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Sunday, December 05, 2010

Governador do Rio pretende sugerir a Dilma que leve a discussão sobre a legalização das drogas no mundo à ONU

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou que vai levar à presidente eleita, Dilma Rousseff, a ideia de defender em fóruns internacionais "uma discussão" a respeito da legalização das drogas leves. Ele disse a Kennedy Alencar que a repressão às drogas mata "inocentes". De acordo com Cabral, a legalização não poderia ser adotada de modo isolado pelo Brasil, mas por um conjunto de países.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

O golaço carioca

O Rio marcou um gol, um golaço. E digo bem: foi a cidade do Rio de Janeiro e não apenas seu governo, a polícia ou as Forças Armadas. A César o que é de César: a articulação entre governo, polícias e Forças Armadas foi importante e deixa-nos a lição de que sem articulação entre os muitos setores envolvidos na luta contra o crime organizado e sem disposição de combatê-lo a batalha será perdida. Mas sem o apoio da sofrida população do Rio, dos cariocas e brasileiros que habitam a cidade, e muito particularmente sem o apoio da população que vive nas comunidades atingidas pelos males da droga e pela violência do tráfico, o êxito inicial não teria sido possível.

Estive no morro Santa Marta há pouco tempo, quando a Unidade da Policia Pacificadora já estava estabelecida e pude ver que efetivamente o medo e o constrangimento da população local haviam desaparecido. A droga ainda corre por lá, mas entre usuários e não nas mãos de traficantes locais. Sei que em São Paulo e em outras regiões do país também há tentativas bem sucedidas de devolver ao Estado sua função primordial: o controle do território e o monopólio do exercício da violência (sempre que nos marcos legais). Mas o caso do Rio é simbólico porque a simbiose entre favela e bairro, entre a cidade e a zona pretensamente excluída está entranhada em toda parte.

Há, portanto, o que comemorar. Faz pouco tempo eram quase 100 mil moradores de comunidades cariocas que se haviam libertado, graças à presença da Polícia Pacificadora, da sujeição ao terror do tráfico e das regras de “justiça pelas próprias mãos” ordenadas pelo chefões locais e cumpridas por seus esbirros. Com a entrada do Estado no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, há a possibilidade de incorporar mais gente às áreas restituídas à cidadania. Mas estas populações serão mesmo restituídas à vida normal em uma democracia? E neste passo começam as perguntas e preocupações. Sem que se restabeleçam as normas da lei, sem que a permanência da força policial, sem que a Justiça comum volte a imperar, sem que a escola deixe de ser um local onde se trafica, sem que os mercados locais sejam interconectados com os mercados formais da cidade e sem que a educação e o emprego devolvam esperança aos “aviões” (os jovens coagidos a serem sentinelas dos bandidos e portadores de droga para os usuários), a vitória inicial será de Pirro. Neste caso a não guerra em algumas comunidades pela fuga dos traficantes com parte de suas armas pode desdobrar-se adiante em um inferno a que serão submetidas populações de outras comunidades, seja por traficantes ou membros das milícias.

Não escrevo isso para diminuir a importância do que já se conseguiu. Pelo contrário, mas para chamar à responsabilidade todos nós, como cidadãos, como pais, avós, como partes da sociedade brasileira pelo que acontece no Rio e em quase todo o país. Fiquei muito impressionado com o que aprendi e vi ao integrar um grupo que está preparando um documentário sobre drogas. Estive em Vigário Geral em um encontro que José Junior do AfroReggae proporcionou para que eu pudesse entrevistar traficantes arrependidos e policiais envolvidos nas guerras locais. Entrevistei muitas mães de famílias, mulheres em presídios, jovens vitimados pelo tráfico (e quem sabe se não partes dele também). Eu havia estado na Palestina ocupada por forças de Israel e vi o constrangimento a que as populações locais são submetidas. Pois bem, no Rio de Janeiro, o constrangimento imposto pelo crime organizado e às vezes exacerbado pela violência policial, que por vezes se confundem, é pelo menos igual, senão maior, ao que vi na Palestina. A falta de liberdade de ir e vir que os bandidos de diferentes facções impõem a seus “súditos” forçados e o medo da “justiça direta” tornam as populações locais prisioneiras do terror do tráfico. E não adianta dar de ombros em outras partes do Brasil e pensar que “isso é lá no Rio”. Não, a presença do contrabando, do tráfico e da violência do crime organizado está em toda parte. E a ausência do Estado também, para não falar que sua presença é muitas vezes ameaçadora pela corrupção da polícia e suas práticas de violência indiscriminada.

