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Thursday, July 31, 2025

31 de julho de 2018

Ao contrário do que parecia óbvio, Jair Bolsonaro saiu ileso do Roda Viva. Por ironia do destino, no mesmo dia em que Neymar Júnior virou picadinho poucos minutos depois de lançar seu comercial-desabafo pago pela Gillette.

Duas diferenças entre um e outro: apenas no YouTube do patrocinador, o camisa 10 tem quase 1 milhão de views e cerca de 60 mil likes ou deslikes. Visto que dali o vídeo viralizou, a repercussão necessariamente tem que ser medida em dezenas ou centenas de milhões, e ao redor de todo o planeta.

O Roda Viva dá traço no Ibope toda semana. Boa parte do país sequer recebe o sinal da TV Cultura.

A segunda diferença: a avalanche de críticas a Neymar partiu diretamente das redes sociais. Bolsonaro foi sabatinado pela imprensa chapa branca da eterna província constitucionalista de São Paulo dos Campos de Piratininga.

Se havia alguma dúvida sobre a 'arena' das eleições de outubro, passou da hora de saber que só a internet vai permitir o enfrentamento do discurso do golpe. Ainda que o candidato preferencial deles seja Geraldo Alckmin, a segunda opção, Bolsonaro, tem blindagem garantida. Ao contrário, mesmo os candidatos à esquerda sem qualquer chance, como Manuela, permanecerão amordaçados. Ao golpe pertence tudo quanto de mainstream se avista na comunicação do Brasil. E a ovelha raspa o pelo, mas não perde o vício. 

Outra discussão que deixa de ter sentido, se é que já teve em algum momento, passa por decidir se é bom ou ruim falar mal das pessoas ruins na internet. 'Um Novo Homem Todo Dia' bateu recordes de menções negativas. Por isso, e só por isso, 'Neymar, Gillette e agência' estudam 'reação', como noticiou o UOL, sem perder a oportunidade para o deboche: 'comercial cai mal', diz a manchete. O pelo e o vício, como queríamos demonstrar.

Bolsonaro no Roda Viva? Não foi confrontado. Repetiu o que sempre diz e ninguém ofereceu resposta - ou pergunta - à altura.

Enquanto as redes sociais transformavam a gilete do reizinho em guilhotina, o candidato a führer saiu do estúdio mais vistoso do que entrou. Barba, cabelo e bigode. Quase ninguém viu, mas os tosquiados fomos nós.

Como se não bastasse, ainda se encontra, na própria rede, gente sinceramente admirada com a eficácia da burrice de Jair Bolsonaro. Não é disso que se trata. O discurso totalitário funciona para os convertidos, não passa daí. E só vai amealhar mais adeptos enquanto não encontrar resposta. Embora Bolsonaro, estatisticamente, não seja a principal ameaça, sua ideologia nefasta precisa ser combatida. Assim como as deles, nossas ferramentas estão disponíveis. Hora de usá-las. Feito lâminas.

Tuesday, July 15, 2025

15 de julho de 2019

O 'Pavão Mysteriozo', trollagem explícita comandada pelo Carluxo, parece marcar um ponto de virada para os Bolsonaro. A proposta de fazer Eduardo embaixador nos Estados Unidos tem cara de ir na mesma direção.

Eles não estão falando sério.

(E, se estiverem, não vai fazer grande diferença, num Ministério das Relações Extraterrestres comandado por Ernesto Araújo).

Quer ver? A notícia 'bolsonaresca' de hoje é que o MP do Rio de Janeiro fará um pente fino das contas de campanha do filho Flávio.

Ou seja, em algum momento a casa virá abaixo.

Eles já estão morando 'de favor'.

O Boulos escreveu na Carta Capital: Bolsonaro se confirma como um inédito 'presidente de nicho ou, mais adequado à sua história, um presidente de baixo clero'.

(Procure lembrar alguma iniciativa do núcleo duro em torno deles que tenha gerado algum resultado nas últimas semanas).

