Sunday, May 29, 2011

Podemos dizer que a experiência especificamente americana ensinou aos homens da revolução [ * ] que a ação, mesmo que se inicie no isolamento e seja decidida por pessoas individuais pelos mais variados motivos, só pode ser efetivada com algum esforço conjunto em que a motivação de cada um deixa de contar, de modo que a homogeneidade de origem ou passado, que é o princípio decisivo do Estado nacional, deixa de ser um requisito. O esforço conjunto nivela com grande eficiência as diferenças de origem e qualidade. Aqui, ademais, podemos encontrar a raiz do surpreendente dito "realismo" dos Pais Fundadores [ * ] em relação à natureza humana. Eles podiam ignorar a proposição revolucionária francesa de que o homem é bom fora da sociedade, em algum estado original fictício, que era, afinal, a proposição da era do Iluminismo. Podiam ser realistas e até pessimistas neste aspecto porque sabiam que os homens, como quer que fossem em sua singularidade, eram capazes de se unir numa comunidade, que, embora composta de "pecadores", não precisaria refletir necessariamente esse lado "pecaminoso" da natureza humana. Dessa maneira, o mesmo estado social que, para seus colegas franceses, tinha se tornado a raiz de toda a maldade humana, era para eles a única vida razoável em que poderiam se salvar do mal e da desgraça, vida à qual os homens eram capazes de aceder mesmo neste mundo, e mesmo por iniciativa própria, sem qualquer auxílio divino. Aqui, aliás, também podemos discernir a verdadeira origem da versão americana, sujeita a tantos mal-entendidos, da crença então corrente na perfectibilidade humana. Antes que a filosofia americana comum sucumbisse aos conceitos rousseaunianos a esse respeito - o que só veio a acontecer no século XIX -, a fé americana não se baseava absolutamente numa confiança quase religiosa na natureza humana, mas, ao contrário, na possibilidade de refrear a natureza humana em sua singularidade graças a promessas mútuas e a obrigações comuns. A esperança para o homem em sua singularidade consistia no fato de que não é o Homem, e sim os homens que habitam a terra e formam um mundo entre eles. É a mundanidade humana que salvará os homens das armadilhas da natureza humana. E por isso o argumento mais forte que John Adams [ * ] pôde desferir contra um corpo político dominado por uma única assembleia foi que ele estaria "sujeito a todos os vícios, loucuras e fraquezas de um indivíduo".

A isso se relaciona  intimamente a percepção da natureza do poder humano. À diferença da força, que é dote e posse de cada homem isolado contra todos os outros homens, o poder só nasce se e quando os homens se unem com a finalidade de agir, e desaparece quando, por qualquer razão, eles se dispersam e abandonam uns aos outros. Assim, prometer e obrigar, unir e pactuar são os meios de manter a existência do poder; sempre que os homens conseguem preservar o poder nascido entre eles durante qualquer gesto ou ação particular, já se encontram em processo de fundação, em processo de constituir uma estrutura terrena estável que, por assim dizer, abrigue esse seu poder somado de ação conjunta. A faculdade humana de fazer e manter promessas guarda um elemento da capacidade humana de construir o mundo. Assim como as promessas e acordos tratam do futuro e oferecem estabilidade no oceano de incertezas do porvir, onde o imprevisível pode irromper de todos os lados, da mesma forma as capacidades humanas de constituir, fundar e construir o mundo sempre remetem mais a nossos "sucessores" e à "posteridade" do que a nós mesmos e à nossa época. A gramática da ação: a ação é a única faculdade humana que requer uma pluralidade de homens; a sintaxe do poder: o poder é o único atributo humano que se aplica exclusivamente ao entremeio mundano onde os homens se relacionam entre si, unindo-se no ato da fundação em virtude de fazer promessas, o que, na esfera da política, é provavelmente a faculdade humana suprema. 

