Friday, August 31, 2007
Tuesday, August 28, 2007
O site recém-lançado Strayform possui um novo modelo para venda de músicas e promoção de bandas independentes.
Os artistas podem cadastrar suas bandas e enviar algumas de suas músicas, que poderão ser ouvidas e baixadas, sem qualquer tipo de proteção DRM. Então, em seu perfil a banda pode criar propostas de novos trabalhos, que serão avaliadas pelos usuários.
Segundo o site TechCrunch, cada proposta é única, com artistas inclusive dizendo que mencionarão o nome da pessoa que mais doar para a criação da nova canção.
Mesmo com pouca publicidade, Strayform foi divulgado no canal televisivo americano Fox News, que entrevistou seu criador e uma das bandas no catálogo do site. Durante três minutos, falou-se em como é importante esta interação entre bandas e público, como isto pode modificar o processo criativo e auxiliar no crescimento do cenário independente. Interessados podem conferir o vídeo da pequena matéria no site do serviço.
Este não é o único serviço que tenta mudar o modelo de venda de músicas e promoção de artistas na web. O site SellaBand, por exemplo, permite que artistas recebam doações de fãs. Quando estas doações chegam ao patamar de US$ 50 mil, o artista assina contrato com uma gravadora, o que o site provou não ser impossível de acontecer: quatro bandas já conseguiram.
O site Amie Street é outra opção para pequenas bandas, que a princípio disponibilizam suas canções gratuitamente e, conforme estas se popularizam e são baixadas, o download ganha um valor que começa a aumentar progressivamente.
Sunday, August 26, 2007
Até quanto sei, o único estudioso que aborda o tópico das particularidades de conteúdo nas experiências visionárias é Aldous Huxley (1972). Huxley ataca o problema de uma perspectiva [que] não principia pela experiência visionária, mas termina aí. A questão que levanta é: "por que razão seriam as pedras preciosas sempre consideradas como extremamente preciosas?" Eis o tratamento que Huxley dá a essa esplêndida questão:
Resulta algo muito curioso quando pensamos na seguinte questão: por que possível razão os seres humanos empenharam imensas parcelas de tempo, energia e dinheiro colecionando pedregulhos coloridos? Não se concebe aí nenhum valor econômico. [...] Plotino, o grante filósofo neoplatônico, [...] afirm[a]: "No mundo inteligível, que é o mundo das idéias platônicas, tudo brilha; conseqüentemente, a mais bela coisa de nosso mundo é o fogo." Essa observação é significativa de vários modos. Antes de mais nada, ela [mostra] que uma grande estrutura metafísica, a estrutura platônica e neoplatônica, foi essencialmente construída sobre uma experiência quase sensória. O mundo das Idéias brilha, é um mundo que pode ser visto; e esse curioso fato, que o mundo ideal pode realmente ser visto, pode ser descoberto em Platão mesmo. No Fedo, Sócrates fala do [...] mundo que ele chama de a outra terra[:] n[ele] [...] tudo brilha, [...] as próprias pedras no caminho e nas montanhas têm a qualidade das pedras preciosas; e ele termina dizendo que as pedras preciosas de nossa terra, nossas valiosas esmeraldas, rubis, etc. não passam de fragmentos infinitesimais das pedras que se podem ver nessa outra terra; e essa outra terra, onde tudo é mais brilhante e mais claro e mais real do que em nosso mundo, essa outra terra é, diz ele, a visão que têm os afortunados, em sua contemplação. Eis aqui outra indicação de que uma grande idéia metafísica, a Idéia platônica, o sistema platônico do mundo ideal, também está baseado em um mundo da visão. É uma visão dos mais afortunados em sua contemplação, e penso que agora começamos a entender por que as gemas são preciosas: são preciosas por nos recordarem, de alguma forma, algo que já havia em nossos espíritos. Elas nos fazem lembrar desse mundo paradísico, mais-que-real, que por vezes é vislumbrado conscientemente por algumas pessoas e, creio, tenuemente entrevisto pela maioria delas, e de que nós todos, de algum modo obscuro, temos conhecimento em um nível inconsciente. E como disse Plotino, é por causa da existência desse outro mundo, esse outro mundo luminoso, que a coisa mais bonita na terra é o fogo. [...] [Assim,] penso com bastante convicção que a razão por que as pedras preciosas são preciosas é precisamente esta - elas nos recordam esse outro, estranho mundo que há no fundo de nossas mentes, ao qual alguns podem obter acesso e ao qual outros têm acesso espontâneo (Huxley 1956:35-37).
Benny Shanon é professor de psicologia na Universidade de Jerusalém. É autor de The antipodes of the mind: charting the phenomenology of the ayahuasca experience (2002)
http://www.scielo.br/scielo
Para Ruy Fausto, professor emérito de filosofia da USP, o conjunto das posições políticas da intelectualidade brasileira -e seus fundamentos teóricos- não passa de um "sistema de erros". "As posições políticas dos intelectuais brasileiros em geral me assustam", diz o autor do recém-lançado livro de ensaios "A Esquerda Difícil" (Perspectiva). Fausto critica desde os que segundo ele pertencem à "extrema esquerda niilista intelectual" até os que, saindo da esquerda, se aproximaram recentemente do PSDB.
Niilistas de esquerda (a exemplo, segundo o autor, do filósofo Paulo Arantes) e tucanos terminam, para Ruy Fausto, fazendo uma crítica pouco sofisticada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ao momento que vive o Brasil.
No meio do caminho, encontra e ataca intelectuais petistas que tentaram negar a existência do mensalão -o caso mais estridente desse tipo de atitude, não nomeado por ele, é o da filósofa Marilena Chaui.
"Lamentavelmente, parte da intelectualidade do PT tomou a defesa do partido, e portanto dos corruptos, e pôs a culpa na imprensa pelo escândalo, como se ela tivesse montado o essencial", afirma. "A tendência a transformar tudo em complô da mídia é propriamente lamentável, e mostra a total desorientação de parte da intelectualidade petista."
A seguir, trechos da entrevista, realizada por escrito.
FOLHA - Em seu livro, o sr. condena certa crítica ao governo Lula que identifica com uma "extrema esquerda intelectual niilista". Ataca também a "crítica política compacta de um mundo globalizado, em que não se vê nenhuma possibilidade de saída". O que marca essa crítica?
RUY FAUSTO - As posições políticas dos intelectuais brasileiros em geral me assustam. Isso parece muito pretensioso, mas o conjunto me parece um sistema de erros. Esquematicamente, os intelectuais tendem a assumir três posições diferentes, e a meu ver, as três equivocadas. Há por um lado os radicais, por outro os petistas, em terceiro lugar os que abandonaram a perspectiva de esquerda, e aderem a partidos como o PSDB.
O que chamei de niilismo é uma das duas variantes do primeiro grupo, que inclui igualmente uma variante revolucionária tradicional.
O que visei falando em niilismo? A tendência a falar num fechamento global da situação, e numa suposta impossibilidade em tomar qualquer atitude politicamente acertada e produtiva.
FOLHA - Há riscos nesse tipo de crítica? O que se perde aí?
FAUSTO - Claro que a situação é difícil, e é preciso esforço para definir que iniciativas poderiam representar um bom programa à esquerda no Brasil. Ela só é problemática no sentido de que, para se reorientar, é preciso se desvencilhar de um certo número de preconceitos.
Quanto à posição de Paulo Arantes, é muito marcada pelo marxismo, com a novidade, muito relativa, de que há um pessimismo em relação às possibilidades da revolução. Isso é muito pouca coisa como "aggiornamento" teórico.
O autor continua pensando no interior de um esquema maniqueísta, em que há o capitalismo onipotente, e as forças que tentam se opor a ele, sem sucesso. Esse tipo de esquema, na realidade hiperclássico, o leva a erros enormes, como um que assinalo em um dos meus textos: o Gulag (como também Auschwitz) é considerado como fenômeno capitalista!
Como digo no meu livro, no esquema dualista (em certo sentido, mesmo, monista) do autor, tudo aquilo que cai na rede da contemporaneidade (se não for socialista, e o autor não é tão ingênuo a ponto de pensar que o Gulag tem algo a ver com socialismo) há de ser peixe capitalista. Que se trate de um "tertius", nem capitalismo nem socialismo (o que é evidente para 90% da esquerda européia, já há bastante tempo), isso não lhe passa pela cabeça.
FOLHA - No livro, o sr. indica ter ainda confiança na capacidade de o PT representar um projeto de esquerda democrática no país. Num comentário, entre colchetes, afirma em seguida que essa crença se perdeu. Como foi?
FAUSTO - É. Quando escrevi o artigo, creio que foi em 2004, ainda tinha esperança no PT, depois perdi. Diria que foi impossível continuar a acreditar no PT, desde que se revelaram os primeiros escândalos ligados ao chamado mensalão. O assunto corrupção é sério demais para ser considerado de um modo ligeiro, para quem acredita em democracia. Lamentavelmente, parte da intelectualidade do PT tomou a defesa do partido, e portanto dos corruptos, e pôs a culpa na imprensa pelo escândalo, como se ela tivesse montado o essencial.
A tendência a transformar tudo em complô da mídia -que está longe de ser inocente, principalmente na sua atitude para com o governo Lula, mas, no caso do mensalão, fora as diatribes sinistras contra intelectuais do PT proferidas por certa revista, ela acertou muito mais do que errou- é propriamente lamentável, e mostra a total desorientação de parte da intelectualidade petista.
Não se defendem princípios, defende-se um partido. Como se os partidos não apodrecessem, e como se eles fossem mais importantes do que um projeto socialista democrático sério. Essa atitude mistificou parte da opinião universitária, que "não acredita" no mensalão, como se se tratasse de um problema de crença ou de fé (se o mensalão era quinzenal, ou semestral, isso interessa pouco, o essencial é que houve corrupção, e grande). Com isso não quero dizer que nada preste no PT, nem que ele não tenha mais interesse. Há certo número de pessoas honestas e com convicções ali. Só que são minoritárias. Veremos se ainda podem desempenhar algum papel.