Isso tudo, evidentemente, não nos autoriza a qualquer otimismo. Antes, muito pelo contrário. Pois o desmonte sistemático do Estado brasileiro segue célere e diário, sem pausas para o fim de semana.

A pergunta passa a ser: se o projeto vendido em campanha está sendo cumprido ponto a ponto, sem que o dedo do presidente se faça notar em nenhuma das principais decisões, quem, afinal, está governando este país?

Jair se confirma como a Rainha da Inglaterra da Família Surreal brasileira. Mas não nos falta governo. Um governo terrivelmente cumpridor de seus compromissos.

Quem tem a voz de comando?

Saturday, July 12, 2025

12 de julho de 2016

O quiproquó do apoio ao DEM para eleger o sucessor de Eduardo Cunha na Câmara pode ser indicativo de algo que transcende a ansiedade pré-histérica da militância petista e o proverbial oportunismo do PSOL: o tempo da coalizão, simplesmente, acabou. Não há, na Esquerda, outro futuro a não ser um candidato "que não votou no Golpe".

Deixa eu dizer um lance aqui. Desconfio que não conheço alguém mais favorável que eu aos acordos, pragmatismos e idas e vindas do período lulodilmista. Realpolitik? Não tenho nada contra. Pode conferir nos meus posts dos últimos três anos. Mas já não é mais disso que se trata.

Porque aconteceu de irmos longe demais no enfrentamento. E não me refiro a urgências de "refundação" do Partido dos Trabalhadores, essa rematada tolice. O ano e meio passadas as eleições de 2014 está sendo devastador. Nem é muito complicado. O Congresso Nacional apenas derreteu. Fim da linha. Sem retorno.

Se Dilma vencer no Senado, o que é perfeitamente possível, a despeito da bola de cristal viciada dos analistas pessimistas*, dá no mesmo. E também, aqui, não está em jogo a hipótese 'Erundininha Toda Pura', chanchada vintage de mau gosto. Claro que haverá de haver composição pluripartidária! O que não tem jeito de juntar de novo são os trapos do peemedebismo e do lulismo.

E não, não foi o coração valente da Dilma que nos levou a isso. Nem a outra Dilma, a Dilma execrada pelos engenheiros de obras prontas, aquela gerentona incompetente que odeia a política. A culpa é toda do tal do "devir histórico". A Direita é tão ou mais responsável pelo presente estado de coisas. Por ter partido pro "é agora ou nunca". Por parecer uma locomotiva sem maquinista de filme de guerra, puxando quinhentos vagões em direção à ponte dinamitada.

A Direita ameçou a Democracia de morte. Este ato de negação principial acelerou a decomposição já inexorável. O buraco é mais embaixo. Essa encrenca vem de longe.

A Democracia, porém, é inegociável. Ou não é Democracia. O impeachment como Golpe é inadmissível. E o que não se admite, não pode ser admitido.

Nem acho que estamos preparados para tanto. É bem capaz de dar merda, reconhecer a possibilidade não tem nada que ver com pessimismo. Não está no âmbito da Ética, da Retórica, tampouco da Estética e nem mesmo da Política. É do campo da Lógica. Tem momentos que o jogo se define. Tem horas que a fila anda. E a fila andou.

* Oxímoro à vista: ou é analista, ou é pessimista. Ou é analista ou é otimista. Pelamôr! :p

Monday, June 30, 2025

30 de junho de 2015

NO COUNTRY FOR OLD MEN

Tenho 52 anos de idade e já vi o Brasil em situações muito  —  mas, muito  —  piores. E, no entanto, ele se moveu.

Tenho 52 anos e nunca vi o jornalismo brasileiro num buraco tão fundo.

Não há Tribunal de Inquisição que faça o Sol voltar a girar em torno da Terra quando os meios técnicos se transformam.

