Saturday, May 31, 2008

Friday, May 30, 2008

"A bossa nova não foi inventada por ninguém", conta Bebeto Castilho, do Tamba Trio

João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes: esses você conhece. Mas há mais músicos, compositores, cantores, instrumentistas na história da bossa nova do que sonha nossa fã filosofia. Um deles é Bebeto Castilho, baixista, flautista, saxofonista, cantor, compositor que, entre outras coisas, foi um dos integrantes do Tamba Trio, lendário conjunto de bossa e jazz surgido no começo dos anos 60.

Além do Tamba, Bebeto participou de gravações e shows com músicos como João Gilberto, Roberto Menescal, Maysa e dezenas de outros. Em 1976, gravou seu primeiro disco solo. Em 2006, gravou o segundo, sob a produção de Kassin, da Orquestra Imperial, e de Marcelo Camelo, do Los Hermanos - que é seu sobrinho-neto.

Em entrevista ao UOL, Bebeto contou mais detalhes sobre a época da bossa nova, o surgimento do estilo, o impacto no público, as referências anteriores. Se hoje em dia, olhando em retrospecto, parece impressionante a velocidade com que a bossa nova se espalhou pela música brasileira, Bebeto explica melhor: a bossa já vinha sendo semeada há tempos. O lançamento de Chega de Saudade, com João Gilberto - marco que este ano completa meio século -, foi apenas a oficialização do movimento.

UOL - Você faz parte da "turma da bossa nova" desde os primórdios do estilo, tocando baixo, flauta e sax em várias formações. O que acontecia antes de Chega de Saudade?

Bebeto Castilho - Na verdade, a bossa nova não é um movimento: ela foi uma progressão natural dos músicos. Ela não foi inventada por ninguém, todos trouxeram sua contribuição. Se é que ela tem um ponto de partida, ela não começou com o João Gilberto em 1958 - ela começou no início da década de 50, nos bastidores das rádios, com os músicos conversando, tendo idéias e se encontrando pra tocar. Os Cariocas, por exemplo, já cantavam nessa época letras no mesmo espírito da bossa nova, os arranjos de Radamés Gnattali e Zé Menezes já estavam tomando caminhos que tinham a ver com a Bossa.

UOL - E o apartamento da Nara Leão, você freqüentava?

Castilho - Sim, mas isso é outro mito da bossa nova: ela também não nasceu na casa de ninguém. Em 1952, por exemplo, o pessoal se reunia na minha casa, porque lá tinha piano, bateria. Quem ia tocar era o João Donato, o Johnny Alf. Mas a bossa nova também não nasceu lá, ela nasceu naturalmente, por aí. Não houve um momento "está lançada a bossa nova", foi tudo natural. Eram músicos buscando e encontrando outras formas de fazer música, de botar poesia, de dividir a métrica. E o que veio, veio muito bem vindo.

UOL - Mas o surgimento de João Gilberto foi um marco, a oficialização de uma coisa que acontecia espalhada, certo?

Castilho - Com certeza. Os músicos acompanhavam o que acontecia, estavam ligados ao João. Mas o público levou um susto, ninguém nunca tinha ouvido nada semelhante. Era uma musicalidade que vinha amadurecendo no piano do Tom Jobim, do João Donato, em vários músicos. Mas o João definiu o caminho dele e acertou em cheio, a sensação para todos foi de "é esse o caminho". Essa mudança estética foi dada pelo João - e foi maravilhosa. Para os músicos, foi um guia. Para o público, foi um divisor.

UOL - Você participou de algumas dessas gravações iniciais com o João Gilberto. O que você se lembra delas?

Castilho - Eu gravei no segundo disco do João, depois de tocar com ele em uma turnê no Uruguai e em vários pocket shows, que eram muito comuns. Mas acontece que contrabaixo junto com o violão do João vira uma marreta, porque o som dele é muito delicado e o violão já marca os baixos. Então, acabaram tirando muito do meu contrabaixo da gravação. Mas eu já sabia disso e o João também, não me lembro nem porque fui parar dentro do estúdio! (risos)

UOL - Você tocou só contrabaixo ou também sax ou flauta?

Castilho - Eu só toquei baixo. Quem tocou flauta no disco foi o Copinha, que ajudou o João a inventar aquele som típico de flauta na bossa nova. O João sabe sempre muito bem o que ele quer. Ele dizia: "Copinha, faça mais gostoso, mais carinhoso, mais amoroso". E, com aquele som que você ouve nos discos, o Copinha matou a charada.

UOL - Você já contou também que aquele som de bateria da bossa nova na verdade não é uma bateria, não é?

Castilho - Hoje já mudaram tudo, mas na época o Juquinha, que era o baterista, tocava vassourinha com as duas mãos, então não podia tocar o aro - que dá aquele som típico de "batida de bossa nova". Aí o Hélcio Milito [baterista do Tamba Trio] estava de passagem por lá e sugeriu que o Guarani, que era o percussionista, fizesse aquele tec-tec em um instrumento chamado caixeta. É um instrumento de percussão que deu aquele som que você ouve no disco. E eu nunca vi aquele instrumento, só tinha no estúdio da Odeon, que foi onde gravamos.

UOL - Os músicos que depois quiseram copiar aquela batida nunca iam descobrir que som era aquele.

Castilho - Pois é. Essa batida, aquele toc-toc, marcou muito. Os músicos estrangeiros que depois passaram a tocar bossa nova quebraram a cabeça para entender como eles ouviam a vassourinha tocada com duas mãos e ao mesmo tempo o toc-toc do aro - que na verdade era feito pela tal caixeta.

RONALDO EVANGELISTA - Colaboração para o UOL


Monday, May 26, 2008


É proibido consumir - Seis adolescentes acostumados a gastar dinheiro passam quatro horas em um shopping sem nem um centavo; experiência gera reflexão sobre relação com o consumo.