FOLHA - O sr. também cita as críticas da imprensa e de "partidários do governo antigo", e afirma que a situação do país, e do governo Lula, exigiria uma "finura crítica" maior.
FAUSTO - O terceiro engano (o primeiro é o radicalismo, o segundo o petismo acrítico) é a adesão aos partidos de centro e de centro-direita. Não estou dizendo que FHC e cia. sejam monstros, com os quais todo diálogo seja impossível. O diálogo é sempre possível, e dentro do PSDB há tendências desenvolvimentistas, como há gente pessoalmente honesta etc.
Mas isso não é suficiente, longe daí, para justificar um deslizamento de pessoas que foram de esquerda (ver o PPS, e alguns intelectuais) em direção ao PSDB. Aderir ao PSDB, ou "adotar" a política dos tucanos é renunciar a uma posição de esquerda. O que significa: é abandonar a idéia de que é preciso antes de tudo combater a desigualdade monstruosa que existe no país, e a de que toda política deve visar em primeiro lugar a luta contra essa desigualdade, e o estabelecimento de uma situação em que os pobres não sejam mais hiperexplorados ou marginalizados.
FOLHA - Ao recusar a "extrema-esquerda niilista", petistas e tucanos, o sr. se situa onde?
FAUSTO - A reorientação política em si mesma não é difícil, senão no sentido de que é preciso vencer preconceitos arraigados. No plano prático, claro, tudo é muito difícil. O mais importante por ora é travar uma luta pela hegemonia das idéias de um socialismo crítico e democrático. Isso é o que dá para fazer por enquanto. É limitado, mas é muito importante.
Creio que precisaríamos de uma revista, mas uma revista com gente que tenha posições bastante convergentes, e que se disponha a trabalhar no sentido de uma crítica intransigente ao petismo acrítico, ao revolucionarismo -inclusive o niilista- e às pseudo-sociais-democracias nacionais, que na realidade não têm nada de social-democratas. Uma revista política e teórica que fosse nessa direção representaria um passo importante, no sentido da preparação de uma reorganização política. Pelo menos denunciaríamos os sofismas e as jogadas de uns e outros. A partir daí, e entrando em contato com o que existe de melhor em vários grupos ou partidos (há gente politicamente sã, mesmo se minoritária, um pouco por todo lado, inclusive fora de grupos ou partidos) veríamos o que seria possível fazer a médio prazo.
FOLHA - O sr. fala em desafios para a esquerda, que seja capaz de repor projetos de futuro e de pensar criticamente a herança marxista. O que no marxismo ainda pode ser usado?
FAUSTO - Defendo que é preciso "atravessar" Marx e o marxismo. Há neles um lado que é suficientemente vivo, e há um lado definitivamente morto.
Esquematicamente, acho que o corpus marxiano funciona bastante bem, ainda, como crítica (digo, em termos gerais, mas essenciais) do capitalismo. Mas funciona muito mal como política, e em grande parte, como filosofia da história.
Principalmente, ele não serve para decifrar e criticar os totalitarismos. Por isso mesmo, ele serviu e serve como ideologia para estes últimos, mesmo se sob formas modificadas. A tragédia da esquerda atual é que pouca gente pensa assim.
Grosso modo, na Europa domina a idéia de um Marx inteiramente morto, no terceiro mundo o de um Marx senão inteiramente pelo menos essencialmente vivo. As duas teses são erradas, e suas conseqüências são simetricamente catastróficas. Acho lamentável que intelectuais de bom nível continuem enchendo a cabeça da juventude com contos da carochinha sangrentos como o da "ditadura do proletariado", fazendo abstração de tudo o que aconteceu no século 20.
No outro extremo, há, na Europa sobretudo, uma tendência de recusar Marx de forma absoluta, em todos os seus aspectos. Uma espécie de alergia a Marx.
O resultado não é menos desastroso. A esquerda se perde no terceiro e no primeiro mundo, mas por razões opostas.
FOLHA - Como seria esse projeto futuro de socialismo que respeita a democracia e abre mão, em grande medida, da violência?
FAUSTO - Não é fácil propor programas. Mas é possível pensar em algumas idéias. Além da preservação e ampliação dos direitos democráticos no plano civil e político, e de uma atitude absolutamente intransigente em relação à corrupção, caberia tomar medidas de redistribuição de renda. Nesse plano, uma modificação das regras de cobrança do imposto de renda se impõe. Associada a medidas econômicas que facilitem o desenvolvimento, ela poderia liberar fundos que permitissem verdadeiras reformas no plano da educação e da saúde.
Sem uma política radical de redistribuição de renda, as necessárias reformas da previdência e da educação se transformam em mini-reformas de eficácia muito limitada.
Há por outro lado, os projetos de economia solidária, as cooperativas essencialmente, que têm dado resultados positivos em outros países.
A longo prazo, o objetivo seria uma sociedade em que há mercadoria e mercado, mas em que o capital é de uma forma ou de outra controlado, e neutralizado nos seus efeitos.
FAUSTO - A situação é difícil. Mas em primeiro lugar é preciso pensar com lucidez e clareza, o que significa, se dispor a repensar a tradição socialista sem preconceitos. Claro que isso não nos tira da situação atual.
Mas é condição necessária. A idéia de que não há mais classe que suporte projetos de mudança é tradicional demais.
Também a idéia de que há integração de todos ao sistema teria que ser posta à prova. Enquanto se falar da derrota do socialismo a propósito da derrocada do socialismo de caserna, enquanto se continuar a ter ilusões com o castrismo, o chavismo etc etc, é inútil se queixar de que não se vêem saídas. Resolvam primeiro essas confusões, abram-se para um discurso lúcido radical-democrático, e depois veremos o que fazer.
http://sincronias.spaces.live.com/
De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo.
O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Segundo a polícia, Kelly Samara C. dos Santos se apresentava como Kelly Tranchesi e lesou ao menos dez pessoas em R$ 30 mil
A aventura da falsa socialite que por sete meses se apresentou como a fina Kelly Tranchesi no circuito de luxo de São Paulo terminou com sua prisão e a revelação de que ela é, na verdade, Kelly Samara Carvalho dos Santos, 19, autora de golpes e furtos no Brooklin, na Vila Olímpia, no Itaim Bibi e nos Jardins, como ela própria confessou.
É a segunda vez que ela foi detida pelo mesmo tipo de crime. Na primeira, em 1º de agosto, sua advogada conseguiu que a Justiça concedesse sua liberdade provisória após oito dias.
Kelly acabou presa porque, para não pagar os R$ 4.000 de honorários, resolveu prestar queixa contra a própria advogada, alegando que ela havia se apropriado de suas roupas. Na noite de anteontem, ao voltar ao 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, na zona oeste, para buscá-las, foi presa em flagrante por portar cheques furtados. Foi indiciada por suspeita de crimes de estelionato, falsidade ideológica e três furtos.
Desde fevereiro, a garota que aos 15 anos saiu da casa dos pais, em Amambai (MS), onde nasceu, já lesou ao menos dez pessoas em mais de R$ 30 mil na capital paulista, segundo a polícia -um quadro avaliado em R$ 37 mil foi recuperado.
Seu primeiro crime, que mostrou a predileção por artigos de luxo, diz a polícia, foi na adolescência: o roubo de R$ 50 mil em jóias em Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, onde se hospedava no hotel Mercury, deu um "baile".
Em 25 de julho, roubou uma gravura autenticada do artista espanhol Joan Miró (1893-1983) no valor de US$ 18 mil (quase R$ 37 mil) após ter um namoro relâmpago com o dono da galeria. Passou a noite com um quarentão e furtou dele, na cama, cartão de crédito e R$ 5.500 em dinheiro, gastos em roupas de lojas grifadas da rua Oscar Freire.
Furtava cheques e alugava carros importados com motorista para ir a boates como as badaladas Disco e Pacha. Também deu calote no hotel.
Boa-noite-cinderela
Uma das últimas vítimas de Kelly foi uma aposentada de 84 anos, em 10 de agosto.
"Eu caí na rua, ela me ajudou e me levou até em casa", diz Amena Campos de Souza, moradora do Jardim Paulista. "Depois voltou para ver se eu estava bem, pegava o celular e fingia que conversava com o pai, que seria dono de loja da Oscar Freire, pedindo que ele me desse um emprego para eu ter uma atividade. Um dia, sem eu perceber, roubou um talão de cheques."
Kelly "Tranchesi" (sobrenome clonado de Eliana Tranchesi, dona da butique Daslu) se passava por endinheirada. Ela estudou até o ensino médio e não trabalhava. Segundo a delegada Aline Martins Gonçalves, do 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, ela disse em depoimento que chegou a atuar como garota de programa na Baixada Santista.
Quando não cobrava por bem, "cobrava" por mal. Aplicava o golpe conhecido por boa-noite-cinderela (adicionar sonífero à bebida da vítima para furtar) em homens jovens e maduros que seduzia com seu corpo de modelo (1,76 m e 56 kg) em boates caras.
Outro artifício usado por Kelly para se aproximar de seus possíveis "alvos" eram os sites de relacionamentos, como o Orkut. "Ela está sendo acusada disso? Sério?", diz o estudante Kléber Neivert, 18. "Nossa! Ela me adicionou dizendo que me conhecia de algum lugar, e era muito legal. Eu sempre trocava mensagem com ela."
"Empregada"
Na loja Vide Bula, na rua da Consolação, armou um circo e tanto, segundo relato de uma vendedora que prefere não se identificar. Ligou antes dizendo ser "empregada da Kelly Tranchesi" e avisando que a "patroa" iria "comprar muito" e que, então, deveria ser muito bem tratada.
De acordo com a funcionária, ela chegou à loja dez minutos depois do telefonema, vestida com roupas de marca, tratando a todos muito mal e com a mesma voz da "empregada".
