Friday, January 28, 2011
Quando o assunto é África...
Fábio Zanini
24 / 01 / 2011
O Egito é o próximo?
As últimas semanas transplantaram para o norte da África uma tese que já esteve em voga no Sudeste Asiático, Leste Europeu e América Latina, sobretudo no auge da Guerra Fria: a teoria do dominó.
Diz a tese que a queda do ditador da Tunísia há duas semanas provocará algo semelhante em regimes totalitários na região. O próximo a passar por uma revolução democratizante já está escolhido: seria o Egito.
Isso sim seria um terremoto geopolítico. A Tunísia é inspiradora e simbólica, sem dúvida, mas periférica do ponto de vista geográfico, econômico, militar e populacional. O Egito tem 80 milhões de habitantes e a capacidade de mudar o panorama do Oriente Médio. Nada na região se decide sem sua opinião.
Mas realmente há condições suficientes para um repeteco?
À primeira vista, sim: um regime autoritário, um ditador decrépito no poder (Hosni Mubarak, há longos 30 anos), uma bomba populacional prestes a entrar em ignição: sem emprego nem perspectiva, o número crescente de jovens zangados só pode mesmo explodir em cima dos governantes.
Em tese, portanto, Mubarak tem de se coçar, e rápido, antes de ser a Maria Antonieta da vez.
Na vida real, é bem mais complicado, e se tem uma aposta que eu faria (e que eu gostaria, honestamente, de perder) é de que a hora de Mubarak ainda não chegou.
Colocar Tunísia e Egito no mesmo saco apenas porque são árabes é como igualar Brasil e Argentina apenas porque são latino-americanos.
Primeiro, porque o Egito é “grande demais para mudar”, parodiando a expressão que ficou famosa durante a última crise financeira, em que bancos não fechavam porque eram “grandes demais para falir”.
O Egito é aliado dos EUA e, visto do Pentágono, é um bastião de estabilidade numa região conturbada.
Mesmo que essa estabilidade seja na base da porrada, e mesmo que a mudança seria para melhor, haveria inevitavelmente um período de incerteza (como o que vive agora a Tunísia). Esse curto período seria perigoso demais, segundo a tese dominante em capitais ocidentais.
Segundo, o Egito tem uma “desculpa” que vem a calhar para se manter repressor: do outro lado estão os islâmicos da Irmandade Muçulmana. Noves fora o fato de a maioria desse grupo negar o fundamentalismo, eles assustam o suficiente. Seu pedido de democracia, de “um homem, um voto ,“é repelido com uma expressão carregada de sarcasmo: “um homem, um voto, uma vez”.
Ou seja, a democracia (um homem, um voto) seria a porta de entrada para levar ao poder regimes que logo depois aboliriam o sufrágio universal, a democracia.
Na Tunísia, lembremos, nunca houve nada que se assemelhe a um movimento islâmico forte.
O Egito, também, não tem classe média forte e secular como na Tunísia. Ironicamente, algo que é um tributo ao governo que acabou derrubado.
Por fim, como disse a última edição da revista britânica Economist, a repressão total à imprensa tunisiana (ao contrario da egípcia, que é um tanto mais livre) tirou do governo um mecanismo de aferição do nível de descontentamento social. Quando perceberam o tamanho da crise, já era tarde. Mubarak tem mais mecanismos de fazer jogadas populistas antes que o tsunami ataque.
Por isso, a tese de que o Egito é o próximo, é muito simpática. Mas ainda pago para ver.
Escrito por Fábio Zanini às 23h22
[...] Roger Ebert, comentando o filme (A Rede Social), observa que existem tradicionalmente três atividades que produzem gênios infantis: matemática, música e xadrez. E sugere que a programação de computadores pode ser uma quarta área. Por que não? Esses geniozinhos têm cérebros capazes de façanhas espantosas mas tendem a ser tímidos, rudes, introvertidos, antissociais. Fala-se a propósito deles na Síndrome de Asperger, que é uma condição próxima do autismo. Zuckerberg, segundo os depoimentos, seria assim; Ebert o compara com Bobby Fischer, o neurótico campeão de xadrez.
A crítica de Peter Travers na Rolling Stone comenta a imagem de Zuckerberg, milionário, sentado sozinho numa sala escura, “com o rosto iluminado pela luz azul do monitor, e fingindo que não está sozinho”. É uma maneira bitolada de ver as coisas. Muita gente pulando carnaval também finge que não está sozinha. Os nerds estão reinventando o mundo à sua imagem e semelhança. Dizer que um computador não faz companhia é tão injusto quanto dizer o mesmo de um livro ou de uma vitrola tocando Beethoven. O Facebook pode dar uma simples ilusão de sociabilidade, mas esta não é mais ilusória, para as pessoas “que não se encaixam”, do que a sociabilidade em carne-e-osso de uma festinha no campus, uma platéia de rock ou um churrasco na laje. O filme mostra que o mundo está cada vez mais formatado pelos nerds, após séculos de ditadura dos extrovertidos.
