Monday, June 30, 2008

Sunday, June 29, 2008

Creio no Cinema, arte muda, filha da Imagem, elemento original de poesia e plástica infinitas, célula simples de duração efêmera e livremente multiplicável.
Creio no Cinema, meio de expressão total em seu poder transmissor e sua capacidade de emoção, possuidor de uma forma própria que lhe é imanente e que, contendo todas as outras, nada lhes deve.
Creio no Cinema puro, branco e preto, linguagem universal de alto valor sugestivo, rico na liberalidade e poder de evocação.

Vinicius de Moraes

Saturday, June 28, 2008

"Até se chegar ao charuto leva-se muitos anos. Tem toda uma via-crúcis, que parece fazer parte da vida de todos nós. Uma angústia. Newton Mendonça e Vinicius também sentiam essa angústia. Nós queríamos melhorar a angústia, mas aquilo seguia um caminho que ia dar na morte." Tom

obs. "charuto", aí, quer dizer "descanso do vício", "fumar um charuto", aquietar-se.

[...] "A criação resolve em parte a angústia. Eu acho que quando você faz uma música você dissolve uma depressão. O piano funcionava como espelho na correção de meus defeitos. Procurava uma harmonia, uma coisa boa." Tom

[...] "Essa era a angústia do Tom. Essa carência é também o outro lado da necessidade de fazer esse trabalho todo. Essa angústia foi uma espécie de motor que o levou a fazer músicas tão bem elaboradas. Músicas tão bem trabalhadas que às vezes não chegam ao fim." Elizabeth Jobim, filha.

Márcia Cezimbra, Tessy Calado, Tárik de Souza - Tons Sobre Tom

Wednesday, June 25, 2008


http://diversao.uol.com.br/ultnot/bbc/2008/06/25/ult2242u1663.jhtm

Monday, June 23, 2008

Firefox 3: em 24 horas, recorde com folga

O objetivo da Fundação Mozilla de bater um recorde com seu novo Firefox foi cumprido com louvor: em 24 horas de downloads foram mais de 7,9 milhões de downloads, marca muito superior aos 5 milhões planejados inicialmente para estabelecer o primeiro recorde de download de um software nas primeiras 24 horas após seu lançamento.
As primeiras horas após o lançamento da versão final de Firefox 3.0 não foram fáceis para os geeks da Fundação. O servidor travou poucas horas após o início do Firefox Download Day, iniciativa anunciada há alguns meses com o objetivo de promover a idéia do recorde, e um bug deixou indisponível o software por ao menos duas horas, atrasando o lançamento das 14 horas (horário de Brasília) para 16 horas.

Os usuários que conseguiam acessar a página neste período eram remetidos para uma página com a versão 2.0.0.14 para download. Os servidores se mantiveram instáveis por todo o dia de ontem e apenas na madrugada retornaram à estabilidade. A marca de 2,9 milhões de downloads, mais de metade da meta inicial, foi atingida nas primeiras 8 horas, conforme anunciou o TG Daily. A versão anterior do Firefox teve em seu primeiro dia um total de 1,6 milhão de downloads.

Reconhecendo o lançamento da concorrência, a equipe responsável pelo desenvolvimento do Internet Explorer enviou um bolo ao quartel-general da Fundação Mozilla que carregava o logo do navegador e os dizeres "Parabéns pelo lançamento. Com amor, a equipe do IE" (fotos no blog In Pursuit of Misteries).

O Brasil, um dos grandes apoiadores do Software Livre pelo mundo, apareceu na lista dos dez países que mais colaboraram com o recorde, abocanhando a oitava posição, com 179 mil downloads na frente de China (166 mil) e Turquia (67 mil). Os Estados Unidos se definiram como a principal razão para tamanha folga do recorde: com 2,5 milhões dos downloads, metade da meta inicial.

Os dados completos podem ser vistos em tinyurl.com/63c8on e descartam downloads duplicados por um mesmo usuário e, para ser mais fiel ainda, foi desconsiderado também qualquer download interrompido. A Fundação ainda havia pedido aos usuários que não utilizassem de trapaças, como scripts para adulterar o resultado e transformar o recorde.

Estatísticas da firma de análise Net Applications mostraram hora a hora o resultado da adoção do novo navegador. Desde o lançamento até as horas finais do Download Day, o navegador foi o responsável por no mínimo 0,96% de todos os acessos simultâneos à Internet. Houve momentos em que chegou a3,69%, com pico de uso em 4,56%.

Embora alto para um aplicativo recém lançado, o Firefox 3.0 tem amplo espaço para crescimento. Uma análise recente da W3Schools indica que o Firefox está ganhando terreno rapidamente e hoje já contabiliza um total de 39,1% de todo mercado disponível para navegadores, perdendo do Internet Explorer, que já vem pré-instalado com o Windows e que no total soma 54,8%.

O novo Firefox ainda tem que lidar com um problema contra si. O sistema de plugins, que ele chama de "complementos", é um dos grandes atrativos do navegador e permite uma ampla participação da comunidade. Mas alguns plugins ainda não funcionam no Firefox 3 e, por isso, muitos usuários hesitam no upgrade. Para sanar o problema, a Fundação Mozilla trabalhou junto aos desenvolvedores e conseguiu que 5 mil dos complementos mais populares já tivessem atualizados junto com o lançamento.

Um dos ausentes nesse esforço de atualização é o popular Google Browser Sync, um complemento lançado pela Google Labs em 8 de junho de 2006 que permite que usuários do Firefox sincronizem seus navegadores instalados em diferentes PCs, replicando a configuração, senhas salvas, histórico e favoritos em todos eles. Esse complemento teve seu desenvolvimento descontinuado, sob a alegação de que a equipe responsável por ele está direcionando seus esforços para outros projetos, conforme noticiou o site Life Hacker.

Mesmo com o atraso, o Firefox 3.0 é uma boa pedida para usuários que já utilizam as versões anteriores. O software está recebendo boas críticas em diversos testes por carregar páginas mais rápido que seu concorrente direto, Internet Explorer, e por seus novos recursos, entre eles a capacidade de salvar sessões de navegação ao fechar o programa e um gerenciador poderoso que integra histórico de navegação e favoritos em um mesmo balaio, permitindo busca direta nos dois através da barra de endereços.