O apreço por grifes é traduzido em suas comunidades do Orkut: Diesel, Scuderia Ferrari, Sttutgart Porsche, Eu Uso Emporio Armani ou Quero uma Ferrari Pink.
KLEBER TOMAZ / DANIEL BERGAMASCO - DA REPORTAGEM LOCAL - Folha
Saturday, August 25, 2007
FOLHA - Os irmãos Campos tinham uma relação diferente do senhor com a idéia de reconhecimento da poesia concreta?
PIGNATARI - Bom, o Augusto se queixa em relação ao reconhecimento. Eu não quero saber disso, não me importo. Não existe vanguarda majoritária. O signo novo não pode ser majoritário. O novo põe em questão o que foi feito antes. Imagine o Picasso chegar em 1958 e fazer 50 anos do quadro "Les Demoiselles d'Avignon". Não basta ser simplesmente de vanguarda. O importante é você ter uma poesia de alto repertório. Só isso.
FOLHA - E quais são seus critérios para avaliar os repertórios?
PIGNATARI - Eu costumo perguntar aos meus alunos ou em conferências: sabem quantos brasileiros lêem "Os Lusíadas" por ano? Dezessete. Eu fiz as contas, incluindo os departamentos de literatura. Para mim, que tenho Camões como número 1, não adianta 17 lerem "Os Lusíadas" ao ano. Porque, para mim, o cotejo é sempre internacional. Se você me perguntar qual é o maior poeta do Brasil, eu vou responder: "O que você está querendo dizer?".
É um problema de teoria da informação. Eu não gosto de falar em primeira, segunda ou terceira categoria. E sim em primeiro nível, segundo nível e terceiro nível. Você tem grandes, ótimos criadores, mas muito poucos de primeiro nível, como Dante e Mallarmé.
No segundo nível está a grande maioria dos grandes escritores, especialmente prosadores, como Dostoiévski, Faulkner, Tolstói, que era um plagiário.
Eles são todos excelentes criadores, que fizeram grandes obras de segundo nível.
FOLHA - E, no Brasil, quem temos no primeiro nível?
PIGNATARI - Nós temos os grandes, mas eles justamente não estão nos departamentos de letras. O número 1 do século passado se chama Joaquim de Sousândrade. E quem é que vai ler? Quem é que entende? A penetração da informação nova é muito lenta, demora até entrar no "mainstream". Ele está sendo publicado agora. Ninguém entende o que aquele homem está falando...
FOLHA - Mas esse problema é historicamente típico do Brasil ou do mundo em geral?
PIGNATARI - Não, isso existe em geral. Vi gente extraordinária que foi reconhecida muito depois. Nos séculos 17 e 18, ninguém lia Shakespeare. Na Inglaterra, Shakespeare não existia. Acho que mal era representado. Ele foi ressuscitado no Romantismo.
FOLHA- Mas, no Brasil, há mais autores de primeiro e segundo níveis?
PIGNATARI - Você tem os grandes criadores do século 20, como não? É uma pena que Álvares de Azevedo tenha morrido tão cedo. Esse era um byroniano, tinha talento demais. Assim como o Castro Alves, que eu adorava na adolescência. E o século 20 produziu os grandes poetas do Brasil. O Drummond não deve nada a Octavio Paz. Selecionando bem. João Cabral é poeta realmente de primeiro nível, no Brasil, de segundo nível mundial. Ele não chega a ser nenhum Mallarmé, não chega a um Cummings, a um Pound, não chega a um Elliot, que para mim é grande mesmo, até maior que Pound. Eu não engulo os cantos inteiros do Pound.
FOLHA - E na prosa? Guimarães Rosa está entre os primeiros?
PIGNATARI - Aqui, Guimarães Rosa em primeiro, Dyonélio Machado em segundo, e depois vêm todos os nordestinos. Ou seja, vêm aí José Lins do Rego, os bons. Você tem alguns, mas tem de selecionar as obras deles, mas você tem Graciliano Ramos, José Lins, o Guimarães Rosa... . Quando li "Sagarana", eu falei: "Mas que coisa absurda, esse sujeito misturou Rui Barbosa com Euclides da Cunha. "Sagarana" para mim é detestável, mas ele surpreendeu com "Grande Sertão: Veredas". Aí ele sabia quem era Joyce, ele sabia quem é Camões, ele realmente sabe quem é Euclides.
FOLHA - Esse tipo de avaliação não parece ter eco no meio acadêmico brasileiro...
PIGNATARI - No Brasil, você sempre caminha para uma coisa que é muito pobre. Faz-se literatura comparada, mas se foge como o diabo da cruz dos juízos de valor. Aí, vem um Harold Bloom [críticos literário norte-americano] e espanta todo mundo porque ele fala mesmo "é bom" e "eu gosto". E é preciso, senão como é que você vai orientar os mais novos? Nós nos perguntávamos, Augusto, Haroldo e eu, nas nossas reuniões: o que queria dizer um grande poeta brasileiro? O que queria dizer um grande autor brasileiro? Se começarmos a cotejar internacionalmente, onde ele ficaria? O Antonio Candido, que foi meu orientador na academia, acabou transformando os setores de letras no mesmo que eram os catedráticos. Quer dizer, um nacionalismo que não faz muito sentido e onde você até procura evitar estudar, por exemplo, as influências estrangeiras sofridas por um escritor brasileiro.
FOLHA - O sr. poderia dar um exemplo?
PIGNATARI - Por exemplo, a influência do Joyce no Rosa. Eu defendi e dei cursos durante décadas sobre "Os Ratos", do Dyonélio Machado. Só esse livro do Dyonélio, gaúcho, já vale toda aquela festa nordestina, que, de resto, fez trabalhos interessantes, não importa se é best-seller. Se é sucesso, é sucesso, por que não? Não sou contra fazer sucesso.
Escritores como Erico Verissimo e Jorge Amado eram best-sellers, foram os primeiros best-sellers brasileiros. Mas não atingem, para mim, nenhum deles, o valor de "Os Ratos", que pegou no ar, naturalmente, o romance em 24 horas do James Joyce, não é? Ele fez ali algo extraordinário.
FOLHA - Como será o livro de cartas que a Unicamp está preparando?
PIGNATARI - A [pesquisadora] Maria Eugênia Boaventura, que fez o "O Salão e a Selva", a biografia de Oswald de Andrade, está cuidando disso. O que pode ter interesse para pesquisadores no futuro é a correspondência minha com os Campos. Eu na Europa, eles em São Paulo, entre 1954 e 1956. Eram cartas assim de dez, 12, 15 páginas, e eu datilografava todas, eu não escrevia à mão. Tenho muitas delas, pois eu tirava cópia, à máquina mesmo, com carbono. E era uma briga danada, discussões de tudo o que você pode imaginar, até xingatórios. E imbatível mesmo é o Haroldo. Só o Haroldo sozinho, meu Deus, só a correspondência do Haroldo deve ter 2.000 cartas.
Nessa correspondência se vê tudo, o nascimento da poesia concreta praticamente. Aquilo que antecedeu também, porque eu tinha sonhado mesmo em ir embora do Brasil. Era natural, para alguém que admirava poetas, escritores e artistas de fora, querer conhecer que mundo é esse. Gente que eu admirava. Que primeiro mundo era esse? Era a Europa.
FOLHA - E como estas suas viagens à Europa influenciaram a poesia concreta que estava por vir?
PIGNATARI - Eu fiquei um ano em Paris, seis meses em Munique, me interessava muito por desenho industrial. Eu já estava ligado ao grupo de artistas concretos que tinha já uma visão do design. Fui justamente para a Alemanha para conhecer a recém-inaugurada Hochschule für Gestaltung, a escola superior da forma que tinha sido inaugurada pelo [designer, arquiteto e artista plástico suíço] Max Bill [1908-1994]. E aí tive minha primeira conversa com [poeta boliviano de origem suíça Eugen] Gomringer [1925-], quando nos demos conta de que o nosso caminho era o mesmo. Foi uma maravilha essa descoberta. Então, primeiro Gomringer. Segundo, pela primeira vez eu ouvi falar em semiótica e Charles Sanders Peirce. E, terceiro, a primeira vez em que eu ouvi falar em cibernética, por meio de um livrinho do Norbert Wiener que ficaria famoso: "Cibernética e Sociedade - O Uso Humano de Seres Humanos". Essas duas informações, mais a ligação a Gomringer, foram fundamentais.
FOLHA - Em 2004, o senhor lançou "Céu de Lona", primeira parte da trilogia que investiga as relações entre intelectuais e suas mulheres. Como andam a segunda e terceira partes?
PIGNATARI - Eu havia começado a segunda parte em Ferrara, em maio do ano passado, e agora voltei lá para concluir. Chama-se "Viagem Magnética", que trata da Nísia Floresta, a grande, a primeira feminista brasileira. Ela e o Auguste Comte [filósofo francês fundador do Positivismo], que, na verdade, aparece bem "en passant". Ela mesma nunca foi positivista. A história é bem outra. Uma professora de Minas, a Constância Lima Duarte, me cedeu muito material. Mas ela fez todo o trabalho oficial, politicamente correto. Eu vou fazer uma obra de ficção, onde vão acontecer coisas espantosas. Não é a Nísia histórica que aparece. É uma peça eroticamente muito forte.
É uma peça de idéias, não de uma pessoa. E a terceira vai ser sobre Kierkgaard e Regine Olsen, e vai se chamar "O Salto", que é uma das idéias fundamentais do Kierkgaard. Você chega no momento da angústia absolutamente necessária. Você não vai sair dela sem dar "o salto", que para ele é Deus.
FOLHA - Como gostaria que as peças fossem encenadas e por quem?
PIGNATARI - Com a maior liberdade. E pelo Bob Wilson, porque foi ele que marcou a minha mudança para o teatro. Estava em São Paulo, quando vi sua montagem de "Quando Despertamos de entre os Mortos", de Ibsen. Era o que eu queria, as falas e os gestos são deslocados. O texto vinha de três fontes diferentes. Pô, eu fiquei apaixonado pelo Bob Wilson.