Thursday, January 27, 2011
Monday, January 24, 2011
Separação do Sudão recebe aval de 99% em referendo
Cerca de 99% dos sudaneses do sul votaram a favor da sua secessão, aponta a apuração oficial do referendo que foi realizado na semana passada.
O site da Comissão do Sudão do Sul para o Referendo já mostra que cerca de 3,64 milhões de pessoas nos 10 Estados do sul votaram pela separação contra apenas 16 mil favoráveis à unidade.
Os números finais oficiais deverão ser divulgados no dia 7 de Fevereiro, se não houver recursos.
Se a secessão se confirmar, o mundo terá um novo país, a partir de 9 de Julho. Este deverá ser também o país mais pobre do planeta.
Realizada entre os dias 9 e 15 de Janeiro, a votação estava prevista nos acordos de paz assinados a 9 de Janeiro de 2005, pretendendo pôr fim a duas décadas de guerra entre o norte e o sul, com um saldo de aproximadamente 2 milhões de mortos.
A eleição só seria dada como válida se 60% da população comparecesse às urnas.
Surpreendentemente, a participação foi de aproximadamente 96%.
As autoridades do sul da nação africana têm-se contido na reacção aos resultados preliminares e alertado os sudaneses contra comemorações antecipadas que poderiam criar tensão com o governo do norte.
Um membro do alto escalão do Partido do Congresso Nacional disse que iria esperar até ao anúncio final. «Mas a expectativa é que o resultado será de secessão», disse.
«O partido está a trabalhar agora nas questões pós-referendo, como a delimitação das fronteiras. Nós estamos a fazer o nosso melhor para nos prepararmos para as consequências da secessão», acrescentou.
O nome da nova nação é uma incógnita. Poderá ser Sudão do Sul ou Kush, nome para uma das primeiras civilizações da região, que apareceu por volta de 1500 a.C.
Copyright Diário Digital 1999/2011 - http://diariodigital.sapo.pt
RESULTADOS
Com mais de metade dos resultados dos dez estados do Sul do Sudão, anunciados, a comissão do referendo continua a juntar os dados que lhe vão chegando e a separação vai registar uma vitória arrasadora.
Com 83,4 por cento dos votos contados no Sul, mais o norte e o estrangeiro, 98,6 por cento votaram na secessão.
Em termos numéricos, às 18h00 horas de hoje os votos de 3.197.038 eleitores tinham sido contabilizados e só 1.4 por cento é que escolheram a separação.
Mesmo no Norte do Sudão, com a contagem completa, 57,6 escolheram a independência contra 42,4 que querem a unidade.
O resultado mais surpreendente foi o dos sulistas a viverem no Darfur: 55 por cento escolheram a unidade.
No Condado de Lafon, na Equatória Oriental, o voto foi 100 por cento para a separação.
Os resultados podem ser seguidos no sítio preparado pela Comissão do Referendo do Sul do Sudão.
http://jirenna.blogspot.com/
Marcadores: Pé na África
Saturday, January 22, 2011
Um amigo meu, sabido e compositor diz assim: o Caetano está para o Chico assim como eu estou para o Caetano. Um outro amigo, também sabido mas, cientista político, ouviu e comentou: essa proposição põe um monte de coisas no seu devido lugar.
Tem um negócio a se reparar entre Chico e Caetano: enquanto Caetano adotou para sua música popular a persona de um filósofo, Chico escolheu a do narrador.
A partir dessas opções, Chico se colocou numa posição segura, de onde vem se lançando - ininterruptamente - à aventura de tentar encontrar a mais depurada expressão de seu talento.
Caetano, ao contrário, assumiu - também ininterruptamente - posição de risco. Pode-se dizer que se a posição é sempre de risco e não muda, então ela é segura. Mas, não, porque ao preferir a persona do filósofo, Caetano acabou por tentar traficar para a música popular a busca intrínseca à filosofia, a busca pela... verdade. É aí que ele dá sempre a cara pra bater. Essa coragem, sem dúvida, é admirável. Apesar de muito pouco artística.
Chico, como narrador, não quer revelar verdade nenhuma. Paradoxalmente, por isso, é muito mais moderno e "de vanguarda" que Caetano: se há uma movimentação interessante neste princípio de milênio é o valor crescente que vêm ganhando os saberes narrativos. Os saberes singulares, não redutíveis ao espaço dos grandes arcos teóricos. O saber do vivido em oposição ao saber cientificamente presumido. Os heróis de Chico Buarque montam cavalinhos-de-pau que falam inglês. Não se indagam sobre a dor e a delícia do ser. Antes, são. E tentam se entender com isso.
Chico se colocou neste lugar seguro, este lugar factível. De lá ele tem tentado construir uma obra significativa.
Caetano parece preso à própria armadilha, esforçando-se em demonstrar, por exemplo, que a retórica concretista era, como se pretendia, manifestação da verdade. Que se você tiver uma ideia incrível é, mesmo, melhor fazer uma canção. Que quando você junta qualquer coisa com qualquer outra coisa e lasca uma epígrafe, aquilo ali dá liga. Não dá. Às vezes cola. Mas sentido, não faz.
