebiscito sobre a independência de dez Estados do sul do Sudão, que na prática já formam uma outra nação.


Suas 10 milhões de pessoas são negras, em nada parecidas com seus compatriotas árabes do norte. Têm muito mais relação com a África central. Também não seguem o Islã. Preferem o cristianismo e religiões tradicionais africanas.

Durante duas décadas, sul e norte guerrearam, tendo em mente, como não poderia deixar de ser, riquezas naturais. O sul tem jazidas inexploradas de petróleo. Dois milhões de pessoas morreram, num dos conflitos mais feios do feio século 20 africano. Em 2005, finalmente um acordo de paz, e o sul conseguiu extrair do norte a promessa de que, se quisesse, poderia se separar. Daí o plebiscito, marcado para janeiro de 2011.

Num continente em que a integridade dos Estados é sacrossanta, e que casos raros de independência são arrancados na marra, a perspectiva de uma secessão pacífica, baseada na vontade do povo, é boa demais para ser verdade.

Tão boa que custa a crer. Como escrevi na matéria publicada ontem na Folha de S. Paulo, Juba será em breve uma nova capital ou o palco de uma nova guerra. Talvez as duas coisas. É difícil imaginar o norte aceitando perder 25% de seu território e incontáveis riquezas sem uma atitude mais drástica, embora prometa respeitar a decisão popular.

Não há muita dúvida de que um voto seria pró-independência. O sul se sente “colonizado” pelo norte – e totalmente abandonado à sua própria sorte. Quando comentei com um alto funcionário da missão da ONU que havia muito ressentimento com o governo central, ele me deu uma sacaneada. “Esse é o eufemismo do ano”.

É fácil perceber de onde vem tanta insatisfação. A ONU fala em “estatísticas assustadoras” e há décadas de negligência no desenvolvimento da região. Mais de 90% estão abaixo da linha de pobreza. Ridículos 2% de mulheres sabem ler e escrever. Uma garota de 15 anos tem mais chances de morrer no parto que de concluir o ensino secundário. Nada menos do que 45% da população passam fome.

Nos próximos posts, falarei mais sobre esse novo candidato a um “Estado fracassado” que surge nos confins da África.

Thursday, July 08, 2010

O Sudão e a sombra
20/04/2010

Fábio Zanini

Cartum (Sudão) – O sudanês tem uma relação interessante com a sombra e a água fresca. Não é difícil entender por quê. Em quase duas semanas no país, transitando entre o centro, o sul e o oeste deste gigantesco país, nunca peguei temperatura abaixo de 40 graus.

Descobri também que o pior sol não é o de meio-dia, como pareceria lógico, mas o do meio da tarde. Às 15h, o calor machuca a pele, e é obrigatório se refugiar numa sombrinha.

Cartum, a capital, é uma cidade brotada no meio do deserto, com poucos espaços para um refresco na moleira. As várias pontes sobre o rio Nilo são uma providencial exceção. No meio do dia, dezenas de pessoas buscam nas sombras formadas às suas margens um descanso.


Alguns sentam em banquinhos improvisados, outros namoram, amigos simplesmente batem papo.


A confusão dessa metrópole árabe, congestionada e opressiva, parece estar longe. A praia de sudanês é embaixo de uma ponte.

No Sudão, a água faz as vezes de cafezinho. É sinal de boa educação oferecer ao visitante um copo, uma caneca, uma tigela ou até uma garrafa d´água antes de qualquer conversa séria começar. Ninguém quer saber de chá, café ou suco. É água e ponto.

Em Juba, no sul do país, fui surpreendido ao ser presenteado com uma garrafa de plástico, fechada e provavelmente recém-comprada de um supermercado, por uma deputada que eu ia entrevistar.

Num campo de refugiados em Darfur, foi tocante a cena de um senhor quase sem dentes entrando no seu barraco para pegar uma tigela com água para oferecer a mim e a meu tradutor.

Homens se protegem com um pano branco (que lembra uma toalha) enrolada na cabeça. Mulheres cobrem-se com tecidos coloridos, que protegem do calor e do poeirol. De alguma maneira, todos conseguem evitar que seus miolos derretam.

Eu? Usei um bonezinho e passei protetor solar diariamente. Obviamente, de pouco adiantaram para evitar que a cada final de dia chegasse ao hotel mais parecendo uma uva passa.


