Pipol - entrevista
Digestivo Cultural - Pipol, eu considero a programação visual do Cronópios, o webdesign (numa única palavra), um capítulo à parte. Vocês não estão exagerando quando dizem que "não tem paralelo no Brasil", porque não tem mesmo. E a Mnemozine, então, é um estouro. Quando eu descobri, pensei: "Quem é o louco que montou esse troço? E, agora, como ele vai atualizar?" Acho que até escrevi sobre isso... Você conta, em outras entrevistas, da sua passagem pela TV e pelo vídeo, mas o webdesign tem o quê... quinze anos? Qual é o seu background artístico? De onde você tirou essa inspiração? E, principalmente, como você foi aprender a desenhar páginas que, de novo, no Brasil ninguém desenhou? Porque, por exemplo, quando vou implementar novas ferramentas (ou inaugurar seções) no Digestivo, eu me baseio em sites gringos. Você também tem a impressão de que a internet brasileira às vezes anda a passo de tartaruga? Será herança da nossa velha mídia, que — ; sempre que pôde — brecou o acesso ao conhecimento, à informação de qualidade, à tecnologia de ponta?
Pipol - Legal o seu comentário, Julio, muito obrigado! Não me considero um designer, por assim dizer, "profissional". Não tenho formação em Design. O que faço é algo como... um "site de autor" (parodiando o termo "filme de autor")! Um filme, por exemplo, é considerado "de autor" independentemente de ser uma "superprodução" ou uma realização "de baixo orçamento". O resultado terá sempre alguma "assinatura" — mesmo que o filme não seja unânime... Penso que deixo uma "marca" nos sites que construo; meio assim... sem querer. Não saberia trabalhar de outro modo... O Cronópios tem essa característica: é um site "de autor"; é bom onde é bom, e é ruim onde é ruim...!
E trabalhei, claro, com ótimos diretores de arte, quando exerci a profissão de redator publicitário. Como todo mundo sabe, a área de "criação" das agências é composta sempre por duplas: um "diretor de arte" e um redator. Eu não mexia com o lado visual diretamente, mas colaborava bastante com idéias. Quando apareceu a internet, eu logo quis saber do que se tratava. Fui fazer um curso de HTML — e me empolguei tanto que me matriculei em vários outros cursos, aprimorando incessantemente meus conhecimentos... Achei estranho, na época, os diretores de arte não se interessarem por internet. Eu — que era mero "redator" — fiquei entusiasmadíssimo e eles ficavam literalmente... "sentados na cadeira"! Isso me marcou: foi uma grande surpresa a apatia deles...
E já que você perguntou: eu fiquei encantado com a internet porque trabalhava em TV (antes de me mudar para São Paulo). Era uma filial da Rede Manchete, em Bauru. Tive lá a oportunidade de criar em parceira, e de dirigir, um programa de TV voltado para o público jovem, o Zapteen. Foi uma experiência até poética. O programa era bastante sofisticado para a época. Até hoje, é bacana de se ver: perdeu muito pouco de seu frescor — e estou falando de 1993; ano em que esteve no ar... A internet parecia trazer de volta "esse tempo de imagens" e movimento, de experimentação criativa... Me apaixonei! A parte que me toca, do Cronópios, vem desse programa de TV. O background artístico? Acho que isso vem da infância; né? Eu gostava, por exemplo, de fabricar carrinhos de rolimã, e os meus tinham sempre uma coisa diferente... que eu pegava no ferro-velho. (Eu adorava ferro-velho...!) Tinha também um "laboratório"; eu devorava uma enciclopédia chamada Tecnirama, e tentava, às vezes, reproduzir algum instrumento. Montei um telescópio refletor newtoniano, seguindo os diagramas e buscando as peças em lojas da cidade. Eu era um chatinho desses (risos)...
E eu também, Julio, faço como você: vivo pesquisando, visitando sites de fora, para ficar atualizado no que está acontecendo. Os brasileiros são bons, também, claro... Achava essa defasagem — que você aponta — mais acentuada antigamente. Hoje, não, tanto... Mas, realmente: o pessoal lá de fora sempre "viajou" mais na criação...!
Julio Daio Borges - Digestivo Cultural - www.digestivocultural.com