Como o que é tosco tem virado cult, SS tende a ser perdoado
RAUL JUSTE LORES - EDITOR DE MERCADO - FOLHA DE SÃO PAULO
A comoção popular à derrocada bilionária do banco PanAmericano mostra que, apesar de tudo, Silvio Santos é um empresário de sorte.
Apesar de sua conduta, ele obtém sucessivos perdões em uma cultura que adora desconfiar de outros empresários. Seu lugar garantido na memória afetiva de milhões de brasileiros o beneficia bastante.
"Que exemplo, ele colocou os próprios bens como garantia para pagar as dívidas", foi o elogio quase unânime. A atitude legal e esperada virou demonstração de correção e honestidade.
Colocar um parente, personal trainer, à frente do banco, foi tratado mais como excentricidade que como gestão pouco profissional.
Títulos de capitalização e carnês do Baú geraram fortuna em tempos de inflação galopante. Pessoas humildes depositavam suas economias e, desde que tivessem pago as mensalidades "em dia", poderiam trocar sua poupança um ano depois por panelas ou saboneteiras a preços inflacionados nas lojas do Baú.
Nem essa transferência de renda da base ao topo da pirâmide conseguiu manchar a admiração popular do dono do Baú. Em tempos de populismo e de jornalismo a favor de governos, o responsável pela "Semana do presidente", que bajulava militares sem culpa, acaba absolvido por default.
Mas aonde SS anda menos bem-sucedido é na plataforma onde era imbatível. O SBT é cada vez mais irrelevante. Dramalhões mexicanos importados ou adaptados aqui não repetem há anos o sucesso obtido por "Carrossel" ou "Maria do Bairro".
Gugu o trocou pela Record, Ratinho encolheu e a emergente classe C já consegue sair mais aos domingos, longe do aparelho da TV. Melhor uma economia pujante que a Porta da Esperança.
Mas, para quem arremessa dinheiro dobrado como aviãozinho à plateia para que mulheres simples se engalfinhem ou faz a menina Maísa chorar sob deboche, a admiração supera o ibope. A tendência atual de elevar ao status de cult o que é simplesmente tosco está a seu lado.
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