Wednesday, November 28, 2007

2. Vamos [...] ao sujeito da experiência. Esse sujeito que não é o sujeito da informação, da opinião, do trabalho, que não é o sujeito do saber, do julgar, do fazer, do poder, do querer. Se escutamos em espanhol, nessa língua em que a experiência é “o que nos passa”, o sujeito da experiência seria algo como um território de passagem, algo como uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo, produz alguns afetos, inscreve algumas marcas, deixa alguns vestígios, alguns efeitos. Se escutamos em francês, em que a experiência é “ce que nous arrive”, o sujeito da experiência é um ponto de chegada, um lugar a que chegam as coisas, como um lugar que recebe o que chega e que, ao receber, lhe dá lugar. E em português, em italiano e em inglês, em que a experiência soa como “aquilo que nos acontece, nos sucede”, ou “happen to us”, o sujeito da experiência é sobretudo um espaço onde têm lugar os acontecimentos.
Em qualquer caso, seja como território de passagem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura.
Trata-se, porém, de uma passividade anterior à oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção, como uma receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental, como uma abertura essencial.
O sujeito da experiência é um sujeito “ex-posto”. Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “o-posição” (nossa maneira de opormos), nem a “imposição” (nossa maneira de impormos), nem a “proposição” (nossa maneira de propormos), mas a “exposição”, nossa maneira de “ex-pormos”, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “ex-põe”. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre.

3. Vamos agora ao que nos ensina a própria palavra experiência. A palavra experiência vem do latim experiri, provar (experimentar). A experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo que se experimenta, que se prova. O radical é periri, que se encontra também em periculum, perigo. A raiz indo-européia é per, com a qual se relaciona antes de tudo a idéia de travessia, e secundariamente a idéia de prova. Em grego há numerosos derivados dessa raiz que marcam a travessia, o percorrido, a passagem: peirô, atravessar; pera, mais além; peraô, passar através, perainô, ir até o fim; peras, limite. Em nossas línguas há uma bela palavra que tem esse per grego de travessia: a palavra peiratês, pirata. O sujeito da experiência tem algo desse ser fascinante que se expõe atravessando um espaço indeterminado e perigoso, pondo-se nele à prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião. A palavra experiência tem o ex de exterior, de estrangeiro, de exílio, de estranho e também o ex de existência. A experiência é a passagem da existência, a passagem de um ser que não tem essência ou razão ou fundamento, mas que simplesmente “ex-iste” de uma forma sempre singular, finita, imanente, contingente. Em alemão, experiência é Erfahrung, que contém o fahren de viajar. E do antigo alto-alemão fara também deriva Gefahr, perigo, e gefährden, pôr em perigo. Tanto nas línguas germânicas como nas latinas, a palavra experiência contém inseparavelmente a dimensão de travessia e perigo.

4. Em Heidegger (1987) encontramos uma definição de experiência em que soam muito bem essa exposição, essa receptividade, essa abertura, assim como essas duas dimensões de travessia e perigo que acabamos de destacar:

[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma. Quando falamos em “fazer” uma experiência, isso não significa precisamente que nós a façamos acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer, padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, aceitar, à medida que nos submetemos a algo. Fazer uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abordar em nós próprios pelo que nos interpela, entrando e submetendo-nos a isso. Podemos
ser assim transformados por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tempo. (pg.143)

O sujeito da experiência, se repassarmos pelos verbos que Heidegger usa neste parágrafo, é um sujeito alcançado, tombado, derrubado. Não um sujeito que permanece sempre em pé, ereto, erguido e seguro de si mesmo; não um sujeito que alcança aquilo que se propõe ou que se apodera daquilo que quer; não um sujeito definido por seus sucessos ou por seus poderes, mas um sujeito que perde seus poderes precisamente porque aquilo de que faz experiência dele se apodera. Em contrapartida, o sujeito da experiência é também um sujeito sofredor, padecente, receptivo, aceitante, interpelado, submetido. Seu contrário, o sujeito incapaz de experiência, seria um sujeito firme, forte, impávido, inatingível, erguido, anestesiado, apático, autodeterminado, definido por seu saber, por seu poder e por sua vontade.
Nas duas últimas linhas do parágrafo, “Podemos ser assim transformados por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tempo”, pode-se ler outro componente fundamental da experiência: sua capacidade de formação ou de transformação. É experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação.

Jorge Larrosa - Experiência e Paixão - Ensaios Eróticos.

... (O) amor-paixão ocidental, cortesão, cavalheiresco, cristão, pensado como possessão (é) feito de um desejo que permanece desejo e que quer permanecer desejo, pura tensão insatisfeita, pura orientação para um objeto sempre inatingível. Na paixão, o sujeito apaixonado não possui o objeto amado, mas é possuído por ele. Por isso o sujeito passional não está em si, no próprio, na possessão de si mesmo, no autodomínio, mas está fora de si, dominado pelo outro, cativado pelo alheio, alienado, transtornado.
Na paixão se dá uma tensão entre liberdade e escravidão, no sentido de que o que quer o sujeito passional é precisamente permanecer cativo, viver seu cativeiro, sua dependência daquilo que lhe apaixona. Dá-se também uma tensão entre prazer e dor, entre felicidade e sofrimento, no sentido de que o sujeito passional encontra sua felicidade ou ao menos o cumprimento de seu destino no padecimento que sua paixão lhe proporciona. O que o sujeito passional ama é precisamente sua própria paixão. Mais ainda: o sujeito passional não é outra coisa e não quer ser outra coisa que não a paixão. Daí talvez a tensão que a paixão extrema suporta entre a vida e a morte. A paixão tem uma relação intrínseca com a morte, ela se desenvolve no horizonte da morte, mas de uma morte que é querida e desejada como verdadeira vida, como a única coisa que vale a pena viver e, às vezes, como condição de possibilidade de todo renascimento.

Jorge Larrosa - Experiência e Paixão - Ensaios Eróticos.


You may be somewhat exhausted from the whirlwind of activity that has breezed through your life. You could even feel like the day after an intense storm and you're glad that it's time to get started with the cleanup. Whether or not you are ready, now it's time to be creative and use your imagination to get closer to your dreams.

Monday, November 26, 2007

A doença do silêncio

Um relatório reservado , preparado na semana passada pela Secretaria da Saúde da cidade de São Paulo com base em 11.381 exames médicos realizados em escolas públicas, mostra o maior massacre perpetrado contra crianças no Brasil. É a mais abrangente investigação de saúde escolar de que se tem notícia e ratifica estudos isolados já realizados no país.

Do total de alunos examinados, 70% tiveram de ser encaminhados para algum tratamento. Ninguém sabia que eles tinham alguma doença -e, se alguém sabia, nenhuma providência foi tomada.
Equipes de médicos encontraram inúmeros casos de uma doença chamada criptorquidia, que consiste em falha na descida dos testículos para o saco escrotal. Será que ninguém teve o mínimo espanto diante de uma visível anomalia anatômica? Registraram-se múltiplos casos de problemas de saúde, como sopro cardíaco e obesidade. Foram determinadas 434 cirurgias urgentes.
Note-se que estamos falando de 434 cirurgias diagnosticadas com base em 11.381 exames. É uma ínfima amostra de um universo de 2 milhões de estudantes, considerando-se apenas as redes municipal e estadual da cidade de São Paulo. Imagine, então, o que deve acontecer num país com 50 milhões de alunos nas redes oficiais de ensino, a maioria dos quais vivendo em cidades onde as dificuldades são maiores do que em São Paulo.
Era rigorosamente previsível o resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), divulgado semana passada, ou seja, o abismo entre as escolas públicas e as particulares.

O relatório informa que, naquela amostragem, 80% exibiam problemas dentários, que englobam desde cáries até anomalias mais complexas. Tente prestar atenção a qualquer coisa sentindo dor dente para perceber a dificuldade de uma criança numa sala de aula. Pelo menos 10% dos examinados necessitavam de acompanhamento fonoaudiológico. Não é preciso ser um gênio para calcular o impacto que causa a dificuldade de fala no aprendizado.
Os médicos detectaram que pelo menos 3% dos estudantes precisariam de apoio psicopedagógico. "Foram observadas crianças com distúrbios graves de comportamento", afirma o relatório.
Essas informações foram obtidas porque, desde o início deste ano, há um programa de saúde escolar gerido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Além do número de doentes, aparecem falhas no sistema de saúde. Detectou-se que uma das falhas é a falta de pediatras nos postos de saúde. "Sabíamos que as notícias seriam graves, mas não sabíamos que seriam tão graves", reconhece o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider.
A conclusão óbvia: as crianças têm doenças que dificultam e até impedem o aprendizado. Conclusão menos óbvia: por mais que se gaste dinheiro com educação, muita gente simplesmente não vai aprender e estará condenada à marginalidade.

A discrepância brutal entre as notas obtidas no Enem pelos alunos das escolas privadas e pelos das públicas, como se divulgou na semana passada, tem a ver não só com a qualidade dos professores ou do currículo. Como esse teste é menos focado em memorização e mais em associação de informações de diferentes matérias, pesa ainda mais a bagagem do estudante. Essa bagagem abrange o número de livros em casa, os estímulos com brincadeira desde a primeira infância, leitura de jornais e de revistas, acesso à internet, viagens, concertos, teatro, cinema, visita a museus -e, evidentemente, a saúde.