Wednesday, July 07, 2010

07/07/2010
Ricardo Teixeira, dinossauro "africano"

Fábio Zanini

Johannesburgo (África do Sul) – Lula falou uma boa ontem.

Sugeriu, assim meio indiretamente, que Ricardo Teixeira está há tempo demais no comando da CBF. Para o presidente da República, a entidade deveria trocar de chefe a cada oito anos.

"Eu não posso falar da CBF porque é uma entidade particular e eu não posso votar, não posso dar palpite. Eu acho que, se a CBF adotasse o que eu adotei quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, a cada oito anos a gente trocava a direção da CBF. No sindicato, a gente trocava", disse.

A declaração tem peso, não só porque seu autor é quem é, mas também porque Lula, para seu imenso crédito, abriu mão de tentar uma terceira eleição que, convenhamos, seria um passeio. Ou seja, ele tem moral.

Teixeira está há 21 anos no poder.


Nesse aspecto, é um verdadeiro “africano”.

Comporta-se como um dos líderes eternos de nações desse continente, que não sabem abrir mão do poder. Recusam-se a formar um sucessor e a criar condições minimamente saudáveis para uma possível alternância de ocupante da cadeira presidencial, uma das condições para a verdadeira democracia.

Se a CBF fosse um país africano, Teixeira, estaria em décimo lugar entre os dinossauros do continente, atrás apenas de:

1-) Muammar Gaddafi, da Líbia, desde 1969

2-) Teodoro Obiang, de Guiné Equatorial, desde agosto de 1979

3-) José Eduardo dos Santos, de Angola, desde setembro de 1979

4-) Robert Mugabe, do Zimbábue, desde 1980

5-) Hosni Mubarak, do Egito, desde 1981

6-) Paul Biya, de Camarões, desde 1982

7-) Yoweri Museveni, de Uganda, desde janeiro de 1986

8-) Rei Mswati 3º, da Suazilândia, desde abril de 1986

9-) Blaise Compaore, de Burkina Fasso, desde 1987

Todos ditadores, diga-se de passagem.

Sua gestão na CBF é mais duradoura que a dos líderes dos outros 44 países africanos. Por alguns meses, Teixeira, que tomou posse em janeiro de 1989, bate inclusive um dos mais notórios dinossauros africanos, o ditador do Sudão, Omar al-Bashir, que assumiu em junho de 1989. Também está há mais tempo no poder do que dois reis, os do Lesoto e de Marrocos.

Nosso presidente da CBF já disse mais de uma vez que pretende se inspirar na África, que até agora faz uma Copa muito bem-sucedida, para o evento do Brasil, daqui a quatro anos. Pelo visto, o continente já é uma grande inspiração para ele.


Tuesday, July 06, 2010

O ovo de Gaddafi
15/04/2010

Fábio Zanini

Cartum (Sudão) – É difícil não perceber o Burj el-Fateh no horizonte de Cartum. Quem gosta acha um símbolo da modernidade de um novo Sudão, próspero e, por que não dizer, livre e democrático. Empresas o colocam em seus anúncios, e o governo publica sua silhueta em folhetos turísticos.

Quem não gosta é cruel: “ovo” e “dedão inchado” são duas das expressões que eu ouvi por aqui.

Na verdade, quando se fala em “ovo”, adiciona-se sempre o qualificativo “do Gaddafi”. O Burj é um empreendimento líbio, um país socialista que aparentemente sabe ganhar dinheiro de forma bem capitalista.

É o principal hotel de Cartum, com diárias a partir de US$ 450 e um restaurante com uma espetacular vista do rio Nilo, com bufê a US$ 50. A idéia era que se parecesse não com um ovo ou um dedão, mas com uma vela de barco. Tire suas próprias conclusões.


Todo envidraçado e ultramoderno, o Burj atende aos bacanas do pedaço e a dignitários estrangeiros. O pessoal da União Europeia que veio observar as eleições ficou hospedado lá, assim como a turma do Carter Centre, do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter.

“Nossa clientela é internacional”, afirma Sabir Hassanein, gerente de reservas do hotel. Além de organismos multilaterais, vem muita gente interessada em ganhar dinheiro com o petróleo. Chineses e árabes são presença fácil nos corredores.

Os 230 quartos costumam ficar lotados durante eventos do setor petrolífero, a maioria realizados no centro de convenções do próprio hotel. Só há alguma facilidade de achar um quarto durante os piores meses do duríssimo verão sudanês (junho e julho), quando as temperaturas beiram os 50 graus.