Marcadores: Autorais
E sem camisinha!
Igreja do interior de SP anuncia rifa de Fusca lotado de cerveja
Folha.com
O anúncio seria comum se não estivesse exposto na entrada da catedral de Ribeirão: "concorra a um charmoso Fusca branco, 1980, a álcool, carregado de cervejas".
É o que diz o banner, iniciativa do padre Francisco Moussa, 33, que visa arrecadar fundos para construção do centro social da catedral.
Para os fiéis, no entanto, a inclusão da cerveja ao prêmio da rifa vendida a R$ 2 vai contra o que a igreja sempre pregou: o combate ao uso excessivo do álcool.
"Estou sem palavras. A igreja prega que a gente não pode abusar do álcool, que não pode apelar a jogos de azar, mas está fazendo tudo isso", disse a funcionária pública Alzira Gonçalves, 50.
Outras duas fiéis ouvidas pela Folha concordaram com Alzira. O sorteio está marcado para hoje, às 20h, em frente à catedral.
Para o padre Jerônimo Gasques, existem outras formas "éticas" para a igreja captar recursos. "Isso [sorteio de carro carregado de cervejas] denigre a igreja, além de não ser sadio evangelicamente".
Ele é autor de diversos livros que abordam a atuação da igreja -como "Dízimo e Captação de Recursos"- e aboliu as festas na paróquia de Presidente Prudente (SP).
Procurado pela reportagem da Folha, o padre não quis explicar os motivos que o levaram a rifar um Fusca carregado de cervejas. O arcebispo de Ribeirão Preto, Joviano de Lima Júnior, não comentou o assunto.
Friday, January 21, 2011
Nei kS, do Japão, postou este pequeno informal tratado de ciência política (1). Gostei. Mas, antes, e além, me peguei feliz por deparar com um discurso que tão bem me representasse. Achei, minutos atrás, postagem minha (2) que prova a afinidade de princípios a que me refiro. O assunto eram frases pretensamente proferidas pelo Dalai Lama que, claro, só podem ser apócrifas, como a maioria do que circula na internet mas, no post não me dei ao trabalho de discutir isso. Optei por usar o artifício de considerar o autor como sendo o Dalai Lama ele mesmo pra não perder o trocadilho. Mas, veja, não vem ao caso. Alguém, como eu hoje, se sentiu representado por aquela linha de raciocínio. E é ela que o Punkssauro Nei trucida.
A parte I e a parte II
I
Para onde vão os desertos quando não há ninguém neles?
As multidões. Não gosto desses sábios que dizem das multidões como se voassem sobre nossas cabeças porque mesmo sozinhos somos da multidão dos solitários.
3a. pessoa do plural, jamais infelizes, silenciosos sim.
E sábios só voam quando compram passagem.
Ninguém sabe mais do deserto senão o incógnito grãozinho de areia - esse sim, voador.
Os gritos vão para o deserto para avolumarem sussurros e depois aos tantos, tantos que caraca dio mio são incontáveis por só soprarem seus mais íntimos elementos.
Ah, esses sábios que fazem fama falando mal da gente. Que digam, que cantem, que escrevam, que talhem seus dígrafos nas paredes e sejam vulgares com céus e infernos e perfumes baratos dulcíssimos fedorentos.
II
Eu só quero contar a história de alguém que tenha defeitos morais incuráveis. E que pratique ioga sem meias nem oferendas do cartão de crédito.
Um personagem que me foda e me sacaneie do prefácio ao lixo.
E sem nome, se esqueça de mim.
Escrito por Nei kS
(1) Não há exagero nem pedantismo em falar assim. O centro do que se afirma em A parte I e a parte II é o mesmo que diz Hanna Arendt contra a superioridade política do sábio em sua famosa análise da alegoria da caverna de Platão.
(2) Então é Natal...
Perguntaram ao Dalai Lama:
"O que mais te surpreende na Humanidade?"
"O que mais te surpreende na Humanidade?"
E ele respondeu:
"Os homens...
Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde...
Porque pensam ansiosamente no futuro e, por isso, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro...
E porque vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido!"
Tirando o fato das frases antinômicas não soarem originais (parecem ditos populares), a ideia de que seres iluminados possam falar na... humanidade em terceira pessoa é tão despropositadamente antiga! Desculpem, não quero mais me sentir parte da ínfima população que se sente identificada com a mais ínfima parte da população que não faz parte da população. O nome do cara só podia ser lama...
