Sunday, February 12, 2012

[...] a arte de Amilcar de Castro, se rejeita a formalização demasiado unívoca de muitos construtivistas tardios, abre-se para o exterior - ou melhor, trabalha para concretizá-lo. A monumentalidade posta de pé por esse movimento deve portanto afastar qualquer dimensão simbólica - a versão pré-moderna da imponência - com o que ela tem de intimidação e apequenamento do observador.

[...] Essas peças porém, com sua vontade de possibilitar a comunicação entre os seres, não são propriamente extrovertidas. Não saem por aí acenando aos primeiros que passam. As esculturas de corte e deslocamento, sem dobras - que começam a ser feitas em 1972 - , deixam isso claro. Um jogo de leveza e contração as organiza e nenhum desses dois movimentos obtém primazia. A grande espessura das chapas - que nesses trabalhos chega a quatro polegadas, enquanto nos de corte e dobra tem no máximo duas polegadas - e suas dimensões reduzidas conferem um aspecto atarracado às obras. De fato, elas não demonstram a mesma desenvoltura das esculturas de corte e dobra. Cismadas e circunspectas, elas teimam em ser mais lugar do que espaço.


Rodrigo Naves - Amilcar de Castro: matéria de risco - A Forma Difícil: ensaios sobre arte brasileira.

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