Para o futuro próximo a Fundação Mozilla planeja ainda mais funções. A versão final não havia sequer sido lançada e os responsáveis pelo programa já planejavam mais uma atualização. A versão 3.1, prevista para o início de julho, trará ao aplicativo miniaturas para as abas, recurso de auto-complemento de texto e novas funções para o mecanismo de renderização como, por exemplo, o elemento de vídeo HTML 5 e sombreado via CSS, explicou o site Ars Technica.

A versão 3.0 do navegador está disponível em diversos idiomas, entre eles português do Brasil, para os sistemas Windows, Mac OS X e Linux. Interessados podem baixá-lo em getfirefox.com, sabendo, todavia, que a contagem para os recordes já foi encerrada.

http://www.geek.com.br/

Sunday, June 22, 2008

O impensável

O inimaginável acontece. Supera nossa capacidade de prever o pior. Conduz-nos até a borda do real e nos abandona ali, pasmos, incapazes de representar mentalmente o atroz. O pior pesadelo do escritor Primo Levi, em Auschwitz, era voltar para casa e não encontrar quem acreditasse no horror do que ele tinha a contar.
Acreditar no horror exige imaginá-lo de perto e arriscar alguma identificação com as vítimas, mesmo quando distantes de nós. Penso no assassinato dos cidadãos cariocas David Florêncio da Silva, Wellington Gonzaga Costa e Marcos Paulo da Silva por 11 membros do Exército encarregados de proteger os moradores do morro da Providência. Assassinados por militares, sim, pois não há diferença entre executar os rapazes e entregá-los à sanha dos traficantes do morro rival. A notícia é tão atroz que o leitor talvez tenha se inclinado a deixar o jornal e pensar em outra coisa.
Não por insensibilidade ou indiferença, quero crer, mas pela distância social que nos separa deles, abandonamos mentalmente os meninos mortos à dor de seus parentes. Abandonamos os familiares que denunciaram o crime às possíveis represálias de outros "defensores da honra da instituição". Desistimos de nossa indignação sob o efeito moral das bombas que acolheram o protesto dos moradores do Providência.
Nós, público-alvo do noticiário de jornais e TV, que tanto nos envolvemos com os assassinatos dos "nossos", viramos a página diante da morte sob tortura de mais três rapazes negros, moradores dos morros do Rio de Janeiro. É claro que esperamos que a justiça seja feita. Mas guardamos distância de um caso que jamais aconteceria com um de nós, com nossos filhos, com os filhos dos nossos amigos.
O absurdo é uma das máscaras do mal: tentemos enfrentá-lo. Façamos o exercício de imaginar o absurdo de um crime que parece ter acontecido em outro universo. Como assim, demorar mais do que cinco minutos para esclarecer a confusão entre um celular e uma arma? E por que a prisão por desacato à autoridade? Os rapazes reclamaram, protestaram, exigiram respeito -ou o quê? Não pode ter sido grave, já que o superior do tenente Ghidetti liberou os acusados.
Mas o caso ainda não estava encerrado? O tenente, que não se vexa quando o Exército tem que negociar a "paz" no morro com os traficantes, se sentiu humilhado por ter sido desautorizado diante de três negros, mais pés-de-chinelo que ele? Como assim, obrigá-los a voltar para o camburão - até o morro da Mineira? Entregues nas mãos dos bandidos da ADA em plena luz do dia, como um "presentinho" para eles se divertirem? Era para ser "só uma surra"? Como assim?
Imaginaram o desamparo, o desespero, o terror? Não consigo ir adiante e imaginar a longa cena de tortura que conduziu à morte dos rapazes. Mas imagino a mãe que viu seu filho ensangüentado na delegacia e não teve mais notícias entre sábado e segunda-feira. E que depois reconheceu o corpo desfigurado, encontrado no lixão de Gramacho. Imagino a cena que ela nunca mais conseguirá deixar de imaginar: as últimas horas de vida de seu menino, o desamparo, o pânico, a dor. "Onde o filho chora e a mãe não escuta" era como chamávamos as dependências do Doi-Codi onde tantos morreram nas mãos de torturadores.
Ainda falta imaginar a promiscuidade entre o tenente, seus subordinados e os assassinos do morro da Mineira: o desacato à autoridade é crime sujeito a pena de morte e a tortura de inocentes é objeto de cumplicidade entre traficantes e militares? Claro, os traficantes serão mortos logo pelo trabalho sujo do Bope. Se outros cidadãos morrerem por acidente, azar; são as vicissitudes da vida na favela.
Quando membros corruptos da PM carioca mataram a esmo 30 cidadãos em Queimados, houve um pequeno protesto em Nova Iguaçu. Cem pessoas nas ruas, familiares dos mortos, nada mais. Nenhum grupo pela paz foi até lá. Nenhuma Viva Rio reuniu gente de branco a marchar em Ipanema. Ninguém gritou "basta!" na zona sul. Não é a mesma cidade, o mesmo país. Não nos identificamos com os absurdos que acontecem com eles.
Não haverá um freio espontâneo para a escalada da truculência da Polícia e do tráfico, nem para o franco conluio entre ambos (e, agora, membros do Exército) que vitima, sobretudo, cidadãos inocentes. Não haverá solução enquanto a outra parte da sociedade, a chamada zona sul -do Rio, de São Paulo, de Brasília e do resto do país-, não se posicionar radicalmente contra essa espécie de política de extermínio não oficial, mas consentida, a que assistimos incrédulos, dos negros pobres do Rio.

MARIA RITA KEHL é psicanalista e ensaísta, autora do livro "Sobre Ética e Psicanálise" (Cia. das Letras, 2002). Folha de São Paulo - Opinião

