O Assessor de Imprensa
(ou, variações sobre o tema do politicamente correto)
Adilson Laranjeira despacha em uma sala claustrofóbica, no Bexiga, com paredes de tinta gasta, uma janela tão pequena que lembra um basculante, e uma televisão que vive ligada. Sobre a mesa jazem jornais amarfanhados, vidros de xarope expectorante e um telefone celular antigo. Aos 69 anos, tem um tom de voz gutural e um corpanzil acima do peso que faz a camisa de botões quase estourar. A calça jeans, presa por um cinto de couro, divide seu abdome em dois hemisférios plutônicos. O cabelo louro-grisalho, penteado para trás, encima um rosto avermelhado. Os óculos de pesada armação transparente realçam os olhos claros e permanentemente arregalados. Laranjeira tem lábios finos e uma risada estrondosa. Parece um personagem bonachão de desenho animado.
do perfil de Adilson Laranjeira, assessor de imprensa de Paulo Maluf por mais de 10 anos, publicado na Piauí nº 36
Outra passagem:
Laranjeira atribui as constantes acusações a Maluf a uma perseguição. [...] Ele também vê a cobertura dos repórteres com reservas. "Jornalista não tem noção de número. Já publicaram que o Paulo teria 1,5 bilhão de dólares no exterior." Fez uma pausa e repetiu, cadenciado: "Veja bem, dó-la-res. Nem o Bill Gates tem isso depositado em cash. O sujeito escreve e não pára para pensar", afirmou.
Ele fala de jornalismo com autoridade. Foi chefe de reportagem da Folha de S. Paulo. Laranjeira era um chefe à primeira vista atemorizante: enorme, sarcástico, entediado e cheio de perguntas pertinentes e destrutivas aos jovens repórteres que voltavam da rua certos que tinham uma boa matéria. Só levantava da cadeira para discutir a primeira página com o diretor de redação, Boris Casoy. Ambos muito altos, loiros, corpulentos e mancos, eles atravessavam a redação adernando, batendo os ombros um no outro sincopadamente. Com a convivência, Laranjeira se mostrava bem mais agradável. Era louco por cinema americano, conhecia Hitchcock a fundo e tinha um repertório formidável de piadas racistas (agora, nesses tempos politicamente corretos, só conta aos mais chegados), que faziam o seu amigo Paulo Francis ter síncopes de tanto rir.
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-36/esquina/-nao-tem-nem-nunca-teve-conta-no-exterior
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