Hannah Arendt - Sobre a Revolução - capítulo 4. Fundação I: Constitutio libertatis - pgs. 226, 227, 228

Friday, May 27, 2011

Maggie's Farm
(Bob Dylan)

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

Well, I wake in the morning
Fold my hands and pray for rain
I got a head full of ideas
That are drivin’ me insane
It’s a shame the way she makes me scrub the floor
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more

Well, he hands you a nickel
He hands you a dime
He asks you with a grin
If you’re havin’ a good time
Then he fines you every time you slam the door
I ain’t gonna work for Maggie’s brother no more

I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more

Well, he puts his cigar
Out in your face just for kicks
His bedroom window
It is made out of bricks
The National Guard stands around his door
Ah, I ain’t gonna work for Maggie’s pa no more

I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more
No, I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more

Well, she talks to all the servants
About man and God and law
Everybody says
She’s the brains behind pa
She’s sixty-eight, but she says she’s twenty-four
I ain’t gonna work for Maggie’s ma no more

I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more
No, I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

Well, I try my best
To be just like I am
But everybody wants you
To be just like them
They sing while you slave and I just get bored
I ain’t gonna work on Maggie’s farm no more

Copyright © 1965 by Warner Bros. Inc.; renewed 1993 by Special Rider Music

Thursday, May 26, 2011


Nada é pra já!

6h03 - Quando, afinal, os evangélicos americanos vão entender que o mundo não tem data para acabar? O tal pastor Howard Camping remarcou para 21 de outubro o apocalipse que previu inicialmente para o sábado passado, como se o fim do mundo não fosse um desafio cotidiano e, sobretudo, subjetivo. Esta semana, por exemplo, ele assumiu forma de vulcão nos aeroportos europeus, de tornado no Missouri (EUA) e de Código Florestal em Brasília.

A despeito da globalização, o fim do mundo – literal ou figurado – é, quase sempre, um fenômeno local. No Japão, por exemplo, ninguém nem sabe quem é Antonio Palocci, embora aqui no Brasil o ministro tenha status de risco atômico no governo Dilma. Outra coisa: está chovendo horrores no Nordeste, mas quem se preocupa com isso no resto do País?

Há casos, inclusive, de vizinhos que, mesmo compartilhando aflições, não chegam a um consenso sobre a leitura do noticiário. Quer ver só? Na sua opinião, caro(a) leitor(a), a prisão do jornalista Pimenta Neves com 11 anos de atraso é o fim do mundo ou uma esperança de que ele não vai acabar sem que a gente veja o ex-médico Roger Abdelmassih na cadeia? Pense com calma, tem tempo!

http://blogs.estadao.com.br/tutty/

Wednesday, May 25, 2011

O Assessor de Imprensa
(ou, variações sobre o tema do politicamente correto)

Adilson Laranjeira despacha em uma sala claustrofóbica, no Bexiga, com paredes de tinta gasta, uma janela tão pequena que lembra um basculante, e uma televisão que vive ligada. Sobre a mesa jazem jornais amarfanhados, vidros de xarope expectorante e um telefone celular antigo. Aos 69 anos, tem um tom de voz gutural e um corpanzil acima do peso que faz a camisa de botões quase estourar. A calça jeans, presa por um cinto de couro, divide seu abdome em dois hemisférios plutônicos. O cabelo louro-grisalho, penteado para trás, encima um rosto avermelhado. Os óculos de pesada armação transparente realçam os olhos claros e permanentemente arregalados. Laranjeira tem lábios finos e uma risada estrondosa. Parece um personagem bonachão de desenho animado.

do perfil de Adilson Laranjeira, assessor de imprensa de Paulo Maluf por mais de 10 anos, publicado na Piauí nº 36

Outra passagem:

Laranjeira atribui as constantes acusações a Maluf a uma perseguição. [...] Ele também vê a cobertura dos repórteres com reservas. "Jornalista não tem noção de número. Já publicaram que o Paulo teria 1,5 bilhão de dólares no exterior." Fez uma pausa e repetiu, cadenciado: "Veja bem, -la-res. Nem o Bill Gates tem isso depositado em cash. O sujeito escreve e não pára para pensar", afirmou.