Barbárie

Jovens da Providência foram mortos com 46 tiros, diz IML

Entregue por militares do Exército a traficantes do morro da Mineira (zona norte do Rio) - de acordo com depoimentos de testemunhas e dos próprios militares -, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, foi morto com 26 disparos de fuzis e pistolas. David Wilson da Silva, 24, seu companheiro na volta de um baile funk, foi baleado 18 vezes.
A terceira vítima, Marcos Paulo Campos, 17, levou dois tiros. Foi o primeiro a morrer, ao tentar escapar dos cerca de 20 traficantes que o levavam, e aos dois amigos do morro da Providência (centro), para o alto da favela da Mineira. Ao esboçar uma corrida, foi atingido por balas de fuzil que destruíram parte de sua cabeça.
As 46 perfurações foram contabilizadas pelos médicos legistas do IML (Instituto Médico Legal) de Duque de Caxias (Baixada Fluminense). Eles examinaram os corpos dos três rapazes no fim de semana.
Os corpos foram achados no sábado no "lixão" de Gramacho, em Duque de Caxias. Chegaram ao depósito a céu aberto em um caminhão que, horas antes, recolhera os sacos de lixo e o entulho da Mineira.
Além das marcas de tiros, os corpos de Ferreira e de Silva tinham sinais de tortura. Os legistas encontraram ferimentos cortantes e fraturas. Os cadáveres apresentavam ainda marcas deixadas pelo triturador de lixo existente no caminhão.
Os três rapazes foram detidos na manhã de sábado na praça Américo Brum, no alto do morro da Providência, quando saíam do táxi que os levara do morro da Mangueira (zona norte). Tinham passado a noite e a madrugada em um baile funk, acompanhados de jovens vizinhos.
Os militares que patrulhavam a praça decidiram revistá-los. Houve tumulto. O tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, chefe da equipe, resolveu levá-los ao quartel da Companhia de Comando, perto de um dos acessos à favela, sob a acusação de desacato.
Oficial à frente do quartel na manhã de sábado, o capitão Ferrari não concordou com a decisão do tenente e mandou liberar os jovens. O tenente o desobedeceu, segundo o próprio admitiu em depoimento. No comando de três sargentos e sete soldados, ele disse em depoimento que decidiu entregar os rapazes aos traficantes da Mineira, ligados à ADA (Amigos dos Amigos), facção inimiga do CV (Comando Vermelho), que atua na Providência.
As investigações da 4ª DP (Delegacia de Polícia) indicam que, depois de serem entregues, os rapazes foram levados sob pancada para o alto da Mineira. Desesperado, Campos, que era estudante, foi morto ali mesmo, ao tentar fugir.
Os traficantes, antes de dispararem, agrediram os outros dois rapazes com porretes de madeira e barras de ferro. Eles também foram cortados, possivelmente com facões, na cabeça e nos braços. Ao final da tortura, Ferreira e Silva foram alvejados, a curta distância. A maior parte das balas atingiu as cabeças das vítimas.
Segundo os investigadores, Ferreira foi identificado pela quadrilha da Mineira como integrante do tráfico da Providência. Decidiram, então, matá-lo e ao colega, que, embora não tenha sido reconhecido, foi considerado também traficante, pois acompanhava Ferreira.

Sergio Torres - Da sucursal do Rio - Folha de São Paulo

Saturday, June 21, 2008

[...] “cultura” é o resultado da atividade exploratória e criativa humana que, ao se defrontar com a resistência ou a complacência dos provimentos ambientais, utiliza-os como matéria prima do que, a posteriori, assumirá o significado de desejos ou necessidades.

[...] De modo breve, o problema pode ser condensado na hipótese da “transcendência escondida”. A expressão – imprecisa e provisória – sugere que a atual crise de valores não significa ruptura, mas uma nova relação do sujeito com o transcendente. Considero que continuamos referidos ao Outro transcendente, isto é, àquilo que dá sentido a nossa existência como seres livres e autônomos, e que este Outro se corporifica no cânone da racionalidade grega e da espiritualidade judaico-cristã.
Embora seja verdade que a autoridade de líderes espirituais, adultos, educadores, pais etc. perdeu grande parte de sua força normativa, e que os ideais de auto-realização sentimental e de decência pública a ela associados vêm sendo corroídos pelo cientificismo midiático, pela moral do espetáculo e pela fetichização das “leis do mercado”, isto é apenas metade da história. A outra metade mostra que persistimos prestando contas do que queremos ser a algo que ultrapassa a imanência de nossas vontades, emoções ou razões. A novidade da situação não está na recusa do vínculo com a transcendência; está no preço que nos dispomos a pagar por esse vínculo.
Deixando o campo da metáfora, penso que a relação do sujeito com o Outro nas hierarquias simbólicas tradicionais rege-se pela moral do sacrifício, cujos pilares são o sentimento de culpa e o desamparo. Hoje, esta moralidade não mais ocupa o centro da vida coletiva. O deslocamento, obviamente, trouxe à tona aspirações e comportamentos nem sempre aceitáveis ou frutíferos.
Estamos, por exemplo, tentando substituir a sabedoria pela magia, a prudência pelo conformismo, a ousadia pela insolência, a coragem pela bravata e a ciência pelo simulacro da onipotência. Nada disso, porém, prova que todos nos tenhamos tornado moralmente relativistas, cínicos, arrivistas ou sociopatas. Tornamo-nos, isto sim, indivíduos desenraizados, desfiliados, que já não conseguem justificar velhas crenças sobre a vida reta e confundem troca de crenças com descrença. Em suma, por trás da mascarada da auto-suficiência racional, secular, leiga, científica ou qualquer outra similar, o transcendente recalcado retorna, mas sem se deixar reconhecer, ou, o que dá no mesmo, sem poder inscrever seus imperativos na notação ética da tradição.

Jurandir Freire Costa - introdução ao livro O Risco de Cada Um

Friday, June 20, 2008

Crítica

Datação
1712 cf. RB

Acepções

■ substantivo feminino

1 segundo a tradição, arte e habilidade de julgar a obra de um autor

2 exame racional, indiferente a preconceitos, convenções ou dogmas, tendo em vista algum juízo de valor

3 Derivação: por extensão de sentido.
atividade de examinar e avaliar minuciosamente tanto uma produção artística ou científica quanto um costume, um comportamento; análise, apreciação, exame, julgamento, juízo

4 Derivação: por metonímia.
escrito ou gravação resultante dessa atividade teórica, ideológica e/ou estética; coluna

5 capacidade de julgar, de criticar; juízo crítico

6 Derivação: por sinédoque.
conjunto das pessoas que exercem a crítica; comunidade de críticos

7 Derivação: por metonímia.
gênero literário proveniente de tal atividade

8 Derivação: por extensão de sentido. Uso: informal.
ação ou efeito de depreciar, censurar; opinião desfavorável; censura, depreciação, condenação

9 análise de fatos e circunstâncias subjacentes (a determinado texto); avaliação pela qual se julga a fidedignidade ou a validade (de um documento)

10 Rubrica: filosofia.
exame de um princípio ou idéia, fato ou percepção, com a finalidade de produzir uma apreciação lógica, epistemológica, estética ou moral sobre o objeto da investigação