FOLHA - No Brasil, não acha que tem alguém que seja capaz?
PIGNATARI - O Antunes. Embora ele hoje seja uma lástima. Eles só são bons na primeira peça, depois, um desastre.
Folha - Nem o Zé Celso?
PIGNATARI - O Zé Celso não. O Zé Celso fez "O Rei da Vela" e mais alguma coisa. O Zé Celso é abominável. Abominável nos últimos 20 anos. Eu fazia crônica na Folha quando fiz crítica a ele. Ele ficou uma vara. Mandava sujeitos me telefonar, me xingar de tudo quanto era nome. É uma baixaria baseada na ignorância. A gente do teatro brasileiro é muito ignorante.
FOLHA - Das lutas nas décadas de 50, 60, cuja riqueza o senhor exalta, o que restou?
PIGNATARI - Ficou o que você desfruta hoje. Ficou um outro Brasil. Já é um outro Brasil, ainda em nível de C para B. Mas é um outro Brasil. Você não tem idéia do que era. Não tem nem idéia do que era namorar e casar naquele tempo. Não tem idéia da estupidez, dos preconceitos em relação a tabus sexuais, tabus da virgindade. O número de estudantes universitários, naquele tempo, eu calculo, devia ser cem mil. Hoje caminhamos para 4 milhões.
FOLHA- E o que restou das vanguardas?
PIGNATARI - Não, não há mais. Vai haver muitas vanguardas. Não há mais a idéia de uma única vanguarda. São muitos focos que podem ser vanguarda. No Brasil, infelizmente, ficamos para trás numa delas e para a frente noutras. Por exemplo, o Brasil ficou para trás na arquitetura, cultivando o concreto que faz o edifício pesar 500 vezes mais.
FOLHA- E em que vanguarda o Brasil está presente?
PIGNATARI - Logo vão acabar com ela também, mas a única vanguarda que houve nesses últimos tempos, por incrível que pareça, e que me espantou, foi a moda. A moda me espantou. Todos os desfiles de moda. Meu deus do céu, eles fazem aquelas roupas incríveis e todo mundo se pergunta: mas ninguém vai vestir isso? Justamente essa moda é uma linguagem de vanguarda. Eu não conheço bem, mas eu vejo os desfiles, as fotos, as coisas incríveis que acontecem na moda, pombas. A moda como roupa experimental. Acho espantoso como linguagem a moda.
AO COMPLETAR 80 anos, Décio Pignatari presenteou-nos, numa entrevista, com juízos duros, opiniões contundentes e cortes especialmente preparados por sua língua e mente afiadas. Não há muitos países onde o que os poetas acham mereça mais atenção que a dos leitores fiéis. Como no Brasil, porém, agentes culturais infinitamente menos relevantes pontificam a torto e a direito sobre o que lhes venha à cabeça, vale sempre a pena ouvir o que tem a dizer um criador cujos equívocos instigam mais que a média dos acertos alheios.
Se nenhuma de suas tacapadas é nova, nem faltam as que beiram a idade da aposentadoria, convém recordar que, desde que ele cessou de ser presença constante na mídia e na academia, já amadureceu toda uma geração que mal lhe conhece os pontos de vista, para nem falar dos pontos cegos.
Por menos bem mapeada que a era à qual se referem esteja, internet e web não só dispensam os jovens que queiram contextualizar tais tópicos da necessidade de se enfronharem nos arquivos de jornais, percorrerem sebos, xerocarem publicações esgotadas, como me dispensam igualmente de acrescentar notas de rodapé. O mesmo, contudo, não se aplica às alfinetadas de Décio, que provocaram a réplica não menos pontiaguda de seu alvo, Ferreira Gullar.
Quem tenha se restringido a esses dois textos, sem conhecer direito a obra poética, crítica, teórica bem como a atuação de ambos e dos demais contemporâneos envolvidos, corre o risco de crer que, seja estética, seja ideologicamente, o poeta paulista e o maranhense se encontram em campos, se não em pólos, totalmente opostos. Já quem se meta nessa pinimba se arrisca (merecidamente) a hostilizar e a apanhar dos dois pseudo-antagonistas.
Adianto minha conclusão: tudo que os aproxima, ou melhor, aparenta é maior, mais profundo e relevante do que aquilo que os aparta. Mais: as diferenças entre Décio e Gullar não são maiores do que as que existem entre Décio e os outros concretistas, entre Augusto e Haroldo de Campos, ou entre todos e poetas tão próximos a eles como, por exemplo, José Paulo Paes e Sebastião Uchoa Leite. Trata-se, para encurtar a história, de peculiaridades não de estilo ou escola, mas pessoais, se tanto.
Para começar, quer queiram, quer não, nossos dois poetas descendem diretamente de Drummond e Cabral, isto é, da segunda geração modernista. Suas tentativas bem-sucedidas de, no duelo edípico, se contraporem aos mestres, junto com o esforço dos outros poetas acima, resultaram no nascimento de uma terceira geração modernista, uma geração que lançou mão de idéias e recursos dos respectivos pais para tentar sistematizar e recuperar a alegre anarquia dos avós (Mário, Oswald, Bopp, certo Bandeira).
O mais inesperado, como observei, é que, em determinados pontos nada desprezíveis, Décio e Gullar se assemelham antes um ao outro do que qualquer um deles aos irmãos Campos, José Lino Grunewald etc. Entre esses pontos estão as artes plásticas: nenhum poeta de sua geração (e, da anterior, apenas João Cabral) foi tão influenciado por estas quanto eles que, a respeito delas, não andaram, que eu lembre, trocando grandes tapas.
Por sua vez, enquanto os contemporâneos eram em geral liberais de centro-esquerda, mas, no âmago da alma, fundamentalmente apolíticos, Gullar e Décio eram e são seres políticos de esquerda. Se, quem sabe, aqui e ali, eles "fechavam" com vertentes ou facções rivais, convém dar tanta ênfase a suas discordâncias quanto às que surgiam, num dia qualquer de 1925/26, depois da décima rodada de vodca, entre Kamenev e Zinóviev. É, aliás, devido à politização dos dois poetas que, em seu(s) círculo(s), foram eles que mais beberam do surrealismo. (E há sua paixão mútua por Mallarmé, que é uma história à parte.)
Seria fácil acrescentar paralelos e paralelos aos anteriores e, caso descêssemos às minúcias dos poemas, manifestos, textos em prosa, aí então as surpresas se multiplicariam. Deixo aqui sugeridos alguns paradoxos que, se meu ponto de vista fizer sentido, deixam automaticamente de sê-lo. Se o paulista não gostava do projeto mais ambicioso do maranhense, o "Poema Sujo", que significa Haroldo de Campos ter traduzido um poema que é seu gêmeo hispano-americano, "Blanco", de Octavio Paz, e por que há tanto em comum entre aquele e o romance "Panteros", de Décio? Se Gullar não acha que o paulista é sequer um poeta, como é que pode apreciar justamente os poemas de Augusto de Campos? Como disse Brecht: "Quantas versões/ Tantas questões". O que conta, afinal, é que a presente polêmica não passa de uma briga de família, e a nós, o que cabe é acompanhá-la de fora.
NELSON ASCHER
DÉCIO PIGNATARI está fazendo 80 anos, quem diria! Em 1954, quando publiquei "A Luta Corporal", éramos todos jovens e certamente nem pensávamos em nos tornar os senhores idosos que somos hoje. A Folha publicou entrevista no sábado, dia 4, em que, dizendo-se meu inimigo íntimo, acusou-me de ter entrado para o PCB para fazer carreira. Bela carreira: clandestinidade, exílio e cadeia. Esperteza é comigo mesmo!
Dos três mosqueteiros do concretismo, Décio era o mais simpático, o mais dialogável, mas meu primeiro contato foi com Augusto de Campos. É uma história conhecida, mas não de todos. Eles se haviam entusiasmado com "A Luta Corporal" e me procuraram para, juntos, iniciarmos um movimento renovador da poesia brasileira. Confesso que não cogitava isso e, se desintegrara a linguagem no livro referido, não foi com propósitos vanguardistas, mas por desejar dizer além do que a linguagem verbal permite.
De qualquer modo, iniciamos um diálogo, trocamos cartas e daí nasceu a poesia concreta. Não tive papel relevante na criação do movimento mas, como havia desintegrado o discurso, discordei quando propuseram criar "um novo verso". Trata-se de criar uma nova sintaxe, sugeri, e eles a criaram: a sintaxe visual do poema sem discurso. O nome "poesia concreta", tomaram emprestado à arte concreta, que já era praticada no Rio e em São Paulo, desde 1950.
Batizado o movimento, fez-se a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, em dezembro de 1956, em São Paulo, e em março de 1957, no Rio. O órgão difusor do movimento foi o Suplemento Dominical do "Jornal do Brasil", dirigido por Reynaldo Jardim, do qual eu era parceiro e colaborador.
Já nessa primeira exposição, surgiram as divergências, que apontei então num artigo: os concretistas paulistas eram demasiado cerebrais, substituíam a criatividade pela teoria. A ruptura se deu, seis meses depois, quando Haroldo nos mandou um texto afirmando que a poesia concreta seria feita segundo equações matemáticas. Telefonei para Augusto e lhe disse que não podia concordar com semelhante tese, já que se tratava de algo inviável. Eles, como sempre, não arredaram pé e, assim, publicamos o texto deles e, ao lado, um meu, afirmando a poesia concreta como "experiência fenomenológica". Cindiu-se o movimento, mas continuamos a publicar seus textos no SDJB, enquanto eles quiseram.