O investimento no prédio de 21 andares é da Lybia Arab Foreign Investment, um braço do governo líbio que investe alguns dos petrodólares do regime de Gaddafi. No Burj foram despejados US$ 80 milhões.

Não é a única novidade na capital sudanesa. Duas outras torres de design heterodoxo estão subindo ali perto, uma para a Greater Nile Petroleum Operating Company (à esquerda na foto abaixo) e outra para a PetroDar. Ambas operando, claro, no setor petrolífero, e controladas (além de construídas) por chineses.


Outras cinco torres serão iniciadas dentro de um ano, fazendo dessa parte de Cartum uma pequena Dubai. Se você é arquiteto e tem projetos malucos para prédios, tente a sorte por aqui.


Sunday, July 04, 2010

Sudão

O Sudão é o maior país da África, com cerca de 2.5 milhões de km², localizado na região nordeste do continente. É coberto, ao norte, por um extenso deserto que se estende por quase um terço do território. Ao sul, sucedem-se pântanos e florestas tropicais, que dificultam a plantação de lavouras. Nessa região, há também savanas, onde vivem animais de grande porte, como rinocerontes, leopardos, elefantes e girafas.

A economia do Sudão baseia-se na pecuária e na agricultura de subsistência, desenvolvida segundo técnicas milenares de irrigação e plantio. O algodão é o principal produto de exportação. Boa parte da população ocupa principalmente as terras vizinhas ao rio Nilo, que atravessa o país, e seus afluentes, ou se concentra junto a poços de água. Cartum, localizada às margens do Nilo, no Sudão central, é a capital e principal cidade.

O país enfrenta uma guerra civil desde a década de 1950, devido à rivalidade entre os árabes muçulmanos - grupo majoritário no norte do país - e os negros africanos do sul, onde os cristãos e os animistas (adeptos de religiões tribais) são maioria. Desde 2002, governo e rebeldes tentam chegar a um acordo, mas, apesar dos avanços das negociações, a pacificação do país não está totalmente garantida.

Os conflitos acabaram prejudicando a agricultura, de forma que a fome e a guerra já mataram mais de 2 milhões de pessoas. Muitos sudaneses sobrevivem atualmente da ajuda humanitária de outras nações.

História

Após o ano 3000 a.C., o Egito invadiu muitas vezes o que hoje constitui o Sudão, conhecido antigamente como Núbia. O nome do atual país deriva da expressão árabe Bilad-as-Sudan, ou "terra dos negros", usada desde a Idade Média. O reino Cuch, importante centro cultural e de comércio, estabeleceu-se na parte nordeste da região a partir de meados de 1500 a.C. até 350 d.C.

Vários reinos cristãos surgiram no território do Sudão a partir do séc. VI e ali permaneceram até o séc. XII. Em 1504, muçulmanos negros chamados funjes estabeleceram sua capital em Sennar, ao sul de onde é atualmente Wad Medani. Os funjes conquistaram quase todo o território sudanês a partir do séc. XVI, mas seu poder começou a declinar no século XIX. Em 1821, o Egito dominou os funjes e assumiu o governo do Sudão.

Em 1881, Muhammad Ahmed, líder muçulmano, proclamou-se almahdi (o guia) e liderou com êxito a revolta contra os egípcios. Seu sucessor, o califa Abdullahi, dominou o Sudão até 1898, quando tropas britânicas e egípcias o reconquistaram.

Em 1899, o Reino Unido e o Egito assinaram um tratado de controle conjunto do Sudão. O governo britânico nomeou um governador-geral e quase todos os ocupantes dos cargos mais importantes. Alguns nacionalistas egípcios se opuseram ao colonialismo britânico no Sudão. Em 1924, tropas egípcias no Sudão se amotinaram contra os britânicos. A rebelião fracassou e a maioria dos oficiais egípcios foi expulsa.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os sudaneses com maior grau de instrução passaram a reivindicar a independência. Em 1953, o Reino Unido e o Egito concordaram em conceder autonomia gradual ao Sudão. Oficialmente, o país tornou-se independente em 1° de janeiro de 1956.

Desde a independência, o Sudão vem enfrentando problemas políticos e a guerra civil. A partir do final da década de 1960, o chefe de governo foi mudado várias vezes. Em outubro de 1969, o major-general Gaafar al-Nimeiry assumiu o governo. Foi deposto por militares de esquerda em julho de 1971, mas reconquistou o poder em seguida. Em outubro, elegeu-se presidente do Sudão e firmou um acordo com os rebeldes do sul, concedendo certa autonomia à região.