Quatro horas no shopping sem gastar um real. O desafio foi lançado para seis estudantes do ensino fundamental. Eles saíram da escola na sexta-feira ao meio-dia, almoçaram em um restaurante por quilo, tomaram sucos e refrigerantes, saciaram a fome e a sede e seguiram rumo ao shopping Villa-Lobos, em São Paulo, com o propósito único e exclusivo de não gastar nem um centavo.
Shopping é o gerúndio do verbo "to shop", que significa comprar, em inglês. Não comprar num lugar desses é quase um paradoxo. Mas, por incrível que pareça, é possível se distrair sem se render ao consumo. Basta um pouco de criatividade. Tomás Estima Susserman, 13, é escolado em passeios econômicos dessa natureza. De tanto gastar mesada em pipocas de preços abusivos, ele criou um planejamento econômico bem particular, que inclui o uso de bebedouros e outras artimanhas. "Eu compro o ingresso do cinema com carteirinha a R$ 8. Encho a garrafa de água no bebedouro e aí, se sobra algum, dá pra comprar um pacotão de pipoca a R$ 10."

JULIA PRIOLLI - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sunday, May 25, 2008

Hip hop e Internet ressuscitam o interesse pela 'poesia falada'

Por Tom Chatfield*

A poesia é a ocupação de uma minoria na Grã-Bretanha do século 21. Um olhar de relance para a magra, ou simplesmente inexistente, prateleira de poesia das principais livrarias confirma o fato. A "poesia séria" é normalmente terreno de acadêmicos, estudantes e bolsistas - todos eles, como observou ironicamente o falecido poeta Philip Larkin, ou são pagos para escrever ou pagam para ler. Há menos de um milhão de livros de poesia escritos por poetas vivos, dentre os quais apenas poucos conseguem vender mais do que 500 cópias.

Ainda assim, as prateleiras e as vendas estão distantes da verdadeira história. Na arena do ao vivo e online, um tipo bem diferente de poesia está atingindo uma audiência que há dez anos atrás mal sabia que existia poesia fora do currículo escolar: os indivíduos com menos de 30 anos. Há bons motivos para isso: a popularidade do hip hop gerou um novo interesse em relação às letras das músicas; o crescimento da Internet deu às artes menos comerciais o acesso livre à uma comunidade mais ampla; e sempre há uma demanda por algo novo, ou pelo menos por algo velho reinventado. Mas será que devemos nos animar com essa nova tendência? Recentemente passei uma noite com um dos grupos de "spoken word" (palavra falada) mais novos de Londres tentando descobrir.

Os artistas da spoken word não têm os mesmos instintos de relações públicas que seus colegas da indústria musical. Só depois de várias cervejas consegui persuadir os quatro membros do grupo "A Poem in Between People" ("Um Poema Entre as Pessoas") - PiP para os mais chegados - a listar alguns dos lugares em que eles tocaram no ano passado: "É... Tate Modern, Royal Festival Hall, Oxford Playshouse, Glastonbury, Big Chill, o Forum..." Quem já tocou suas composições? "BBC 6 Music, Radio One, XFM, Channel 4". E quais são suas influências? "Dê-nos um pouco de tempo para responder essa, por favor. Shakespeare. Ben Okri. John Keats. Mos Def. WB Yeats. The Streets. Os contos de Hemingway." Eles não vêem nenhum conflito entre admirar o velho e querer que o novo aconteça o mais rápido possível.

O PiP começou sua carreira no final de 2005, com o nome "Two Black Guys and a Poem Between Us" ("Dois Caras Negros e um Poema Entre Nós"). Os negros em questão eram o poeta Joshua Idehen - nascido na Inglaterra em 1980 mas criado na Nigéria de 1984 até seu retorno em 1999 - e o saxofonista e clarinetista Shabaka Hutchings, mais conhecido por seu trabalho com luminares do jazz como Soweto Kinch e Courtney Pine. O nome veio, observa Joshua meio brincando, por querer "dizer o óbvio antes que os outros dissessem": eis um jovem negro interpretando poemas sobre a vida em Londres, acompanhado de um saxofone.

Os dois caras negros logo se tornaram três com a chegada de Musa Okwonga, um advogado formado em Eton e Oxford que se tornou poeta e escritor performático (seu livro em homenagem ao futebol chamado "A Cultured Left Foot" foi publicado no mês passado). No final de 2006, as coisas se tornaram semanticamente complexas com a chegada de uma miscelânea de outros participantes - alguns dos quais não eram nem negros nem caras - fazendo com que o grupo chegasse a ter até oito integrantes em determinado momento. Era um redemoinho comparado ao ponto de partida do PiP. Em 2007, o grupo ficou um pouco mais disciplinado, com um núcleo fixo de quatro integrantes: Joshua, Musa e os novos Inua Ellams - um poeta e escritor de 23 anos nascido na Nigéria - e Catherine Martindale, também conhecida como PoetiCat, estudante e poeta que conheceu o grupo nas noites de microfone aberto no Poetry Cafe no centro de Londres.

O que o PiP está fazendo, explica Inua, é o que o hip hop fez em suas raízes nos Estados Unidos nos anos 70, quando emergiu como uma forma de os moradores mais pobres das cidades expressarem suas vidas através da música.

As performances de spoken word ainda têm uma relação difícil com a "verdadeira" literatura.

Não há barreiras para entrar no meio; os truques retóricos podem dominar o cenário, e as noites de microfone aberto degeneram em competições de gritos ou em números de segunda linha. Ainda assim esses eventos estão ganhando importância quase que à revelia - porque muitas pessoas da geração do PiP se sentem deixadas para trás pelo verso escrito moderno e pela ausência de algo belo e transformador nas letras da maioria dos principais atores musicais.

