Monday, June 30, 2025

30 de junho de 2015

NO COUNTRY FOR OLD MEN

Tenho 52 anos de idade e já vi o Brasil em situações muito  —  mas, muito  —  piores. E, no entanto, ele se moveu.

Tenho 52 anos e nunca vi o jornalismo brasileiro num buraco tão fundo.

Não há Tribunal de Inquisição que faça o Sol voltar a girar em torno da Terra quando os meios técnicos se transformam.

Assim como a Indústria Fonográfica nos anos 90, o business de notícias em seus moldes século XX está em vias de desaparecimento.

Qualquer orelha de manual de psicanálise explica o catastrofismo de nossa grande mídia: chama-se "projeção".

Querem vender um Dilúvio, mas, na verdade, trata-se apenas de um concorridíssimo abraço de afogados.

Thursday, June 19, 2025

20 de junho de 2015

Aqui vai um vídeo que reflete - com profundidade - sobre os quocientes de preconceito embutidos nos nossos palavrões. Quem me indicou foi um amigo querido que sabe manter a flexibilidade do pensamento. Que sabe se divertir com a ideia de que "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa".

Sobre o radialista Ricardo Boechat, a coisa é que até as pedras caídas da Muralha de Jericó perceberam que o estado permanentemente exaltado de Malafaia denota desejos reprimidos. Malafaia sempre esteve à procura de algo que satisfaça sua excitação.

Bem sabemos que a rôla "não é solução para tudo" e que é uma enorme bobagem pretender que "todo homofóbico é um homossexual enrustido".

Acontece que aconteceu de um radialista mainstream, de perfil masculino normalopata, desses que fazem piadas falocentradas, tirar da garganta de todo mundo o que andava há tempos querendo sair. 

Num mundo ideal não mandaremos ninguém tomar no... pois isso é homofóbico, nem diremos a alguém "seu filho da..." pois é misógino; não desabafaremos porque "a coisa está preta", por ser racista, nem usaremos mais o termo "judiação", por suas conotações anti-semitas.

Nesse possível futuro tempo da delicadeza, não precisaremos da ajuda de um típico macho alfa branco como Ricardo Boechat para nos representar, pois vendilhões como Silas Malafaia, simplesmente, terão sido expulsos do templo.

Por enquanto, é necessário registrar que, antes de enfiar a rôla no discurso, Boechat se valeu de vocabulário amplo: idiota, paspalhão, pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia, otário, homofóbico, figura execrável, horrorosa, charlatão.

Quanto nos ofendem as dinâmicas da comunicação de massa? Quanto nos proibimos de rir do desnudamento do charlatão, na praça do mercado e pelas normas do mercado? Quanto negamos o poder impuro da rua? Da indústria cultural? E quanto nos permitimos desfrutar das vitórias provisórias?

"Malafaia, vá procurar uma rôla", apesar de infantiloide, misógino e patriarcal, expôs o farisaísmo do pastor. “Você usa o nome de Deus para tomar dinheiro de fiéis. Você é tomador de grana, você e muito outros”. Boechat construiu seu discurso em seus próprios termos. Conseguiu coerência entre a forma e o conteúdo. Nesse processo de individuação, representou milhões de pessoas. Aceitemos ou não, barrou o sermão de Malafaia. E isso é o que tivemos para hoje.