Um grande número de crianças doentes recebendo tão pouca atenção é um problema que está no nível de barbárie da prisão de uma adolescente numa cela com 20 homens, como ocorreu em Abaetetuba (PA).

PS - Ninguém levou a sério projeto lançado, na semana passada, pelo senador Cristovam Buarque, que obriga os governantes e parlamentares a matricular seus filhos apenas em escolas públicas. Não se levou a sério porque sabemos que o projeto jamais seria aprovado, seja por falta de apoio político, seja por questões legais. A provocação, todavia, é séria.
Conviver com o descalabro de tanta gente doente silenciosamente só é explicável porque os grupos mais poderosos estão muito distantes da educação pública, acompanhada de longe, apenas pelos frios indicadores. A verdade, porém, é que, depois desse documento, feito com base nos exames da Universidade Federal de São Paulo, ninguém mais pode alegar ignorância dos fatos, o que torna todos os governantes cúmplices do problema - tão cúmplices quanto os policiais do Pará, que sabiam que uma adolescente estava numa cadeia com 20 homens.

Gilberto Dimenstein -
gdimen@uol.com.br

O seqüestro do espírito

A questão do aborto é tormentosa porque mexe com uma profunda angústia humana: não temos ainda um conceito definitivo de vida.
É verdade, não faz muito tempo, realizamos grande façanha, mapeando os genes humanos. Deciframo-nos biologicamente, mas ainda não fomos capazes de decifrar o enigma da vida.
Seu conceito reclama um enfoque multidisciplinar e, se uma síntese um dia for possível, necessariamente será fruto de amplo acordo entre a ciência e a filosofia. Um feito bem mais importante do que o festejado mapeamento do genoma humano.
Podemos dizer que todas as nossas inquietações em torno da vida e da morte derivam desse vácuo, do fosso de ainda não nos havermos decifrado.
Dois mil e quinhentos anos pós-Sócrates, não fomos capazes de atender sua conclamação de conhecermos a nós mesmos.
O início e o fim do que convencionamos chamar vida, para efeitos biológicos e jurídicos, nem sempre têm fechado com aquilo a que nossas experiências e perquirições filosóficas nos têm conduzido. Legitimamente, permitimo-nos ajuntar outros fatores ao conceito de vida que extrapolam o campo da biologia e não são levados em conta pelo direito positivo.
Faz bem em desconhecê-los o direito. Não lhe restou outro caminho. A modernidade colocou-nos num terrível dilema. Tendo ela sucedido a um longo período em que a filosofia se tornara serva da teologia, o homem moderno precisou optar entre o conhecimento científico, provisório e mutável e os dogmas impingidos como definitivos e imutáveis. A vida, assim, se dicotomizou no sagrado e no profano. Nesse partilhamento, as questões do espírito passaram ao domínio da religião, e as da matéria, em que aparentemente se situa a vida, foram confiadas à gestão da sociedade politicamente organizada.
Estavam demarcados os dois campos em que se movimenta a modernidade: a visão religiosa e a secular. Mas quem disse que o espírito é propriedade da religião? Muito antes desse apossamento, a filosofia cuidara dele com melhor competência.
Há na história do pensamento uma rica tradição filosófica, iniciada com Sócrates e Platão e que fluiu, na modernidade, com o pensamento de filósofos idealistas. Nela, cuida-se da realidade humana justamente a partir do espírito e se sintetiza nele a mais íntima e ampla identidade humana. Aí estão Kant, Schopenhauer, Leibniz, Espinosa e tantos outros. Na literatura, fizeram-lhes coro Shakespeare, Victor Hugo e muitos mais.
Por que desprezar essa contribuição? Por que a falta de coragem de enfrentar o materialismo científico pós-moderno, permitindo-nos indagar sobre o homem a partir daquilo que lhe é mais real, vivo e concreto: o espírito? Comodamente, tachamos tudo o que a ele se refere como coisas da religião, pertencentes aos imperscrutáveis domínios da fé. No século 19, atento a essa tendência, um pedagogo francês propôs a realização dessa síntese no que denominou espiritismo. No Brasil, a proposta encontrou excelente ressonância, mas não deixaria de sucumbir à avassaladora dicotomização a que se submeteu toda a realidade humana.
Como tinha de escolher um lado, assumiu a condição de religião. Perdeu com isso. Sempre que temas tão importantes, como o do aborto, vêm à baila, é levado de roldão a associar-se às atitudes mais retrógradas e fundamentalistas na suposição de que essa é a melhor companhia para seus postulados filosóficos em defesa da vida.
Não é. O espírito, como realidade fundamental, sugere atitudes de humanismo que não se compatibilizam com os dogmas religiosos. Leva, por exemplo, a admitir que, no processo de gestação da vida biológica, podem se contrapor direitos naturais de diferentes sujeitos, como a gestante e o nascituro. E que não é justo sacralizar os de um em detrimento dos do outro.
Como o faz a fé.
Não só entre os espíritas, mas disseminadas pela sociedade toda, pessoas orientam suas posições diante da vida a partir da realidade fundamental do espírito como entidade preexistente à vida física. Defendem que essa condição, diversamente do dogma religioso da criação da alma no momento da concepção, conduz a atitudes mais tolerantes e humanistas. Vislumbram no fenômeno da vida um processo dinâmico, teleológico, que, em qualquer circunstância e malgrado acidentes de percurso, conduzirá a um estágio de felicidade e plenitude a que todo indivíduo tem direito.
Mas os que assim pensam restaram condenados ao silêncio. Não são chamados a opinar sobre as grandes questões da vida. Porque o espírito foi seqüestrado pelo formidável conluio pós-moderno materialismo/religião.

MILTON R.MEDRAN MOREIRA, 66, procurador de Justiça do Rio Grande do Sul aposentado e jornalista, é presidente da Confederação Espírita Pan-Americana. É autor de "Direito e Justiça, um Olhar Espírita". Folha de São Paulo.

Sunday, November 25, 2007

As musas não têm perfil, seu rosto quem o dá é o Destino, a seu gosto.
- São feitas da matéria de que são feitos os sonhos!
Desejar o corpo da musa é o abismo.
Foi inevitável: me atirei.
Cruzei a ponte que separa os dois mundos incompatíveis.
Agora, feito um bailarino hindu que dançou no alto de uma árvore
na ponta de um pé só,
penso o equilíbrio entre o ar e o vazio, as mãos mandam mensagens,
um alfabeto de gestos, enquanto despenco.
Lá embaixo alguém acena: pareço dizer adeus?
Na guerra dos mundos, os dois mundos que não combinam acabaram por se tocar.
Já era tarde, noite alta.
E o corpo da musa,
impenetrável.


The Fool


This Deck: Aquarian

General Meaning: Pamela Coleman-Smith's artful rendition of an "innocent Fool" archetype (Rider-Waite deck) is often used to represent Tarot in general. Early classical versions of the Fool card, however, portray quite a different character -- a person driven by base needs and urges, who has fallen into a state of poverty and deprivation.

In some instances, he is made out to be a carnival entertainer or a huckster. In others, he is portrayed as decrepit and vulnerable -- as the cumulative result of his delusions and failures. Not until the 20th century do you see the popular Rider-Waite image of the Fool arise -- that of an innocent Soul before its Fall into Matter, as yet untainted by contact with society and all its ills.

Modern decks usually borrow from the Rider-Waite imagery. Most Fool cards copy the bucolic mountainside scene, the butterfly, the potential misplaced step that will send the Fool tumbling into the unknown. Don't forget, however, that the earlier versions of this card represented already-fallen humanity, over-identified with the material plane of existence, and beginning a pilgrimage towards self-knowledge, and eventually, wisdom. The Fool reminds us to recognize the path of personal development within ourselves -- and the stage upon that path where we find ourselves -- in order to energize our movement toward deeper self-realization.

Saturday, November 24, 2007

O bom do caminho é haver volta. Para ida sem vinda basta o tempo.

Mia Couto.

Cada um descobre o seu anjo tendo um caso com o demónio.

Mia Couto

O Segundo Cérebro

O intestino é um órgão tão temperamental que os fisiologistas o consideram nosso segundo cérebro.