Será que a poesia performática é realmente capaz de escalar as alturas da qualidade ou do reconhecimento público? O PiP é menos catequizador do que se espera. Inua tem suas suspeitas sobre o futuro da spoken word - "se ela pode ser de fato boa? Com certeza há problemas de qualidade" -, enquanto Joshua está começando a usar mais ritmo, música e elementos do rap em seu trabalho, "para torná-lo mais fácil de ouvir. Você precisa fazer com que as pessoas voltem." Mas a experiência ao vivo, eles concordam, é o coração de algo com que muitos artistas perderam o contato - um lugar em que, de acordo com o nível de satisfação da audiência, "não há como pensar que você está indo bem quando não está."

As melhores noites de spoken word são bem mais parecidas com um show de variedades do que com qualquer outra coisa, com piadas, músicas, leituras, performances e uma química fácil entre os participantes. Depois de anos comparecendo esporadicamente a esses eventos (e vez ou outra contribuindo com eles), ainda tenho minhas dúvidas, talvez porque esta seja uma forma de arte inerentemente mais efêmera do que a palavra escrita: um método apropriado para os nossos tempos, mas que tem uma relação bem mais tênue com a posteridade - qualquer que seja a posteridade possível na era digital.

Você também tem de estar preparado para aceitar o mais grosseiro ao lado do mais refinado, para digerir o sentimental, o equivocado e o totalmente bizarro. Mas quando funciona, há algo eletrizante no trabalho que se desenvolve ao vivo na nossa frente.

O poema "Midnight Music Marauders" de Inua, por exemplo, tece seu encanto com uma mistura sinestésica de sons e palavras: "We played like a dead French kiss reincarnated/as a saxophone with tendencies to hiss/galaxophonic secrets through the tombs of trombone/reborn as the lower bones of Bojangles, dancing/on bass drums prancing like songs of the railroad/set free." (em uma tradução livre: "Tocamos como um beijo à francesa morto e reencarnado/como um saxofone com tendência a sibilar desafinado/segredos galaxofônicos pelas tumbas do trombone/renascidos como ossos da perna de Bojangles, dançando/ao som do surdo sacudindo como canções de ferrovia/libertos.") Escrito, à primeira vista, o poema poderia quase ser uma paródia - um desastre de trem de idéias e imagens. Mas à velocidade do ouvido, torna-se melódico, refrescante e livre. A audiência pára, aplaude e dança quando o próximo artista entra no palco: Musa, com um trecho de sua rimada versão de Otelo. O futuro, aos tropeços, está a caminho.

*Tom Chatfield é editor-assistente da revista Prospect.

Tradução: Eloise De Vylder

Friday, May 23, 2008

Plena Pausa

Lugar onde se faz
o que já foi feito,
branco da página,
soma de todos os textos,
foi-se o tempo
quando, escrevendo,
era preciso
uma folha isenta.

Nenhuma página
jamais foi limpa.
Mesmo a mais Saara,
ártica, significa.
Nunca houve isso,
uma página em branco.
No fundo, todas gritam,
pálidas de tanto.

Paulo Leminski - Distraídos Venceremos

1

Mucho habremos ganado para la ciencia estética cuando hayamos llegado no sólo al discernimiento lógico, sino a la seguridad inmediata de la intuición de que el desarrollo continuado del arte está ligado a la duplicidad de lo apolíneo y lo dionisíaco: de forma similar a como la generación depende de la dualidad de sexos, en lucha permanente y en reconciliación que sólo se produce periódicamente. Esos nombres los tomamos en préstamo a los griegos, los cuales a quien discierne le hacen perceptibles las profundas doctrinas secretas de su intuición del arte no, ciertamente, con conceptos, sino con las figuras penetrantemente claras del mundo y sus dioses. Con sus dos divinidades del arte, Apolo y Dioniso, se enlaza nuestro conocimiento de que en el mundo griego subiste una antítesis monstruosa, en origen y metas, entre el arte del escultor, el arte apolíneo y el arte no-escultórico de la música, que es el arte de Dioniso: ambas pulsiones tan diferentes van en compañía, las más de las veces en abierta discordancia entre ellas y excitándose mutuamente para tener partos siempre nuevos y cada vez más vigorosos, con el fin de que en ellos se perpetúe la lucha de aquella antítesis, sobre la cual la común palabra �arte� tiende un puente sólo en apariencia; hasta que finalmente, aparecen, gracias a un milagroso acto metafísico de la �voluntad� helénica apareados entre sí, y en ese apareamiento engendran por último la obra de arte de la tragedia ática, que es dionisíaca en la misma medida que apolínea.

Para poner a nuestro alcance esas dos pulsiones imaginémoslas, primero, como los mundos artísticos separados de los sueños y de la embriaguez; entre cuyos fenómenos fisiológicos se puede notar una antítesis que se corresponde con la existente entre lo apolíneo y lo dionisíaco. En los sueños se presentaron por vez primera, según la versión de Lucrecio, las magnificas figuras de los dioses ante las almas de los hombres, en los sueños veía el gran escultor la fascinante construcción de los cuerpos de seres sobrehumanos, y el poeta helénico, interrogado acerca de los secretos de la procreación poética, también habría hecho alusión a los sueños y habría dado una instrucción similar a la que da Hans Sachs en Los maestros cantores:

Amigo mío, ésta es justamente la obra del poeta,
observar e interpretar sus sueño.
Creedme, la ilusión más verdadera del hombre
se le ofrece en los sueños;
Todo arte poético y toda poesía
no es sino interpretación de sueños verdaderos.