Ele fala de jornalismo com autoridade. Foi chefe de reportagem da Folha de S. Paulo. Laranjeira era um chefe à primeira vista atemorizante: enorme, sarcástico, entediado e cheio de perguntas pertinentes e destrutivas aos jovens repórteres que voltavam da rua certos que tinham uma boa matéria. Só levantava da cadeira para discutir a primeira página com o diretor de redação, Boris Casoy. Ambos muito altos, loiros, corpulentos e mancos, eles atravessavam a redação adernando, batendo os ombros um no outro sincopadamente. Com a convivência, Laranjeira se mostrava bem mais agradável. Era louco por cinema americano, conhecia Hitchcock a fundo e tinha um repertório formidável de piadas racistas (agora, nesses tempos politicamente corretos, só conta aos mais chegados), que faziam o seu amigo Paulo Francis ter síncopes de tanto rir.

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-36/esquina/-nao-tem-nem-nunca-teve-conta-no-exterior

Sunday, May 22, 2011


Mesmo falantes cultos não seguem a norma padrão

Pesquisa mostra que entre brasileiros com nível superior só 5% usam pronomes da forma recomendada

Análise leva em conta mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde a década de 1970 em cinco capitais

ANTÔNIO GOIS - DO RIO

"Os menino pega o peixe e colocam na mesa." O leitor mais escolarizado provavelmente estranhará a falta de concordância na frase anterior entre o artigo e o substantivo e entre o sujeito e o verbo. Mas há algo mais nela em desacordo com o que é ensinado em gramáticas.

Falta o pronome oblíquo "o", para que a frase, agora escrita em total acordo com a norma padrão, fique assim: "Os meninos pegam o peixe e colocam-no na mesa."

Análise de mais de 1.500 horas de entrevistas gravadas desde 1970 em cinco capitais revelam que mesmo os brasileiros de nível universitário, na fala, usam variedades linguísticas em desacordo com a norma padrão.

Estudos feitos a partir do projeto Nurc (Norma Linguística Culta Urbana) e do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua revelam, por exemplo, que a omissão do pronome, como no exemplo da frase que iniciou este texto, é uma das características mais comuns tanto entre os mais escolarizados quanto entre os menos instruídos.

Entre brasileiros com nível superior, não passa de 5% a frequência na fala com que o pronome é colocado em casos em que a norma padrão escrita recomendaria. Entre os menos escolarizados, o percentual é de 1%.

CONCORDÂNCIA

A diferença mais visível está na concordância em frases curtas, como em "Os menino pega o peixe", mais comum entre os menos escolarizados.

As pesquisadoras Dinah Callou, Eugenia Duarte e Célia Lopes, da UFRJ do projeto Nurc, explicam que os mais escolarizados têm maior cuidado com a concordância ao escrever. Na fala coloquial, porém, o monitoramento é menor e ela se aproxima das variantes populares.

"Para espanto de muitos, as análises mostram que as variedades cultas não só não se distinguem muito entre si como também não se distanciam muito das variedades chamadas populares", afirmam as pesquisadoras.

Um dos mais conhecidos estudos feitos a partir da base de dados do projeto Nurc foi feito por Ataliba Teixeira de Castilho (Unicamp).

Ele afirma que uma das principais conclusões foi que, para surpresa de muitos, a língua falada por eles era também muito diferente do que era preconizado pelas gramáticas da época.

Os pronomes pessoais das gramáticas escolares (eu, tu, eles, nós, vós, eles), por exemplo, já não correspondiam mais ao que era usado na fala dos mais escolarizados, que já trocavam, desde a década de 1970, "tu" e "vós" por "você" e "vocês", além de "nós" por "a gente".

Uma das consequências é que, como explica Castilho, é cada vez menos comum o uso do sujeito oculto, já que, pela terminação do verbo, não é possível mais identificar claramente qual pronome pessoal foi ocultado.