11 Rubrica: filosofia.
entre os pensadores iluministas e seus epígonos, questionamento racional de todas as convicções, crenças e dogmas, mesmo se legitimadas pela tradição ou impostas por autoridades políticas ou religiosas

12 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: filosofia.
no kantismo, questionamento empreendido pela razão a respeito de seus próprios limites, princípios, pretensões cognitivas e especulativas

http://houaiss.uol.com.br

Melodrama lusitano

Vim pela primeira vez a Lisboa com remotos 19 anos, em 1963, mas já a conhecia com afetuosa intimidade, graças aos romances de Eça de Queiroz: a rua das Janelas Verdes, o Bairro Alto, o Rocio, o teatro D. Maria, a rua do Ouro, o Chiado, era como rever lugares queridos, apenas imaginados.
Nas ruas, em plena ditadura salazarista, homens e mulheres de roupas feias e escuras, melancólicos e cabisbaixos, passavam como sombras. Também tive a impressão, e não só por ser muito jovem, de que só havia velhos pelas ruas. Onde estaria a juventude daquela cidade? Sentia-se medo, derrota e resignação no ar.
Em 1975, voltei a Lisboa, pouco depois da Revolução dos Cravos. Encontrei a cidade eufórica com a nova liberdade, as outrora imaculadas paredes pichadas com slogans libertários, havia alegria em todos os rostos e, nas ruas, todos pareciam jovens e cheios de esperança.
Minha filha Esperança acabara de nascer no Brasil, no último e mais terrível ano do governo Médici. Assim que cheguei, liguei para o amigo e grande ator Nicolau Brayner para irmos aos copos celebrar a chegada da miúda. Ele me disse para encontrá-lo no teatro, mas não precisava ver a peça, "é muito chata", que chegasse no final e o esperasse no camarim.
Fui recebido por uma simpática velhinha, camareira de Nicolau havia muitos anos. Chamava-se Esperança, um nome muito comum em Portugal, mas raríssimo no Brasil. Contei-lhe que minha filha era sua xará porque, em 1963, sua mãe, então com 19 anos e um filho recém-nascido, fizera uma sofrida turnê teatral pelo interior de Portugal e uma bondosa camareira a ajudara a cuidar do bebê. Chamava-se dona Esperança e inspirara Marilia a dar seu nome à filha.
Era a própria. Nos abraçamos aos prantos.

Nelson Motta - Folha de São Paulo

Thursday, June 19, 2008

Para a maioria dos especialistas [consultados], o rodízio é uma solução com prazo de validade vencido, e o debate sobre sua ampliação é impróprio para uma cidade prestes a entrar em colapso. A frota cresceu exponencialmente nos últimos 10 anos, chegando aos 6 milhões de veículos e hoje, com o rodízio, a frota liberada de multa (cerca de 4,8 milhões de veículos) é 20% maior do que o total de veículos existentes em 1997, quando a medida entrou em vigor.

Monday, June 16, 2008

[...] se o uso da expressão vita activa, tal como [...] o proponho, está em manifesto conflito com a tradição é que duvido, não da validade da experiência que existe por trás dessa distinção, mas da ordem hierárquica que a acompanha desde o início. Isso não significa que eu deseje contestar ou até mesmo discutir o conceito tradicional de verdade como revelação e, portanto, como algo essencialmente dado ao homem, ou que prefira a asserção pragmática da era moderna de que o homem só pode conhecer aquilo que ele mesmo faz. Afirmo simplesmente que o enorme valor da contemplação na hierarquia tradicional obscureceu as diferenças e manifestações no âmbito da própria vita activa e que, a despeito das aparências, esta condição não foi essencialmente alterada pelo moderno rompimento com a tradição nem pela eventual inversão da ordem hierárquica em Marx e Nietzsche. A estrutura conceitual permanece mais ou menos intacta; e isto se deve à própria natureza do ato de "virar de cabeça para baixo" os sistemas filosóficos ou os valores atualmente aceitos, isto é, à natureza da própria operação.
A inversão hierárquica na era moderna tem em comum com a tradicional hierarquia a premissa de que a mesma preocupação humana central deve prevalecer em todas as atividades dos homens, posto que, sem um único princípio global, nenhuma ordem pode ser estabelecida. Tal premissa não é necessária nem axiomática; e o uso que dou à expressão vita activa pressupõe que a preocupação subjacente a todas as atividades não é a mesma preocupação da vita contemplativa, como não lhe é superior nem inferior.

Hanna Arendt - Capítulo I / A Condição Humana / 2 - A Expressão Vita Activa; em A Condição Humana - 1958.

Sunday, June 15, 2008

Friday, June 13, 2008

Ensaio faz a gênese do sujeito moderno

É difícil dizer o que neste livro de Luis Cláudio Figueiredo é melhor. A escolha do tema é original; o tratamento escrito é simples e conciso, e o substrato intelectual, denso. Já de início , o trabalho conta com a competente e criativa introdução de Suely Rolnik, que nos dá uma bela síntese dos momentos mais altos do livro. Depois, seguimos o autor, fascinados, tal é o interesse despertado pelos assuntos de que ele trata.

O ponto de partida de A invenção do Psicológico – Quatro Séculos de Subjetivação é o fim da cosmovisão medieval e a revolução humanística do Renascimento. Em grandes braçadas, o autor mostra como se dá esta enorme mutação na maneira de ver, descrever e interpretar o sujeito na relação com seu mundo. O homem dos séculos 14 e 15 perderá sua antiga morada religiosa. Mas, perder a morada não é perder a casa. Este desencanto do mundo não foi desencanto de Deus. As mudanças na subjetividade que se iniciam naquele período ocorreram sob o selo do cristianismo, pelo menos em sua redescrição erudita. Os pensadores empenhados em recriar novas subjetividades para os novos tempos eram cristãos e, na maioria, católicos. Não foi preciso, como às vezes se pensa, que o “citoyen” surgisse para que o burguês e sua subjetividade viessem à tona, com suas perguntas e indecisões a respeito da “natureza” ou da condição humana. Se não, vejamos.

Em 1986, na Oratio de hominis dgnitate, Giovanni Pico Della Mirandola escrevia: “Ó Adão, não te demos nem um lugar determinado, nem um aspecto que te seja próprio, nem tarefa alguma específica, a fim de que obtenhas e possuas aquele lugar, aquele aspecto, aquela tarefa que tu seguramente desejares, tudo segundo teu parecer e tua decisão... Não te fizemos celeste nem terreno, nem mortal nem imortal, a fim de que tu, árbitro e soberano, artífice de ti mesmo, te plasmasses e te informasses, na forma que tivesses seguramente escolhido. Poderás degenerar até os seres que são as bestas, poderás regenerar-se até as realidades superiores que são divinas, por decisão de teu ânimo.”