Durante a década de 1970, as tensões entre muçulmanos e negros continuaram, devido à política de conversão forçada ao Islamismo utilizada por Nimeiry. Por outro lado, a corrupção e a ineficiência do governo na condução da política econômica provocaram uma onda de protestos populares, que foram reprimidos com brutalidade.

Em 1985, os militares depuseram Nimeiry, prometendo entregar o poder aos civis. No ano seguinte, após vitória apertada nas eleições, Sadiq al-Madhi assumiu o cargo de primeiro-ministro. Seu governo não conseguiu solucionar a crise econômica e encerrar o conflito separatista liderado pelo Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA).

Com um golpe de Estado, o general Omar Hassan al-Bashir assumiu o poder em 1989 e adotou um discurso mais duro contra os rebeldes do sul. Em 1991, milhares de refugiados do sul foram isolados e cerca de 600 mil morreram de fome. Os organismos internacionais conseguiram convencer o governo a permitir o envio de alimentos e remédios.

Em 1994, outra ofensiva do governo provocou o êxodo de 1 milhão de refugiados para os países vizinhos. A resposta internacional foi imediata. O Sudão foi excluído do Fundo Monetário Internacional (FMI), condenado pela comissão de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) e acusado de apoiar grupos terroristas, como o que tentou matar Hosni Mubarak, presidente cristão do Egito. Em 1996, após bombardeios contra a população civil, a ONU decretou o bloqueio aéreo do país.

Apesar disso, os muçulmanos radicais continuaram apoiando Bashir e ele foi eleito por voto popular em 1996, sob acusação de fraude eleitoral. No início de 1998, a fome voltou a matar centenas de milhares de pessoas, e a paz ficou ainda mais distante.

Em fevereiro, o vice-presidente Al-Zubair Mohamed Saleh foi assassinado pela guerrilha. Nessa época, os EUA acusaram o Sudão de patrocinar o terrorismo internacional. Após os atentados às embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Kenia em setembro de 1998, o governo norte-americano lançou mísseis contra uma fábrica de Cartum suspeita de produzir e armazenar armas químicas.

Ainda em 1998, foi aprovada outra Constituição, permitindo a existência de partidos políticos, que tinham sido banidos em 1989. Em 1999, o Sudão começa a exportar petróleo, extraído no sul do país. Em 2000, Bashir foi reeleito, sob novas suspeitas de fraudes. Todos os partidos de oposição boicotaram a eleição por causa da falta de garantias de isenção na apuração dos votos. No mesmo período, houve eleições legislativas, vencidas pelo Partido do Congresso Nacional (NC), do presidente Bashir. Após os atentados da Al Qaeda contra os EUA, em 2001, o Sudão foi acusado pelos norte-americanos de apoiar o terrorismo, mas Al-Bashir anunciou que seu país participaria da luta antiterrorista liderada pelos EUA. Logo depois, a ONU suspendeu as sanções contra o Sudão.

No início de 2002, governo e rebeldes acertaram um cessar-fogo provisório e deram início à negociação de paz, com mediação de outros países. O processo avançou ao longo desse ano e de 2003, com os primeiros encontros entre Al-Bashir e John Garang, líder do SPLA. Em julho de 2002, houve um acordo preliminar, estabelecendo que o sul não precisaria se submeter à Sharia e prevendo a realização de um plebiscito dentro de seis anos para decidir sobre a independência dessa região de maioria cristã. Em setembro de 2003, foram estabelecidas a retirada das tropas governamentais do sul do país e a integração progressiva dos membros do SPLA às forças oficiais, para formar um Exército unificado. Em janeiro de 2004, novo acordo definiu a divisão das receitas geradas pelo petróleo - cujas reservas concentram-se no sul - eqüitativamente entre o norte e o sul do país.

Apesar dos avanços das negociações oficiais, os conflitos ainda persistiam, com tropas rebeldes lutando entre si e contra as forças governamentais. Em janeiro de 2004, a repressão a uma rebelião em Darfur, na região ocidental, levou mais de 100 mil pessoas a buscarem refúgio no Chad. Além da questão dos refugiados de guerra - cerca de 3 milhões de sudaneses foram deslocados dentro do Sudão e para países vizinhos -, o processo de paz esbarra na disputa pelas regiões de Nuba, Nilo Azul e Abyei.