A seleção natural elegeu mecanismos neurológicos de alta complexidade para assegurar contrações e relaxamentos harmoniosos da musculatura intestinal, com a finalidade de fazer progredir o bolo alimentar: as ondas peristálticas.
Disposta ao longo do tubo digestivo, uma extensa circuitaria de neurônios conectada com o cérebro e com a medula espinhal controla o ritmo dessas ondas. Hormônios e mais de trinta neurotransmissores modulam os impulsos nervosos que trafegam de um neurônio para outro, para proceder ao ajuste fino da movimentação intestinal.
Quando os alimentos caem no estômago, esses neurotransmissores disparam o reflexo gastrocólico, verdadeira ordem para que as alças do intestino iniciem o movimento.
Um dos neurotransmissores mais atuantes nessa transmissão de mensagens é a serotonina. Como conseqüência, fatores que alteram a produção de serotonina ou modificam as características dos receptores aos quais ela se liga causam não apenas transtornos psicológicos, mas desorganizam as ondas peristálticas e podem provocar obstipação (prisão de ventre), diarréia, dispepsia e a síndrome do intestino irritável.
Estudos mostram que de 10% a 20% dos adultos se queixam de obstipação, e que a incidência nas mulheres é duas vezes maior.
Há dois tipos de obstipação crônica: o primeiro é caracterizado por lentidão do trânsito; no segundo, a freqüência das evacuações pode estar normal ou mesmo aumentada, mas o volume é reduzido e as fezes são difíceis de eliminar. Nos dois casos, fica a sensação de esvaziamento incompleto do conteúdo intestinal.
Existe uma tendência entre os gastroenterologistas de considerar a obstipação crônica parte da chamada síndrome do intestino irritável.
Antigamente conhecida como "colite nervosa" ou "síndrome do cólon irritável", nela não encontramos lesões patológicas, mas alterações no mecanismo de sinalização mediado pelos neurotransmissores e por seus receptores, que interferem com as ondas peristálticas, modificando os hábitos digestivos.
O diagnóstico é feito clinicamente, depois que o médico ouviu as queixas, pediu exames e excluiu a possibilidade de enfermidades mais graves. Sintomas como diarréia e prisão de ventre podem ocorrer no câncer de cólon e em doenças inflamatórias como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, condições que exigem a realização de colonoscopia, para visualizar e colher amostras do revestimento interno do intestino grosso.
Vários critérios foram estabelecidos para padronizar o diagnóstico da síndrome: dores abdominais aliviadas ao evacuar, fezes amolecidas, evacuações mais freqüentes quando as dores se instalam, distensão abdominal, presença de muco nas fezes e sensação de que a evacuação foi incompleta.
Muitas vezes, os portadores dessa sintomatologia só buscam ajuda após o uso crônico de laxantes, lavagens e tratamentos caseiros inúteis.
São aconselháveis, em todos os casos: hidratação adequada, atividade física, alimentar-se em intervalos regulares e usar o banheiro sempre no mesmo horário para tentar estabelecer um ritmo.
Evitar comidas picantes, muito salgadas, com excesso de condimentos ou conservantes, doces concentrados e alimentos que provocam flatulência (feijão, grão de bico, repolho etc.). É preciso cuidado com o leite: 60% a 70% daqueles com mais de 60 anos apresentam algum nível de intolerância à lactose.
O consumo de fibras deve ser estimulado em caso de obstipação, mas evitado se houver diarréia. As fibras solúveis, como as encontradas em polpas de frutas e alguns cereais, ajudam a formar e compactar o bolo fecal. As insolúveis, presentes na casca das frutas, em alguns cereais e em todas as verduras, não têm capacidade de compactá-lo e funcionam como laxantes.
Embora sempre úteis, essas medidas podem ser insuficientes para controlar os sintomas: boa parte dos pacientes necessita de tratamento medicamentoso.
Não vai longe o tempo em que a síndrome do intestino irritável era interpretada como simples distúrbio alimentar provocado pelo estresse, em pessoas neurastênicas. Hoje, sabemos que se trata de uma doença crônica resultante de alterações neuroquímicas que interferem no ritmo dos movimentos peristálticos. O tratamento exige cuidados dietéticos, orientação médica e até medicamentos de uso prolongado.

Drauzio Varella

You may be hoping that the complexity of your present circumstances will settle down soon, for you've been stretched far enough. You want your old life back, but it probably won't happen. Make whatever necessary adjustments you must today, but don't settle for less in the long run.

Friday, November 23, 2007

You want to learn practical things that will help you get ahead, and usually you can be quite a dedicated student. Unfortunately, your desire for such knowledge may not be satisfied today. Try as you might, the information doesn't seem logical. You can turn your mind in every direction to make sense of it, but this may not be the best time to dwell on it.

Thursday, November 22, 2007

José
(Caetano Veloso)

Estou no fundo do poço
Meu grito
Lixa o céu seco
O tempo espicha mas ouço
O eco
Qual será o Egito que responde
E se esconde no futuro?
O poço é escuro
Mas o Egito resplandece
No meu umbigo
E o sinal que vejo é esse
De um fado certo
Enquanto espero
Só comigo e mal comigo
No umbigo do deserto

Wednesday, November 21, 2007

A precisão para os antigos egípcios era simbolizada por uma pluma que servia de peso num dos pratos da balança em que se pesavam as almas. Essa pluma levíssima tinha o nome de Maat, deusa da balança. O hieróglifo de Maat indicava igualmente a unidade de comprimento - os 33 cm do tijolo unitário - e também o tom fundamental da flauta.
[...] abro esta conferência sobre a exatidão na literatura invocando o nome de Maat, a deusa da balança. Tanto mais que Balança é meu signo zodiacal.
Antes de mais nada, procurarei definir o tema. Para mim, exatidão quer dizer principalmente três coisas:

1) um projeto de obra bem definido e calculado;

2) a evocação de imagens visuais nítidas, incisivas, memoráveis; temos em italiano um adjetivo que não existe em inglês, "icastico", [...]

3) uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação.

Por que me vem a necessidade de defender valores que a muitos parecerão simplesmente óbvios? Creio que meu primeiro impulso decorra de uma hipersensibilidade ou alergia pessoal: a linguagem me parece sempre usada de modo aproximativo, casual, descuidado, e isso me causa intolerável repúdio. Que não vejam nessa reação minha um sinal de intolerância para com o próximo: sinto um repúdio ainda maior quando me ouço a mim mesmo. Por isso procuro falar o mínimo possível, e se prefiro escrever é que, escrevendo, posso emendar cada frase tantas vezes ache necessário para chegar, não digo a me sentir satisfeito com minhas palavras, mas pelo menos a eliminar as razões de insatisfação de que possa me dar conta.
A literatura - quero dizer, aquela que responde a essas exigências - é a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser.

Italo Calvino - Exatidão - Seis Propostas Para o Próximo Milênio.

Tuesday, November 20, 2007

What has traditionally been known as the Star card is about reconnecting one's Soul with the Divine -- the transcending of personality, family, community and reputation. It has to do ultimately with the freedom to be one's Self. The Soul is responding to celestial influences -- forces that can provide the personality with a stronger sense of purpose. The Star card helps us to remember our exalted origins and our attraction to a Higher Union.

This card could also be called the "Celestial Mandate" -- that which refers us back to our reason for being, our mission in this lifetime. The Star reminds us that, in a sense, we are agents of Divine Will in our day-to-day lives. If we let go of the idea that we are supposed to be in control, we can more easily notice and appreciate the synchronicities that are nudging us along. In this way, we become more conscious of the invisible Helping Hand, and we better understand our place within -- and value to -- the larger Cosmos.

Aquela chuva de ontem ninguém mereceu, hein? Mas Deus tá registrando tudo no livrinho. No Juízo Final vai estar lá, escrito - "Segunda-feira, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, professores obrigados a trabalhar com as cri-oncinhas e sem parque!!!". Ponto positivo. No livro da dona da escola vai estar marcado - "Segunda, 19 de Novembro de 2007, Dia da Consciência Pesada". Deus é justo. E verdadeiro. Quem disse isso foi o Jorge Ben! Charles, anjo 45, protetor dos fracos e dos oprimidos, Robin Hood do morro, rei da malandragem...

Recompensa divina! Boa essa!

Tem que se apegar com alguma coisa! Segura na mãe de Deus, pois ela, ela te sustentará!

Não seria na mão de Deus???

Saiu na mãe? Botei a coitada da mãe de Deus na conversa! Aí, Deus vai falar: não bota a mãe no meio...

Mãe é coisa sagrada!!!

A de Deus, então!

E Deus tem mãe? Ele não é o "todo poderoso"? O "criador de tudo"?

A que eu mais gosto é: "O Motor Imóvel".

Não entendi!

Eh, eh... nem eu. Eu quase escrevo: quem entende isso? É um conceito aristotélico. Se tudo precisa de algo para ser posto em movimento (é verdade, não é? alguma coisa se mexe, no Universo, sem que haja uma força que a ponha em movimento?), a existência de Deus passa a ser forçosamente necessária. Pois nada se poria em movimento se não houvesse uma força (o Universo não surgiria). Mas se tudo precisa de uma força para que se mova, quem move Deus? Nada, pois Deus é o único motor imóvel. Entendeu, agora?

É... vamos dizer que sim.

Tá. O problema é que você não acredita em Deus.

Aí, não vejo o motor. Mas quem sabe, um dia eu veja... quando a água bater na bunda.

O barato na filosofia é que o caminho é pela "lógica". Não precisa de água, nem bunda. Se nada passa a existir sem algo que o crie, como o mundo existe? É o mesmo princípio para tudo. O nenenzinho na barriga do macaco e Deus. Me explica aí: sem Deus, como é que o Universo nasceu?

Uma explosão cósmica?

E antes dela?

Ah, sei lá! Não é que não acredito em Deus, acho, sim, que exista uma força superior criadora, mas não acredito na forma como Ele é visto. Acho que Ele já fez muito, criando tudo, a base. Mas depende de nós construir, movimentar e até mesmo destruir o resto. Dá pra entender? Talvez ele já tenha se aposentado e ninguém percebeu.

