Thursday, November 18, 2010

O projeto baiano repete o mesmo press-release. A ausência de "ensaios críticos", a "negação do tom acadêmico", substituídos pelo "afeto dos ensaístas sobre a obra em questão", vêm se constituindo, ao longo de mais de 40 anos, num modo operante. Piquenique do coro dos contentes. Marcus Preto, o atual inocente útil da Folha de São Paulo, se incumbe da tarefa de repassar a mensagem. Grifados vão os lugares-comuns repetidos à exaustão, como mantras publicitários e, claro, sem revisão crítica, ao longo das últimas décadas. "Ou o mundo se brasilifica, ou virará nazista" é patético de tão demagógico...

Álbum "Tropicália" ganha revisão em imagem e texto

Livro traz releituras de cada uma das doze canções do disco-manifesto lançado em 1968, criadas por ensaístas e artistas plásticos

MARCUS PRETO 

Com 43 anos completos, a revolução formal conduzida por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat e Mutantes continua alimentando nossos artistas - dentro e fora do ambiente da música popular.

Organizado pela pesquisadora Ana de Oliveira, o livro "Tropicália ou Panis et Circencis", com lançamento hoje, às 20h, na Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207; tel. 0/xx/11/3512-6111), vem somar aos inúmeros estudos, análises e ensaios já existentes sobre esse tema. 

Ana convidou ensaístas e artistas visuais para recriarem, em textos e imagens, cada uma das 12 faixas do álbum homônimo. O volume, de 130 págs., acompanha 12 cartazes de 93 x 62 cm. Os textos ficaram a cargo de Jorge Mautner, Hermano Vianna, Viviane Mosé, Antônio Risério, Aguilar, Bené Fonteles, Bráulio Tavares, Christopher Dunn, Frederico Coelho, Manuel da Costa Pinto, Newton Cannito, Noemi Jaffe e Arnaldo Antunes. 

"A ideia era não fazer um livro de ensaios críticos, mas fugir do tom acadêmico", ela diz. "Queria que os textos incluíssem a questão emocional, em que estivesse presente o afeto dos ensaístas sobre a obra em questão." 

A lista de artistas plásticos inclui Guto Lacaz, Aguilar, Lenora de Barros, Gringo Cardia, André Vallias, Ailton Krenak, Ernane Cortat, Ray Vianna, Leandro Feigenblatt, Nelson Provazi, Adriana Ferla, Rico Lins e o coletivo assume vivid astro focus.

Segundo Lenora, entrar em contato íntimo com o álbum só torna ainda mais clara a importância dele no contexto artístico nacional. "Assim que fui trabalhar em cima da "Lindonéia" (canção de Caetano que, por sua vez, foi inspirada em quadro de Rubens Gerchman), tive certeza que, via Caetano, a Lindonéia do Gerchman sempre esteve em mim, presente no meu trabalho", diz. 

"AMÁLGAMA"

Lançado em 1968, o LP "Tropicália ou Panis et Circencis" regulamentava, em manifesto sonoro, os explosivos conceitos já expostos por Caetano, Gil, Mutantes e o maestro Rogério Duprat no festival da Record de 1967.

Terminava de dinamitar, sem caminho de volta, muitos dos padrões estabelecidos da MPB de então, rompendo fronteiras entre bom e mau gosto, direita e esquerda, nacional e estrangeiro.

"Mais do que mistura ou miscigenação, o tropicalismo promoveu a amálgama", diz Mautner. "O disco realiza a profecia do Walt Whitman, poeta americano, que diz que o vértice da humanidade será o Brasil. Ou o mundo se brasilifica, ou virará nazista." 

TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENCIS

AUTOR Ana de Oliveira (org.) 
EDITORA Iyá Omin 
QUANTO R$ 153 (127 págs.) 

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