La bella apariencia de los mundos oníricos, en cuya producción todo hombre es artista completo, es el presupuesto de todo arte figurativo e incluso, como veremos, de una mitad importante de la poesía. Nosotros gozamos en la comprensión inmediata de la figura, todas las formas nos hablan, no hay nada indiferente ni innecesario. En la vida culminante de esta realidad onírica aún tenemos, sin embargo, la sensación traslúcida de su apariencia: ésta es al menos, mí experiencia, en defensa de su frecuencia, sí, de su normalidad, podría aportar muchos testimonios y las máximas de los poetas. El hombre filosófico tiene hasta el presentimiento de que también debajo de esta realidad en la que vivimos y somos está oculta una segunda realidad completamente diferente, esto es, que la primera también es una apariencia; y al don que permite que los seres humanos y todas las cosas se presenten en determinadas ocasiones como meros fantasmas o imágenes oníricas, Schopenhauer lo califica claramente como la señal distintiva de la aptitud filosófica. El filósofo se relaciona con la realidad de la existencia de la misma manera que el ser humano sensible al arte se comporta con la realidad de los sueños; la contempla a conciencia y a gusto; pues desde esas imágenes él se interpreta la vida, en esos sucesos se ejercita para la vida. No son sólo precisamente las imágenes agradables y amistosas las que experimenta en sí mismo con comprensión total: también lo serio, turbio, triste y tenebroso, los impedimentos repentinos, las bromas al azar, las esperas llenas de desasosiego, en una palabra, toda la �divina comedia� de la vida, con su Inferno, desfila ante él, no sólo como un juego de sombras - puesto que en esas escenas él también vive y comparte los sufrimientos -, y sin embargo, tampoco sin aquella sensación fugaz de apariencia; y tal vez recuerden varios, como yo, que a veces, en los peligros y terrores de los sueño, se han gritado, animándose a sí mismo, y con éxito: �¡Es un sueño! ¡Quiero seguir soñándolo!�. Así me lo han contado también de personas que estuvieron en condiciones de continuar durante tres y más noches seguidas la causalidad de uno y el mismo sueño: hechos que dan claramente testimonio de que nuestra esencia más intima, el substrato común de todos nosotros, vive en si la experiencia de los sueños con profundo placer y con alegre necesidad.

Esta alegre necesidad de la experiencia onírica también la expresaron los griegos en su Apolo: Apolo en tanto que dios de todas las fuerzas figurativas, es a la vez el dios vaticinador. Él, que según su etimología es el �resplandeciente� [�Schinende�], la divinidad de la luz, domina también la bella apariencia [Schein] del mundo interno de la fantasía. La verdad superior, la perfección de estos estados en contraposición con la parcialmente comprensible realidad diurna, así como la profunda conciencia de que en el dormir y el soñar la naturaleza cura y ayuda, todo ello es, a la vez, el analogon simbólico de la capacidad vaticinadora y de las artes en general, gracias a las cuales la vida se hace posible y digna de ser vivida. Pero aquella delicada línea que a la imagen onírica no le es lícito sobrepasar para no producir efectos patológicos, pues de lo contrario, la apariencia nos engañaría como si fuese grosera realidad - tampoco es lícito que falte en la imagen de Apolo: la mesurada limitación, el estar libre de las agitaciones más salvaje, el sabio sosiego del dios escultor. Su ojo, de acuerdo con su origen, ha de ser �solar�; aun cuando esté enojado y mire de mal humor, la solemnidad de la bella apariencia le recubre. Y de este modo podría ser válido para Apolo, en un sentido excéntrico, aquello que Schopenhauer dice del hombre cogido por el velo de Maya. El mundo como voluntad y representación, I, p. 416: �Como en el mar embravecido, que ilimitado por doquier, entre aullidos hace que montañas de olas asciendan y se hundan, un navegante está en una barca confiando en la débil embarcación; así está en medio de un mundo de tormentas, tranquilo el hombre individual, sostenido y confiando en el principium individuationis� Incluso habría que decir de Apolo que él han alcanzado su mas sublime expresión la confianza imperturbable en el principium y el tranquilo estar ahí de todo el que se encuentre cogido en él, e incluso se podría designar a Apolo como la magnifica imagen divina del principium individuationis, con cuyos gestos y miradas nos hablarían todo el placer y toda la sabiduría de la �apariencia�, en compañía de su belleza.

En el mismo pasaje Schopenhauer nos ha descrito el horrible espanto que conmociona al hombre cuando, de repente, en las formas de conocimiento del fenómeno ya no sabe a qué atenerse mientras el principio de razón parece que sufre, en una cualquiera de sus configuraciones, una excepción. Si a este espanto le añadimos el éxtasis lleno de delicias que, en la misma ruptura del principium individuationis se eleva desde el fondo más íntimo del hombre y de la misma naturaleza, entonces tendremos una visión de la esencia de lo dionisíaco, a la cual la analogía de la embriaguez es la que nos la pone más a nuestro alcance. Aquellas agitaciones dionisíacas, en cuya intensificación lo subjetivo desaparece hasta el autoolvido completo, se despiertan bien por el influjo de la bebida narcótica, de la que hablan en himnos todos los hombres y pueblos originarios, o bien en la poderosa inminencia de la primavera, que con placer se infiltra por toda la naturaleza. También en la Edad Media alemana, y hallándose bajo esa misma violencia dionisíaca, multitudes cada vez mayores iban dando vueltas de un sitio a otro, cantando y bailando: en estos danzante de San Juan y de San Vito reconocemos nosotros los coros báquicos de los griegos, con su prehistoria en Asia Menor, remontándose hasta Babilonia y los orgiásticos saceos. Hay hombres que, por falta de experiencia o por estupidez, se apartan de tales fenómenos como de �enfermedades del pueblo�, ridiculizándolos o lamentándolos desde el sentimiento de su propia salud: los pobres no sospechan, desde luego, qué cadavérico y fantasmagórico es el aspecto que tiene precisamente esa �salud� suya cuando pasa junto a ellos en plena efervescencia la vida ardiente de los entusiastas dionisíacos.