As formas verbais de terceira pessoa são usadas com os pronomes "você" e "ele", portanto a terminação não é capaz de identificar o sujeito (por exemplo, "você fala", "ele fala"). O mesmo vale para as formas do plural ("vocês falam", "eles falam"). Com "tu" ou "vós", isso não aconteceria. A terminação seria suficiente para que o interlocutor descobrisse qual era o sujeito da frase.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2205201115.htm

Saturday, May 21, 2011

Neste counter é uma dezena
Já naquele, centena e meia
É que de um gadget pro outro, nenêm,
As conta vareia

após uma explosão inaudita de visualizações e comentários no dia 18 de maio

Thursday, May 19, 2011

Uma coisa é uma coisa
Outra é outra, isso é ok
A questão é que o Caetano
Não concorda com o Nei

(Redondilhas com molho lusitano pro corsário )

Wednesday, May 18, 2011

MARCELO COELHO 

Politicamente fascista 

Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer "incorreto"

O comediante Danilo Gentili pediu desculpas pela piada antissemita que divulgou no Twitter. A saber, a de que os velhos de Higienópolis temem o metrô no bairro porque "a última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz".

Aceitar suas desculpas pode ser fácil ou difícil, conforme a disposição de cada um. O difícil é imaginar que, com isso, ele venha a dizer menos cretinices no futuro.

Não aguentei mais do que alguns minutos do programa "CQC", na TV Bandeirantes, do qual é ele uma das estrelas mais festejadas. Mas há um vídeo no YouTube, reproduzindo uma apresentação em Brasília do seu show Politicamente Incorreto, em outubro de 2010.

Dá para desculpar muita coisa, mas não a falta de graça. O nome oficial do Palácio do Planalto é Palácio dos Despachos, diz ele. "Deve ser por isso que tem tanto encosto lá." Quem o construiu foi Oscar Niemeyer, continua o humorista. E construiu muitas outras coisas, como as pirâmides do Egito.

A plateia tenta rir, mas só fica feliz mesmo quando ouve que Lula é cachaceiro, ou que (rá, rá) o nome real de Sarney é Ribamar. Prossegue citando os políticos que Sarney apoiou; encerra a lista dizendo que ele só não apoiou o próprio câncer porque "o câncer era benigno".

Os aplausos e risadas, pode-se acreditar, vêm menos da qualidade das piadas e mais da vontade de manifestação política do público. Detestam-se, com razão, os abusos dos congressistas brasileiros. Só por isso, imagino, alguém ri quando Gentili diz preferir que a capital do país ficasse no Rio: "Lá pelo menos tem bala perdida para acertar deputado".

Melhor parar antes que eu fique sem respiração de tanto rir. Como se vê, em todo caso, o título do show não é bem o que parece. "Politicamente incorreto", no caso, faz referência às coisas erradas feitas pelos políticos, mais do que ao que há de chocante em piadas sobre negros ou homossexuais.

A questão é que o rótulo vende. Ser "politicamente incorreto", no Brasil de hoje, é motivo de orgulho. Todo pateta com pretensões à originalidade e à ironia toma a iniciativa de se dizer "incorreto" - e com isso se vê autorizado a abrir seu destampatório contra as mulheres, os gays, os negros, os índios e quem mais ele conseguir.

Não nego que o "politicamente correto", em suas versões mais extremadas, seja uma interdição ao pensamento, uma polícia ideológica.

Mas o "politicamente incorreto", em sua suposta heresia, na maior parte das vezes não passa de banalidade e estupidez.

Reproduz preconceitos antiquíssimos como se fossem novidades cintilantes. "Mulheres são burras!" "Ser contra a guerra é viadagem!" "Polícia tem de dar porrada!" "Bolsa Família serve para engordar vagabundo!" "Nordestino é atrasado!" "Criança só endireita no couro!"

Diz ou escreve tudo isso, e não disfarça um sorrisinho: "Viram como sou inteligente?".

"Como sou verdadeiro?" "Como sou corajoso?" "Como sou trágico?" "Como sou politicamente incorreto?"

O problema é que "politicamente incorreto", na verdade, é um rótulo enganoso. Quem diz essas coisas não é, para falar com todas as letras, "politicamente incorreto". Quem diz essas coisas é politicamente fascista.

Só que a palavra "fascista", hoje em dia, virou um termo... politicamente incorreto. Chegamos a um paradoxo, a uma contradição.