Assim como a Indústria Fonográfica nos anos 90, o business de notícias em seus moldes século XX está em vias de desaparecimento.

Qualquer orelha de manual de psicanálise explica o catastrofismo de nossa grande mídia: chama-se "projeção".

Querem vender um Dilúvio, mas, na verdade, trata-se apenas de um concorridíssimo abraço de afogados.

Thursday, June 19, 2025

20 de junho de 2015

Aqui vai um vídeo que reflete - com profundidade - sobre os quocientes de preconceito embutidos nos nossos palavrões. Quem me indicou foi um amigo querido que sabe manter a flexibilidade do pensamento. Que sabe se divertir com a ideia de que "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa".

Sobre o radialista Ricardo Boechat, a coisa é que até as pedras caídas da Muralha de Jericó perceberam que o estado permanentemente exaltado de Malafaia denota desejos reprimidos. Malafaia sempre esteve à procura de algo que satisfaça sua excitação.

Bem sabemos que a rôla "não é solução para tudo" e que é uma enorme bobagem pretender que "todo homofóbico é um homossexual enrustido".

Acontece que aconteceu de um radialista mainstream, de perfil masculino normalopata, desses que fazem piadas falocentradas, tirar da garganta de todo mundo o que andava há tempos querendo sair. 

Num mundo ideal não mandaremos ninguém tomar no... pois isso é homofóbico, nem diremos a alguém "seu filho da..." pois é misógino; não desabafaremos porque "a coisa está preta", por ser racista, nem usaremos mais o termo "judiação", por suas conotações anti-semitas.

Nesse possível futuro tempo da delicadeza, não precisaremos da ajuda de um típico macho alfa branco como Ricardo Boechat para nos representar, pois vendilhões como Silas Malafaia, simplesmente, terão sido expulsos do templo.

Por enquanto, é necessário registrar que, antes de enfiar a rôla no discurso, Boechat se valeu de vocabulário amplo: idiota, paspalhão, pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia, otário, homofóbico, figura execrável, horrorosa, charlatão.

Quanto nos ofendem as dinâmicas da comunicação de massa? Quanto nos proibimos de rir do desnudamento do charlatão, na praça do mercado e pelas normas do mercado? Quanto negamos o poder impuro da rua? Da indústria cultural? E quanto nos permitimos desfrutar das vitórias provisórias?

"Malafaia, vá procurar uma rôla", apesar de infantiloide, misógino e patriarcal, expôs o farisaísmo do pastor. “Você usa o nome de Deus para tomar dinheiro de fiéis. Você é tomador de grana, você e muito outros”. Boechat construiu seu discurso em seus próprios termos. Conseguiu coerência entre a forma e o conteúdo. Nesse processo de individuação, representou milhões de pessoas. Aceitemos ou não, barrou o sermão de Malafaia. E isso é o que tivemos para hoje.

Sunday, April 27, 2025

27 de abril de 2019

Cachac-eiro, se bem me lembro, assim como maconh-eiro, ou trapac-eiro, remete a vício, compulsão, dependência, coisas assim. Bolsonaro não deve estar querendo classificar Lula como dependente químico, logo mais agora que o homem emergiu de quase 400 dias de completa e obrigatória abstinência com pele e cabelo saudabilíssimos, sem olheiras, pensamento ágil, discurso articulado e disposição de felino.

Lula tá segurando o rojão muito bem 'sem a cachaça', contrariando até o caro amigo Chico.

Talvez o felliniano Bolsonaro queira insinuar que aquele irmão do Capitão América que chefia a segurança do ex-presidente mantém uma destilaria e abastece a cela especial da PF de Curitiba com garrafas pet cheias de maria-louca.

Mas é improvável.

Bolsonaro chamou Lula de cachaceiro. Não em sentido estrito. Ele quis confirmar o estereótipo que associa gente pobre ao uso excessivo de bebidas alcoólicas baratas. É uma das formas de rebaixar simbolicamente o pobre: negar-lhe a capacidade de auto-controle tão cara às classes abastadas.

