Saturday, October 10, 2009

Logo que voltaram para Cabul, Laila se afligia por não saber onde os talibãs haviam enterrado Mariam. Gostaria de poder visitar sua sepultura, sentar ali ao lado, deixar uma ou duas flores sobre a lápide. Agora, porém, sabe que isso não tem a menor importância. Mariam está sempre por perto. Está bem aqui, nessas paredes que eles próprios pintaram, nas árvores que plantaram, nos cobertores que mantêm as crianças aquecidas, nos travesseiros, nos livros, nos lápis. Está no riso daquelas crianças. Nos versículos que Aziza recita e nas orações que murmura voltada para o oeste. Mas é principalmente no coração de Laila que Mariam está presente; é ali que ela brilha com toda a intensidade de mil sóis.

Percebe, então, que alguém está chamando o seu nome. Vira-se e, instintivamente, inclina um pouco a cabeça, erguendo um tantinho o ouvido bom. É Aziza.

— Está tudo bem, mammy?

A sala está em silêncio. As crianças têm os olhos pregados nela.

Laila ia responder, mas, de repente, se assusta. Baixa as mãos, levando-as ao ponto onde, segundos antes, sentiu como se uma onda a percorresse. Fica esperando. Mas não percebe movimento algum.

Mammy?

— Está, sim, querida — diz Laila, sorrindo. — Estou bem. Estou, sim. Muito bem.

Dirigindo-se a sua mesa, defronte dos alunos, lembra da brincadeira que voltaram a fazer na véspera, enquanto jantavam. Aquilo estava se tornando um verdadeiro ritual, desde que Laila tinha lhes dado a notícia. Passavam horas assim, cada um defendendo a própria escolha. Para Tariq, devia ser Mohammad. Zalmai, que acabou de ver o vídeo do Super-Homem, não se conforma quando lhe dizem que um menino afegão não pode se chamar Clark. Já Aziza vem lutando pela vitória de Aman. E Laila prefere Omar.

Mas a brincadeira só envolve nomes masculinos, porque, se for menina, Laila já escolheu o nome que vai lhe dar.

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