O rótulo "politicamente incorreto" acaba sendo uma forma eufemística, bem-educada e aceitável (isto é, "politicamente correta") de se dizer reacionário, direitista, fascistoide.

A babaquice, claro, não é monopólio da direita nem da esquerda. Foi a partir de uma perspectiva "de esquerda" que Danilo Gentili resolveu criticar "os velhos de Higienópolis" que não querem metrô perto de casa.

Uma ou outra manifestação de preconceito contra "gente diferenciada", destacada no jornal, alimentou a fantasia mais cara à elite brasileira: a de que "elite" são os outros, não nós mesmos. Para limpar a própria imagem, nada melhor do que culpar nossos vizinhos.

Os vizinhos judeus, por exemplo. É este um dos mecanismos, e não o vagão de um metrô, que ajudam a levar até Auschwitz.

Wednesday, May 11, 2011


Deus castiga!

NORDESTE // CRIME

Homem invade igreja na Paraíba, destrói imagens sacras, sofre infarto e morre

Um homem invadiu uma igreja na cidade de Catingueira, no Sertão da Paraíba, destruiu as imagens sacras e depois teve um infarto e morreu. O crime ocorreu nessa terça-feira (10). Edmílson Jovino também agrediu o padre. As informações são do jornal Folha da Paraíba.

Segundo informações do padre Fabrício Dias Timóteo, o Círio Pascal e as imagens sacras do Cristo Crucificado e de Nossa Senhora de Fátima foram destruídas após a novena. “Ele estraçalhou logo de imediato um ventilador de pé. Ele pegou a haste desse ventilador e veio em minha direção quando me reconheceu como padre. Ele tentou me agredir com esta haste, eu me defendi, mas ele ainda conseguiu me dar um soco”, disse o padre.

Após invadir e destruir imagens sacras, Edmílson foi até a Praça da Matriz, onde foi capturado por populares e, em seguida, entregue à Polícia. Logo em seguida, ele começou a passar mal e morreu. “Segundo o parecer de alguns médicos, houve um infarto, um problema cardíaco fulminante”, disse o padre Fabrício Dias.

Por enquanto, a igreja permanece fechada até que seja feito o ato de desagravo que também pode ser chamada de ato de reparação. Ainda não se sabe se as imagens sacras vão ser restauradas ou subtituídas.

A Tropicália representou um momento muito rico da música brasileira e um envolvimento com diversas tendências: a música nordestina, a música erudita, a música pop internacional e local, Roberto Carlos, Luiz Gonzaga. Esse movimento dialogava também com outras coisas muito fortes como a Bossa Nova, a Jovem Guarda, o samba. A partir do momento Tropicália o entendimento de música brasileira mudou bastante.

Eu, pessoalmente, não me considero filho de Caetano, nem sobrinho de Ariano (o escritor Ariano Suassuna). Sou mais descendente de Augusto dos Anjos do que um descendente direto do tropicalismo.

A minha geração foi trabalhando com caco, com lixo, com coisas que aparentemente não prestavam mais, como misturar música brasileira com influências da Índia, da África, do pop americano, do pop britânico e tal. Eu me apropriei de diversos elementos como os que o Tropicalismo havia lançado e fui percebendo isso no meio do caminho. Eu sabia que eu não estava inventando nada e que isso já tinha acontecido lá atrás. Para quem vem fazendo música como eu, dos anos 80 para cá, é inevitável que algo feito por esse grupo formado por Tom Zé, Capinan, Gil, Caetano, Rogério Duprat, Os Mutantes, Gal Costa, não tenha deixado uma marca. A marca deles está aí e parte dessa marca está em nós. Mas a gente não pode ver Gil e Caetano como uma árvore tão grande, cuja sombra impeça os outros de serem vistos e que outras manifestações não possam aparecer, sendo entendidas em sua particularidade.

Quando os tropicalistas fizeram uma festa para a Rede Globo, um programa chamado, sei lá… “Tropicalismo, todos os anos ou 30 anos”, os herdeiros do Tropicalismo a quem eles levaram foram os cantores de axé music. Eu acho então que a vitória mercadológica do Tropicalismo tem herdeiros muito claros, mercadológicos. Já está dito. A grande mãe Globo junto com os patriarcas do Tropicalismo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, já disseram isso. Foi feito um evento para dizer isso.