Essa parte da aposentadoria não, porque, inclusive o que você disse antes, o "depende de nós", isso aí é o ensinamento básico, ponto de partida da Bíblia!

é... humm... sei lá... talvez.

Talvez estar na Bíblia?

Tá confuso!

Ô, dó... Não está na Bíblia. É a idéia central de todo e qualquer livro sagrado. Religião significa religar. Voltar a ter ligação com o que é divino. E em todos os livros de ensinamento fica evidente que o caminho da religação tem que ser percorrido por cada um.

Isso eu sei. Mas... acho que não consigo explicar porque falta a minha ligação, entende?

Entendo. Em mim falta também. É outro assunto. A gente às vezes quer resolver a própria ausência de sentimento religioso fazendo Deus sumir.

Mais ou menos por aí, ou melhor, não quero fazê-lo sumir, eu quero entender tudo isso, de forma clara e objetiva, mas acho que quando o assunto é sentimento religioso, isso é impossível!

Sentimento não se "aprende", não se "cria". Ou tem, ou não tem. Isso o nosso tempo resolveu, já. Cada um que viva sua religiosidade como bem queira.

E eu, que quero entender? Danou-se então!

Ara! Vai ler o Aristóteles. O Nietzsche não adianta!

Tá bom, tá bom...

Pra esse assunto não. Pra matar Deus, ele é excelente!

Mas acho que foi o cara que mais acreditou nele.

Sem querer, né? Pra quem quer entender, não ajuda muito, acho.

É.

Então, mas Aristóteles é um pé no saco. Acho que você podia ler O Poder do Mito.

Vou anotar.

E tem em DVD.

É?

Acho que na 2001 acha. Pra vender é na TV Cultura, pelo site. Mas é caro pra burro!

Não exagera, vou ler.

Se der pra pegar na locadora, vale a pena. É bem feitíssimo. Produzido pelo George Lucas!!!

Primeiro eu leio, aí, dependendo da minha reação com a leitura eu vejo o filme.

Tá bom. Só pra constar: o livro é a transcrição do vídeo. O projeto foi feito para vídeo. Depois adaptaram para livro.

Então é melhor ver o vídeo?

Yep.

Esquece o livro.

Livro? Que livro?

Dãrd!


http://www.flickr.com/photos/beija-flor/1565627842/



Ao menos 267 cidades do país lembram o Dia da Consciência Negra, nesta terça-feira, com feriado. A data, no entanto, é comemorada nacionalmente.

A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial afirma que o número de municípios é baseado em comunicações oficiais feitas pelas prefeituras ao governo federal. Com isso, há possibilidade de que outras cidades também comemorarem a data com feriado, mas não façam parte da lista.

Em São Caetano do Sul (Grande São Paulo), decreto do prefeito José Auricchio Júnior (PTB) antecipou, neste ano, o feriado para o dia 16. Segundo decreto, a decisão leva em conta o fato de a data emendar com o feriado da Proclamação da República, o que poderia acarretar "grande prejuízo ao comércio e empresas locais, bem como às atividades do setor público".


Monday, November 19, 2007

Tropas de Elite

O comerciante José Wilson Varela, 51, encontrou na madrugada de domingo, abandonado numa rua de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o corpo de seu único filho, o soldado do Exército Wilson Varela, 22, morto a tiros sábado à noite.

Wilson caminhava pela estrada de Madureira com a namorada Amanda Teixeira, 17, quando foi baleado a poucos metros de onde morava com o pai. A namorada, também ferida, foi internada no hospital Estadual Rocha Faria.
O comerciante, que passava o feriado em Ilhabela (litoral paulista), viajou até o local assim que soube do crime. Mas em vez de encontrar a polícia no local, começou a testemunhar uma seqüência de descaso e inépcia de servidores públicos envolvidos com a ocorrência, que só acabaria ontem.
Os PMs acionados para o caso deixaram a cena do crime antes do turno deles acabar. Os bombeiros acionados para a remoção não haviam chegado até às 3h, quando Varela embrulhou o filho em um cobertor e o levou para o IML (Instituto Médico Legal) de Nova Iguaçu.
Ficou mais de três horas com o cadáver no carro porque o instituto se recusou a recebê-lo sem a guia da polícia. O que foi resolvido depois que um funcionário resolveu pegar uma autorização para dar entrada no corpo na 56ª DP.
O Corpo de Bombeiros informou que foi ao local às 23h30, 11 minutos após receber o chamado, constatou o óbito e acionou a PM. Apenas às 4h35, disse ter recebido da polícia o pedido pelo rabecão, mas apenas chegou ao local às 6h10.
A PM informou que os dois policiais que abandonaram o local foram punidos administrativamente. O soldado será enterrado hoje ao meio-dia no cemitério de Campo Grande.

Conheci Vinicius de Moraes a vida toda. Ele nasceu no dia da inauguração do bondinho do Pão de Açúcar.

Eu, quando nasci, Lindbergh estava se preparando pra cruzar o Atlântico Norte, daqui pra lá. Gago Coutinho tentava fazer o mesmo no Atlântico Sul. De lá pra cá.

Depois estivemos juntos, Vinicius e eu, esqueçam Lindbergh e Gago Coutinho, dentro de uma cabine de transmissões telefônicas internacionais – Radional – com menos de um metro quadrado, os dois apertando a chilena Gabriela Mistral no momento em que ela agradecia para o mundo o prêmio Nobel.

Depois estivemos em Londres, ou no Lido de Veneza e, muito mais tarde, quando ele "morava" em Arembepe. Mas, presos em missões, estivemos juntos também, durante mais ou menos três meses, em Hollywood, Los Angeles (Santa Maria Porciúncula de), onde ele era cônsul.

Consumimos juntos César Lattes, que tinha acabado de descobrir o méson pi, e convivemos algumas vezes com Carmem Miranda, que jogava canastra comigo e seu marido, David Sebastian. Vinicius me levava a festinhas e a ver Nat King Cole, tocando piano num boteco, sem o trio.

Só agora me mandam este poema que Vinicius me dedicou, vejam só!, e que não resisto a reproduzir. Obrigado, Vinicius.

A você, meu caro Millôr Fernandes,
(Poeta íntimo, homem triste, grande humorista, mais conhecido por Vão Gogo, às vezes)
A você, que me pede o poema da minha tão sonhada volta
Ao Rio,
Eu direi humildemente: faço.
Não é fácil, mas faço. Sem dúvida melhor fora
Sair por aí transpirando e sonâmbulo, os braços estendidos
A todos os azuis, os pés indiferentes a todos os abismos, a aspirar, de olhos cerrados,
Os úmidos perfumes desta cidade de infinitas paciências
E fragrâncias. Entretanto
Coisa grave é um poema, e eu me dedicarei provisoriamente
A tão duro dever. Nada lhe prometo, porém,
Nada de bom, de vez que ora sou apenas o filho pródigo e
Sinto-me inda obnubilado
De beleza.
Ah, nada mais doce que essa sensação de pousar a cabeça
No colo morno da pátria
E deixar-se estar olhando o céu – como no Arpoador,
Onde se morre a cada instante ante o dilema
Natureza e mulher. Que coisa, Millôr Fernandes,
A mulher no Rio! Quantas cortinas
De veludo nos seus olhos, e com que maciez são abertas
Até a vida! Que delícia, Millôr Fernandes!
Que grande delícia! A ela, antes e primeiro – salve!
E salve lindo! Por ela tudo: poema, alaúzas, ombro-armas,
Mortes, ressurreições.

http://www2.uol.com.br/millor/index.htm

Tanta Saudade
(Djavan & Chico Buarque)

Era tanta saudade
É pra matar
Eu fiquei até doente
Eu fiquei até doente, menina

Se eu não mato a saudade
É, deixa estar
Saudade mata a gente
Saudade mata a gente

Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além

Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem

Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão

Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração

Mas voltou a saudade
É, pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina

Se eu ficar na saudade
É, deixa estar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina

Quis saber o que é o desejo
De onde ele vem
Fui até o centro da terra
E é mais além

Procurei uma saída
O amor não tem
Estava ficando louco
Louco, louco de querer bem

Quis chegar até o limite
De uma paixão
Baldear o oceano
Com a minha mão

Encontrar o sal da vida
E a solidão
Esgotar o apetite
Todo o apetite do coração

Ai amor, miragem minha
Minha linha do horizonte
É monte atrás de monte, é monte
A fonte nunca mais que seca

Ai, saudade, inda sou moço
Aquele poço não tem fundo
É um mundo e dentro o mundo
E dentro o mundo e dentro o mundo
E dentro é o mundo que me leva...

The Emperor - You have the wisdom and authority to achieve your goals.

The Fool - Let go of expectations and trust your instincts.

The Magician - Be playful and stay open – the possibilities are endless.

The High Priestess - Get your ego out of the way and become attuned to a more spiritual view.

The Empress - Look for opportunities to be generous, warm and nurturing.




(...) o interesse que o indivíduo pretende assegurar é o de sua imortalidade, que não é mera sobrevivência, mas vida ao abrigo da necessidade e a despeito do (des) falecimento: perduração da intensidade, pertinência ao eterno.