Thursday, January 20, 2011
A Doris Day e eu
Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo
Me lembrei do que o Groucho Marx disse sobre a Doris Day, "Eu a conheci quando ela ainda não era virgem". Para os nascidos ontem: Doris Day foi uma cantora e atriz que simbolizou uma era no cinema americano em que ninguém dormia com ninguém. A não ser que estivessem casados, e assim mesmo em camas separadas. Doris era uma boa cantora, apesar de uma voz tão melosa que podia ser comida com panquecas. Como atriz, foi a prototípica mulher da época, segundo Hollywood. Moderna, emancipada - mas antes do casamento, nem beijo de língua. Groucho a conheceu no começo da carreira, cantando em boates de segunda e disposta a fazer qualquer coisa para entrar no cinema. Sua virgindade ainda estava por vir.
Guardados os devidos contextos, estou me sentindo um pouco Doris Day. Você deve ter lido que os mapas astrais estavam todos errados. Não foram ajustados de acordo com variações no eixo da Terra, ou coisa parecida, o que significa que estamos nos guiando por alinhamentos de astros que já mudaram de casa há muito tempo. O zodíaco como nós o conhecíamos está superado. Nossos signos são outros. Descobri que eu, por exemplo, não sou mais Libra. Agora, como a Doris Day, sou Virgem!
Eu deveria ter desconfiado. Há muito tempo que minha vida supostamente regida pelo símbolo da balança não correspondia às previsões astrológicas para os de Libra. Os encontros que mudariam a minha vida (uma loira? um mestre espiritual? o Eike Batista?) não aconteciam. Minha personalidade também não fechava com as características típicas de um libriano. Eu, um falastrão, amante de esportes radicais e pagode? Devia haver algum engano. Pois o engano foi descoberto. A relação da Terra com o cosmos estava desfasada. Ninguém estava mais no seu signo original, só não sabia. Para pegar o exemplo mais à mão, eu levava uma vida de Virgem mas buscava orientação em Libra. Não podia dar certo. Impossível imaginar quantos buscaram um destino equivocado baseados no que lhes dizia uma astrologia obsoleta. E agora? Processar quem?
Quanto a mim, só resta me acostumar com a virgindade retardada.
Pesquisadores dizem que astrólogos não levam em conta a mudança no eixo da Terra
14.01.11 | 19h31
Você passou a vida toda achando que era do signo de Capricórnio, mas na verdade pode ser de Sagitário. Astrônomos da Sociedade Planetária de Minnesota, nos Estados Unidos, "jogaram uma bomba" sobre o zodíaco e dizem que os astrólogos esquecem de um aspecto importante: a variação no eixo de rotação da Terra, causada pela atração gravitacional da Lua, que também muda a perspectiva de como nós vemos o céu.
Os signos astrológicos são determinados pela posição do Sol em relação a uma determinada constelação no dia do nascimento do indivíduo. Entretanto, segundo os pesquisadores, essas posições foram determinadas há mais de 2.000 anos. Como a posição da Terra mudou nesse período, haveria uma diferença de quase um mês no alinhamento das estrelas em relação a como elas são medidas pelos astrônomos e pelos astrólogos.
Parke Kunkle, astrônomo da Sociedade Planetária de Minnesota, diz que, "quando os astrólogos dizem que o Sol está em Peixes, ele não está realmente em Peixes". Joe Rao, colunista do site Space.com, diz que tudo no céu "está em constante fluxo". - A astrologia diz que o Sol está em uma posição, mas a astronomia diz que ele está em outra.
Apesar de não haver evidências científicas de que a posição dos astros durante o nascimento de uma pessoa influencie seu comportamento, os astrônomos fizeram uma adaptação dos signos, segundo a posição correta da Terra. A lista inclui um 13º signo, Serpentário, que não é considerado pelos astrólogos, mas essa constelação também deveria ser levada em conta, segundo os astrônomos.
Algumas datas coincidem com o final de período de um signo e início do período de outro, mas os especialistas não explicaram o porquê da coincidência.
Veja abaixo:
Capricórnio: 20 de janeiro a 16 de fevereiro
Aquário: 16 de fevereiro a 11 de março
Peixes: 11 de março a 18 de abril
Áries: 18 de abril a 13 de maio
Touro: 13 de maio a 21 de junho
Gêmeos: 21 de junho a 20 de julho
Câncer: 20 de julho a 10 de agosto
Leão: 10 de agosto a 16 de setembro
Virgem: 16 de setembro a 30 de outubro
Libra: 30 de outubro a 23 de novembro
Escorpião: de 23 a 29 de novembro
Serpentário: 29 de novembro a 17 de dezembro
Sagitário: 17 de dezembro a 20 de janeiro
http://www.midianews.com.br/?pg=noticias&cat=6&idnot=39516
Saturday, January 15, 2011
Sítio de Tom Jobim some na lama
Casa em que o maestro compôs Águas de Março, Dindi e Matita Perê, em São José do Vale do Rio Preto, é totalmente destruída na tragédia do Rio
Julio Maria - O Estado de S.Paulo
À beira do Rio Preto, no sítio Poço Fundo, em que adorava passar férias sozinho, Tom Jobim fazia tudo virar música. Era a lama, o sapo, a rã, o caco de vidro, a luz da manhã e até um carro enguiçado do amigo João Gilberto, que visitava a toca do maestro em busca de arranjos para suas canções. Águas de Março foi o que de mais impressionante Jobim anotou ali em sua casinha, depois de uma temporada de verão com muita água caindo do céu na tranquila São José do Vale Rio Preto, a 40 minutos de Petrópolis, Rio. Desde as 8 horas da manhã de quarta-feira, a casa em que Jobim criou também Dindi e Matita Perê, segundo seu filho Paulo Jobim, não existe mais. O teto desabou, as paredes ruíram, muitas árvores se foram.