Bajo la magia de lo dionisiaco no sólo se renueva la alianza entre los humanos: también la naturaleza alienada, hostil o subyugada celebra de nuevo su fiesta de reconciliación con su hijo perdido, el hombre. De manera voluntaria ofrece la tierra sus dones y pacíficamente se acercan las fieras de las rocas y del desierto. El carro de Dionisos está cubierto de flores y guirnaldas: bajo su yugo la pantera y el tigre caminan paso a paso. Transfórmese el �Canto a la Alegría� de Beethoven en una pintura y no se quede nadie atrás con su imaginación cuando millones se postran en el polvo llenos de escalofríos: de esta manera podremos acercarnos a lo dionisíaco. Ahora el esclavo es hombre libre, ahora se rompen, todas las rígidas, hostiles delimitaciones que la necesidad, la arbitrariedad o la �moda atrevida� han establecido entre los hombres. Ahora, en el evangelio de la armonía de los mundos, cada cual se siente no sólo unido, reconciliado, fundido con su prójimo, sino hecho uno con él, como si el velo de Maya estuviera roto y tan sólo revolotease en jirones ante lo misterioso Uno-primordial. Cantando y bailando se exterioriza el hombre como miembro de una comunidad superior: ha desaprendido a andar y a hablar y está en camino de alzar el vuelo por los aires bailando. En sus gestos habla la transformación mágica. Así como ahora los animales hablan y la tierra da leche y miel, así también en él resuena algo sobrenatural: se siente dios, él mismo ahora anda tan extático y erguido como veía en sueños que andaban los dioses. El hombre ya no es artista, se ha convertido en su obra de arte: la violencia artística de la naturaleza entera se revela aquí bajo los escalofríos de la embriaguez para la suma satisfacción deliciosa de lo Uno-primordial. La arcilla más noble, el mármol más preciado son aquí amasado y tallados, el ser humano, y a los golpes de cincel del artista dionisíaco de los mundos resuena la llamada de los misterios elusinos: �¿Caéis postrados, millones?, ¿presientes tú al Creador?

Friedrich Nietzsche - El Nacimiento de la Tragedia


Thursday, May 22, 2008

No tocante a Arquíloco, a investigação erudita descobriu que foi ele quem introduziu a canção popular [ Volkslied ] na literatura e que lhe cabia, por causa desse feito, aquela posição única ao lado de Homero, na apreciação geral dos gregos. Mas o que é a canção popular em contraposição à poesia épica [ epos ] totalmente apolínea? O que mais há de ser exceto o perpetuum vestigium de uma união do apolíneo e do dionisíaco; sua prodigiosa propagação, que se estende por todos os povos e cresce com novos frutos, nos é testemunha de quão forte é esse duplo impulso da natureza, o qual deixou atrás de si, de maneira análoga, o seu rastro na canção popular, assim como os movimentos orgiásticos de um povo se eternizam em sua música. Sim, deveria ser também historicamente comprovável que todo período produtivo no domínio da poesia popular também foi agitado ao máximo por correntes dionisíacas, que nos cumpre sempre encarar como o substrato e o pressuposto da canção popular.
A canção popular, porém, se nos apresenta, antes de mais nada, como espelho musical do mundo, como melodia primigênia, que procura agora uma aparência onírica paralela e a exprime na poesia. A melodia é portanto o que há de primeiro e mais universal, podendo por isso suportar múltiplas objetivações, em múltiplos textos. Ela é também de longe o que há de mais importante e necessário na apreciação ingênua do povo. De si mesma, a melodia dá à luz a poesia e volta a fazê-lo sempre de novo; é isso e nada mais que a forma estrófica da canção popular nos quer dizer: fenômeno que sempre considerei com assombro, até que finalmente achei esta explicação. Quem examinar à luz de tal teoria uma coletânea de canções populares, Des Knaben Wunderhorn [ A corneta mágica do menino ], por exemplo, descobrirá incontáveis exemplos de como a melodia incessantemente geradora lança à sua volta centelhas de imagens, as quais, em sua policromia, em sua abrupta mudança, em sua turbulenta precipitação, revelam uma força selvagemente estranha à aparência épica e ao seu tranqüilo fluir. Do ponto de vista do epos, esse mundo desigual e irregular da lírica deve simplesmente ser condenado: e foi o que, no tempo de Terpandro, os solenes rapsodos épicos das festas apolíneas fizeram.

Friedrich Nietzsche - O Nascimento da Tragédia - tradução: J. Ginsburg

Monday, May 19, 2008

O que não faz a eletricidade...?

Aparelhos Wi-Fi podem prevenir ataques do coração

A mesma tecnologia que é utilizada para trocar fotografias entre dois celulares, o Bluetooth, poderá ser utilizada também para salvar vidas. A Ofcom, agência reguladora independente do Reino Unido, prevê que a tecnologia sem fio poderá ser utilizada em sensores intra-corpóreos, a fim de captar ataques do coração e outros problemas.

A tecnologia utilizada hoje em aparelhos de informática e comunicação poderia ser implantada em um monitor cardíaco, avisando o médico caso o paciente tenha algum problema. O dispositivo enviaria informações de batimentos e outras estatísticas, noticiou o site Switched.

Além disso, o aparelho também avisaria parentes ou cuidadores de que o paciente não tomou algum remédio. O pote onde as pílulas são guardadas também se comunicaria via Bluetooth e poderia enviar a informação de que foi aberto e o remédio retirado. De acordo com o site Times Online, o aparelho seria útil também em caso de acidentes. Ao chegar para o socorro, paramédicos poderiam trazer um pequeno computador consigo que, ao ler o dispositivo, mostraria informações atualizadas sobre a vítima.