(...) A vontade – isto é, a capacidade ativa de procurar a imortalidade – começa a ser experimentada em certos casos ou em certos aspectos como aventura individual e não apenas como participação irremediável num fundo energético comum. Por “imortalidade” não se entende aqui a negação da morte nem a sobrevivência espiritual depois da morte, mas a resistência institucional ante a desvalorização aniquiladora que a presença permanente da morte impõe a toda a atividade humana.


(...) A vontade individual se afirma por tentativas graças à energia recebida da vontade social capitalizada, mas esta afirmação é sentida, para começar, como choque e, portanto, como ameaça de destruição.

A culpa do indivíduo ao agir como tal é o presságio da morte que há de castigar sua finitude
. Ruptura com a matriz da espécie ou com o clã, ameaça de castração paterna ou legal, enfrentamento com a hostilidade numerosa dos outros, solidão diante das conseqüências nunca totalmente previsíveis da escolha própria, desafio à monstruosa natureza que vai nos cobrando um a um...


Fernando Savater - http://irajamenezesleituras.blogspot.com/search?q=savater

The Devil

General Meaning: What has traditionally been known as the Devil card expresses the realm of the Taboo, the culturally rejected wildness and undigested shadow side that each of us carries in our subconscious. This shadow is actually at the core of our being, which we cannot get rid of and will never succeed in taming. From its earliest versions, which portrayed a vampire-demon, this card evoked the Church-fueled fear that a person could "lose their soul" to wild and passionate forces.

The image which emerged in the mid-1700's gives us a more sophisticated rendition -- that of the "scapegoated Goddess," whose esoteric name is Baphomet. Volcanic reserves of passion and primal desire empower her efforts to overcome the pressure of stereotyped roles and experience true freedom of soul. Tavaglione's highly evolved image (Stella deck) portrays the magical formula for harnessing and transmuting primal and obsessive emotions into transformative energies. As a part of the Gnostic message of Tarot, this fearsome passion and power must be reintegrated into the personality, to fuel the soul's passage from mortal to immortal.

http://www.tarot.com

Sunday, November 18, 2007

Lançando novo álbum nos EUA, Tom Waits fala da influência de Kerouac e Ginsberg, de alcoolismo e do sucesso recente, após anos de ostracismo - SEAN O'HAGAN -

Quando Tom Waits era garoto, ele ouvia o mundo de maneira diferente. Às vezes o mundo soava tão desafinado que o assustava. O farfalhar de uma folha de papel era capaz de fazê-lo recuar; o som de sua mãe ajustando os cobertores à sua volta, quando o colocava na cama, podia fazê-lo se encolher, como se estivesse sentindo dor.
"Não era legal", diz ele, fazendo um gesto de "não" com a cabeça, caso ainda restasse alguma dúvida. "Era uma coisa assustadora. Às vezes eu achava que era mentalmente doente - pensava que talvez fosse retardado. Eu colocava minha mão sobre um lençol, assim [esfregando sua camisa], e o som que ouvia era como o de uma lixa. Ou o de um avião passando ao alto."
"Já li que outras pessoas, pessoas artísticas, também já passaram por isso", diz Tom. "Elas passaram por períodos em que havia uma distorção no mundo que as perturbava." Então aqui estamos, 50 e poucos anos mais tarde, e Tom Waits criou uma carreira baseada em distorcer o mundo de maneira freqüentemente perturbadora. Suas canções com freqüência soam como se tivessem sido golpeadas até perder a forma, passadas por uma centrífuga e então deixadas ao sol para secar, até ficarem ressequidas e, de certo modo, puras de espírito.

Álbum triplo


Seu novo álbum, Orphans [Órfãos, CD importado Anti], que é na realidade três em um, é um mapa de desintegração, grande e espalhado: um álbum triplo contendo 54 canções, 30 delas novas em folha, sendo que as outras foram pinçadas de diversos trabalhos únicos, trilhas sonoras e peças teatrais.
"Brawlers" é feito de "stomps" de blues e rock nu e cru; "Bawlers" é repleto das belas e desmontadas baladas de Tom Waits, que sempre soam estranhamente familiares; "Bastards" é uma série de tremores e choques, explosões ruidosas que variam de tom do resmungo ao lunático.
É a primeira vez em mais de 20 álbuns que Tom Waits divide sua música em linhas tão genéricas. Concluo que, aos 57 anos, ele está finalmente se abrandando. "Não sei", diz ele, soando ainda mais áspero que de costume - talvez até mesmo um pouco ofendido.
"Só achei que ficariam mais fáceis de ouvir se eu as dividisse em categorias. É um prato combinado, algo raro e novo." E uma canção se destaca. Intitulada "Road to Peace", trata do conflito no Oriente Médio.
"Eu estava furioso", diz, suspirando e esfregando os olhos. "Começou com algo que li no jornal certo dia: "Ele estudava tanto que parecia que teria um futuro". Era sobre um garoto que morreu depois da explosão de uma bomba num ônibus, em Israel. Dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor. Não sei se acredito nisso."
Digo que ele provavelmente será criticado pelo verso "...por que estamos armando o Exército israelense com canhões, tanques e balas?". Tom faz um gesto de assentimento com a cabeça. "Talvez. Mas estamos armando Israel, sim. Isso é fato. Mas essa canção não fala de tomar partido -é uma crítica aos dois lados. Tentei ser o mais equilibrado possível."


Músico caseiro


Estamos sentados nos fundos do bar de ostras Little Amsterdam. É o tipo de lugar próprio de Tom: um restaurante holandês um pouco decadente onde bandas de mariachis costumavam tocar nos fins de semana, até que a licença de entretenimento do proprietário foi revogada. Tom Vive num rancho em Napa Valley, perto de Santa Rosa. Hoje em dia não se aventura muito longe de casa - são os músicos que vão a ele. Suas turnês tendem a ser curtas e infreqüentes. "É preciso manter [o público] sedento", brinca.
Estamos sentados diante de uma mesa capenga, ao lado de um piano quebrado, deformado pela chuva. Tom Waits toma café preto num copo de papel e usa um terno pelo menos um tamanho pequeno demais, botas de motociclista surradas e um ar de experiência veterana que diz "já vi de tudo".
Seu cabelo está mais ralo agora, mas ainda manifesta espírito independente. Seu violão está aninhado em seu estojo, sobre o asfalto, e sobre o estojo há um chapéu gasto, daqueles cujas abas são reviradas em toda a sua volta.
Muito tempo atrás, quando primeiro topei com Tom Waits, todas as suas canções pareciam falar de beber e perder seu caminho no meio da bruma. Seu primeiro disco foi Closing Time (Hora de Fechar), mas soava mais como um lugar cativo no bar mais solitário do mundo.
Durante seis álbuns gravados com a Asylum Records, desde seu acima mencionado álbum de estréia, de 1973, até Heartattack and Vine, de 1980, Tom Waits foi o bardo do banquinho de bar, com voz rouca e manchada de cerveja - um beatnik tardio com fígado ruim e coração partido, cujos fãs eram poucos e esparsos, mas totalmente devotados a ele.

A influência beat


Durante muito tempo parecia que Waits permaneceria como figura cult, alguém situado no horizonte mais distante do cenário musical dos anos 1970, um trovador desajeitado alimentado com bourbon e Bukowski. Sua música sugeria - e, em grau menor, ainda sugere - que os anos 1960 passaram totalmente ao largo de Tom; que, em seu universo autocontido, a geração beat foi muito mais importante que os Beatles, que Sinatra tinha precedência sobre os Stones.
Ele nasceu como Thomas Alan Waits, em Pomona, Califórnia, em 7 de dezembro de 1949. Seus pais eram professores primários, mas sua infância confortável de classe média foi abalada quando eles se divorciaram, em 1960. Foi com certeza o momento em que ficou obcecado pela idéia de encontrar outro pai.
A salvação, pelo menos de certa maneira, chegou quando descobriu Kerouac e Ginsberg, nos anos 1960, ícones literários cool da década anterior. Até a chegada de sua mulher, duas décadas mais tarde, os escritores beat foram sua influência mais importante.
"Eles foram figuras paternas", responde Tom, falando baixinho, enquanto seus dedos longos desenham círculos pequenos no café derramado sobre a mesa. "Eram as pessoas junto às quais eu buscava orientação. Meu pai partiu quando eu tinha 10 anos, então eu vivia à procura de um pai. "Você é meu pai? Você é meu pai? E você, é meu pai?"."
Os trens que reaparecem a toda hora em suas canções também remetem a um sentimento de inquietação em sua infância, o desejo urgente de perambular que permaneceria até ele encontrar a mulher com quem se casaria.
Tom Waits saiu de casa aos 15 anos, encontrando trabalho temporário primeiro como cozinheiro e depois como leão-de-chácara de uma boate. Ele se mudava constantemente, tendo em vários momentos morado em seu carro, e estava sempre compondo canções.