Torquato morreu, Tom Zé foi “exilado”, Capinan vive de dar cursos e o lado do Tropicalismo que se sobrepôs e apareceu nos últimos 20 anos foi esse lado de maior generosidade com o mercado, aí na hora de apontar os herdeiros é a Banda Eva etc. É isso. O herdeiro comercial do Tropicalismo é o axé music. Mas o herdeiro ideológico do Tropicalismo, o herdeiro estético nós não sabemos quem é.

As pessoas que fazem música se apropriam de tudo o tempo inteiro, se apropriam de tecnologias, de posturas etc. e essa foi, inclusive, a atitude dos tropicalistas. Talvez nós vivamos hoje uma superação do conceito de herança. Não há mais herança, há apropriação. Isso que se chama de herança que, por um lado, se considera positiva e ela é positiva — e também elogiosa aos pseudo herdeiros — diminui o trabalho que as pessoas tiveram para reconstruir um conceito de música brasileira que estava se indo por água abaixo.

O que eu sinto como importante pra a gente que está surgindo agora é reconhecer que não há um pai. Eu não me reconheço nesse pai e esse pai também não me reconhece.

Eu, Carlinhos Brown, Lenine e Chico Science surgimos mais ou menos na mesma época. Essas pessoas vinham fazendo música durante todos os anos 80, mas elas só apareceram na metade dos anos 90. Aí eu acho que não se pode creditar o aparecimento dessas pessoas à herança pura e simples do Tropicalismo. Talvez alguém possa se apressar e assumir-se como herdeiro por pura lisonja.

A influência maior da Tropicália é a Geléia Geral, isso nós temos, isso é inegável. Nós existimos, em parte, porque o Tropicalismo existiu e, em parte, apesar dele, porque é uma coisa tão sólida e tão bem plantada que quase impede que outras coisas apareçam como pensamento, como marketing, como tudo. Creio que a nossa influência maior (pelo menos nós os nordestinos) é Luís Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Esses dois e, em menor medida, João do Vale, na minha opinião, são os primeiros artistas pop do Nordeste. Depois vem essa coisa de colocar tudo na centrífuga que o Tropicalismo fez. Essa atitude centrífuga de pegar tudo, botar ali como diz o Lenine: fazendo um creme rinse de um abacate e combinando coisas aparentemente incombináveis.

Essa reflexão que nós fazemos hoje sobre o Tropicalismo eu creio que encerra o próprio ciclo do Tropicalismo. Acho que essa reflexão é como olhar o brilho de uma estrela que já morreu. A estrela continua brilhando, mas já morreu. Em vez de dizer que o Tropicalismo está vivo é melhor dizer: Tom Zé está vivo, Caetano Veloso está vivo, Gilberto Gil está vivo, Gal Costa está viva. Quer coisa menos tropicalista do que Gal Costa hoje? Nada, nada a ver.

http://tropicalia.com.br/ruidos-pulsativos/herdeiros-musicais/chico-cesar

Tuesday, May 10, 2011




Leonard - Hey, Raj, você vem com a gente jantar?

Raj - O cara solitário e os dois casais felizes? Prefiro consultar um proctologista leproso que termine o exame com um dedo a menos.

The Big Bang Theory


eubioticamente atraídos*
identisignificados*
* http://tropicalia.com.br/

Sunday, May 08, 2011

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-55/memorias-vertiginosas/rakudianai

Meus pais estavam lá. Eu estava vivo e inteiro, e era somente isso que importava. No caminho para casa, pedi que meu pai parasse o carro quando vi, do outro lado da rua, um pipoqueiro. Foi um impulso. Fiz questão de comprar eu mesmo a pipoca; meu pai me aguardou ao volante. Atravessei a rua e demorei-me um pouco na frente do pipoqueiro antes de pedir um saquinho. Ele tinha poucos dentes, o carrinho era seu único bem. Não tenho pressa, espero pela pipoca quentinha.