Outros tempos. O refúgio de Tom Jobim desapareceu em 2 horas
O refúgio de Jobim desapareceu em duas horas. Ali perto, no mesmo sítio, estava seu neto Daniel com a família. Ninguém ficou ferido. A 5 km de distância, porém, houve mortes e casas destruídas. Antes de bater em retirada com a família em uma aventura por estradas interditadas e em busca da gasolina que se tornou escassa nos postos de São José, Daniel correu até a casinha do avô para ver se restava algo. E viu o que não queria.
"Eu vi a casa cair. O teto desabou. A casa dos caseiros também foi destruída. Eu consegui sair com minha família de carro, mas as pessoas que moram lá só contam com elas mesmas. Não tem Defesa Civil, não tem nada. Dizem por lá que o Rio levou até os tratores que poderiam ajudar. Quase todas as pontes da região foram levadas pelas águas, saí por uma ponte em que só passava um carro por vez."
O volume de água que Daniel diz nunca ter visto antes em São José do Vale do Rio Preto, para ele, pode ser consequência da abertura de alguma barreira. "Não é possível, só a chuva não faria isso." Até a tarde de ontem, não havia como entrar em contato por telefone com a Defesa Civil da região. Paulo Jobim, filho de Tom e pai de Daniel, tem outra opinião. "Foi assim também em Teresópolis e outras regiões do Rio. Para mim, as comportas que foram abertas foram as comportas do céu."
O neto Daniel vê as músicas do avô como "proféticas". "Ele tinha mesmo esse mistério", diz. Jobim mostrava em entrevistas preocupação com o desmatamento antes mesmo das discussões sobre a camada de ozônio. Águas de Março, feita ali na casa destruída por uma impiedosa enxurrada de janeiro, soa agora como uma previsão. "É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco/ é um pouco sozinho." Outra a sair das inspirações à beira do Rio Preto foi Dindi. "Céu, tão grande é o céu / E bandos de nuvens que passam ligeiras / Pra onde elas vão, ah, eu não sei, não sei / E o vento que toca nas folhas / Contando as histórias que são de ninguém / Mas que são minhas e de você também / Ai, Dindi."
Tom Jobim levava o filho Paulo ainda criança, com 7 ou 8 anos, para o sítio Poço Fundo. "Meu pai ficava lá sozinho, aproveitava o verão todo, até João Gilberto o visitava." Assim que as águas baixarem, a pergunta em família será "afinal, o que fazer com o sítio?" O lugar estava passando por uma reforma geral, o teto já estava concluído. Paulo tem sua resposta sobre o destino. "Acho que é para ser esquecido (como moradia). Ou vamos fazer uma espécie de memorial. Mas acredito que ninguém mais vai se sentir bem morando lá."
Daniel, que testemunhou os últimos momento da casinha de Tom Jobim, diz que, pelo que viu, há como reconstruir o local. "Mas não aconselho ninguém a voltar lá para morar. Ali há muitas moradias irregulares, em situação de risco. Isso as pessoas já sabiam e continuaram lá." Por enquanto, para os Jobim, Poço Fundo não é mais lembrança da infância ou de alguns dos melhores versos criados por Tom. Daniel tem outras imagens na memória. "O cenário é de total devastação."
Friday, January 14, 2011
Sunday, January 09, 2011
Wednesday, January 05, 2011
NAZILEAKS
Uma exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, convida a nação a se confrontar com sua responsabilidade coletiva na Shoah
PAULO NOGUEIRA - Revista Piauí
Ela é feiosa, amarelecida, sem graça. Tem o tamanho de meia folha de papel ofício e quase 70 anos de idade. Passa facilmente despercebida entre outros mil itens mais vistosos da exposição “Hitler e os alemães: povo e crime”, que há três meses agita Berlim.
Ainda assim, é essa folha de 15 por 21 centímetros, banal, impessoal e burocrática que melhor serve à intenção dos curadores da exposição montada no Museu Histórico Alemão: aprofundar o confronto da nação alemã com o seu passado nazista. Ao contrário do Japão e da Áustria, que optaram por não remexer no passivo moral relativo à Segunda Guerra, a Alemanha, a cada nova geração, mergulha mais e mais nos meandros do mais terrível período de sua história, na expectativa de compreendê-lo e, se possível, exorcizá-lo.