Quase dois anos após a ruptura, Décio me telefona. Falei com Reynaldo e marcamos um almoço, ocasião em que revelou o motivo por que nos procurara. Afirmou que a indústria brasileira sempre fora uma indústria de consumo e só então se tornava indústria de base; com a poesia brasileira ocorria a mesma coisa: sempre se fez uma poesia de consumo e era preciso fazer, finalmente, uma poesia de base. Ele trazia no bolso um novo manifesto, propondo a criação dessa nova poesia. Então, falei eu:
- Décio, a ruptura do movimento concretista se deu porque vocês entenderam que a poesia teria que ser feita segundo equações matemáticas, não é verdade? Pois bem, já faz mais de ano que isso aconteceu. Vocês fizeram a tal poesia matemática? Não fizeram. Agora você nos vem com um novo manifesto, pregando essa tal poesia de base. Não vamos publicá-lo. Volta para São Paulo, faz com teus companheiros os poemas de base e nos manda que publicaremos. Mais um manifesto prometendo uma poesia que nunca será feita, isso não.
A conversa terminou aí. Ele se foi e nunca nos mandou os tais poemas de base, que, como prevíamos, jamais foram escritos. Redigir manifestos sempre foi uma mania das vanguardas, quase sempre prometendo coisas que não se realizam.
O movimento neoconcreto só surgiu dois anos após o rompimento com os paulistas. Não foi resultado disso mas, sim, do rumo diferente que tínhamos tomado, nós, os pintores, escultores e poetas do grupo carioca. Quando surgiu a idéia de fazermos uma exposição dos nossos trabalhos, propus que nos denominássemos neoconcretos, pois o que fazíamos já quase nada tinha a ver com o concretismo. Então escrevi o manifesto que, em vez de pretender ser um "plano piloto", era uma tentativa de revelar o que de novo já havíamos feito.
Quando publiquei, em 1976, o "Poema Sujo", Décio veio a público negar-lhe qualquer valor ou qualidade, talvez porque a crítica brasileira o tivesse unanimemente aplaudido. Não foi um gesto bonito, mas o compreendo e desculpo. É que Décio Pignatari, embora inteligente e culto, nunca foi poeta, nem de consumo nem de base, o que não me impede de cumprimentá-lo pelos seus 80 anos.
FERREIRA GULLAR - Folha
No dia 20 deste mês, o poeta, dramaturgo, crítico, tradutor e professor Décio Pignatari chega aos 80 anos, firme no propósito de fugir de homenagens à efeméride pessoal. E também às profissionais. Convidado para participar de uma exposição sobre os 50 anos da poesia concreta, que será aberta dia 15, no Instituto Tomie Ohtake, Pignatari já avisou que não vai. Mas está colaborando com o evento para o qual realizou uma série de gravações de seus poemas.
O concretista pretendia passar o aniversário na Cidade do México, ao lado do segundo neto, Rafael, que faz um ano no dia 19. Como não conseguiu tirar o visto a tempo, ficará em Curitiba, onde vive desde 1999.
"Vou passar aqui tomando um champanhe português, na tranqüila solidão, olhando o "big brother" Niemeyer", diz, referindo-se ao "olho" do Museu Oscar Niemeyer, próximo de onde mora.
No Paraná desde que se aposentou da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Pignatari dá aulas no mestrado em Comunicação e Linguagem da Universidade Tuiuti.
Avesso a rememorações e entrevistas, o poeta abriu uma generosa exceção e conversou por mais de três horas com a Folha.
Relembrou o rompimento político e estético com os neoconcretos, movimento encabeçado pelo poeta Ferreia Gullar. Falou sobre a segunda parte de sua trilogia feita para o teatro, iniciada com "Céu de Lona" (2004), concluída há pouco mais de um mês na Itália. Explicou ainda como será o livro que reunirá sua correspondência com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos (1929-2003), com quem fundou a poesia concreta no Brasil.
E mais: o poeta dos textos verbais, visuais e sonoros diz que, no Brasil, a única vanguarda que houve nos últimos tempos foi a silente moda: "Ela me espantou. É realmente uma linguagem de vanguarda". Por fim, Pignatari sintetizou seus 80 anos numa de suas caras palavras-valise: "oitentação".
Leia a seguir a entrevista.
FOLHA - O senhor e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos serão homenageados a partir do dia 15 de agosto com uma exposição no Instituto Tomie Ohtake sobre a poesia concreta. Pretende vir a São Paulo?
DÉCIO PIGNATARI - Eu não vou. Já avisei ao [curador] Walter Silveira. Eu não sou contra. Falo apenas: "Vocês usem o material, façam, podem fotografar. Não gosto muito de homenagens e não participo. Recentemente, por acaso, fizeram uma homenagem a mim da qual eu gostei, aqui na Universidade Tuiuti do Paraná, onde eu estou já há oito anos. Eu revi toda a minha gente, alunos ou colegas, de São Paulo e Rio. Fizeram uma homenagem visual que me agradou. Primeiro, porque os dois [organizadores] tinham sido alunos meus. Os melhores alunos que tive, não só aqui, mas em toda pós-graduação nos últimos 30 e tantos anos. Mas não quero saber de comemoração.
FOLHA - A idéia de reconhecimento não interessa ao senhor? Não se incomoda, por exemplo, com o fato de Ferreira Gullar, que assinou em 1959 o "Manifesto Neoconcreto", ser mais aceito pela academia e pela crítica geral como um grande poeta brasileiro, ao passo que a poesia concreta não tem o mesmo espaço?
PIGNATARI - Não me incomodo. É algo natural. O signo novo é sempre minoritário.
FOLHA - Mas até hoje?
PIGNATARI - Sim, porque ele [Gullar] fez de tudo, ele ingressou no Partidão [comunista]. Inicialmente até chegamos a trabalhar juntos. Mas, posteriormente, acho que o Gullar repensou: "Eu tenho condições de ser o dom Pablito Neruda do Brasil". Então ele entrou para o Partidão, porque, para você fazer carreira, o Partidão era ótimo, tinha meios de promover. Falando aquela linguagem social e politicamente correta, você tinha muito mais chance.
EDUARDO SIMÕES - NOEMI JAFFE - ENVIADOS ESPECIAIS A CURITIBA - Folha
"O BÁRBARO é, em primeiro lugar, o homem que crê na barbárie." Essa é uma das mais famosas proposições que se encontram na brochura "Raça e História", escrita por Lévi-Strauss na década de 1950, por encomenda da Unesco.
Dado que, no contexto em que ela foi enunciada, as palavras "bárbaro" e "barbárie" têm um sentido pejorativo, trata-se de uma proposição paradoxal, pois, evidentemente, aquele que a enuncia crê na barbárie do homem que crê na barbárie: o que significa que ele está a chamar a si próprio de "bárbaro".
É obviamente improvável que Lévi-Strauss tencionasse qualificar-se de bárbaro. Por um lado, a frase citada pode ser tida como uma mera "boutade", cujo sentido real, puramente negativo, seja justamente o de desmoralizar a própria noção excessivamente valorativa -melhor dizendo, pejorativa- de "barbárie".
Por outro lado, ela parece ter a intenção positiva de afirmar que o verdadeiro bárbaro é aquele que não considera plenamente humano o membro de uma cultura diferente da sua; aquele que pura e simplesmente repudia as formas culturais, isto é, as formas morais, religiosas, sociais, estéticas, que sejam distantes das formas com as quais se identifica; aquele, isto é, que julga as formas das demais culturas segundo os critérios da cultura a que pertence; aquele, portanto, que a etnologia classifica de "etnocentrista".
Sendo assim, o civilizado é aquele que não julga as formas das demais culturas segundo os critérios da cultura à qual ele pertence. Que significa isso, na prática?
Três possibilidades se apresentam. A primeira é que o civilizado seja aquele que julgue as formas das demais culturas segundo critérios de uma cultura à qual não pertença.
É evidente, porém, que tal pessoa não deixaria de ser etnocêntrica, tendo meramente posto uma cultura adotada no lugar da sua cultura nativa. Ela continuaria, portanto, a ser bárbara.
A segunda possibilidade é que o civilizado seja aquele que simplesmente não julga as formas das culturas às quais não pertença. Ao invés de ser uma solução, porém, isso seria um problema.
Digamos, por exemplo, que eu, que acredito em direitos humanos, soubesse que uma mulher vai ser lapidada por ser adúltera. Nesse caso, eu certamente me revoltaria contra tal ato, a menos que julgasse que as pessoas em questão, não pertencendo à minha cultura, não eram propriamente humanas. Esta última hipótese, porém, seria exatamente o cúmulo da barbárie.
A única possibilidade que resta é que o civilizado seja aquele que julga as formas das demais culturas segundo critérios que não pertençam a nenhuma cultura particular: nem mesmo à sua cultura de origem.
Se isso for possível, o etnocentrismo é superado, não apenas no sentido convencional do termo mas também no sentido de que, para o indivíduo, a sua própria cultura deixa de ser absolutamente central: e talvez a vitória sobre este etnocentrismo seja uma condição necessária para a vitória sobre o etnocentrismo no sentido convencional.
Ora, tal distanciamento em relação à própria cultura a que se pertence é evidentemente possível, já que se dá na realidade.
Ele ocorre cada vez que alguém critica uma manifestação da sua própria cultura. O distanciamento crítico é produzido pela razão que, longe de pertencer a qualquer cultura particular, é universal, uma vez que é, em princípio, acessível a qualquer ser humano.
Assim, o civilizado é aquele que reconhece que as convicções mais fundamentais -filosóficas, éticas, estéticas, religiosas etc.- de qualquer cultura, inclusive da sua, são falíveis. Ele reconhece que há muitas diferentes crenças no mundo, e que elas freqüentemente se contradizem: logo, que nem todas podem ser verdadeiras, e que é possível até que nenhuma delas o seja.
A razão crítica através da qual ele reconhece isso não é uma crença como as outras.
Ela é 1) a capacidade de pôr em dúvida todas as crenças; 2) a certeza lógica de que qualquer crença pode ser falsa e 3) a conseqüente certeza de que a afirmação de que uma crença determinada não possa ser falsa é logicamente falsa.