Um dos pontos ainda mais baixos a que um brasileiro pobre pode se ver conduzido é a cadeia. O calabouço é o lugar onde se cala a boca do cidadão. É nessa jaula que a busca de desconstruir o homem humano acontece de modo mais totalizante. A prisão pretende ser o lugar da morte em vida. O local do apagamento.

Pois bem, Lula negou a seus inimigos também essa confirmação. Está tão vivo quanto antes. Está mais vivo que nunca. E de lá de dentro, ainda diagnostica: um bando de malucos.

Claro que, também, não em sentido estrito. Maluco aqui é quem governa desgovernado, atira para todos os lados, não sabe dizer a que veio. Ou é o psicopata destruindo nos mínimos detalhes e sem nenhum remorso, as poucas conquistas civilizatórias que obtivemos em 500 anos.

Lula, em sua cáustica lucidez, disse o que todo mundo sabe: o desgoverno de Bolsonaro não obedece lógica alguma que não seja a da destruição pura e simples, o que, convenhamos, é um modo alucinado de funcionar.

Lula soube, também, deixar no ar a desconfiança de que aqueles caras não batem bem da bola.

Bolsonaro não fez por menos. Devolveu de bate-pronto mais uma de suas sandices.

Como queríamos demonstrar.

Tuesday, February 18, 2025

18 de fevereiro de 2016

 

Ao contrário do que está parecendo, Miriam Dutra Schmidt não veio a público falar de filhos bastardos, ou fazer futricas sobre o tempo em que foi amante de Fernando Henrique Cardoso.

Miriam deu uma longa entrevista em que o centro da questão é um caso seríssimo de assédio moral. Como de hábito, a mulher que denuncia é imediatamente desqualificada. O pessoal que trabalha nas Defensorias aponta essa tendência dominante: a culpa, sempre, "só pode ser dela". Quem se aproveitou antes, agora quer ganhar mais um pouco. Leviana, como diria o Aécio.

Pois bem, o Palmério Dória, em artigo publicado hoje, diz o seguinte sobre o estado de espírito de Miriam em 2000: 'Mirian, procurada pelo repórter João Rocha, em Barcelona, foi cortês. Pelo telefone conversaram longamente. Miriam demonstrou querer falar, mas não falou. Já era uma mulher amargurada, quando disse uma frase reveladora ao ser perguntada pela paternidade de Tomas: 'pergunte para a pessoa pública'.

Palmério fez parte da equipe que em abril de 2000 levantou o caso do filho extraconjugal de FHC para a Revista Caros Amigos. Diz o Palmério: "O então presidente da República foi procurado e não quis se pronunciar. Os editores dos principais jornais, revistas e telejornais deram suas versões, todas publicadas. Mário Sérgio Conti, chefão da Veja, atendeu meu telefonema com frieza que foi substituída por um ataque de ira e impropérios publicados na íntegra".

Em outro artigo, de 2011, Palmério manda essa: "a operação cala-a-boca-da-Miriam foi organizada por uma força-tarefa: Alberico de Souza Cruz; o então deputado federal José Serra; e Sérgio Motta, que tinha coordenado a campanha de Fernando Henrique para o Senado, seu amigo mais íntimo".

Motivos para tirar a limpo o que essa mulher está dizendo não faltam. Mas há uma forte corrente de opinião que aponta para o perigo de, com isso, praticar apenas fofoca. Miriam, suposta vítima de brutal assédio, fica relegada a segundo plano. Aliás, o lugar que ocupou nos últimos 24 anos.

Se Miriam foi conivente, foi conivente como um antílope é conivente com o leão que o caça. Sem dúvida, ambos fazem parte da mesma cadeia alimentar. Mas um é predado, enquanto o outro tem os atributos para ser o predador.