Estas eram as palavras do grande Criador. Ou seja, no novo mundo, o homem fora despojado das garantias naturais ou sobrenaturais que possuía sobre a verdade de seu ser, mas continuava tutelado pela vontade divina. Este foi o enigma que Teresa D’Ávila, Inácio de Loyola, Erasmo, Calvino e Montaigne, entre outros, tentaram resolver. Esta foi a matriz de processos de subjetivação que, até hoje, deixaram seus traços.

Porém, a subjetividade imaginada por estes pensadores tinha seus condicionantes na realidade dos homens: as cidades onde se falava “até sete línguas”; a assombrosa “variedade das coisas”, que o mercantilismo tornara artigos do armazém geral português, dirigido por João de Barros. As estranhas margens geográficas, recém-descobertas pelas navegações; o exotismo de povos e costumes de novos continentes etc.

Homens e coisas, tudo parecia ter sido arrancado de seu lugar, para vagar no terreno baldio da mudança, da instabilidade e da volubilidade de novas formas de vida e de viver. Era preciso dispensar a ordem divina, retirar o homem deste exílio, começando pela viagem ao seu interior. A criação das modernas subjetividades era posta em marcha; o novo “Adão” começava a ser redescrito ou reinventado.

Aqui surge uma nota extremamente interessante, na leitura de Luis Cláudio. As imagens da subjetividade, nos pródomos da Idade Clássica, já eram múltiplas, plurais e conflitivas. Nunca houve uma só maneira de “soprar o barro” para que o “Adão” adviesse. Locais ou dispositivos de subjetivação semelhantes, como claustros e conventos, produziam sujeitos diversos. Na tentativa de lutar contra a contingência humana, Loyola produzia seus exercícios espirituais; Calvino, a predestinação; Teresa D’Ávila suas descrições do êxtase místico, etc.

Os primeiros, buscavam modelos de subjetividade universais e adequados a uma só e mesma natureza humana; a segunda, buscava menos o “conhecimento de si” do que a “afirmação de si”, para retomar a distinção proposta por Rorty. Em Loyola, encontramos a vertente moderna da busca da verdade subjetiva, como produto da disciplina da vontade, conforme a Razão; em Teresa D’Ávila, como experimentação da melhor forma de viver. Para ela, a verdade de si era um exemplo intransferível da experiência extática do amor divino; era sinônimo da presença indizível de Deus.

Estes com outros experimentos de subjetivação vão ecoar no século 19, quando “o psicológico” for inventado. Quando aquelas subjetividades desmoronavam, sob o peso da modernidade político-econômica, o liberalismo, o romantismo e os regimes de disciplina entravam em cena, disputando o posto de construtores de subjetividades, desta vez psicológicas. Mill, Bentham, Wagner e outros, fornecerão os cânones imaginários do que, em nosso tempo, veremos como a “essência” íntima, emocional, sentimental, pulsional ou privada do homem. Nesta subjetividade, Luis Cláudio, com grande delicadeza intelectual, foi buscar os resíduos dos exercícios espirituais ou da vertigem das viagens aos castelos interiores.

É impossível resumir, numa resenha, todas as facetas do processo de produção da subjetividade apontados pelo autor. Além dos tópicos mencionados, as observações sobre Cervantes, a descrição do ocaso da era da representação e as páginas sobre a excentricidade e o experimentalismo existencial de Esseines, são paradigmas do que deve ser um estudo deste tipo. Em suma, este é um trabalho digno de ser lido, pensado, divulgado e tomado como exemplo de seriedade intelectual e vontade de saber.

Jurandir Freire Costa - Folha de São Paulo, 02 de agosto de 1992.

Thursday, June 12, 2008

O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezaste esta lei de Augusto Comte
E foste ser feliz longe de mim


Pipol - entrevista

Digestivo Cultural - Pipol, eu considero a programação visual do Cronópios, o webdesign (numa única palavra), um capítulo à parte. Vocês não estão exagerando quando dizem que "não tem paralelo no Brasil", porque não tem mesmo. E a Mnemozine, então, é um estouro. Quando eu descobri, pensei: "Quem é o louco que montou esse troço? E, agora, como ele vai atualizar?" Acho que até escrevi sobre isso... Você conta, em outras entrevistas, da sua passagem pela TV e pelo vídeo, mas o webdesign tem o quê... quinze anos? Qual é o seu background artístico? De onde você tirou essa inspiração? E, principalmente, como você foi aprender a desenhar páginas que, de novo, no Brasil ninguém desenhou? Porque, por exemplo, quando vou implementar novas ferramentas (ou inaugurar seções) no Digestivo, eu me baseio em sites gringos. Você também tem a impressão de que a internet brasileira às vezes anda a passo de tartaruga? Será herança da nossa velha mídia, que — ; sempre que pôde — brecou o acesso ao conhecimento, à informação de qualidade, à tecnologia de ponta?

Pipol - Legal o seu comentário, Julio, muito obrigado! Não me considero um designer, por assim dizer, "profissional". Não tenho formação em Design. O que faço é algo como... um "site de autor" (parodiando o termo "filme de autor")! Um filme, por exemplo, é considerado "de autor" independentemente de ser uma "superprodução" ou uma realização "de baixo orçamento". O resultado terá sempre alguma "assinatura" — mesmo que o filme não seja unânime... Penso que deixo uma "marca" nos sites que construo; meio assim... sem querer. Não saberia trabalhar de outro modo... O Cronópios tem essa característica: é um site "de autor"; é bom onde é bom, e é ruim onde é ruim...!

E trabalhei, claro, com ótimos diretores de arte, quando exerci a profissão de redator publicitário. Como todo mundo sabe, a área de "criação" das agências é composta sempre por duplas: um "diretor de arte" e um redator. Eu não mexia com o lado visual diretamente, mas colaborava bastante com idéias. Quando apareceu a internet, eu logo quis saber do que se tratava. Fui fazer um curso de HTML — e me empolguei tanto que me matriculei em vários outros cursos, aprimorando incessantemente meus conhecimentos... Achei estranho, na época, os diretores de arte não se interessarem por internet. Eu — que era mero "redator" — fiquei entusiasmadíssimo e eles ficavam literalmente... "sentados na cadeira"! Isso me marcou: foi uma grande surpresa a apatia deles...