Essa razão crítica é infalível porque, identificando-se com a própria capacidade de duvidar, afirma-se no próprio ato de duvidar de si. É a partir desse infalível princípio falibilista -e não a partir de crença alguma- que se constitui a civilização.
ANTONIO CICERO
Tive o desprazer de conversar com Richard Dawkins apenas duas vezes na vida. É um sujeito antipático, pedante e de uma intolerância insuportável. Exatamente o oposto da personalidade que se espera encontrar em alguém cuja profissão de (ops!) fé é levar a ciência ao grande público. E que é, goste-se ou não dele, um dos intelectuais mais brilhantes que a seleção natural já produziu.
Talvez essa certeza de superioridade, que transborda nos escritos do biólogo britânico, explique em parte por que Dawkins é tão vilipendiado pelos ditos intelectuais "de esquerda" e "culturalistas", para não falar nos (credo!) pós-modernos. Essa patota não hesita em pichá-lo de darwinista bitolado que não consegue enxergar nada além de genes egoístas tramando a destruição do livre-arbítrio humano.
São poucos, no entanto, os que terão notado a seguinte passagem no clássico dos clássicos de Dawkins, "O Gene Egoísta", de 1976: "Para compreender a evolução do homem moderno, nós devemos começar jogando fora o gene como a única base das nossas idéias sobre a evolução". Os que notaram talvez a tenham creditado a um erro de edição. Ou, na obsessão por afastar o cálice da biologia dos lábios sacrossantos do comportamento humano, resolveram simplesmente varrê-la para baixo do tapete e seguir atirando no mensageiro.
Dawkins tem pago o preço de sua honestidade intelectual desde então. "O Gene Egoísta" foi publicado apenas um ano depois de o também zoólogo Edward Osborne Wilson, de Harvard, ter despertado a fúria da "ciência marxista" (acredite, isso já existiu) com a publicação de "Sociobiologia", a primeira obra a dizer com todas as letras (e sem muito tato) que o comportamento humano poderia ser explicado pela seleção natural darwinista.
Embora hoje isso seja óbvio em certa medida -dado que o comportamento é produto do cérebro e o cérebro é objeto de seleção natural-, Wilson foi chamado de porco nazista.
Ao dar munição à sociobiologia com suas idéias sobre genética, Dawkins também virou alvo. O máximo expoente da "biologia dialética", Richard Lewontin, chegou a deturpar uma passagem de "O Gene Egoísta". Onde Dawkins dizia "eles [os genes] nos criaram, corpo e mente", Lewontin enxertou "eles nos controlam, corpo e mente". Até hoje não se desculpou por isso.
Com "Deus, um Delírio", o zoólogo britânico volta a atrair detratores, de ambas as extremidades do espectro político, de todas as cores e -principalmente- credos. Seu único crime terá sido meter a mão num vespeiro (a religião) para o qual os cientistas têm insistido em dar as costas, enquanto dele esvoaçam sem cessar fanáticos do calibre de Osama Bin Laden e George W. Bush. Dawkins esnoba os críticos. Ele sabe que o "meme" darwinista triunfa, e que a luz já foi lançada sobre o mistério da existência humana.
CLAUDIO ANGELO - EDITOR DE CIÊNCIA - Folha
Friday, August 24, 2007
A ciência contra Deus
Sacerdotes e cientistas mantiveram, durante um bom tempo, certas normas de convivência pacífica: salvo as exceções mais radicais, um não se metia com os assuntos do outro. Hipocrisia, afirma o biólogo Richard Dawkins no corajoso e furibundo "Deus, um Delírio".
Dawkins inicia sua forte argumentação em favor do ateísmo assinalando que a maior parte dos cientistas, inclusive o físico alemão Albert Einstein (1879-1955), cuidava de fazer vagas profissões de fé deístas apenas para não chocar os espíritos religiosos. Acreditar num "Deus que não joga dados", como formulado na famosa frase de Einstein, equivale muito mais a confiar nas regularidades das leis da natureza do que a afirmar qualquer coisa próxima de uma religião.
Acontece que os esforços no sentido de separar ciência e fé, Estado laico e convicção religiosa, foram sendo solapados ultimamente. Nos Estados Unidos, ganha especial virulência a campanha contra o darwinismo, levada por fundamentalistas bíblicos e adeptos da teoria do design inteligente.
Entre os muçulmanos, quaisquer críticas à religião encontram as respostas que se conhecem -e Dawkins faz um relato aterrorizante das reações suscitadas, mesmo entre grupos não-fundamentalistas, pelas célebres charges sobre Maomé inicialmente publicadas por um jornal dinamarquês. Do lado católico, o papa Bento 16 está longe de se mostrar tímido e conformado com o papel da razão iluminista nas sociedades ocidentais.
Verdade que o próprio darwinismo procura conquistar novas áreas de influência, seja na prática (com o desenvolvimento das pesquisas sobre o genoma), seja na teoria (descobrindo razões biológicas para muito do que se acreditava pertencer à ordem da psicanálise ou da cultura).
Grito de guerra
O livro de Dawkins surge nesse contexto como uma espécie de grito de guerra, de chamado à mobilização geral. Basta, diz ele, de respeitar um conjunto de crenças que não é apenas improvável, como profundamente tolo e nocivo ao bem-estar humano. Basta de "respeitar" a irracionalidade alheia. Os ateus esconderam-se tempo demais nas catacumbas. Perseguidos, estigmatizados, envergonhados, cabe-lhes assumir a iniciativa do debate intelectual.
Não é suficiente para Dawkins que se declarem "agnósticos" -e, na discussão desse termo, localiza-se talvez o ponto mais incisivo e original de sua argumentação. Um agnóstico, explica o autor, considera impossível responder se Deus existe ou não. Seja porque não surgiram até hoje provas convincentes de sua existência, seja porque essas provas seriam a rigor impossíveis de obter.
Improbabilidades
Com efeito, pelo menos desde Kant (1724-1804), uma série de supostas "provas racionais" da existência de Deus mostrou-se incapaz de resistir a um exame rigoroso; Dawkins dedica um capítulo de seu livro a um sumário e feroz resumo desses debates.
A posição agnóstica não basta, contudo, para Dawkins. O cientista agnóstico se contenta em deixar a questão sobre a existência de Deus no campo das coisas que não lhe dizem respeito. "Deus, um delírio" apresenta um argumento destinado a lançar a existência de Deus no campo das improbabilidades quase absolutas.
Um dos argumentos preferidos pelos criacionistas é o de que o acaso, por si só, não seria capaz de produzir coisas tão complexas quanto um olho humano ou a asa de uma borboleta. O surgimento de tais maravilhas a partir do acaso seria tão improvável, dizem os criacionistas, quanto imaginar que um furacão, passando por cima de um ferro-velho, montasse peça por peça um Boeing 747.
Dawkins refuta a tese de modo convincente. Asas de borboleta e olhos humanos não surgem "prontos" na natureza, a partir de uma combinação aleatória de moléculas. Os darwinistas não acreditam que tais coisas nasceram por acaso, e sim da seleção natural. Mostram como organismos complexos evoluíram, pouco a pouco, a partir de formas de vida muito simples. E isso, diz o autor, é muito mais provável do que imaginar um "criador inteligente". Pois para projetar um Boeing é preciso ser um bocado mais complexo do que um Boeing. E, para repetir uma objeção clássica à idéia de Deus, fica a pergunta: "Quem teria criado o criador?" Um outro ser, ainda mais complexo do que ele?
Com boa variedade de exemplos e clareza expositiva, "Deus, um delírio" teria tudo para fazer a alegria de espíritos céticos ou ateus, como o deste resenhista. Mas o que sobra a Dawkins de inteligência científica parece lhe faltar de inteligência emocional. Há mais exasperação do que ironia, mais precipitação do que serenidade, no modo com que ele encaminha a discussão. Dawkins consegue chocar profundamente, com piadas brutais, algumas sensibilidades religiosas, sem ganhar a simpatia dos que concordam com seu ponto de vista.
Foi-se o tempo em que filósofos descrentes podiam brincar, com superioridade anglo-saxônica, a respeito de crendices religiosas. As diversas citações de Bertrand Russell, de H. L. Mencken e mesmo de Woody Allen, que volta e meia aparecem em "Deus, um Delírio", são como que deliciosos remanescentes de outra era geológica, em que a ciência não se sentia tão acuada e perseguida. Criticava-se com verve e paz de espírito; este panfleto evolucionista, embora sólido cientificamente, parece debater-se e gesticular como uma fera aprisionada em sua jaula. Mas vale a pena ouvir seus urros: neles está, ai de nós, a voz da Razão.
Marcelo Coelho - Folha Ilustrada
Tuesday, August 21, 2007
Enquanto patrimônio, a cultura é um longo rio cujas águas envolvem uma determinada geração de seres humanos e lhes transmite valores morais e estéticos, ideologias, história, códigos e símbolos... Enfim, um rico patrimônio elaborado por seus ancestrais que as novas gerações recebem quando existe um ponto de passagem e encontro possível entre este tesouro e o receptor dessa enorme oferenda.
Os revolucionários sempre questionaram o passado e estabeleceram uma certa distância em relação a este patrimônio, considerando-o como produto das antigas classes dominantes, derrotadas na luta pelo poder e que até ali detinham o controle da história.
Assim agiram na revolução francesa e na revolução de outubro: colocaram em quarentena a cultura herdada acusando-a de ser feudal, de pertencer à classe derrotada. Na revolução soviética, sem dúvida a mais radical de todos os tempos, acontece a famosa polêmica entre "cultura proletária" e "cultura de classe". Alguns teóricos da revolução sustentam a tese da política de fazer tábula rasa e erradicar a herança de seus ancestrais e substituí-la pela cultura da nova classe proletária.