Reduzir esse grande conluio entre poderosos ao direito de se discutir ou não o uso que FHC dá para o próprio bilau, convenhamos, parece um respeito meio totêmico pelo bilau dele. Freud explica.

https://issuu.com/brazilcomz/docs/web_1_

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740563-fhc-usou-empresa-para-me-bancar-no-exterior-afirma-ex-namorada.shtml

Sunday, January 12, 2025

12 de janeiro de 2023

Como estão sendo publicadas listas com nome e data de nascimento dos presos do Capim Tólio de Brasília, já tem gente tabulando as faixas etárias deles (e delas).

Se eu entendi o que li, quase 80% dos terroristas têm de 50 a 60 anos. Entre os 20% restantes, pode haver gente com 19, ou 77.

Portanto, a presença de "idosos" não é dominante.

É importante fazer essa informação circular para impedir que se atribua qualquer inimputabilidade à massa que atacou a Praça dos Três Poderes no domingo passado.

A característica mais geral daquela multidão é justamente a de ser composta por pessoas na fase da vida que se costuma chamar de "maturidade".

Em resumo, homens e mulheres donos de seus narizes e, por isso, aptos a responder pelas atitudes que tomaram.

Thursday, January 09, 2025

9 de janeiro de 2018

O 'an-alfabeto' simplesmente não existe. Não há alguém que não acesse a língua escrita em alguma medida. Os especialistas preferem falar em 'níveis de alfabetismo', que podem ser, isto sim, muito baixos em relação às necessidades médias do cidadão moderno e urbano. Mas zero, nunca.

O que está por trás da pseudo-polêmica do pseudo-escritor Agonialdo Silver é aquilo que a legislação brasileira denomina 'letramento'. O conjunto de saberes que permite o uso eficaz da leitura e da escrita. Que, não esquecem os especialistas, é uso cujo valor se determina socialmente. No Google um link leva à seguinte definição: 'Letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita'.

Por princípio, o lugar onde se mensura o conhecimento é a escola. Que no Brasil não é universalizada e, portanto, serve como o mais clássico filtro para determinar, na entrada, o 'estado' ou 'condição' dos grupos sociais, assim como serve para 'certificar' o cidadão ao final do processo.

O grande recorte, portanto, aquele que predispõe no início e atesta no final o 'estado' ou 'condição' do brasileiro, é a escolarização. O traço comum entre as classes médias e a elite é ter ido à escola. E, por óbvio, também o que as distingue dos grupos ditos subalternos. Esses vão à escola, mas... só um pouquinho. Não o 'suficiente'. E assim cumprem o destino pré-traçado de não alcançar a 'certificação'. De permanecer 'não-certos' aos olhos da norma social.

Agonialdo Silver, que escreve folhetins de quinta categoria, ironicamente destinados à fruição ágrafa, associa à figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atributos como grosseria, ignorância, desleixo, preguiça. 'Defeitos' de pobre. Ou, mais ainda, 'vícios' de pobre. Que, segundo a lógica social brasileira, seriam corrigidos através da educação.

Sarney é da Academia Brasileira de Letras. Michel Temer professor da pós-graduação do Direito na USP. Paulo Maluf engenheiro. Fernando Henrique Cardoso uma espécie de 'príncipe filósofo'. Não basta para esclarecer que a escola não 'corrige'? Precisa lembrar que o Abdelmassih é médico? Que a Adriana Ancelmo é advogada? Ou tem que ir mais longe, até os oficiais nazistas amantes da pintura, da arquitetura e da música de concerto?

'Analfabeto' é uma palavra próxima de não ter sentido algum. O uso que se faz dela desde sempre no Brasil é que é carregado de significados. Parece apenas tolo insistir no desapreço de Lula pelos livros. Sobram testemunhos de gente próxima a ele dando conta de que não apenas lê, como lê à beça e há décadas. Muito do que Lula demonstra saber passa inevitavelmente pelos livros. Negar isso não é burrice, ou mesmo incapacidade de reconhecer os saberes letrados quando estes se presentificam. É atestado de preconceito de classe.