E já que você perguntou: eu fiquei encantado com a internet porque trabalhava em TV (antes de me mudar para São Paulo). Era uma filial da Rede Manchete, em Bauru. Tive lá a oportunidade de criar em parceira, e de dirigir, um programa de TV voltado para o público jovem, o Zapteen. Foi uma experiência até poética. O programa era bastante sofisticado para a época. Até hoje, é bacana de se ver: perdeu muito pouco de seu frescor — e estou falando de 1993; ano em que esteve no ar... A internet parecia trazer de volta "esse tempo de imagens" e movimento, de experimentação criativa... Me apaixonei! A parte que me toca, do Cronópios, vem desse programa de TV. O background artístico? Acho que isso vem da infância; né? Eu gostava, por exemplo, de fabricar carrinhos de rolimã, e os meus tinham sempre uma coisa diferente... que eu pegava no ferro-velho. (Eu adorava ferro-velho...!) Tinha também um "laboratório"; eu devorava uma enciclopédia chamada Tecnirama, e tentava, às vezes, reproduzir algum instrumento. Montei um telescópio refletor newtoniano, seguindo os diagramas e buscando as peças em lojas da cidade. Eu era um chatinho desses (risos)...

E eu também, Julio, faço como você: vivo pesquisando, visitando sites de fora, para ficar atualizado no que está acontecendo. Os brasileiros são bons, também, claro... Achava essa defasagem — que você aponta — mais acentuada antigamente. Hoje, não, tanto... Mas, realmente: o pessoal lá de fora sempre "viajou" mais na criação...!

Julio Daio Borges - Digestivo Cultural - www.digestivocultural.com

Saturday, June 07, 2008

Ainda a vanguarda

Em artigo que aqui publiquei em 3 do corrente [reproduzido abaixo], afirmei que, tendo cumprido a sua função, a vanguarda acabou. Não cheguei, porém, a explicar que uma das principais razões pelas quais penso assim é que estou convencido de que o feito principal da vanguarda enquanto vanguarda não foi de natureza propriamente estética ou artística, mas cognitiva e, mais precisamente, conceitual.

Em outras palavras, não é que, a partir da experiência da vanguarda, a arte tenha ficado melhor do que era, mas que, sobre ela, se aprendeu alguma coisa que não se sabia antes. Deu-se um aprendizado, um progresso cognitivo após o qual se passou a saber algo fundamental, antes não plenamente reconhecido, sobre a natureza da arte.

Com certeza o divórcio mais célebre entre o feito conceitual e o feito estético de uma obra não se deu no campo da poesia, mas no das artes plásticas. Refiro-me, é claro, a Fontaine, o urinol que Marcel Duchamp pôs de cabeça para baixo e expôs como arte. Como se sabe, a partir de Fontaine e do conceito correlato de ready-made, foi profunda e amplamente posto em discussão o próprio conceito de arte. Ou seja, uma peça de valor artístico ou estético praticamente insignificante foi capaz de ter uma importância conceitual incalculável.

Ora, evidentemente, o valor puramente conceitual de uma coisa está naquilo que ela ensinou, e não nela própria. É claro que nada impede que uma obra seja importante tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista conceitual.

Se o seu valor é exclusivamente conceitual, porém, ela não passa de veículo para o que ensina.

Logo que o que ensina é aprendido, ela passa a ser mero exemplo do que ensinou, dotado, no máximo, de um valor histórico.

Em outras palavras, uma vez realizado o feito conceitual de uma obra puramente cognitiva, ela se torna supérflua. Assim como quem quiser aprender a lei da gravidade fará melhor lendo um livro de física clássica do que os Principia de Newton, cujo texto original tem hoje um valor meramente histórico, assim também mais vale ler sobre Fontaine e ver as suas fotos do que contemplar uma das suas réplicas (a obra "original" desapareceu há muito tempo). O mesmo jamais poderia ser dito de uma obra dotada de valor estético, como Les Demoiselles d`Avignon, de Picasso, ou o soneto Salut, de Mallarmé, cujas presenças são insubstituíveis.

Supor que uma obra importante do ponto de vista cognitivo fosse necessariamente importante do ponto de vista artístico ou estético foi um equívoco comum da vanguarda e dos seus admiradores.

Por outro lado, não perceber ou negar que uma obra estética ou artisticamente insignificante (Fontaine é o caso clássico) pudesse ter uma grande importância conceitual e histórica foi o erro dos detratores da vanguarda.

Não só o feito da vanguarda enquanto vanguarda foi primariamente conceitual, mas o que com esse feito se aprendeu pode ser enunciado em poucas palavras. Aprendeu-se, de uma vez por todas, não ser possível determinar nem a necessidade nem a impossibilidade - em princípio - de que a arte empregue qualquer forma concebível. Abriu-se para ela a perspectiva de uma infinidade de caminhos possíveis, porém contingentes. O "gênero" artístico revelou-se como convencional e perdeu toda a importância. A obra de arte não se vale de direitos hereditários ou de prerrogativas de família. Isso não significa que todas as obras se equivalham, mas que cada uma é antes um indivíduo do que um membro de uma espécie ou gênero e que é enquanto indivíduo que exige ser considerada.

Ora, o caminho até essas descobertas - que, no fundo, são o desdobramento de uma só - já foi cumprido e não tem como se estender. Não é possível ir "além" ou voltar "aquém" delas. Nesse sentido, não há mais vanguarda. O seu percurso já foi cumprido e nenhum artista ou crítico moderno pode dar-se ao luxo de ignorá-lo.

No artigo mencionado, eu já havia observado que se, etimologicamente, vanguarda é, como se sabe, o destacamento que, progredindo à frente do grosso do exército, abre caminho para este, de modo que, analogamente, dizem-se vanguarda também os artistas que, progredindo à frente dos demais, abrem caminho para estes, então essa designação só é de fato inteiramente adequada aos artistas cujo progresso não pode deixar de ser reconhecido e assimilado pelos demais.

Tal é o caso do progresso cognitivo que acabo de descrever, que não se dá na arte experimental contemporânea.