A "CULTURA HUMANA"
Leon Trotsky, com uma vontade indomável de salvar o patrimônio cultural, coloca-se pessoalmente contra essa posição. E afirma que a cultura, exatamente por causa da mudança política, deixava de ser uma "cultura burguesa" para se tornar uma "cultura humana". Portanto, a revolução deveria agir de maneira que seus valores fossem assimilados pelo conjunto do povo para iniciar uma nova era histórica.
Eis o início da solução de um problema. O caráter reacionário do patrimônio cultural não está no patrimônio, mas na maneira como ele é usado pelas forças reacionárias e a impossibilidade de ele ser assumido pela maioria da sociedade. Entretanto, é possível mudar isso ao utilizar simples medidas como criar bibliotecas para a expansão do hábito da leitura; um sério programa de vulgarização das artes que favoreça sua prática e sua difusão; uma política que derrube as barreiras da concepção de cultura como mercadoria que impede um determinado setor social de usufruí-la.
Em seguida, temos a cultura como consciência, sua forma mais onipresente. A partir do instante em que estejam conscientes de sua situação e de suas relações com seus congêneres e com a natureza, todos os seres humanos têm uma cultura. Desta constatação emana uma série de concepções culturais. Tudo aquilo que é consciência do ser, da existência, das relações com o mundo e com o outro. É, por isso, que ousar fazer uma distinção entre aqueles que têm e aqueles que não têm cultura é dar prova de uma arbitrariedade e de um analfabetismo intoleráveis.
CULTURA: MODOS DE USAR
Toda pessoa capaz de ter consciência daquilo que ela é e do que ela faz e, sobretudo, do papel que tem nas relações com o outro, possui uma cultura. Ninguém pode ser excluído do reinado da cultura. Diante destas duas concepções - cultura como patrimônio, cultura como consciência - está o tradicional exercício de duas políticas, duas tentativas de manipulação política.
Por um lado, a política cultural da reação consiste em açambarcar a cultura-patrimônio e a culturaconsciência, incorporá-las a um conjunto de verdades estabelecidas e fazer do acesso à cultura uma maneira de se integrar, de estabelecer um processo de comunhão com a ordem estabelecida. Esta política, na melhor da hipóteses, fez da cultura um meio de integração, mas também propicia a sua mutilação, permite o seu controle ditatorial, quando não a sua destruição, a sua falsificação ou a sua mistificação, sobretudo em períodos fascistas.
Em geral, as forças progressistas partem de uma tomada de consciência e, portanto, de uma posição crítica que questiona a ordem estabelecida e tem como propósito modificá-la. Isto se aplica à cultura como consciência. Por outro lado, no que se refere à cultura-patrimônio, a esquerda tem evitado dela se assenhorear para tentar enquadrá-la por suas próprias motivações.
ASSIMILAÇÃO E CRÍTICA
Toda política cultural da esquerda deveria, primeiramente, passar pela assimilação, sem limite, da cultura patrimonial. Em seguida, pela promoção do papel transformador da consciência crítica. E finalmente, pela análise da maneira pela qual uma política cultural progressista deve considerar a promoção de uma consciência de classe como uma forma superior de cultura.
Ter consciência que uma política cultural deve considerar o grau de desenvolvimento da dinâmica histórica dentro de uma concepção global de progresso obriga a esquerda fazer um esforço gigantesco: o questionamento do conceito de progresso.
Cornelius Castoriadis afirmava que nossa época deveria escolher entre "socialismo ou barbárie". Ao impor essa escolha, coloca em relação duas culturas diferentes, duas concepções opostas da relação histórica que engloba os sistemas de organização da vida, de produção, das relações humanas. Um baseado no lucro, no sucesso das conquistas materiais para as minorias dirigentes e os setores dominantes. O outro baseado no socialismo, estabelecido como racionalização diante dessa barbárie e criando novas relações humanas, uma nova cultura, a possibilidade de uma nova autonomia do homem na realidade. O socialismo se apresenta como uma verdadeira encruzilhada para onde convergem todos os parâmetros que dão sentido à circulação da cultura.
A ESSÊNCIA DA CULTURA
T.S. Elliot, excelente poeta de direita, descreveu o que significa cada situação cultural. Para o homem contemporâneo, compreender que o fato cultural se perpetua, que continua a partir de uma troca dialética entre a tradição e a revolução, é a própria essência da cultura. A cada época corresponde uma tradição cultural que se choca com a consciência crítica do momento; e deste choque entre o patrimônio cultural que herdamos e a consciência crítica emana a possibilidade de uma continuidade. Elliot identificou este mecanismo na compreensão da cultura e nós devemos agradecê-lo por isso.
Defendendo uma cultura relacionada ao progresso, as forças progressistas, em geral, assumem a tradição e, em conseqüência, o patrimônio cultural; e ao se colocarem a favor da revolução, estabelecem uma consciência critica em relação a esse patrimônio cultural.
Mas para chegar até isso, devem oferecer ao mundo uma visão baseada em uma idéia fundamental, próxima da escolha "socialismo ou barbárie": a necessidade de sobreviver às tendências destrutivas.
Uma vez ganha a luta pela sobrevivência - primeiro objetivo - uma cultura da igualdade, que não buscará uniformizar, mas assegurar a satisfação das necessidades, entre elas as culturais, de todos os seres humanos, será o segundo objetivo.
LUTA CONTRA A ALIENAÇÃO
O terceiro objetivo será uma cultura de liberação, de luta contra a alienação, não no sentido marxista (segundo a qual o homem desprovido dos meios de produção não possui aquilo que ele fabrica, fica afastado do produto que criou), mas no sentido mais amplo do termo: a liberação das tendências aos cultos negativos, às comunhões obscurantistas que anulam toda a capacidade crítica. A desalienação no sentido da liberdade de condutas coletivas como também individuais no campo da política, moral ou sexual.
O quarto objetivo é a reivindicação da paz como valor cultural supremo. É indispensável denunciar a guerra como valor ideológico contra-revolucionário. A ameaça de guerra busca estabelecer uma cultura de medo, que paralisa as consciências, fazendo-as mais conservadoras.
A reivindicação da paz, ao contrário, é revolucionária porque é a favor da mudança. A paz aposta nas energias criativas do homem, na sua liberdade de expressão, de realização, de transformação. As forças do progresso são majoritárias e quando forem conscientes, os partidários de uma ordem arcaica ficarão isolados. A esquerda deve lutar em duas frentes. Defender sua própria consciência e lutar contra esse medo que procuram nos transmitir como valor cultural supremo. Para que os patrimônios culturais permaneçam à disposição da imensa maioria.
Manuel Vázquez Montalbán / Tradução: Celeste Marcondes.
Publicado na versão brasileira do jornal Le Monde Diplomatique (www.diplo.com.br)
Sunday, August 19, 2007
Um dos melhores e mais influentes historiadores do século passado, Arthur Schlesinger Jr. [1917-2007], defendeu há duas décadas a tese de que a sociedade norte-americana se move num sistema pendular em que se sucedem ciclos de predominância da ideologia dos conservadores seguidos de outros em que a hegemonia é mais "liberal" (no sentido que se dá a essa palavra na língua portuguesa), de modo que uma espécie de auto-regulagem impede o país de descambar de vez para a "esquerda" ou para a "direita".
Quando essa hipótese veio a público, em 1986, por meio da edição de "Os Ciclos da História Americana" [publicado, no Brasil, pela ed. Civilização Brasileira], os adversários de Schlesinger Jr., intelectual orgânico da ala mais social do Partido Democrata (ele militou ativamente na política ao lado de figuras como Eleanor Roosevelt [1884-1962], Adlai Stevenson [1900-65, diplomata], Joseph Alsop [1910-89, jornalista], Clark Clifford [1906-98, secretário da Defesa] e os irmãos John e Robert Kennedy, dos quais foi assessor muito próximo), trataram de contestá-lo, supostamente com base na realidade.
Em meados dos anos 1980, a onda conservadora liderada por Margaret Thatcher, no Reino Unido, e Ronald Reagan, nos EUA, parecia absoluta e definitivamente dominante. Tanto que, pela primeira vez desde Franklin Delano Roosevelt [1933-45], um mesmo partido, o Republicano, conquistou por três vezes seguidas a Casa Branca (duas por meio de Reagan e uma com seu vice, George H. Bush, que parecia, logo após a primeira invasão do Iraque, em 1991, fadado a também se reeleger e garantir 16 anos consecutivos de domínio da extrema direita sobre o país).
No entanto naqueles anos começava a germinar uma mudança de sentimentos na opinião pública americana que levaria ao poder, em 1993 e por oito anos, Bill Clinton, que poderia ter sido sucedido por outro liberal, seu vice Al Gore, não tivessem os líderes do partido de ambos, o Democrata, cometido erros políticos estratégicos primários e não houvessem ocorrido os célebres e nebulosos incidentes na votação no Estado da Flórida, que resultaram na controvertida decisão da Suprema Corte que deu a vitória no pleito a George W. Bush.
O pêndulo não parou
É verdade que a dupla Clinton-Gore deu ao Partido Democrata uma entonação ideológica diversa da linha estabelecida por Roosevelt a partir do New Deal, na década de 1930, com componentes mais conservadores, entre os quais a menor presença do Estado nas atividades econômicas.
Mas é inegável que, apesar de eventuais contradições com o ideário clássico dos democratas, Clinton e Gore não podiam ser confundidos com Reagan e Bush.
Os primeiros anos do século 21, especialmente após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e a ostensiva instrumentalização político-eleitoral da extrema direita religiosa por parte de George W. Bush e seu mentor ideológico, Karl Rove, justificaram muitas análises de que o conservadorismo estava destinado a controlar a cena política americana por muito tempo.
Entretanto três pesquisas importantes e respeitadas divulgadas recentemente nos EUA indicam que não é isso que vai ocorrer e podem comprovar pela segunda vez após sua divulgação a teoria pendular da política americana defendida por Schlesinger Jr., que morreu em fevereiro passado, aos 89 anos.