Ainda assim, a Ofcom alerta que há muita pesquisa ainda a ser feita, a fim de estudar o impacto no corpo humano da radiação emitida por esses sensores. A tecnologia já está sendo testada em Portsmouth e pode chegar ao mercado em 2011.

http://www.geek.com.br

Sunday, May 18, 2008


Os Mitos

Os mitos nos chegam como relatos. Que contam os mitos? Entre outras coisas, as origens e maneiras de concepção, gestação e nascimento dos deuses. Inútil interpretar as diferentes formas que eles assumem, inútil tentar explicar a violência de Cronos comendo seus filhos. Tais interpretações
a posteriori, resultam numa banalidade prostrante, em discordância com a paixão descarnada, o excesso da vida na morte que o mito apresenta em si mesmo, em seu enigma.
Nos mitos, os deuses não são símbolos mas, seres, com nome, biografia, poderes, atributos e fraquezas. Assim, Poseidon não é o Deus do mar, nem Artemisa a Deusa da caça. Tal personificação vem do teatro e da mitologia. Para o pensamento mítico, Poseidon
é o mar e Artemisa, é a paixão pela caça. O mar toma corpo na figura de Poseidon que é, ao mesmo tempo, domador de cavalos. Ela é uma virgem selvagem que odiava toda forma de sedução. A partir de nossa incredulidade lógico-simbólica, cada Deus é uma forma retórica, personagem da genealogia do Olimpo inventariada como um complexo de fábulas intrincadas.
Instituídas pela história, pela antropologia, pela psicanálise ou pela literatura tais historietas ou bem são interpretadas como uma espécie de pensamento onírico, representando as experiências traumáticas dos povos, ou bem são explicadas por sua função no estabelecimento das primeiras tiranias escudadas pelos seus parentescos com uma estirpe cruel e poderosa. Interpretações e explicações perfeitamente justificadas, mas que não abarcam a questão da invenção dos mitos, que é uma invenção de seres propostos na transcendência.

O conteúdo do mito excede, em muito, a noção de projeção estática que consiste em atribuir ao objeto existente, propriedades correspondentes aos próprios afetos. Temos de levar em conta que a grandiosidade da abóbada celeste, os recursos e as catástrofes naturais são próprias para impressionar os homens e para tocá-los em seus limites. Face a indiferença dos elementos e a inexorabilidade da morte, é necessário dar forma e personificação ao Cosmos e assim poder dialogar com o incompreensível e o não simbolizável.

O objeto mítico é uma invenção por efeito de ressonância e não por imitação através de signos. Quando as crianças imitam seu professor, o fazem com excessos ou a partir de seus defeitos. [...] O jogo é simbólico e o mito, estético.


Sara Paín - A Dimensão Estética do Pensamento (palestra acompanhada de slides de obras de arte de diferentes pintores)

Saturday, May 17, 2008

Sunday, May 11, 2008

Puta Que Pariu é um bairro de Bela Vista de Minas, uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. A cidade tem sete bairros: Bela Vista de Cima, Lajes, Serrinha, Córrego Fundo, Favela, Boca das Cobras e Puta Que Pariu. Dá para ir de ônibus.

O herói revelado pela história não precisa ter qualidades heróicas; originalmente, isto é, em Homero, a palavra "herói" era apenas um modo de designar qualquer homem livre que houvesse participado da aventura troiana e do qual se podia contar uma história. A conotação de coragem, que hoje reputamos qualidade indispensável a um herói, já está, de fato, presente na mera disposição de agir e falar, de inserir-se no mundo e começar uma história própria. E esta coragem não está necessariamente, nem principalmente, associada à disposição de arcar com as conseqüências; o próprio ato do homem que abandona seu esconderijo para mostrar quem é, para revelar e exibir sua individualidade, já denota coragem e até mesmo ousadia. Essa coragem original, sem a qual a ação, o discurso e, segundo os gregos, a liberdade seriam impossíveis, não é menor - pode até ser maior - quando o "herói" é um covarde.

Hannah Arendt - A Teia de Relações e as Histórias Humanas - A Condição Humana; 1958.

Senzala geral

Historiador tem mania de origem. Talvez porque os primeiros a se interessarem pelo tempo o fizeram quando às línguas bastava flexionar passado e presente, e tudo se encontrava de antemão em seu devido lugar. O passado explicava e determinava.
Vício pior veio depois, quando de recitada a história virou escrita. Enquanto não passou de mais um gênero literário, ela conseguiu guardar muito da antiga flexibilidade argumentativa. Podia-se escrever sem temor, por exemplo, que a profecia guiara certo líder ou que filosófica deveria ser a forma de narrar algumas trajetórias.
Foi necessário muito tempo para que, convertidos em cientistas sociais, os historiadores se vissem obrigados a de tudo reter apenas o essencial e laico.
Por vezes a transição se fez isolando seus objetos em verdadeiros chiqueirinhos binários, do tipo civilizado/primitivo, capitalismo/feudalismo, moderno/arcaico, direita/esquerda. Mas, quando a ambigüidade transbordava o indivíduo e impregnava o coletivo, operar com códigos binários levava muitos estudiosos a jogar fora a água e o bebê.
Tome-se o cativo como exemplo. Simultaneamente mercadoria e pessoa, nele a ambigüidade se inscreve como nódoa, não cabendo ao historiador transformá-la em "problema" a ser resolvido.

Mistura ambígua

De sua humanidade fala a família escrava, espaço de afirmação e de ressignificação cultural. Da condição mercantil dá a conhecer uma cifra eloqüente, pinçada de Moses Finley (1912-1986): quando já não havia tráfico externo, um escravo do sul dos EUA era comprado e vendido em média 1,4 vez durante a vida.

Se ambígua era a condição cativa, não é razoável que as sociedades escravistas pudessem se reduzir à aporia cativeiro versus liberdade.
Como na propagação de círculos concêntricos em água maculada por sólido, o lusco-fusco encarnado no preto escravizado se espalhava por toda a sociedade, bordando as relações com os amos, enodoando os contatos com os outros homens livres e cativos, plasmando instituições formais e informais, desviando a sociedade da "civitas".