Desde meados dos anos de 1980, os três territórios lutam contra o governo central, sendo reivindicados pelo SPLA para fazerem parte da zona autônoma a ser votada em plebiscito, apesar de geograficamente pertencerem ao norte. Para firmar a paz completa, os rebeldes exigem, ainda, que a Sharia não seja aplicada na capital, Cartum.

Em 2008 teve início o censo, visando contabilizar a população do país e definir quem pertence o sul e ao norte do Sudão, mesmo assim o processo gerou muita polêmica, sendo recusado a ser feito pelos rebeldes de Darfur, que alegam que o governo pode deturpar as informações obtidas.

Crise humanitária em Darfur

O conflito na região de Darfur, no desértico oeste do Sudão, chama a atenção do mundo há dois anos. O antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, afirmou que era "a mais grave crise humanitária" do planeta. Os combates já causaram mais de 70 mil mortes e há 2,2 milhões de refugiados, parte dos quais no vizinho Chade.

O conflito começou em fevereiro de 2003, quando grupos armados iniciam um movimento separatista, acusando o governo do Sudão – vinculado à elite islâmica do país – de desprezar a população local. Darfur é habitado por uma maioria negra, ligada à agricultura, e uma minoria nômade (autodenominada árabe), que vive da criação de animais. O governo sudanês reage com violência à ação dos separatistas e se apóia na milícia árabe local chamada Janjaweed, que inicia uma "limpeza étnica", matando milhares de pessoas das populações negras e praticando estupros, pilhagens e a destruição de aldeias inteiras. No decorrer de 2004, cresce a pressão internacional sobre o governo do  Sudão para desarmar a milícia. Mesmo chamando os Janjaweed de "criminosos", o governo sudanês não age contra eles.

Em abril começaram as negociações entre o governo e os separatistas, e se chega a um cessar-fogo não efetivado até o fim de 2004. A partir de julho, a União Africana desloca tropas para proteger os mais de 130 campos de refugiados na região. Mas as condições nos campos são terríveis, e a Organização Mundial de Saúde afirma que morrem neles 10 mil pessoas ao mês, vitimadas pela fome, pelas doenças e pela violência. A ONU exerce forte pressão e já retomou algumas sanções contra o país, incluindo o embargo comercial de alguns países, incluindo os Estados Unidos.

http://www.pedalnaestrada.com.br/

2006
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11/04/2010
Fábio Zanini

O uso da máquina no Sudão

Cartum (Sudão) – Ontem foi o primeiro dia de eleições multipartidárias no Sudão, um evento tão raro quanto investimento em prevenção de deslizamentos no Rio de Janeiro.

A última foi em 1986, há 24 anos, e se essa eleição está longe de ser perfeita (explico mais adiante), é histórica assim mesmo. O Sudão pertence ao mundo árabe, ao menos grande parte dele, e nesse pedaço do planeta geralmente a cédula é de partido único, com o presidente eleito com 99% dos votos.

Ontem, eleitores tiveram mais escolhas além do partido do Congresso Nacional, do presidente Omar al-Bashir, embora as mais fortes legendas da oposição tenham decidido boicotar a eleição. Al-Bashir vencerá com maioria retumbante, porque é um esperto marqueteiro e preside uma economia crescente.

Atingirá assim seu objetivo de mandar à comunidade internacional o recado de que o Sudão está com ele e não aceita o indiciamento por crimes contra a humanidade cometidos na região de Darfur (oeste).

Mas é um avanço, sem dúvida, dar ao eleitor mais de uma opção. Tímido, mas um avanço.

Visitei uma seção eleitoral numa região paupérrima, ao sul de Cartum, a capital. Uma cena emocionante. Velhinhos sentados em bancos de metal, totalmente desprotegidos do sol de 45 graus, esperando horas para votar. O primeiro voto de suas vidas.


Mulheres também esperavam pacientemente, com os trajes coloridos que são a marca do norte da África.


 A região que visitei chama-se Soba al-Radi. Começou como um campo para refugiados há cerca de 20 anos, para pessoas de todos os cantos do Sudão que escaparam da fome, desemprego e de várias guerras.

Em diversas ondas eles chegaram. Primeiro os do sul do país, vítimas de uma das mais longas guerras civis que o continente já viu (1983 a 2005). Mais recentemente, os fugitivos de Darfur.