Dois desses estudos são do Pew Research Center for the People and the Press. Ambos são longitudinais e replicam trabalhos similares feitos no passado por essa mesma instituição ou outras, o que permite a comparação histórica.
A próxima geração hoje
Um se intitula "Um Retrato da "Geração Next'" e se dedica a descobrir como as pessoas nascidas nos EUA entre 1981 e 1988 encaram sua vida, o futuro e a política.
Ele confronta suas conclusões sobre esse grupo etário com as que se fizeram com relação às gerações X (nascidos entre 1966 e 1980), "baby-boom" (1946 a 1965) e os seniores (nascidos antes de 1946).
O outro tem como objeto de estudo toda a população americana e se chama "Tendências dos Valores Políticos e das Atitudes em Relação a Temas Centrais - 1987-2007".
A terceira pesquisa, menos ambiciosa, foi feita pelo "The New York Times" e as redes de TV CBS e MTV, com pessoas de idades entre 17 e 29 anos, para conhecer suas opiniões a respeito dos grandes temas políticos e sociais da atualidade.
As três são muito convergentes. Mostram com clareza que, na população como um todo, mas especialmente entre os mais jovens, há indiscutível simpatia e apoio para idéias vinculadas a visões de mundo menos conservadoras, como: o Estado tem a responsabilidade de dar assistência aos cidadãos que não consigam por conta própria atender às suas necessidades essenciais; o Estado deve prover a todos casa e comida; o Estado precisa garantir assistência médica universal; o poderio militar não é a melhor maneira de assegurar a paz.
A geração "next" [próxima , em inglês] é muito mais tolerante que suas antecessoras em relação a temas como imigração, homossexualismo e miscigenação étnica. Um em cada cinco de seus integrantes afirma não ter filiação religiosa ou ser ateu ou agnóstico (o dobro dos que diziam a mesma coisa em pesquisa similar realizada com a geração anterior, a X, quando seus membros estavam com 18 a 25 anos de idade).
Quanto à identidade político-partidária, 48% se dizem democratas e apenas 35%, republicanos, a menor taxa para esse partido entre todas as gerações estudadas. Os jovens também demonstram ser menos cínicos em relação à política do que os mais velhos hoje em dia ou quando tinham de 17 a 29 anos.
A geração "next" diz acreditar que seu voto faz diferença e pretende utilizá-lo na eleição presidencial de 2008 para promover mudanças no poder central. Apenas 27% deles se classificam como conservadores.
"Ficar rico"
As pesquisas não demonstram, de maneira nenhuma, que uma revolução ideológica esteja ocorrendo na sociedade americana. A maioria absoluta dos jovens diz que seu maior objetivo na vida é "ficar rico".
São egocêntricos e apaixonados pela tecnologia, que se tornou, via internet, seu instrumento predileto de socialização. Apesar de sua adesão em geral mais favorável às ações sociais do Estado, apóiam a privatização do sistema de previdência, tese que o presidente George W. Bush tentou implementar sem sucesso em seu segundo mandato.
Esses traços conservadores, no entanto, não desqualificam a teoria de Schlesinger Jr., que afinal não era, ele próprio, nenhum socialista.
Mas o quadro geral desses e outros estudos recentes sobre a sociedade americana é o de que a hegemonia do pensamento conservador extremado, que dominou a cena política nos EUA neste século, está dando lugar a uma atitude mais tolerante, moderada e socialmente preocupada, que provavelmente terá como manifestação mais imediata e significativa a eleição presidencial do ano que vem.
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em jornalismo pela USP e mestre em comunicação pela Universidade do Estado de Michigan (EUA). É autor, entre outros livros, de "Mil Dias - Seis Mil Dias Depois" (Publifolha).
Mais! Folha de São Paulo
Saturday, August 18, 2007
Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter S. Thompson, retrata com perfeição o canto de cisne de uma era que não existe mais, ao menos no Ocidente, em que as drogas foram usadas com fins outros, filosóficos, místicos e estéticos, quando não existenciais. O auge foram os anos 60, que culminaram em intensa ressaca e de onde surgiu o mero entorpecimento dos sentidos em massa potencializado pelo narcotráfico e pela indústria farmacêutica dos dias de hoje.
Escrito em 1971, ano que marca o início do fim, Medo e Delírio foi originalmente publicado pela revista Rolling Stone, que encomendou ao pai do "jornalismo gonzo" (filhote do "new journalism", notório por abusar do coloquialismo e retratar mais os meandros mentais de seus autores alucinados do que o objeto da reportagem) a cobertura da Mint 400, uma corrida "off-road" de motos e buggies no meio do deserto de Nevada. Usando o pseudônimo Raoul Duke e acompanhando o enlouquecido advogado samoano dr. Gonzo, ao volante do conversível batizado de Grande Tubarão Vermelho, Thompson atravessa o deserto rumo a Las Vegas e à alucinação completa.
Como bagagem eles levam "dois sacos de maconha, 75 bolinhas de mescalina, cinco folhas de ácido de alta concentração, um saleiro cheio até a metade com cocaína e mais uma galáxia inteira de pílulas multicoloridas, estimulantes, tranqüilizantes, berrantes, gargalhantes, além de um litro de tequila, outro de rum, uma caixa de Budweiser, meio litro de éter puro e duas dúzias de amilas". Desnecessário dizer que não conseguem chegar perto da corrida, terminando por se perderem em meio às alucinações e à beira de uma overdose.
Para completar os dois são incumbidos de nova missão: cobrir uma convenção de promotores e policiais sobre combate às drogas num hotel elegante. Pronto: o circo dos horrores está armado. A partir desse contraste surgem as observações mais agudas de Thompson sobre a hipocrisia da sociedade e a derrocada das expectativas surgidas na década de 60.
A hipérbole e o exagero são as armas usadas por Thompson para essa jornada selvagem ao coração do sonho americano. É claro que mesmo que Duke e dr. Gonzo efetivamente encontrassem o tal "sonho" é provável que não o reconhecessem, tamanha sua chapação. Uma trip hilária regada com paranóia transbordante, Medo e Delírio desreveste o olhar mistificador até então utilizado pela literatura para registrar o usuário de drogas, antecipando o anticlímax da década das drogas químicas que se seguiria.
Lido quase sempre de maneira equivocada, porém, o clássico de Thompson não enaltece o drogado, evitando lhe atribuir heroísmo romântico. Ao contrário, seus junkies são patetas cômicos imersos no mais negro pesadelo americano.
JOCA REINERS TERRON - ESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
MEDO E DELÍRIO EM LAS VEGAS - Hunter S. Thompson /Tradução: Daniel Pellizzari
Editora: Conrad
Thursday, August 16, 2007
Um profissional de informática nos Estados Unidos encontrou, nos backups de sua área no computador da faculdade, o código fonte do primeiro jogo do tipo exploration adventure que já existiu. Os backups tinham aproximadamente trinta anos. O jogo, Colossal Cave Adventure, foi escrito na linguagem FORTRAN e é completamente em modo texto - não há imagens na tela.
O jogo original, escrito por Will Crowther, rodava em um computador então considerado de médio porte. Tratava-se de um PDP-10 da empresa onde trabalhava e era, basicamente, uma exploração em modo texto de uma caverna que realmente existe no Kentucky. A reprodução da caverna é tão precisa que espeleólogos experientes puderam, depois de jogar o game, encontrar facilmente a saída da caverna real mesmo nunca tendo estado lá. O código fonte de Crowther foi encontrado recentemente nos arquivos universitários de Don Woods, outro hacker famoso nos Estados Unidos, que nos anos 70 ajudou a expandir o jogo.
Crowther, curiosamente, é mais conhecido por ter criado o jogo Adventure do que por seus outros feitos. Como era espeleólogo, durante anos contribuiu para mapear a caverna que serviu de base para o jogo. Antes disso ainda, foi membro da equipe de programadores da Bolt, Beranek and Newman (BBN), uma das empresas contratadas pelo governo americano para criar a ARPANET, rede militar de computadores que viria a se tornar o que se conhece hoje como internet.
Will Crowther, ao criar o Colossal Cave Adventure, baseou seu labirinto no complexo sistema de cavernas que ajudou a mapear, o Flint Mammoth Cave System no Kentucky e, mais especificamente, um subconjunto desse emaranhado de túneis chamado de Colossal Cave, Bedquilt Section. Já a ação é calcada em um RPG (role playing game) muito popular nos Estados Unidos, o Dungeons and Dragons.
A reportagem original narrando a descoberta e a história do jogo, bem como fotos da caverna real, podem ser encontrados aqui. Uma versão para MS-DOS do jogo (que funciona no Windows) pode ser baixada aqui. Quem usa Linux provavelmente já tem o jogo instalado; o comando para chamar o game é "adventure" (sem as aspas). Se o jogo não estiver disponível, basta instalar o pacote "BSD Games", disponível nos CDs de instalação. Todas elas são a versão modificada por Don Woods e posteriores. O código fonte original de Crawther, que só funciona no antigo PDP-10, pode ser baixado de jerz.setonhill.edu/if/crowther.
15/08/2007 14:08
http://www.geek.com.br/modules/noticias/ver.php?id=10848&sec=7
I like to let my mind wander, but it never comes back! diz: hamburguer e guaraná
Mariana diz: aoksa´pska´s
I like to let my mind wander, but it never comes back! diz: zuera
Celia Libras... diz: hamburguer e cocaa
** Sil Pa!\/a ** =^.^= diz: prefiro soda e pizza
Mariana diz: am, dã?
Celia Libras... diz: cocaa
I like to let my mind wander, but it never comes back! diz: sprite
I like to let my mind wander, but it never comes back! diz: eh bem melhor
Celia Libras... diz: cocaa
** Sil Pa!\/a ** =^.^= diz: num eh num
I like to let my mind wander, but it never comes back! diz: eu achu
Mariana diz: gente olha nosso assunto, cara