Antonio Cicero

O sentido da vanguarda

Ninguém ignora o sentido metafórico da palavra "avant-garde", de onde vem a nossa "vanguarda". No âmbito militar em que se origina, ela designa o dispositivo avançado de um exército ou de uma frota, isto é, o destacamento que, indo à frente, indica ou abre caminho para o grosso do Exército ou da frota. Analogamente, chamam-se "de vanguarda" os artistas que, estando à frente dos demais, indicam ou abrem os caminhos que serão eventualmente tomados por estes.

Historicamente, a vanguarda não só se atribuiu o papel de indicar ou abrir caminhos, mas efetivamente o cumpriu. Por exemplo, antes da eclosão das vanguardas, as formas poéticas mais tradicionais em uso nas línguas modernas haviam sido fetichizadas. Supunha-se que o uso de métrica ou de rima ou o emprego de alguma das diversas formas fixas então catalogadas (tais quais o soneto, a balada e a sextina) fosse necessário para a produção de um bom poema. Desse modo, consideravam-se naturais determinadas formas convencionais.

Pois bem: ao produzir autênticos poemas sem o emprego dessas formas, as vanguardas mostraram, em primeiro lugar, o caráter convencional de tais formas; em segundo lugar, mostraram que a poesia ou o poético não se encontram prêt-à-porter, à disposição do poeta, nestas ou naquelas formas fixas; em terceiro lugar, mostraram que a poesia não é necessariamente incompatível com nenhuma forma determinada: que é possível inventar novas formas para ela.

Assim, ao desfetichizar as formas poéticas tradicionais, as vanguardas abriram novas possibilidades para todos os poetas. E ressalto que, apesar da retórica da "morte", da "destruição", do "fim" das formas poéticas que a vanguarda mostrou serem relativas, a verdade é que nenhuma das formas convencionais jamais deixou de existir ou de continuar a ser realizada, em maior ou menor grau. As formas existentes podem ser relativizadas, mas não morrem.

No meu artigo anterior, observei que, no seu "Plano-Piloto", a poesia concreta errara ao dar por encerrado o ciclo do verso. Por outro lado, o "Plano-Piloto" também afirmava que "a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural. Espaço qualificado: estrutura espaço-temporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear".

Pois bem, ao efetivamente criar poemas de estrutura não-discursiva, espaço-temporal, a poesia concreta eliminou a possibilidade de qualquer fetichismo residual em relação a qualquer forma convencional da poesia. Trata-se, sem dúvida, de um feito eminentemente vanguardista, pois todos os poetas são afetados tanto pelas possibilidades que ele abre quanto pela conseqüente relativização de todas as formas tradicionais de poesia.

Entretanto, é preciso reconhecer que esse foi o derradeiro feito da vanguarda no campo da poesia. Com isso, não quero dizer, de maneira nenhuma, que deixe de existir a poesia experimental. Ao contrário: o feito vanguardista consistiu exatamente na abertura ilimitada de possibilidades experimentais. Acontece porém que, quando todas as experiências são possíveis e nenhuma possibilidade já experimentada está morta, cada qual está livre para seguir o seu próprio e singular caminho.

Que diríamos de um poeta ou crítico que hoje decretasse serem poemas só os experimentos vídeo-áudio-verbais? Ou só aquilo que fosse composto em versos metrificados e rimados? Ou, ao contrário, só aquilo que fosse escrito em versos livres? Sabemos hoje que, por princípio, não se pode em são juízo decretar o que é admissível e o que é inadmissível num poema; nem estabelecer critérios a priori pelos quais todos os poemas devam ser julgados.

O poeta moderno - e moderno aqui quer dizer "que vive depois que a experiência da vanguarda se cumpriu" - é capaz de empregar as formas que bem entender para fazer os seus poemas, mas não pode deixar de saber que elas constituem apenas algumas das formas possíveis; e o crítico deve reconhecer esse fato. Em tal situação, não pode haver nenhum caminho a ser indicado ou aberto por alguns poucos, para ser seguido pelos outros muitos. Não há mais vanguarda.

Nesse sentido, não há como não concordar com Haroldo de Campos quando, em seu ensaio Poesia e Modernidade: Da Morte do Verso à Constelação. O Poema Pós-Utópico, afirma que "ao projeto totalizador da vanguarda, que, no limite, só a utopia redentora pode sustentar, sucede a pluralização das poéticas possíveis".

Antonio Cicero

Para iniciados

1. How many times do I have to tell you, John? I always have a plan!


2. Who are we to argue with taller ghost Walt?

3. I can't believe you're just giving him Australia. Australia's the key to the whole game.

4. Okay, now tell me, John, which of these things belong to you?

5. Benjamin... Who's next?

6. I'm here, Charles, to tell you that I'm going to kill your daughter.

7. We have to move the island.

8. He changed the rules.

9. I'm doing what I always do, Kate, surviving.

10. Daddy!

11. How can you possibly not understand... that you're mine.

12. If anything goes wrong, Desmond Hume will be my constant.

13. I love you, Penny. I've always loved you. I'm so sorry. I love you!

14. Rescuing you and your people... I can't really say is our primary objective.

15. Hi, Aaron.

16. We're lying... because it's the only way to protect everyone that didn't come back.

17. If you leave this place, that knowledge is gonna eat you alive from the inside out, until you decide to come back.

18. It's not an island. It's a place where miracles happen. And if you don't believe that, Jack, if you can't believe that, just wait till you see what I'm about to do.

19. Would it make any sense if I told you I was still looking for where I was born?

20. Checkmate, Mr. Eko

21. You can go now, Michael.

22. I hope you're happy now, Jacob.

23. Don't bring him back, Kate.

http://dudewearelost.blogspot.com/

Friday, June 06, 2008

Esse é um daqueles textos que fatalmente vão acabar rodando a internet, "assinados" pelo Jabor, pelo Veríssimo, ou sabe-se lá quem! Então, me adiantando, mando: é do Carlos Heitor Cony, saiu na Folha hoje, 6 de junho de 2008 e é uma versão revista e ampliada de um outro texto que ele já publicara em 2004. Ah, e é genial! O que há de mais fino em matéria de sarcasmo (se é que isso pode ser possível).