Lula permanece, principalmente no jeito de falar, parecido com a gente pobre de sua origem. E com isso se contrapõe ao senso comum tão brasileiro do cidadão 'incompleto', do cidadão despreparado para a vida democrática, porque não foi à escola.

Parece provável que o ódio que atinge Lula é o ódio destinado ao que ele representa.

O Brasil ainda não está convencido da ideia que define a democracia não como o governo 'de todos' e sim como o governo de 'qualquer um'.

Para manter em funcionamento essa nossa perversa 'teoria das elites' o modelo de escola excludente que caracteriza a Educação brasileira é fundamental.

Claro que na sociedade da informação o custo da baixa escolaridade é cada vez mais alto, mais determinante. E que o acesso a inumeráveis bens culturais pressupõe as habilidades do letramento.

Há, porém, também uma vasta gama de conhecimentos que independem da língua escrita. Ler e escrever só recentemente foram reconhecidos como direito universal. Mas a sabedoria não. Esta, apesar de quase impossível de alcançar, permanece, desde tempos imemoriais, à disposição de qualquer um.

Thursday, December 19, 2024

19 de dezembro de 2018

Por que falar em 'estado de exceção', se esses são os mesmos juízes que entregaram Olga Benário aos nazistas em 1936? O que justifica dizer 'exceção' se esses são os mais de 150 mil presos que deixaram de ser beneficiados pela liminar de Marco Aurélio Mello (Lula, só mais um deles)? Nem mesmo a perseguição ao nosso querido presidente metalúrgico pode ser caracterizada como 'fora da curva'. Getúlio, Jango, Juscelino, Dilma... todos foram punidos antes por ferirem o arranjo sistêmico. É inacreditável, depois de ver a reação tão pronta e imediata das forças do Golpe ao longo da tarde desta quarta-feira, que ainda possa haver quem acredite que chegamos a esta situação pelos erros do campo democrático. Em poucas horas, as páginas de Direita estavam em pé de guerra, o MP se manifestou, a juíza de piso que cuida do processo de Lula desconsiderou o Ministro do Supremo, Deltan Dallangnol abandonou seu silêncio monástico, a grande mídia acionou todos os seus canais e até um Alto Comando do Exército se reuniu, formando, todos esses, em conjunto, uma espécie de domo que cercou o país. Dentro do vasto histórico de obediência cega, Getúlio, Jango, Juscelino, Dilma, formam a verdadeira exceção à regra. Exceção no seu sentido mais comezinho: aquilo que não está incluído. O exército, a mídia, o Judiciário, o Legislativo, as polícias, o grande capital, parte significativa da classe média, parte significativa das Igrejas, e outros, formam o conjunto que, coeso, proíbe as excepcionalidades. Lula é uma das maiores excepcionalidades da história do Brasil. Está (e permanecerá preso) para que a regra não seja rompida. Não estamos vivendo estado de exceção nenhum. Tudo continua dentro da mais perfeita ordem. Como sempre.

Friday, November 08, 2024

8 de novembro de 2018

A tendência da semana é afirmar que o deputado Jair cria cortinas de fumaça para desviar a atenção das verdadeiras negociações que estão sendo realizadas nas alcovas do poder. Faz sentido, precisamos estar atentos, mas, ao mesmo tempo, é forte a impressão de que o país está diante de personagens chapados, unidimensionais, que não têm nada a esconder porque não têm sequer milímetros de profundidade. O saque, ou para usar outra expressão que percorreu as redes essa semana, o 'governo de ocupação', desprovido de qualquer plano ainda que a curto prazo, está escancarado. Tudo vai sendo feito de modo explícito. Como num filme estrelado por Alexandre Frota. 

Monday, October 28, 2024

2012 - 2024. FOI GOLPE!