Se agora no Rio de Janeiro as ações combinadas das autoridades políticas e militares abriram espaço para um avanço importante, é preciso consolidá-lo. Isso não será feito apenas com a presença militar, a da justiça e a do Estado. Este está começando a fazer o que lhe corresponde. Cabe à sociedade complementar o trabalho libertador. Enquanto houver incremento do consumo de drogas, enquanto os usuários forem tratados como criminosos e não como dependentes químicos ou propensos a isso, enquanto não forem atendidos pelos sistemas de saúde publica e, principalmente, enquanto a sociedade glamourizar a droga e anuir com seu uso secreto indiscriminadamente, ao invés de regulá-lo, será impossível eliminar o tráfico e sua coorte de violência. A diferença entre o custo da droga e o preço de venda induzirá os bandos de traficantes a tecer sempre novas teias de terror, violência e lucro.

Sem que o Estado, inclusive senão que principalmente no nível federal, continue a agir, a controlar melhor as fronteiras, a exigir que os países vizinhos fornecedores de drogas coíbam o contrabando, não haverá êxito estável no controle das organizações criminosas. Por outro lado, sem que a sociedade entenda que é preciso romper o tabu e veja que o inimigo pode morar em casa e não apenas nas favelas e se disponha a discutir as questões fundamentais da descriminalização e da regulação do uso das drogas, o Estado enxugará gelo. Ainda assim, só por liberar territórios nos quais habitam centenas de milhares de pessoas, o Rio de Janeiro enviou a todos os brasileiros um forte sinal de esperança.

Monday, November 29, 2010

Os pontos positivos da operação no RJ

Enviado por luisnassif, seg, 29/11/2010 - 10:16

Por luka

Realmente são muitas opiniões e invariavelmente dizem que nada vai dar certo. Assim fica muito difícil.

Prefiro apenas destacar os pontos que achei positivos nesta operação.

- Houve resposta de pronto. A participação das forças armadas veio da real ameaça a segurança pública. Não vi a resposta como: "Eu sou mais forte que você." Minha visão foi "Vocês metem medo e eu lhes dou um grande prejuizo".

- Aquela população, seja com tráfico ou milícia tem que ter acesso a políticas sociais. No Alemão, especificamente, isto era absolutamente impossível. Quem diz que sempre viveu tranquilo com o tráfico não teve que entregar sua filha a um chefe ou seu filho ao tráfico. Viver nas imediações não é viver na favela.

- A estratégia a meu ver não é acabar com o tráfico, coisa que acho impossível. A ideia é dar prejuízo, fazer não valer a pena esta espécie de domínio. A forma de tráfico terá que se diferenciar, tornar-se mais discreta ou menos violenta, por mais louco ou hipócrita que possa parecer. Tanto que onde existem UPPs o tráfico continua sem tanto alarde.

- Não creio que a UPP seja para todas as favelas mesmo porque estado policial seria, haver tanta policia em tanto lugar. Há aquelas como o Alemão onde a presença do estado não existe e é necessária. Há aquelas, grande maioria, em que planejamento urbano, atendimento social e melhoria das condições de emprego, mesmo ao redor, podem criar um círculo virtuoso.

- A melhoria da condição social é a resposta tanto ao tráfico quanto as milícias. Não ser dependente deles é a questão. Assim como acontecia no famoso voto de cabresto no nordeste.

- A atuação da polícia no caso teve resposta positiva da população pois não viram, aparentemente, os abusos que até então se via. Para reforma da  polícia é preciso haver um espírito corporativo para isto. A valorização da atitude positiva é muito menos deletéria do que o medo do pescoção. Policial com orgulho de sua profissão sabe que milicianos não são polícia.

- As imagens chocantes daquele mundo desconhecido e o desejo de mudança daquele povo servem de alerta ao políticos corruptos. Chefes de milícia marcados por CPIs podem perder mandato a qualquer momento. Traficante não. É fato que uma realidade desconhecida da grande maioria veio a tôna. Isso pode trazer maior nivel de conscientização. 