O item acima referido registra o telefonema de um engenheiro para a sede de sua empresa, cobrando a entrega de uma mercadoria atrasada. Coisa corriqueira, em suma. O telefonema foi atendido em 17 de fevereiro de 1943 por Fritz Sander, engenheiro-chefe da firma J. A. Topf & Söhne. Depois foi transcrito, datado, fichado, numerado, carimbado, encaminhado, rubricado cinco vezes e, por fim, arquivado no fichário da casa.
A indústria J. A. Topf & Söhne, de porte médio, era dirigida por dois irmãos e tinha sede em Erfurt, cidade central da Alemanha. O autor do telefonema, Karl Schultze, chamara de Auschwitz, a 686 quilômetros dali, na Polônia ocupada. A mercadoria atrasada era um “exaustor número 450 para as câmaras de gás”, que teria sido despachado em 18 de novembro do ano anterior e não chegara. “Dada a urgência de utilização do equipamento”, anotou, metódico, o Oberingenieur Sander, “devemos enviar de imediato uma nova peça para possibilitar a sua rápida instalação.” Schultze fora despachado de Erfurt três vezes para Auschwitz em 1943 a fim de supervisionar a instalação e funcionamento dos crematórios. No telefonema, ele também solicitava providências para que vinte guinchos manuais encomendados a outro fabricante chegassem logo.
Os curadores da mostra de Berlim optaram por descartar documentos mais chocantes da mesma empresa – como, por exemplo, a carta na qual a Topf & Söhne oferece um método avançado para acelerar o processo de incineração das pilhas de crianças dizimadas nas câmaras de gás. Para pôr os corpos na fornalha, dizia o documento descartado, recomendamos um simples garfo de metal sobre cilindros. Cada fornalha terá um forno medindo 60 centímetros por 45, uma vez que não serão usados caixões. Para transportar os cadáveres dos locais de armazenamento às fornalhas, sugerimos o uso de carrinhos leves, cujo diagrama em escala segue anexo. Heil Hitler! Por extrema, a carta fugiria do ponto de equilíbrio buscado pelos organizadores.
O tema é chocante, mas, quando se pensa, não deveria propriamente espantar, pois não se monta uma indústria da morte sem engenheiros, organogramas e reclamações. Como diz a narração de Noite e Neblina, o primeiro grande documentário sobre os campos de extermínio, dirigido por Alain Resnais em 1955, “um campo de concentração é construído como se constroem hotéis ou estádios – com orçamentos, concorrências, um ou outro suborno”.
Há tempos historiadores vêm demolindo a tese de que a Shoah, a política de extermínio de judeus, era um segredo de Estado guardado pela cúpula do nazismo. Ainda assim é perturbador constatar que um reles papelucho burocrático, com cinco assinaturas igualmente burocráticas, trata com naturalidade de fornos de cremação em Auschwitz. E que engenheiros, secretárias e telefonistas voltavam à noite para a casa, comentavam o dia de trabalho e depois iam dormir sem que a Alemanha acordasse diferente.
Esta é a primeira vez desde a morte do Führer, 65 anos atrás, que um grande museu nacional da Alemanha decide expor a relação entre Hitler e seu povo, jogando luz sobre a sociedade que o nutriu e lhe ofereceu o país para comandar.
A própria localização da mostra já vem carregada de simbolismo. Instalada nas entranhas de um antigo arsenal prussiano que hoje abriga o Museu Histórico Alemão, a exposição está a poucos metros da praça onde o regime promoveu o auto de fé de livros “antigermânicos”, em maio de 1933. “A era do extremo intelectualismo judeu chegou ao fim”, proclamou na ocasião o chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels, enquanto uma população entusiasmada atirava tomos de Kafka, Einstein e Freud na pira.
No país que considera necessário manter proibidas a saudação nazista, a reimpressão do livro Mein Kampf e a reprodução da suástica, a preocupação em impedir que a mostra se torne local de peregrinação neonazista é clara. Inevitavelmente, o cuidado para que o ditador não vire objeto de fetiche acabou resultando numa anomalia: cassaram-lhe a voz. Na exposição inteira não se ouve um só de seus discursos; sequer uma amostra da voz esganiçada que arrebatou todo um povo. Objetos de uso estritamente pessoal do Führer, ou que ele tenha manuseado, também são raros nas salas do museu.
O historiador inglês Ian Kershaw, autor de monumental biografia do Führer recém-lançada no Brasil (Hitler, Companhia das Letras), foi uma das autoridades mundiais que trabalharam estreitamente com os curadores alemães. No ensaio que escreveu para o catálogo da exposição, intitulado Carisma e Violência, ele aborda a relação do líder com seus adoradores e cita o célebre discurso de Nuremberg, de setembro de 1936. “É um milagre vocês terem me encontrado no meio de tantos milhões. E é o destino da Alemanha eu ter encontrado vocês.”