 

27 de outubro de 2024

SURFE

Vai daí que eu caí da cama neste domingo encoberto de segundo turno e vi no Instagram a imagem que agora faz par com o textão que vos ofereço.

Ela tem uma legenda: "Young surfer, Noosa Heads, Australia" e é assinada por Matthew Bozec, um cara nascido em Otonabee, no Canadá, especializado em fotos de viagem.

Olhei pra fotografia e me veio a ideia de que ela pode ser uma representação daquilo que penso ser a disputa entre candidaturas do campo democrático num país violento como o Brasil versus o campo da reação, que alguns chamam de conservador, outros de extrema-direita, mas a gente sabe muito bem que o nome correto é campo escravocrata.

O surfistinha com sua prancha olhando o mar encapelado é o candidato/candidata. O mar encapelado (olhando o surfistinha, como diria o Nietzsche) é, por exemplo, o "consórcio que se montou tentando usar a cidade de São Paulo pra um projeto bolsonarista em 2026", fazendo uso aqui das palavras do Guilherme Boulos na última live da campanha, ontem à noite.

O campo escravocrata muda de rosto, de nome, muda mesmo de forma, feitio, configuração, mas sem nunca deixar de ser o mesmo, sempre enorme, um grande oceano que de vez em quando um cidadão, ou uma cidadã atravessa (ou se afoga tentando) a bordo de embarcações tão precárias quanto uma prancha de surf.

Repara na minha metáfora: o corpo do menino no alto da pedra é nítido, mas o mar encapelado é indistinguível. Dele só sabemos o tamanho. Sempre um consórcio. Não apenas o consórcio em São Paulo em 2024, com vistas a 2026. O consórcio perene. O consórcio profundo.

A assimetria entre as forças é brutal. De vez em quando, quando a gente ganha, a gente governa naquele mesmo espaço exíguo do alto da pedra em que está o surfistinha. Cercados por todos os lados.

Sempre foi assim e um surfista foda que nem o Lula provavelmente se mantém na crista da onda porque mais do que ninguém conhece (e aceita) as condições do mar e do tempo.

A praia, a terra firme, não se vê no recorte da foto. É lá onde permanecem sentadas as pessoas que, quando a coisa fica difícil (tipo 14% de vantagem pros reaça), atribuem as vitórias do campo escravocrata aos erros do campo democrático, fazendo de conta que a realidade não é toda ela pré-determinada pela assimetria entre as forças. São essas pessoas que explicam as derrotas do campo democrático pela prancha escolhida errado, pelo estilo do surfista, ou seu despreparo, ou o horário de pegar a onda, ou os problemas do patrocinador, ou... qualquer coisa que se possa atribuir não ao contexto histórico, ao sistema econômico, à geopolítica, aos consórcios e sim às questões específicas do candidato/candidata.

Devem estar confortáveis essas pessoas em seus empregos, ou suas aposentadorias, ou seus canais do Instagram, do YouTube, todos esses lugares secos e firmes, longe das pedras, das ondas, do eleitorado e dos livros do Marx.

Não são elas tampouco quem decide o resultado nas urnas. É o mar, é o mar, é o mar... (como diria o Caymmi)...

A presença dessa turma é residual. Mas, guardadas as devidas proporções, se você me perguntar se o campo escravocrata se beneficia do papo pra peixe-boi dormir deles, não tenho dúvida: sim.

Deixo aqui como meu último ato de campanha os mais sinceros votos de vai-tomar-no-olho-do-seu-cu pro pessoal que fica na praia, fogo nos fascistas e 50 na urna eletrônica.

23 de outubro de 2024

 

16 de outubro de 2024

15 de outubro de 2024

 

APAGÕES

10 de outubro de 2024

 

7 de outubro de 2024

O Zé Serra em formato de coração tá passando na sua timeline pra lembrar que a baixaria ampla, geral e irrestrita nas campanhas começou em 2010.

