Friday, January 21, 2011

Nei kS, do Japão, postou este pequeno informal tratado de ciência política (1). Gostei. Mas, antes, e além, me peguei feliz por deparar com um discurso que tão bem me representasse. Achei, minutos atrás, postagem minha (2) que prova a afinidade de princípios a que me refiro. O assunto eram frases pretensamente proferidas pelo Dalai Lama que, claro, só podem ser apócrifas, como a maioria do que circula na internet mas, no post não me dei ao trabalho de discutir isso. Optei por usar o artifício de considerar o autor como sendo o Dalai Lama ele mesmo pra não perder o trocadilho. Mas, veja, não vem ao caso. Alguém, como eu hoje, se sentiu representado por aquela linha de raciocínio. E é ela que o Punkssauro Nei trucida.


A parte I e a parte II

I

Para onde vão os desertos quando não há ninguém neles?

As multidões. Não gosto desses sábios que dizem das multidões como se voassem sobre nossas cabeças porque mesmo sozinhos somos da multidão dos solitários.

3a. pessoa do plural, jamais infelizes, silenciosos sim.
E sábios só voam quando compram passagem.

Ninguém sabe mais do deserto senão o incógnito grãozinho de areia - esse sim, voador.

Os gritos vão para o deserto para avolumarem sussurros e depois aos tantos, tantos que caraca dio mio são incontáveis por só soprarem seus mais íntimos elementos.

Ah, esses sábios que fazem fama falando mal da gente. Que digam, que cantem, que escrevam, que talhem seus dígrafos nas paredes e sejam vulgares com céus e infernos e perfumes baratos dulcíssimos fedorentos.

II

Eu só quero contar a história de alguém que tenha defeitos morais incuráveis. E que pratique ioga sem meias nem oferendas do cartão de crédito.

Um personagem que me foda e me sacaneie do prefácio ao lixo.
E sem nome, se esqueça de mim.

Escrito por Nei kS

(1) Não há exagero nem pedantismo em falar assim. O centro do que se afirma em A parte I e a parte II é o mesmo que diz Hanna Arendt contra a superioridade política do sábio em sua famosa análise da alegoria da caverna de Platão.

(2) Então é Natal...

Perguntaram ao Dalai Lama:
"O que mais te surpreende na Humanidade?"
E ele respondeu:
"Os homens...
Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde...
Porque pensam ansiosamente no futuro e, por isso, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro...
E porque vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido!"

Tirando o fato das frases antinômicas não soarem originais (parecem ditos populares), a ideia de que seres iluminados possam falar na... humanidade em terceira pessoa é tão despropositadamente antiga! Desculpem, não quero mais me sentir parte da ínfima população que se sente identificada com a mais ínfima parte da população que não faz parte da população. O nome do cara só podia ser lama...

1 comment:

KS Nei said...

Mas te digo, Irajá, esse teu post do Dalai Lama ficou semanas na minha cabeça.
Em contrapartida, eu pensava em Chico Buarque na 1a pessoa do singular:

"Agora eu era o heroi e o meu cavalo só falava ingles".

Essas duas situações, o Dalai e Chico, ficavam se degladiando na minha cachola como dois cavaleiros medievais.

Também tem o lance de que nunca gostei muito de Nietzsche por essa abordagem eu, homens, humanidade e simios. Nada é pessoal nesse bigode. Alias, em vários desses clássicos da sabedoria humana.

Finalmente, obrigado por esse post.