Em outubro de 2010, com o país indo para a terceira geração nascida após a queda do Terceiro Reich, o instituto de pesquisa da Fundação Friedrich Ebert ouviu 2 411 pessoas entre 14 e 90 anos sobre o futuro do país. Um em cada dez alemães respondeu que gostaria de um Führer para, com mão forte, governar em benefício do bem de todos. (Em alemão, a palavra Führer significa “líder” e o seu uso, embora carregado, não deve ser automaticamente compreendido como uma referência a Hitler.) Mais de um terço respondeu que a Alemanha corre o risco de vir a ser controlada por estrangeiros.
“Estamos longe de ter enterrado Hitler”, adverte com cautela recomendável, mesmo que excessiva, um vídeo à saída da exposição de Berlim, cujas portas ficam abertas ao público até fevereiro.
Ernst-Wolfgang Topf, um dos donos da empresa de Erfurt que em 1943 recebeu a reclamação de Auschwitz, morreu aos 74 anos. Seu irmão Ludwig suicidou-se pouco após o final da guerra. O engenheiro-chefe Sander também.
Marcadores: da Dignidade da Política
Sunday, January 02, 2011
LEITURAS - Carta de Princípios
Crítica (não só) literária
Nelson Ascher
Já caminharam sobre a Terra, gravando caracteres em algum tipo de material, pelo menos 150 gerações de escritores. Dizem que tudo começou 5.000 ou 6.000 anos atrás no sul do Iraque atual, a antiga terra dos sumérios. Foi lá que se teria inventado pela primeira vez um modo de, às emissões sonoras chamadas de linguagem verbal, fazer corresponder sinais visíveis, transmissíveis sem o auxílio de memórias individuais e, conseqüentemente, duráveis.
Os mortos se tornaram, desde então, capazes de falar com os vivos. "Escucho com mis ojos a los muertos", constatou o poeta espanhol Quevedo. E, com o passar do tempo, multiplica-se o total de mortos falantes (Quevedo entre eles) que competem com os vivos que, por seu turno, competem entre si pela atenção de um número limitado de olhos ouvintes.
Por isso existe a crítica literária: porque nem mesmo a vida de um leitor voraz, dedicado e longevo bastaria para dar conta sequer dos romances publicados ano passado no mundo. Talvez uma existência inteira não seja mesmo suficiente para ler quanto há para ser lido em, digamos, A Montanha Mágica. E, no entanto, o desejo de ler tudo é, para os verdadeiros leitores, tão natural como o da imortalidade para quem, após compreender os tempos verbais, não ignore mais a ameaça presente no futuro da primeira pessoa do singular.
A crítica literária existe, sobretudo, para triar obras recentes, apontando quais merecem atenção, e para retriar, a cada geração, aquelas previamente avaliadas, de modo a questionar juízos passados. Chamar a atenção para certa obra, uma atividade generosa, envolve a crueldade necessária de pôr outras de lado. A vida é curta, a paciência dos leitores, mais ainda - e "triagem" é um galicismo de origem sinistra. Durante a Primeira Guerra, a escala industrial da sangueira (decorrente da fartura combinada de soldados e metralhadoras) sobrecarregou os serviços médicos nas frentes de batalha. O Exército francês se viu então forçado a "triar", ou seja, repartir seus feridos em três categorias: os que podiam ser medicados no local, os que valia a pena levar aos hospitais na retaguarda e os que estariam tirando o lugar de gente com chances melhores. Estes eram entregues aos sedativos e sacerdotes.
Se a atividade crítica parece impiedosa, talvez seja o caso de lembrar que, diferentemente dos seres humanos, obras literárias não têm direito automático nem sequer à vida (ao de serem lidas). Nenhum livro é obrigatório, exceto para estudantes, professores e críticos profissionais que, geralmente, são os que não os lêem. O público não tem deveres para com escritores vivos, mortos ou mortos-vivos e, quando lê, está lhes fazendo um favor, uma gentileza. É aos autores que cabe estar à altura de tal deferência, pois toda obra é culpada até prova em contrário. O crítico, assim, também pode ser considerado seu advogado. Mesmo que esteja disposto a mentir ou trapacear, o processo é tão aberto que alguma verdade acaba se estabelecendo. Daí a dificuldade, em qualquer arte, de alterar os cânones vigentes e colocar, por exemplo, Salieri no lugar de Mozart.
Um advogado é tanto melhor quanto mais a fundo conhecer seu caso, e, como a literatura diz respeito a tudo, não resta ao crítico outra opção que a de buscar se familiarizar com tudo, algo impossível. Bom, existe outra opção, que esteve em moda por anos e anos. Trata-se, no sentido tacanho do termo, da abordagem estritamente "literária" para a qual um poema, um conto, um romance se reduzem a um amontoado organizado de palavras. Discorrer sobre Guerra e Paz ou A Cartuxa de Parma ignorando os detalhes das guerras napoleônicas e os tipos de armamentos à disposição dos contendores, examinar Os Lusíadas sem pensar na expansão do império português ou na arte da navegação ou analisar Ulisses sem refletir sobre as relações entre Irlanda e Inglaterra equivalem a perder de vista muito da razão de ser desses livros - se bem que julgá-los somente através de um desses prismas tampouco seja inteligente.