Servos livres

Os escravos representavam em média um terço da população da América portuguesa, padrão semelhante ao do mundo greco-romano. Por referir-se a cativos concentrados em poucas mãos, desse dado resulta que a maior parte da população colonial era constituída por homens e mulheres pobres e remediados.

Maioria livre? Sem dúvida, mas apenas na letra da lei. Pois se, como testemunhou o estatístico Gregory King (1648-1712), no berço do individualismo - a Inglaterra -, 40% das pessoas ainda estavam submetidas a alguma sorte de servidão, que dizer da profusão de mestiços desapossados a errar pela fronteira mais longínqua da Europa?
Do outro lado, é certo que a maior parte dos escravos nascidos ou desembarcados no Brasil morria como homens-mercadorias. Mas documentos referentes à mobilidade ascendente, da qual a alforria podia representar apenas o primeiro passo, resultaram em grandes livros exatamente porque desvelaram variações de cativeiro que embaralhavam a herança jurídica romana.
Neles encontramos a escrava dona de apenas um quarto de si, pois três dos quatro amos que a herdaram recusavam-se a alforriá-la. Ou aquela que, tendo comprado a liberdade a prestação, era por alguns juízes considerada uma devedora livre e, por outras, cativa até a quitação da última parcela - é óbvio, o estatuto dos filhos nascidos durante o processo também dividia os magistrados.
Papéis urbanos tecem enredos ainda mais inusitados: escravos pagando pela liberdade a amos igualmente escravizados. Escravos escravistas vivendo longe das casas de seus proprietários, sujeitos ao pago de jornais semanais ou mensais, as únicas ocasiões em que ambos se encontravam. O dia-a-dia de alguns cativos era marcado por tanta autonomia que às vezes era preferível "melhorar de vida" dentro do cativeiro do que buscar superá-lo.

Fotogramas

A historiadora Cacilda Machado demonstrou que recortes geracionais podem desvendar outros intrincados aspectos. E que, de quebra, tem razão o britânico Peter Burke ao insistir na importância de estudar os casos de mobilidade descendente.

Ela descobriu no sul da América portuguesa de fins do século 18 uma família formada pelo escravo Jerônimo e pela índia Verônica, cujos cinco filhos (Eusébia, Caetano, Micaela, Antonia e Antonio do Carmo) eram todos livres - a prole herdava o estatuto da mãe.
Um dos filhos de Eusébia uniu-se a uma escrava em 1814, razão pela qual os netos de Eusébia retornaram ao cativeiro do qual a avó se livrara por ser filha de Verônica. Antes, em 1812, o filho de Caetano tomara por cônjuge outra cativa, pelo que também Caetano viu seus netos voltarem à escravidão da qual escapara.
Se tomarmos essas trajetórias individuais e de linhagens não como fotografias, mas como fotogramas que compõem vários filmes, veremos que seus atores vegetavam no mesmo cenário de pobreza em que chafurdava a maioria dos homens livres.
Talvez tenha surgido ali - na pobreza, e não nos estatutos jurídicos ou nas etnias em particular - a ambigüidade que se tornou o outro nome do Brasil.

MANOLO FLORENTINO leciona história na Universidade Federal do Rio de Janeiro e escreve regularmente na seção Autores, do Mais!

Saturday, May 10, 2008

Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói assiste, vário
E inconsciente.

Fernando Pessoa, Mensagem, citado por Caetano Veloso em Diferentemente dos Americanos do Norte in: O Mundo Não É Chato, Cia das Letras, 2005

Gigante adormecido está acordando

A edição deste sábado do jornal britânico The Guardian dedica uma página inteira ao "país do futuro", o Brasil, explicando por quê muitos acreditam que finalmente "o gigante adormecido da América do Sul" está acordando.

O diário diz que muitos empresários e políticos brasileiros estão convencidos de que o Brasil está caminhando para um lugar de destaque no cenário internacional graças aos avanços na situação econômica do país.

"Graças em grande parte ao boom mundial das commodities, esta região de plantação de soja (o Mato Grosso) se transformou na vanguarda da marcha do Brasil rumo ao palco mundial", começa dizendo a matéria, assinada pelo repórter Tom Phillips.

Ele lembra que apesar de o Brasil ter sido conhecido como o país do futuro há muito tempo, uma série de crises econômicas e políticas, além de 21 anos de ditadura militar, evitaram com que o país chegasse lá.

Momento favorável

"Agora as coisas parecem estar mudando. A moeda brasileira atingiu a maior alta dos últimos nove anos em relação ao dólar, a inflação está sob controle e milhões de brasileiros estão sendo empurrados em direção a uma nova classe média", afirma Phillips.

Ele também lembra que na semana passada, a agência Standard & Poor's revisou para cima o rating concedido ao Brasil, melhorando a classificação geral para grau de investimento.

"De laranjas e minério de ferro a biocombustíveis, as exportações do Brasil estão estourando, criando uma nova geração de magnatas. O clube de milionários do Brasil aumentou de 130 mil em 2006 para 190 mil no ano passado - uma das taxas mais rápidas do mundo, de acordo com um estudo do Boston Consulting Group", afirma a matéria.

O texto do The Guardian também lembra das recentes descobertas de grandes reservas de petróleo pela Petrobras, que deram o apelido de "xeique Lula" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva "e indicam a possibilidade de o Brasil se tornar um grande produtor de petróleo em breve".

O repórter encerra a matéria ressaltando que analistas acreditam que uma queda nos preços dos commodities pode acabar com o ritmo acelerado de crescimento do Brasil e outros questionam se os sistemas de infra-estrutura e educação são fortes o suficiente para manter o bom momento econômico.