Chá das peruas

Não sei se por sorte ou azar, encontrei um amigo dos tempos de jornal, agora dedicado à divulgação de vídeos, depois de ter morado dez anos em Londres.
Ele se habituara ao chá das cinco e justo naquele momento estava se dirigindo à pérgula do Copacabana, onde se inaugurava novo e eficiente serviço.
Bastou atravessarmos o calçadão, a hora era aquela. Primeira sensação: a de entrar num galinheiro, ou melhor, num perueiro: as mesas estavam tomadas por estranhíssima população de peruas, senhoras de 50 e 70 anos, maquiadas para a ocasião, vestidas e calçadas para a ocasião, compenetradas e penetradas pela ocasião.
E a ocasião era o chá - não a bebida em si, mas a solenidade, o ritual, a liturgia. O serviço era impecável, excelente mesa de doces e salgadinhos, variedades de chás e sucos.
Poucas vezes, em andanças por aí, enfrentei tamanho e tão rico sortimento de geléias, bolos, bolinhos, brioches - um festim. E o festim seria mais confortável não fossem o alarido, o grasnar das peruas.
Aliás (e em sã consciência o admito), ignoro se as peruas grasnam. Parece que os patos é que grasnam. Não sou entendido na matéria, mas sei que cada bicho tem linguajar próprio: o cachorro late, o gato mia, o cavalo relincha, o boi muge, parece que o lobo uiva, há bichos (não sei quais) que chilreiam e outros que pipilam.
Bem, as peruas devem emitir som específico, cuja designação, honestamente não me interessa investigar. Fiquemos com o grasnar, pode não ser tecnicamente o certo, mas na prática é o mais apropriado.
O que elas grasnam não é mole, o que se enchem de bolos e geléias, o que entopem as bochechas de salgadinhos e brioches, o que falam alto e não escutam nada - enfim, são peruas de alto coturno. Peruas cinco estrelas.
Contudo, não são o grasnado e a esganação que marcam e definem o gênero perual. Evidente que todas grasnam e todas são esganadas, mas o que as distingue dos mortais é um quê indefinível, uma aura transcendental, um halo sobrenatural que vem talvez do modo de vestir, de pensar, de usar adereços. Talvez a forma de se pentear e maquilar.
Sem esquecer o cheiro: toda perua que se presa usa dois ou três tipos de perfumes da moda que, por isso mesmo, por serem da moda, tornam-se ostensivamente peruais.
É assombroso como elas conseguem a unidade na variedade ou - o que é mais difícil - a variedade na unidade, desafio mental que os filósofos, políticos e artistas enfrentam há séculos.
Não há duas peruas iguais, mas todas são iguais entre si. É o tafetá, o veludo, a seda, o corte do vestido ou do casaco, o tipo do sapato, a meia, os broches e brincos, os anéis e colares e - sobretudo - as bolsas. Ah, as bolsas! São esclarecedoras, são definidoras na exata conceituação de Aristóteles: "Indivisum in se et divisum a quolibet alium". Perdoem o latim, mas em se tratando de peruas, a tendência é absorver alguma coisa de perual, como a erudição de almanaque. O fato é que, com ou sem a ajuda de Aristóteles, a léguas de distância se percebe uma perua pela bolsa que usa e pelo modo como a carrega. É como um distintivo na lapela, um estandarte, uma camisa de clube de futebol: pode-se distribuir as peruas em primeira, segunda e até terceiras divisões.
Pode-se fazer uma espécie de combinado de seleção perual através das bolsas. Agora, mais esclarecedoras do que as bolsas são os adereços - mas isso transcende ao espaço e à intenção de uma crônica. Seria necessário um tratado, em 12 nutridos tomos, para catalogar e definir esses adereços - tarefa que realmente não me oferece atrativos.
O chá foi agradável, junto à piscina, atendidos pela própria gerente, uma antiperua, insuperável em seu papel e lugar. Só ela, em si e em seu labor, redimia a paisagem e valorizava o aroma do chá e o sabor das geléias. No fundo, ela se divertia com as peruas e ganhava dinheiro à custa delas: estava trabalhando, feia ação que uma perua prefere morrer a praticar.
Uma perua, antes de ser perua por fora (na bolsa, no cabelo ou no sapato), é uma perua por dentro.

(Leitoras do Leblon me pediram uma transcrição revista e ampliada de uma crônica que escrevi em 2004 na página A2.)

Carlos Heitor Cony - Folha de São Paulo

Wednesday, June 04, 2008

Explosão em provedor tira do ar 9 mil servidores

Cerca de 7.500 clientes do serviço de hospedagem de sites ThePlanet, um dos maiores provedores do estado do Texas, nos Estados Unidos, podem ter problema com seus sites depois de uma explosão ocorrida no sábado (31/05), que tirou 9 mil servidores do ar.

Segundo o site Slashdot, a explosão foi causada por um curto-circuito e derrubou três paredes da sala em que os equipamentos elétricos estavam. Felizmente ninguém se feriu e nenhum servidor foi danificado.

As estimativas eram de que o serviço seria retomado até ontem, de acordo com o site AllHeadlineNews, entretanto até hoje, algumas horas antes do fechamento desta nota, a equipe técnica do serviço ainda trabalhava no caso, tendo concluído 90% do trabalho.

http://www.geek.com.br

Monday, June 02, 2008

Aconteceu na rádio TUPI FM 104,1 em São Paulo

Locutor: Quem fala?
Ouvinte: É o Vicente.
Locutor: De onde, Vicente?
Ouvinte: Lapa!
Locutor: Olha aí, Vicente da Lapa! Valendo o kit com camiseta e CD do Edson e Hudson. Presta atenção! Qual é o país que tem duas sílabas e se come a metade? Prestou bem atenção? Há um país com 2 sílabas e 1 delas é muito bom para se comer. Dez segundos para responder.
Ouvinte: CUBA!
Locutor (mudo por alguns segundos e algumas risadas no fundo): Tá certo, senhor Vicente! Vai levar o prêmio pela criatividade. Mas aqui na minha ficha estava escrito JAPÃO...

Por e-mail

Sunday, June 01, 2008

Don't you hate it when an Island just uses you, then throws you away like an old shoe? I know I do. Christian Shepherd brought the bad news to Michael, whose grand moment of character redemption consisted of making nice with Sun for 30 seconds. Come on, Damon! Come on, Carlton! HE SHOT ANA LUCIA AND LIBBY! We need a bit more grandiloquence here if we're supposed to feel bad about this. On a separate note, was the Island keeping him alive all this time because he's the best liquid nitrogen sprayer in the Seven Seas? I mean, seriously, couldn't one of the redshirts have done that? What exactly did Michael accomplish that was so all-fired important? Does the Island twist time, space and probability just to have randomly selected people pick up its drycleaning? Weak.

Lost Body Count