CONFRONTO NO RIO

Criminosos já estavam arrasados, diz mediador

O coordenador do grupo AfroReggae já sabia que um dos chefes do tráfico no Complexo do Alemão pediu aval para matá-lo

PLÍNIO FRAGA /  DO RIO / FSP

Há 17 anos na mediação de conflitos em favelas do Rio, José Júnior, 41, coordenador do Grupo AfroReggae, tentou convencer traficantes do Complexo do Alemão a deporem as armas, tendo como interlocutores lideranças que defendiam seu assassinato.

Cartas apreendidas em agosto no presídio de Catanduvas (PR), destinadas a chefes do Comando Vermelho, pediam autorização para matá-lo. A polícia acredita que os autores foram os traficantes Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e Fabiano Atanásio da Silva, o FB.

"Posso ser mal interpretado e é tudo o que os reacionários querem ouvir: eu não queria que os bandidos morressem. Não é um exercício de generosidade, bondade, mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém", disse ele à Folha.

Júnior diz como encontrou os traficantes: "O governo cansou os caras. Encontrei um grupo arrasado emocionalmente. Não demonstravam interesse no confronto." 


Folha - Por que traficantes queriam matá-lo? 

José Júnior - O que motivou a carta foram mediações que fizemos. 99% do que a carta diz é verdade no que diz respeito ao Afroreggae. Duas pessoas ficaram muito incomodadas. Uma delas havia me ajudado a mediar muitas coisas. Até enviar a carta, foi para mim um facilitador para mediar muitos conflitos. Foi uma decepção. Não que não esperasse uma coisa dessas do crime, mas dessa pessoa.

Quando vem de alguém que você tem contato, que, mesmo sendo bandido, sempre teve uma postura de não ir para o confronto, gera uma decepção muito grande. Depois disso, acontecem esses ataques.

E, por eu estar como alvo, sabia que, se a carta chegasse ao Marcinho VP, líder do CV na cadeia, ele não autorizaria que me matassem. Acho que ele não autorizou esses ataques também. Foi coisa de algumas pessoas do tráfico, não de todas.

Como decidiu ir negociar a rendição?

No início, me senti desmotivado a mediar por ser alvo. Anteontem recebi recados. Foram três telefonemas perguntando se existiria possibilidade de negociação. Eu disse que só a rendição completa e total. "Não existe uma alternativa?", me perguntou um deles. Primeiro, disse que não me cabia isso.

Havia falado com o Allan Turnovski [diretor de Polícia Civil]. Ele disse que a polícia garantia que não esculacharia nem mataria ninguém, se eles se entregassem sem confronto.

Os traficantes, ficou claro agora, não queriam confronto. Sempre que fui mediar, nunca tinha sido alvo.

Meus amigos policiais diziam que eu não deveria ir ao Alemão. Já que havia uma bronca contra mim.

Minha ida lá foi porque os moradores me pediam o tempo todo, os traficantes me pediam também.

Posso ser mal interpretado e é tudo o que os reacionários querem ouvir: eu não queria que os bandidos morressem. A verdade é essa. Não é um exercício de generosidade, bondade, mesmo com pessoas que tramaram contra mim e que poderiam me pegar como refém. Eu fui para o risco. Deixei um e-mail até para o governador dizendo que eles não tinham responsabilidade e que eu assumia o risco.

O que encontrou?

O governo cansou os caras. Inteligentemente. Encontrei um grupo arrasado emocionalmente. Eles não demonstravam interesse no confronto naquele momento. Eu disse que a polícia tinha interesse de prender todos vivos, sem confronto.

Estavam conscientes do aparato militar. Foquei muito na vida e na morte. Disse que, se eles atacassem, iriam morrer. Fui falar das alternativas que tinham: se entregar ou se entregar. Abandonar as armas. É bom deixar claro o que é esta negociação. Não propusemos nada em troca.

Quando eles disseram que não se entregariam?

Ninguém falou isso. Várias pessoas se entregaram. Os caras tentam fugir. Não deu, se entregam.

Sunday, November 28, 2010