Hoje Soba al-Radi é um favelaço com 200 mil habitantes, ruas de terra vermelha, casebres de tijolos feitos de lama endurecida e cheiro de lixo. Uma escola pública foi escolhida como seção eleitoral, e logo várias filas se formaram.

Quase todos ali são eleitores de al-Bashir. Alguns porque realmente admiram o presidente. Beneficiaram-se do crescimento econômico e não dão a mínima para o sofrimento causado por ele em Darfur. Outros simplesmente porque são empregados do governo.

E muitos porque foram alvo de um dos mais descarados exemplos de voto de cabresto que eu já vi. Nunca testemunhei nada como o que ocorreu ontem. Eleitores chegando em carros do partido do governo, abertamente (fiz a foto abaixo).


Depois, encaminhados a uma tenda mantida pelo mesmo partido. Recebiam comida, água e um título de eleitor provisório, caso não tivessem documento. E muitos não tinham. Para poder votar, bastava que fossem “reconhecidos” como moradores do local por outras pessoas.

Analfabetos, ganhavam ainda uma cédula-modelo, ensinando a marcar na opção “arvorezinha”, símbolo do partido de al-Bashir.

Para quem acreditou numa eleição “livre e justa”, uma prova inconteste de que o mundo árabe ainda tem um salto a dar após o tímido passo de ontem.

Friday, July 02, 2010

A última eleição antes do fim do Sudão
Fábio Zanini
09/04/2010

Cartum (Sudão) – Chegar ao Sudão tem um gosto doce para mim, porque foi o único país em que tentei entrar (como turista) há dois anos, durante a viagem de ponta a ponta do continente que deu origem a esse blog. Na época as autoridades sudanesas na embaixada no Egito me enrolaram, como eu já havia previsto. O Sudão é casca grossa na hora de aceitar estrangeiros.

Agora não só entrei como entrei deixando claro que sou jornalista, o que em tese seria cem vezes mais difícil. Isso se chama relações públicas.

O governo do Sudão está querendo se mostrar democrático. Domingo acontecem eleições históricas por aqui. Pela primeira vez em 24 anos, vários partidos estão concorrendo a diversos cargos: presidente, membros do Parlamento nacional, governos estaduais, assembléias regionais e o importantíssimo cargo de presidente da região sul do país.

Saber quem governará o Sudão do sul é especialmente relevante porque provavelmente esses serão os primeiros líderes de um novo país, a ser decretado em janeiro. O acordo de paz assinado há cinco anos que pôs fim a uma longuíssima guerra civil entre o norte majoritariamente árabe e o sul majoritariamente negro previu, além da eleição de domingo agora, um referendo sobre a secessão do sul.

É batata que a separação será aprovada, caso a consulta realmente ocorra (no Sudão, nunca se pode descartar uma nova onda de violência passando por cima de um processo democrático).

Mas voltando à eleição de amanhã. Os principais partidos da oposição decidiram boicotar o voto na última hora, misturando algumas preocupações legítimas quanto à imparcialidade do pleito com uma grande dose de oportunismo. Muitos se retiraram porque sabiam que iam perder. O SPLM, partido que domina no sul do Sudão, saiu só da disputa pela presidência do país, mas se mantém nos locais em que é competitivo.

Não importa. O presidente sudanês, Omar al-Bashir, decidiu seguir em frente com o voto. Para ele, está em jogo também receber um muito necessário voto de confiança da população. Bashir, no poder desde 1989, é aquele que foi indicado por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional, em razão do ataque contra populações na região de Darfur (oeste), que já teriam deixado 300 mil civis mortos desde 2003.

Mas aqui, al-Bashir está tentando se passar por pacificador. Ostenta como trunfo acordos de paz com algumas das facções em luta, apesar de a situação continuar tensa na região. Esperto, espalhou alguns cartazes em inglês (com erros) pelas ruas da Cartum, embora quem entenda essa língua sejam apenas os jornalistas e observadores internacionais aqui presentes.



“Al-Bashir. Símbolo de unidade e paz”, diz a peça de propaganda. Na foto, é ele fantasiado de homem do povo, usando lança e vestimenta tradicional por cima do terno.

Quem reparar direito verá uma pele de leopardo, indumentária que ficou marcada como a preferida de Mobutu Sese Seko, do antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo), talvez o maior ditador da história da África.

Apenas uma coincidência.