Salvação


Mas, por maravilhosos que fossem vários de seus primeiros álbuns, sua inspiração estava perdendo força. E o mesmo estava acontecendo com sua ambição. "Tinha um problema", explica. "Um problema com o álcool, algo que muitas pessoas vêem como sendo um risco ocupacional. Minha mulher salvou minha vida."
Kathleen Brennan era uma roteirista que Waits conheceu em 1978, quando acabava de lançar-se em sua outra carreira, mais inconstante: a de ator. Os dois se conheceram no set de A Taberna do Inferno, veículo para o então jovem Sylvester Stallone que incluía uma ponta de Waits, que representou uma versão dele mesmo: um pianista chamado Mumbles.
Brennan e Waits se casaram em 1980. Garota criada numa fazenda de Illinois em família católica irlandesa, Kathleen foi a catalisadora da transformação dramática e profunda na música de Waits que aconteceu com o lançamento de Swordfishtrombones, em 1983. "Eu não me casei apenas com uma mulher linda", diz ele.
"Casei-me também com uma coleção de discos." As canções que ele escreve com Kathleen freqüentemente são repletas de ecos de canções mais antigas. Em Órfãos também se ouvem traços de John Lee Hooker e John McCormack, os Louvin Brothers e os Clancy Brothers.
Kathleen é sua colaboradora há quase 25 anos. Eles têm três filhos - Casey, Kelly e Sullivan -, e Casey hoje toca bateria na banda do pai. Quando perguntaram a Tom, certa vez, qual tinha sido a contribuição de sua mulher, ele respondeu: "Sangue, bebida e culpa".
Isso é prático, já que o próprio Waits não toma álcool há 14 anos. Quando ele diz que Kathleen salvou sua vida, está falando literalmente. Até que ponto, para ele, foi difícil parar? "Foi difícil. Freqüentei os Alcoólicos Anônimos. Estou limpo e sóbrio. Viva! Mas foi uma luta." Pergunto se ele compunha canções de tipo diferente na época em que bebia.
Reflete por um instante e então responde: "Não. Acho que não. Quero dizer, quando você bebe e usa drogas, nunca tem certeza absoluta se os espíritos que se movem em você são seus mesmos ou se são os da bebida. E, em dado momento, você passa a ter medo da resposta. Essa é uma das maiores razões que impedem as pessoas de ficar sóbrias: elas têm medo de descobrir que era o álcool falando, o tempo todo".

Respeito ao talento


Percebe-se que Tom respeita seu talento, o alimenta e nunca o aceita como algo garantido; que tem uma fé quase espiritual na canção. Recentemente, essa fé vem até lhe rendendo frutos comerciais. Seu último álbum, Real Gone, de 2004, um trabalho tosco e forte até mesmo pelos padrões de Tom Waits, seguiu Mule Variations, de 1999, entrando nas paradas pop americanas e britânicas. Enquanto nosso tempo reservado chega ao fim, e Waits vai ficando inquieto, começamos a trocar canções, histórias e piadas favoritas.
Ele pega seu chapéu e o bate para tirar a poeira. "Um dia, terei partido, e as pessoas vão ouvir minhas canções e ver minha imagem diante delas. Para que isso aconteça, você precisa inserir alguma coisa sua na canção. Como uma cápsula do tempo ou como fazer uma boneca de vodu. Você precisa embrulhar a boneca com um barbante, colocar uma pedra dentro da cabeça e depois usar dois pauzinhos e alguma coisa de uma teia de aranha. É preciso colocar tudo isso dentro da canção para que ela sobreviva."
Digo a ele que acho que não tem nada a temer nesse quesito. As melhores canções de Tom Waits vão continuar no ar muito tempo depois de nós dois termos partido. Como sombras, como fantasmas, como ecos.


A íntegra deste texto saiu no "Guardian". Tradução de Clara Allain. +Mais!

Saturday, November 17, 2007

A jangada saiu com Chico Ferreira e Bento

A jangada voltou só

Com certeza foi lá fora num pé de vento

A jangada voltou só...

Pescadores desaparecem após naufrágio de jangada no Ceará

Dois pescadores cearenses estão desaparecidos depois do naufrágio de uma jangada, ocorrido na madrugada deste sábado (17) em alto-mar, em Paracuru, a 80 quilômetros de Fortaleza.

A jangada já foi encontrada pela equipe de resgate da Petrobras, que tem uma plataforma de petróleo no mar da cidade. Outro pescador, Damião Marques dos Santos, conseguiu nadar até a plataforma, onde foi socorrido.

Há suspeita que os fortes ventos de hoje no Ceará tenham provocado o acidente. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), os ventos atingiram velocidade superior a 60 km/h durante a madrugada, mais que o normal para essa época do ano.

Lauriberto Braga de Fortaleza - 17/11/2007 - 12h56 - Agência Estado

Friday, November 16, 2007

Entrevista: The Police

FOLHA - Eu vi o show de reestréia do Police em Los Angeles, em junho. O que mudou desde então?

STEWART COPELAND - Melhorou. Demoramos para enxergar uns aos outros de novo, depois de tanto tempo longe. Nos anos 80, nós conquistamos o mundo depois de estarmos juntos por cinco ou seis anos; agora, nós tivemos de nos transformar num grupo de qualidade internacional em cinco ou seis meses --nem isso, em cinco ou seis semanas. Nós fizemos a primeira parte da turnê, nos EUA, ficamos parados por uma semana, digerindo aquilo tudo, voltamos dez vezes melhores na Europa e agora paramos por outra semana.

FOLHA - Pelas suas contas, o show no Brasil será melhor do que eu vi em Los Angeles, então?

COPELAND - Ainda melhor, pelo ingrediente secreto: os brasileiros. O público é o grande ingrediente do show, aquilo que faz toda a diferença para um grupo. É uma das forças de um grupo que tem músicos tão diferentes como o Police. Nós percebemos isso agora, não entendíamos antes, mas o motivo porque fazemos música que causa tanta reação é o fato de sermos tão diferentes uns dos outros. Não é muito confortável, mas é muito eficiente.

FOLHA - Qual a diferença entre o público de agora e o dos anos 80? Não só a idade, mas muita coisa aconteceu entre o fim e a volta da banda: vocês pularam da geração vinil para a do iPod sem passar direito pela do CD...

COPELAND - Tudo isso não afeta a música nem a experiência do show. Afeta o negócio ao redor, que passou por uma grande devastação em todos os setores, menos no de shows ao vivo. Mas esqueça tudo isso. Quando nós éramos uma banda de jovens, a maioria do público era composta por meninas de 16 anos desmaiando e sendo carregadas pelos médicos. Agora, são homens de 45 anos chorando. E aquelas garotas de 16 anos têm 45 anos --e ainda estão bonitas, pelo menos a maioria! [Risos].

FOLHA - Mas vocês ainda atraem as de 16, pelo menos havia vários jovens no show de Los Angeles.

COPELAND - Pode ser, mas as de 16 não têm mais chance de chegar perto do palco, porque as mães delas chegaram lá antes. Quando nós éramos jovens, as pessoas me diziam: “Ah, minha irmã adora sua banda”. Agora é: “Minha mãe adora sua banda”. Na verdade, nosso novo lema é: “Tranquem suas mães, nós estamos de volta!”

FOLHA - E mudou a dinâmica na estrada?

COPELAND - Antes, era muito simples. Nós já tocávamos em estádios e para grandes públicos, mas vivíamos de maneira muito simples, e a tecnologia era mais básica. Agora, é mais complicado, mais sofisticado, a maneira como as bandas operam evoluiu ao longo dos anos. É complicado explicar, mas, resumindo, é muito mais confortável agora. E eu gosto muito.

Lembro-me quando nós tínhamos 25 anos e estávamos no topo do mundo, eu ficava ansioso o tempo todo, não era feliz, não sei por que, estava nervoso, ansioso, com raiva, alguma coisa estava errada. Agora, estou feliz. Sting e Andy são duas das pessoas mais legais do mundo, estamos fazendo uma música incrível, o público está enlouquecendo, o que mais alguém pode pedir? Agora, nós entendemos o privilégio que é isso.

FOLHA - Vocês estão aproveitando a convivência do reencontro para compor novas músicas?

COPELAND - Não. Não é o que estamos fazendo. É mais uma experiência emocional, mais um resumo. Quem procura algo novo deve assistir Oysterhead ou outro grupo novo e jovem. Não é o caso aqui. Estamos falando de músicas que têm um poder especial. E não é porque “Roxanne” é uma música excelente, ou “Message In a Bottle” ou “Every Breath You Take”... Sim, são ótimas músicas, e Sting é um grande vocalista, mas o show é mais do que isso. São 20 anos da vida das pessoas. Eles foram românticos, construíram suas carreiras, viveram suas vidas, os filhos começaram a crescer ouvindo essas músicas...

Elas têm um poder que vai além da música, um poder de 20 anos de experiência de vida. E isso é algo que uma música nova não alcançaria. Nós tocamos nossos instrumentos de maneira nova, a cada noite, o público está lá, nos desperta, nos inspira, e nós seguimos o ritual. Mesmo sendo o mesmo ritual em sua forma básica, cada noite é diferente, tem um detalhe novo, uma ênfase diferente, coisas diferentes acontecem. Nossas músicas têm esse poder, nós simplesmente não pensamos em músicas novas, pensamos em como saborear as músicas velhas de maneiras diferentes.