Um longo tempo. A panela no fogo, o estouro gradual, o crescendo sinfônico das pipocas. O trajeto da panela ao vasilhame de vidro, do vasilhame ao saquinho. O sal branco que caía e escorria invisível entre as pipocas, de cima para baixo, tropeçando nas suas reentrâncias tortuosas, até depositar-se em silêncio no fundo do saquinho.

A vida fazia sentido nas coisas simples: separar a pipoca boa do grão encruado, sentir o sabor de cada pipoca, uma a uma, sentir o sal e o milho, amassar o saquinho vazio, cruzar a rua e voltar sem pressa para o carro. Eu morava naquela pipoca, e me encontrava além da revolução, dos sacrifícios, da nobreza de ideais, da democracia e da liberdade.

Mesmo levando em conta o tempo da pipoca, não demorei mais do que uns vinte minutos para chegar em casa. Algo havia de errado, no relógio ou na geografia. Minha casa não poderia ser tão perto assim dos centros de tortura.

Fiquei tonto, o mundo rodou por um instante, quase uma labirintite. Porque se você chega em casa em vinte minutos, os torturadores podem levar você de volta nos mesmos míseros vinte minutos. As prisões deveriam ser em locais longínquos, num canto perdido na Sibéria, e não ali, no meio da cidade. Na geografia brasileira a tortura morava ao lado, era uma vizinha atenta.

Persio Arida, logo após ser libertado dos porões da Oban e do Dops

No Cafofo do Osama


http://blogs.estadao.com.br/tutty/

Acontece sempre que a polícia carioca apresenta à imprensa o esconderijo de um chefe do tráfico abatido ou expulso do morro: os sinais de riqueza aparente do bandido são sempre superlativados no noticiário. Ar condicionado no quarto dá ao cafofo status de imóvel de luxo. Se tiver TV de plasma na sala e piscininha na varanda, aí vira “mansão”. A ideia, imagino, é sublinhar que o safado vivia melhor que a gente, caro leitor. Enfim, bem-feito pra ele – perdeu, mané!

No caso de Osama Bin Laden, até se ensaiou chamar de “palacete” o que se via pelos satélites das forças especiais americanas, impressão que foi se transformando à medida que fotógrafos e cinegrafistas se aproximavam por terra do local da execução do terrorista. O tal “condomínio de luxo”, sabe-se agora, não passava de uma cabeça de porco, com 24 moradores dividindo espaço sem telefone, janelas, videogame, banheira de hidromassagem ou TV a cabo.

Ainda assim, persiste o tratamento de “fortaleza-mansão” dispensado pela imprensa ao complexo de lajes do ex-líder da Al-Qaeda. Só o britânico ‘The Guardian’ deu-se ao trabalho de ouvir um corretor de imóveis da região para corrigir as informações dos americanos sobre o esconderijo. O que chamavam de “complexo extraordinário de US$ 1 milhão em bairro chique de Abottabad” foi reavaliado em “US$ 250 mil (20 milhões de rúpias), se tanto, dado à mediocridade da vida em Bilal Town”.

Pode até não ser a maior mentira envolvendo a execução de Bin Laden, mas nenhuma outra soa tão desnecessária. Afora o galinheiro próprio e a quantidade de bode adquirido no açougue, os jornais destacam como sinal de abastança do terrorista os gastos da família na vendinha da esquina, com ênfase no consumo de Coca-Cola, Pepsi, leite Nestlé e “xampu da melhor qualidade”. Só quem já viveu em caverna sabe que espécie de luxo é esse, né não?

Localizado a partir do rastreamento do CPF que usou em seus carnês das Casas Bahia, Bin Laden é visto aqui testando o gato recém-instalado da NET

Folha de São Paulo Opinião em domingo inspirado

'Desde que em comum acordo e sem envolver menores, não há nada de intrinsecamente errado com homossexualismo, masoquismo, sadismo, fetichismo, coprofilia, zoofilia (se o animal em questão não se opuser) e nem mesmo com a vida monástica'. 

Hélio Schwartsman - Felizes Para Sempre, sobre o Supremo Tribunal Federal ter estabelecido que a figura da união estável vale também para casais homossexuais.