7 de outubro de 2024

EM 1959 SÃO PAULO ELEGEU CACARECO VEREADOR

Cacareco foi uma rinoceronte fêmea emprestada ao Zoológico de São Paulo.

Nas eleições municipais de outubro de 1959 Cacareco recebeu cerca de 100 MIL VOTOS para vereador. *

A população de São Paulo em 1960 chegaria a 3.781.446 de habitantes.

Faça as contas e veja quanto, em porcentagem, aqueles 100 mil votos representavam.

Não esqueça que em 1959 os analfabetos não votavam. 40% da população. Faça de novo as contas.

São Paulo foi fundamental para eleger Jânio, Maluf, Quércia, Collor, Bolsonaro e tudo o que há de pior no fisiologismo pátrio.

São Paulo tem a cruz dos navegantes portugueses "simbolizando a fé cristã" no brasão.

São Paulo homenageia os bandeirantes com nome de avenida, de estrada, de colégio... com a porra da estátua do Borba Gato!

São Paulo perpetrou o Carandiru: o presídio e o massacre.

A lista é interminável. São Paulo elegeu Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Mamãe Falei, Ricardo Salles, Rosângela Moro...

Aquelas passeatas gigantes de verde-amarelos? Todas na Paulista.

A abstenção elegeu o Dória, em primeiro turno, em 2016. O problema NÃO É de hoje.

Tem nada a ver com voto de protesto. O que São Paulo tem é um estoque, um exército de reserva de gente escrota pronta pra ver o circo pegar fogo e contribuir com um troco pra comprar mais gasolina.

Só quem nunca morou aqui pode fazer de conta que não sabia.

Por isso, amiguinh@, o segundo turno começou ontem à noite e já passa da hora de parar de posar de estupefato com os números do Pablo Marçal. Nem adianta xingar o 'povo' (Boulos, inclusive, venceu nas periferias extremas da cidade).

Isso aqui é São Paulo, cazzo!

E pra quem cê acha que vão migrar os 30% do coach?

E quem vai receber o apoio do Bolsonaro? Quem vai ter a seu favor a máquina municipal E estadual (leia-se Tarcísio de Freitas)?

Porém, somados, Marçal e Nunes permanecem mais ou menos a metade dos votos. A outra metade está em disputa. É matemático.

Só não dá pra deixar pra se manifestar nos stories do Instagram faltando três dias pra eleição, amiguinh@.

O pau tá comendo e é hoje, já, urgente.

Tem que fazer campanha!

Foi assim que o Lula sobreviveu ao mais longo processo de desconstrução de uma personagem pública que o nosso país já assistiu: fazendo campanha em tempo integral.

A partir de 2016, lembra? o Lula entrou no modo campanha. E continua agora, depois de eleito. Isso quer dizer: você não baixa a guarda, você disputa palmo a palmo os corações e mentes como se fosse campanha, mesmo quando não é campanha.

Mas disputa muito mais quando É campanha.

Antes que seja tarde!

A vantagem da Direita em São Paulo é ESTRTUTURALMENTE maior, como eu tentei demonstrar.

Não adianta subir post falando que tá com medo, que não se conforma com o eleitorado paulistano, que tá decepcionado... nada disso contribui. E muito ajuda quem não atrapalha.

São Paulo e o Guilherme Boulos precisam de militância nas ruas, nas redes, no trampo, nas famílias, nos botecos, onde for.

A tarefa é di-fi-cí-li-ma. Tem que tirar a bunda da cadeira AGORA.

E o travesseiro é o lugar prioritário pra chorar. Aqui na jungle é só tiro, porrada e bomba. Nos fascistas.

Bóra pra cima que já começou. Ontem. Estamos atrasados.

📷: Wikipédia / A caveira do Cacareco / Cacareco em 1959 / Zoológico de SP

* À época, a eleição era realizada com cédulas de papel e os cidadãos escreviam o nome de seu candidato de preferência.

15 / 16 de setembro de 2024