Em outras palavras, quem escrevesse algo intitulado Auschwitz: Uma Abordagem Contábil e concluísse que o comandante Rudolf Höss era inocente, pois administrou direito seu campo, ou (o que dá na mesma) culpado, porque revendeu, sem registrar a transação, várias latas de Zyklon B a seu colega Franz Stangl, de Treblinka, quem chegasse a tais conclusões sem se perguntar para que serviam as latas seria antes parte do problema do que da solução. Mas quem quer que ostente indignação moral sem dominar os dados e fatos relevantes nada acrescenta à discussão, pois, caso queira que seus sentimentos prevaleçam, convém-lhe saber tudo o que o contador acima sabe e mais.
O interesse pela literatura ou é onívoro ou não é. O leitor autêntico deseja saber de tudo, truísmo que se aplica dupla ou triplamente aos críticos de verdade. Autores de best-sellers, atentos à curiosidade da audiência, estão cientes disso e, coerentemente, recheiam seus calhamaços com informações variadas sobre como se desmonta uma bomba, o que é que socialites comem, bebem ou cheiram, como se pilota um Spitfire, quais as posições sexuais favoritas de um samurai do século 16.
Quando Mallarmé observou que o mundo existe para acabar num livro, ele não estava aviltando o primeiro, mas, sim, afirmando quão abrangente e ambicioso era seu programa para o segundo. Seu discípulo, Paul Valéry, disse que um homem que nunca quis ser um deus é menos do que um homem. Um crítico que seja apenas literário é, portanto, menos do que um crítico literário. E não há meio termo.
Postado originalmente em 31 de julho de 2006
Postado originalmente em 31 de julho de 2006
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Braulio Tavares
Resoluções de Ano Novo (1.1.2011)
Respirar a fumaça do Vesúvio. Escutar o cabelo crescendo de novo. Anotar o momento em que o número de folhas na árvore da casa em frente for igual ao número de caracteres do artigo que estou escrevendo. Fotografar simultaneamente trinta chaminés na perpendicular. Levar uma bolha de sabão de João Pessoa até Campina. Aprender a chover e a colorir na primeira pessoa. Fazer a difícil opção entre envelhecer e virar vampiro. Desvendar um mistério, descantar uma música, desescrever um livro. Visitar em sequência sete cidades cujas iniciais são as letras do meu nome. Lembrar tudo que aconteceu em volta quando eu estava dormindo. Descobrir uma galáxia nova e guardá-la só para mim. Falar de corda em casa de enforcador. Desenhar um teclado numa cartolina e botar o povo pra dançar uma noite inteira. Fazer um gol de pênalti de cabeça. Criar uma espécie de partitura para som de pneu de carro. Passar vergonha na cara e esperar que seque.
Ensinar um macaco a ler, um peixe a escrever, um teimoso a pensar. Fazer faxina nos advérbios e desempacotar preposições que ainda não foram usadas. Monitorar o espelho à espera do terrível sinal. Conseguir plagiar tão bem que o plagiado elogie minha originalidade. Ler sem ouvir minha voz repetindo baixinho o que é lido. Aprender a tocar cavaquinho, pandeiro e tantã – ao mesmo tempo. Atravessar uma rua do outro lado para o outro lado. Fazer uma cirurgia telepática para tirar a catarata do meu terceiro olho. Trancar a gaveta e jogar a chave dentro. Escrever como se a linha fosse uma corda-bamba solta no ar. Assistir um filme no Capitólio, outro no Babilônia, outro no Avenida e outro no São José. Inventar um sacarrolhas reto. Arrumar o primeiro, o segundo, o terceiro, e deixar para arrumar o quarto no ano que vem. Carambolar o ricochete quântico de duas ondas sem colapsar os cordéis de ambas em incontáveis quarks supérfluos. Amar sem orgulho e odiar sem preconceito.
Criar um banco randômico de sílabas e um programa anti-entrópico que as faça formar frases ao longo dos dias. Misturar três vinhos numa taça e identificar cada gole. Tentar não esconder meus descuidos por trás dos meus excessos de cuidados. Fazer uma correntinha de clips unindo Brasília e Praga. Adotar um mineral de estimação e cuidar dele todos os dias. Autografar mil pedaços de papel para vendê-los quando ficar rico e famoso. Abrir livros no escuro até encontrar um que tenha luz própria. Respirar fundo e deslizar tobogã acima. Trocar meia dúzia de realidades fabricadas por uma ilusão verdadeira. Conseguir ler um jornal sem ficar procurando meu nome. Poder guardar na minha sala de visita todas as minhas cabeças de gado, todas as minhas sesmarias, todos os meus canaviais. Me preparar para o restante deste século com o auxílio de um dicionário chinês-árabe, árabe-chinês. Escrever alguma coisa que possa relida em 2110. Marcar um encontro em Samarra e não comparecer.
Mundo Fantasmo (artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba", Campina Grande - PB)
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