'O surto inflacionário é bom momento para se tomar a sempre difícil decisão entre descer para comprar mais birita ou começar, o quanto antes, a arrumar o salão'.

Fernando Canzian - Drink em Festa Ruim, sobre o "porre" de crédito ao consumo do governo Lula e consequentes perspectivas inflacionárias na gestão de Dilma Roussef.


'Era um símbolo do mal, responsável pelo maior crime dos tempos modernos, comparável a um Hitler ou a um Stálin'.

Carlos Heitor Cony - Corpo de Delito, sobre Osama Bin Laden

Saturday, May 07, 2011

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo – incluindo todas as grandes potências – organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Foi a guerra mais abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados. Em estado de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade econômica, industrial e científica a serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção entre recursos civis e militares. Marcado por um número significante de ataques contra civis, incluindo o Holocausto e a única vez em que armas nucleares foram utilizadas em combate, foi o conflito mais letal da história da humanidade, com mais de setenta milhões de mortos.

Geralmente considera-se o ponto inicial da guerra como sendo a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista em 1 de setembro de 1939 e subsequentes declarações de guerra contra a Alemanha pela França e pela maioria dos países do Império Britânico e do Commonwealth. Alguns países já estavam em guerra nesta época, como Etiópia e Itália na Segunda Guerra Ítalo-Etíope e China e Japão na Segunda Guerra Sino-Japonesa.[2] Muitos dos que não se envolveram inicialmente acabaram aderindo ao conflito em resposta a eventos como a invasão da União Soviética pelos alemães e os ataques japoneses contra as forças dos Estados Unidos no Pacífico em Pearl Harbor e em colônias ultramarítimas britânicas, que resultou em declarações de guerra contra o Japão pelos EUA, Países Baixos e o Commonwealth Britânico.

A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o alinhamento político e a estrutura social mundial. Enquanto a Organização das Nações Unidas era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam como superpotências rivais, preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e seis anos. Nesse ínterim, a aceitação do princípio de autodeterminação acelerou movimentos de descolonização na Ásia e na África, enquanto a Europa ocidental dava início a um movimento de recuperação econômica e integração política.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Segunda_Guerra_Mundial

Aldous Huxley parafraseando Erich Fromm

"A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, dirige-se cada vez menos para a saúde mental, e tende  a sabotar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amor no ser humano; tende a transformá-lo num autômato que paga o seu fracasso com as doenças mentais cada vez mais frequentes e desespero oculto sob um delírio pelo trabalho e pelo chamado prazer."

As nossas "doenças mentais cada vez mais frequentes" podem achar manifestação em sintomas neuróticos. Estes sintomas são patentes e extremamente perigosos. Mas, "cuidemo-nos", diz o Dr. Fromm, "de definir a higiene mental como prevenção de sintomas. Os sintomas, como tais, não são nossos inimigos, porém, nossos amigos; onde há sintomas há conflito, e conflito indica sempre que as forças da vida, que pugnam pela harmonização e pela felicidade, ainda lutam". (...) "Muitos dos que são normais, são-no porque se encontram tão bem adaptados ao nosso modo de viver, porque as suas vozes humanas ficaram reduzidas ao silêncio tão cedo em suas vidas, que nem porfiam ou sofrem, ou exibem sintomas como o neurótico".

O seu perfeito ajustamento a esta sociedade anormal dá a proporção de sua doença mental. Estes milhões de indivíduos normais que vivem sem aparato numa sociedade a que, se fossem seres plenamente humanos, não deveriam estar adaptados, ainda acariciam "a ilusão da individualidade", mas de fato foram em larga escala desindividualizados. A sua conformidade continua evoluindo para algo como a uniformidade. Mas, "uniformidade e liberdade são contraditórias. A uniformidade e a saúde mental são igualmente incompatíveis... O homem não foi preparado para ser um autômato, e se se transforma em autômato, a base da saúde mental está arruinada".

Aldous Husley - Regresso ao Admirável Mundo Novo / 3 - Superorganização

Tuesday, May 03, 2011