"Tudo isso não significa que você tem crescimento econômico garantido. O Brasil ainda tem problemas estruturais sérios. Existem algumas armadilhas que comprometem este crescimento: educação, ter uma mão-de-obra qualificada, saúde", ressaltou a economista da Fundação Getúlio Vargas, Lia Valls, citada na matéria.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/

Generación Y es un Blog inspirado en gente como yo, con nombres que comienzan o contienen una "y griega". Nacidos en la Cuba de los años 70s y los 80s, marcados por las escuelas al campo, los muñequitos rusos, las salidas ilegales y la frustración. Así que invito especialmente a Yanisleidi, Yoandri, Yusimí, Yuniesky y otros que arrastran sus "y griegas" a que me lean y me escriban.

Premio Ortega y Gasset 2008 - Periodismo Digital

Yoani Sánchez
Licenciada en Filología. Reside en La Habana y combina su pasión por la informática con su trabajo en el PortalDesde Cuba.


La capital de ¿todos? los cubanos

Tengo veinte minutos para llegar del Parque Central hasta una pequeña Galería –cercana a la Plaza Vieja- donde un amigo expone sus cuadros. Si intento seguir a pie me perderé la parte del discurso inaugural y el pintor naif no me lo perdonará. Capturo un bicitaxi y le ofrezco diez pesos porque vaya a toda rueda. El ciclista me mira alegrándose de las pocas libras que tendrá que cargar y tararea un reggaetón que dice “le gusta el bate a la mujer del pelotero, le gusta la carne a la mujer del carnicero… y la del bombero me está pidiendo fuego…”.

Ya estamos en marcha y durante el trayecto me siento como una estirada señorona subida en palanquín. Aligero mi culpa pensando que si no fuera yo, el pobre chofer habría tenido que cargar un par de gordos que también le hacían señas. No he salido del remordimiento cuando éste desatiende el timón y me pregunta: “¿Eres de La Habana?”. Confirmo mi origen citadino y con ojos codiciosos me dice “Yo soy de Guantánamo. Estoy buscando alguien que se case conmigo para que me ponga en el registro del carné de identidad. ¿Estás soltera?”

Lo directo de la propuesta me deja abrumada. Quiero explicarle que ya tengo pareja, que no poseo una propiedad donde inscribirlo y salvarlo de la deportación. Se me ocurre aclararle que mi barrio está muy próximo a esa torre -en forma de pirulí truncado- donde se alberga el poder, lo cual hace extremadamente complicado domiciliar una nueva persona. Todos los argumentos para negarme a tan súbito pedido de matrimonio se los resumo en uno breve “No puedo”.

El hombre me mira como si lo estuviera condenando al centro de retención de “ilegales” por el que ya ha pasado. El mismo sitio de donde salen ómnibus cada semana para extraditar, junto a un acta de advertencia, a los que están “sin papeles” en La Habana. Su mirada me hace sentir culpable de haber nacido en esta ciudad achacosa y exclusiva, coqueta con el turismo internacional y ceñuda con los compatriotas de otras provincias.

Estoy a punto de cambiar de idea y casarme con él, pero llegamos al lugar de la exposición y mi amigo el pintor me salva del anillo de bodas.

http://www.desdecuba.com/generaciony/

Sunday, May 04, 2008

!

Minh'alma vibra de se elançar

Mário de Sá-Carneiro
(assim espero)

Saturday, May 03, 2008


Tempo que antecedeu
Tempo que seguiu
Preso e solto
Por um fio

Gota
Gota

Na BA, coordenador atribui resultado a baixo QI dos baianos

Para o coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Antônio Dantas, 69, o baixo rendimento dos alunos da faculdade no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) se deve ao "baixo QI [quociente de inteligência] dos baianos".
Os alunos de medicina da UFBA obtiveram conceito dois no exame. "Se não houve boicote dos estudantes, o que não acredito, o resultado mostra a baixa inteligência dos alunos."
Para Dantas, que é baiano, o corpo docente da faculdade é qualificado e não seria justificativa para o mau resultado no exame. O coordenador disse que o suposto baixo QI dos baianos é hereditário e verificado "por quem convive [com pessoas nascidas na Bahia]".
"O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria", afirmou, ressalvando que há exceções a sua regra.
Questionado se já foi alvo de críticas, Dantas disse que é "franco" e que "reconhece a limitação dos que o cercam". Ele afirmou que não foi notificado pelo MEC sobre os resultados e que vai analisar os erros dos alunos assim que recebê-los.
A diretora da Faculdade de Medicina da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Rosana Vilela, disse que uma possível explicação para o baixo rendimento dos alunos de medicina (conceito dois) foi a mudança no currículo em 2006.
"A nota [do Enade] é construída basicamente em cima da nota do concluinte, que é o aluno do currículo antigo, sendo que a prova é feita baseada nas novas diretrizes que norteiam o currículo novo", disse.
A UFPA (Universidade Federal do Pará) - que recebeu conceito dois - informou, em nota, que só se pronunciará sobre a avaliação quando for notificada. Na UFAM (Universidade Federal do Amazonas), ninguém foi localizado para comentar a nota do Enade.

Boicote

Para Arquimedes Ciloni, presidente da Andifes (associação que representa os reitores das universidades federais), é provável que o desempenho ruim de quatro cursos de medicina de universidades federais no Enade seja resultado de um boicote dos estudantes.
"Chama a minha atenção a situação da UFBA, que tem condições de oferta de ótima qualidade", afirmou.
Ele citou ainda o fato de a universidade ser considerada tradicional - ela abriga o primeiro curso de medicina criado no Brasil, no ano de 1808. Para Ciloni, embora não seja um fator decisivo para o desempenho dos estudantes, um dos maiores problemas dos cursos de medicina das instituições federais hoje é a dívida dos hospitais universitários.
O débito - que, segundo ele, já soma R$ 450 milhões - dificulta a modernização dos equipamentos, disse. A Folha procurou a Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), mas ninguém ligou de volta até o fechamento desta edição.

RENATA BAPTISTA, da Agência Folha
Colboraram: SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha, e KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus

Thursday, May 01, 2008