FOLHA - O Police esteve no Brasil em 1982, e ninguém ligou muito. Agora, vocês voltam para um show já todo vendido. Qual a sensação, de um ciclo?

COPELAND - Não sei se um ciclo, talvez mais uma espiral. Estou muito surpreso, e parece bastante surreal o que está acontecendo. Quando estou no palco, olho para a frente e do meu lado direito está a parte de trás da cabeça do Sting e do lado esquerdo a parte de trás da cabeça do Andy, fico pensando: “O que aconteceu com os últimos 20 anos?” Eu sei que constituí uma família, tive uma nova carreira como compositor, tudo isso, mas tudo desaparece...

FOLHA - Sei que você já respondeu a essa pergunta milhares de vezes, mas mesmo assim: por que voltar? E por que agora?

COPELAND - Não sei. Acho que é porque o Sting é o “rei da dor” [“King of Pain”, nome de um dos sucessos da banda] e adora sofrer. Acho que, depois de seu disco de alaúde [“Songs from the Labyrinth”, de 2006], ele finalmente chegou a um ponto em que não conseguia pensar em nada mais doloroso do que me telefonar [Risos]. Ele tentou chicote, ser acorrentado, fazer greve de fome... Toda manhã, a mulher dele, Trudie, o atingia com uma pistola elétrica... Nada mais funcionava, então ele teve de chamar o Stu...

FOLHA - Falando nisso, quem começa as brigas e quem as termina hoje em dia?

COPELAND - Eu começo! Andy é quem dá fim a elas. Porque ele está tão ocupado com sua guitarra, tem tanta harmonia para tocar, tanta coisa complicada e importante para fazer que não tem tempo de discutir. Já tudo o que eu e Sting fazemos é brigar.

FOLHA - Então, a rotina do grupo continua a mesma?

COPELAND - A diferença é que agora continuamos brigando o tempo todo mas pelo menos sabemos o motivo: a única coisa sobre a qual discutimos é a música. Pessoalmente, nós nos amamos, nos valorizamos, somos muito próximos. Mas, quando se trata de música, entendemos que somos quase opostos e também entendemos que os opostos se atraem, e um muda o outro. Sting tocando comigo é um cara diferente do Sting tocando alaúde. O mesmo acontece comigo: quando estou tocando com ele, estou num papel diferente do que com qualquer outra pessoa.

E nós dizemos: “Meu Deus do céu, por que eu tenho que tocar com esse cara?”. Mas esse é o cara com quem nós temos de tocar, e funciona, e o público age como se fosse o juiz. Tocarmos junto não é fácil, mas o efeito no público torna fácil, torna uma coisa boa, excitante, mostra a importância disso para nós. Depois do show, olhamos uns para os outros, nos cumprimentamos, nos abraçamos e voltamos a nossas vidas. É uma coisa muito, muito estranha. É como eu disse: Sting gosta de sofrer e ele adora o fato de eu ser um grande incômodo logo ali, atrás dele. [Risos]

FOLHA - Você é filho de um ex-agente da CIA, passou parte da infância e da adolescência no Oriente Médio. Qual sua opinião sobre o Estado das coisas em seu país hoje?

COPELAND - Estou feliz com o fato de que tudo isso vai acabar logo. O grande pesadelo vai acabar em breve, eu espero. Em mais ou menos um ano e meio, nós vamos nos livrar desse presidente, que é um desastre, um criminoso, na verdade. E espero que ele seja julgado e colocado na cadeia por seus crimes, não só contra os EUA, mas contra o resto do mundo.

FOLHA - Você disse que a gravadora A&M só assinou com o Police nos anos 70 para conseguir sua banda de então, Klark Kent. É verdade?

COPELAND - Foi o que me disseram. E é claro que eu adoro essa história. Pode ter sido o caso então, mas a gravadora assinou com o Police quando o Sting começou a escrever as músicas que ele fez, que são uma categoria diferente de música. Mas tudo se tornou possível por conta do Klark Kent...

Sérgio Dávila, de Washington

Thursday, November 15, 2007

e eu sou só eu só eu só eu

1.

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes –
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...

2.

Bilhete: (a Fernando Pessoa) "Um grande, grande / adeus do seu pobre / Mário de Sá-Carneiro / Paris, 26 abril 1916". Desenho: Almada Negreiros.

http://www.erratica.com.br/


O Ciúme

Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia

Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta

Quem nem alegre, nem triste, nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico, vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti
Não me ensinas
E eu sou só eu só eu só eu

Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas na voz que canta tudo ainda arde
Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê?

Tanta gente canta
Tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira monstruosa
A sombra do ciúme

Caetano Veloso - http://www.caetanoveloso.com.br/index.php

Fracasso do Pensamento

Um mundo sem reflexão, onde a violência da realidade obriga o sujeito a deixar de pensar para agir, cedendo ao senso comum, ao simplismo e ao pragmatismo cínico, recorrendo ao preconceito e a ações impensadas que antes ele condenava, quando essa mesma realidade ainda não o atingia diretamente e ele podia repetir belas teorias da boca para fora, não é um mundo menos hipócrita (como alguns gostariam), é um mundo pior. Um mundo sem arte (no qual a arte, aceitando a pecha de ilusão e perfumaria, cede ao consenso da realidade e passa a funcionar como jornalismo e sociologia) também.

É nesse mundo desiludido que a representação de jovens tolos e inconseqüentes, repetindo Foucault da boca para fora, para acabar quebrando a cara na prática contraditória do trato direto com a realidade nua e crua, passa a ter um efeito catártico junto a platéias em busca de um bode expiatório.

É desse mundo (o do fracasso do pensamento) que trata Tropa de Elite: onde só é permitido escapar à violência (e deixar de ser violento) fora da realidade - tudo o que o capitão Nascimento quer, ou diz querer, é sair desse mundo (onde quem pára para pensar morre), para poder cuidar em paz do filho e da família.

Gostei do filme, embora tivesse preferido o longa-metragem anterior de José Padilha, o documentário Ônibus 174. Não acho o filme fascista. Mas é inegável que, como qualquer representação da realidade, ele tem um discurso (que não é exatamente o mesmo do capitão Nascimento), a despeito de dizer que se limita a mostrar a realidade. E não é um discurso novo. É o discurso de um realismo funcional que volta e meia reaparece para dizer que a realidade é o que é. E que só os fatos (ali representados) contam.

Num mundo em que o jornalismo substitui a filosofia (e em que a arte se esconde como discurso para se apresentar como espelho de uma realidade unívoca), é lógico que o bom senso não tem vez. A demagogia e a ira, sim. É preto no branco. Produção de subjetividade é coisa de elite irresponsável. Aqui, nós tratamos de fatos objetivos.

Com o desbaratamento das idéias, este passa a ser um mundo de polarizações em torno de questões simplistas e indiscutíveis. Não se produz pensamento; tomam-se partidos. Vozes da ponderação e do conhecimento de causa - como a de Alba Zaluar, que exercita o bom senso semanalmente e sem maiores alardes nas páginas deste jornal - vão se tornando inaudíveis em meio ao bruaá dos lugares-comuns estridentes. O bom senso não aparece, porque não tem graça nem dá manchete. As idéias foram reduzidas a representações sociais. Basta que cada um fale e seja reconhecido como representante do seu grupo social (e que muitas vezes se aproveite disso para respaldar a banalidade ou a demagogia do que diz). O que conta não é o teor das idéias (em geral, as mais simplistas), mas que sirvam para identificar o lugar social de quem as manifesta no campo de batalha. Essa aparente desordem apenas encobre uma ordem geral, o consenso em torno da realidade como um campo de forças autônomo, um teatro de ação e reação, imune à reflexão e à inteligência.

Foi em meio a esse contexto que bati com os olhos na recém-publicada edição espanhola dos artigos e palestras do dramaturgo francês Enzo Cormann: Para que Serve o Teatro? (Universidade de Valência). Na conferência de 2001 que dá título à coletânea, o autor diz que o teatro (e de resto toda arte que se preze), por ser reflexão, "consiste em reinjetar subjetividade num corpo social entrevado pelo uniforme demasiado estreito do pragmatismo econômico" - ou (por que não?) do realismo oportunista que reivindica para si uma pretensa objetividade, condenando ao mesmo tempo toda produção subjetiva à impotência e ao ridículo, como se dela não fizesse parte.

Em nome de uma representação unívoca da realidade, o discurso embutido em Tropa de Elite (que não se assume como discurso) limita a própria possibilidade de produção de subjetividade a quem está fora desse mundo, ao diletantismo ridicularizado de estudantes inconseqüentes. Ao associar a produção de subjetividade aos ricos, aos tolos e aos irresponsáveis, como se tampouco estivesse produzindo subjetividade, o filme acaba, provavelmente sem perceber, dando um tiro no próprio pé, pois contribui para estreitar o entendimento do que num passado não muito remoto, e graças ao esforço e à resistência de grandes cineastas, garantiu ao cinema um lugar entre as artes, justamente como produção de subjetividade.

12-11-2007 - Bernardo Carvalho (recebido por e-mail)

Fascista, não!

Está certo. O Padilha e o Wagner Moura têm razão de estar chateados com essa história de serem chamados de fascistas. Isso foi uma grande injustiça. O filme não é fascista. De jeito nenhum. Só quem ignora completamente o que foi o fascismo poderia fazer tal confusão.

O fascismo significa, antes de tudo, uma contra-ofensiva militar das classes dominantes contra os trabalhadores e seus aliados: as nacionalidades, etnias e culturas oprimidas.

A ascensão de Mussolini, Hitler ou Franco significava simplesmente uma reviravolta tática dos setores desfavorecidos do imperialismo europeu visando quebrar a coluna vertebral do proletariado de seus países, preparando assim circunstâncias favoráveis para a deflagração da Segunda Guerra Mundial.

Hitler necessitava subjugar a classe operária alemã, expurgar a tradição socialista do movimento operário mais bem organizado do mundo, difundir o ódio racial, preconceitos étnicos, disseminar o terror, promover o holocausto…

Para que? Para que a indústria alemã pudesse escoar suas mercadorias para o mundo semicolonial e para os mercados europeus, dominados pelos imperialismos "democráticos": EUA, Inglaterra e França.

Para que a técnica e a cultura mais desenvolvidas da Europa pudessem encontrar expressão no mundo dominado segundo a partilha feita na Primeira Guerra Mundial, Hitler necessitou converter os trabalhadores alemães em uma máquina de guerra.

A dominação econômica dos mercados consumidores e das fontes de matéria-prima "alheios"
requeria sua prévia dominação militar. Para isso, era preciso convencer a nação alemã a entrar numa guerra infernal, a sacrificar-se de corpo e alma numa guerra insana, a aceitar sua completa desumanização, a crer em sua superioridade racial, ou em qualquer outro tipo de superioridade (a ideologia racial foi apenas uma variante). Não foi fácil. Custou dez anos de esforços estatais intensivos, propaganda, terror, persuasão. Custou a reintrodução do trabalho escravo e o extermínio de milhões de seres humanos em campos de concentração.

Isso era o fascismo, na sua forma mais decidida e resoluta: o nazismo.

Quando as circunstâncias tornaram-se favoráveis, os capitais bancários e industriais alemães decidiram afogar a Europa no sangue das suas classes trabalhadoras. E conseguiram. E ganharam muito dinheiro com isso, sem dúvida. A Wolkswagen, BMW, Siemens, Basf, Bayer, Bosh, entre outras, testemunham.

Isso era o fascismo.

Coitado do Padilha.

É possível que ele tenha alguma coisa a ver com essa história? Claro que não!

Mesmo o fascismo terceiro-mundista, caricatura militar e econômica, naturalmente, do europeu, não poderia ser associado com a temática abordada em Tropa de Elite. As ditaduras militares latino-americanas visavam frear a onda de revoluções de libertação nacional que abalou o mundo semicolonial do pós-Segunda Guerra, ao mesmo tempo que ofereciam resistência ao ascenso continental urbano favorecido pelo triunfo da revolução socialista em Cuba. É verdade que o BOPE foi instituído pela ditadura. Também é verdade que, naquela época, ele não tinha nada a ver com o suposto "combate ao narcotráfico". Suas funções eram muito menos "nobres". Mas, atualmente, o BOPE tem pouca coisa a ver com os "porões da ditadura".

O filme não é fascista. Tampouco é justo dizer que faça apologia da tortura. Ele simplesmente mostra que a tortura existe, e que ela é sistematicamente usada pelas forças de coerção estatais, isto é, a tortura continua sendo um método sistemático adotado pelas forças policiais no Brasil. Outra coisa que o filme mostra é que, no Brasil, a pena de morte existe. Caveira! Morreu. Já eras. Execução sumária. Tiro na cara. Sem julgamento, sem direitos, sem nada. Pena de morte. Isso existe no Brasil. E foi isso que o filme do Padilha mostrou. No Brasil, a pena de morte e a tortura são métodos sistemáticos e preferenciais usados pelas forças de repressão do Estado.

Mas o Padilha não faz apologia da tortura? Claro que não. O Padilha faz apologia da justiça, isso sim.

Qual a razão do sucesso de Tropa de Elite? Muito simples: as pessoas ficam felizes por ver um pouco de justiça, mesmo que seja falsamente retratada. O Capitão Nascimento, do modo como foi retratado, é um justo. E os brasileiros são justos. Os brasileiros adoraram o Capitão Nascimento. O Capitão Nascimento faz justiça num país sem justiça, onde os dirigentes da nação são porcos corruptos, onde todas as instituições do Estado estão podres e corrompidas.

O Capitão Nascimento mata e tortura. Mas, aos olhos do povo sofrido, acuado pelas privações, pela fome, pelos indizíveis sofrimentos, isso é justiça. Matar vagabundo, matar traficante. Caveira! Pega ele, Capitão Nascimento!

O trabalhador brasileiro trabalha 44 horas semanais em penosas condições. Ganha salário mínimo. O filho é drogado. A esposa, doméstica. A filha, desempregada. O trabalhador brasileiro sofre. Então, vem o Capitão Nascimento e diz: "A polícia é corrupta. A polícia é sócia do narcotráfico. Não tem solução. Tem que matar. Caveira!"

E o trabalhador brasileiro fica imensamente comovido! Porque, além de tudo, o Capitão Nascimento toma água num copinho americano. E a mulher dele esquenta água para o café numa humilde panelinha. O trabalhador brasileiro tem pena do Capitão Nascimento, porque o Capitão Nascimento também sofre. Ele também é explorado e humilhado no serviço! Ele também passa privações, sofrimentos, angústias. O Capitão Nascimento tem até problema de família, igual ao trabalhador brasileiro!

Aos olhos do povo, o suposto batalhão incorruptível de justiceiros humildes e bem intencionados representou um alívio. Viram? Existem pessoas justas nesse país. Existem pessoas como nós, que fazem das tripas coração. Que dão o sangue e o suor num trabalho honesto. Que são justas. O Capitão Nascimento é um justo, um sofredor. Um brasileiro. Por isso nós gostamos dele. Pega ele, Capitão Nascimento! Pega ele!

Essa é a receita do sucesso. Além, é claro, do preço: só custou R$ 5,00. Para a maioria, oportunidade única de ver um filme assim, em primeira mão, ou, se preferirmos, de mão em mão.

Não se trata de fascismo, de maneira alguma.

Mas de um falso retrato da justiça, encomendado por um Estado corrupto, podre, incapaz.

O Padilha fez o que a Secretaria de Segurança Pública do Rio e a Rede Globo jamais fariam: criou a ilusão de justiça, criou a ilusão de honestidade.

Agora, o povo pobre, humilde e espoliado das favelas do Rio será vítima do terror, dos bárbaros assassinatos, das balas de fuzil perdidas, das torturas, das humilhações; porém, na TV, no Jornal Nacional, os assassinos torturadores serão reverenciados! A opinião pública será favorável ao terror!

Quando o Caveirão, o blindado assassino do BOPE, entrar nas favelas atirando nos miseráveis, nos desvalidos, atirando nos herdeiros da escravidão, a classe média gritará "Caveira!" em seus lares confortáveis.

Além disso, o Estado não tem mais nada a ver com o narcotráfico. Não são os juízes, promotores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, delegados os responsáveis pela proliferação do narcotráfico. O Estado não é mais cúmplice da indústria das drogas. A partir de agora, os cúmplices do narcotráfico são… os filhinhos de papai da classe média, que fumam maconha e cheiram cocaína! Bate neles, Capitão Nascimento! Surra eles! Eles financiam o tráfico! As multinacionais, os grandes bancos, os acionistas das grandes indústrias, os sócios da "multinacional do pó" não têm nada a ver com o tráfico! A culpa é dos maconheiros! Pega ele! Caveira nele! Caveira nele, Capitão Nascimento!

Quando, finalmente, as armas do BOPE forem apontadas para a cabeça do trabalhador brasileiro, acuado num bequinho da favela, não adiantará clamar por piedade. "Piedade, Capitão Nascimento! Não mata, por favor, tenho filhos pequenos, sou trabalhador, honesto. Sou preto porque nasci preto, sou pobre porque nasci pobre! Mata, não, Capitão Nascimento! Mata, não!"

Não adiantará.

O Capitão Nascimento é apenas uma marionete numa tropa da Elite. A Elite mata. A Elite quer matar. A Elite não gosta de "preto". A Elite não gosta de pobre. Pouco importa que sejam trabalhadores ou traficantes. Pouco importa. A Elite quer gozar o seu Paraíso Tropical. A Elite cansou de ser açoitada nos semáforos. A Elite não quer mais ser ameaçada por assaltantes por causa de relógios. A Elite cansou de levar bala na cabeça em seus veículos blindados. A Elite está cansada e horrorizada com a proliferação da miséria e da violência.

Olho, trabalhador brasileiro!

A Tropa da Elite vem aí. E vai pegar você.

Aí vem tortura e pena de morte.

Olho, trabalhador brasileiro!

O Capitão Nascimento não existe.

Na vida real, eles vão matar você, não o traficante rico.

Olho, trabalhador brasileiro!

José Luís dos Santos - São Paulo, outubro de 2007 em comentário no blog
http://jornalapocalipse.blogspot.com/

PS.: José Luís dos Santos é jornalista desempregado.