Friday, August 01, 2025

Barbárie

A questão de saber quem é verdadeira e plenamente um ser humano, com os direitos inalienáveis que isso confere, não é nova, mas se coloca hoje em novos termos que não podem deixar indiferente quem se interessa pela educação.

A questão não é nova. "Bar, bar", diziam os gregos, zombando da forma de falar dos persas. O bárbaro nem mesmo sabe falar corretamente, é grosseiro, selvagem, mais ou menos cruel, sempre pronto a nos invadir. Mas a ideia de barbárie é ainda mais radical: existe barbárie em qualquer situação, encontro, relação entre humanos na qual um nega a humanidade do outro. O bárbaro, aos olhos do "civilizado", é radicalmente outro; ele tem aparência humana, mas se pode duvidar que seja verdadeiramente um homem e, portanto, pode ser tratado como um objeto, eliminado se for incômodo e, com certeza, ser maltratado e reduzido à escravidão. De modo que, por inversão da situação, o "civilizado" trata aquele que considera "bárbaro" com métodos cruéis, sanguinários, indignos de um ser humano e que podem, por sua vez, ser qualificados de bárbaros. Ao considerarmos o outro como um bárbaro, acabamos sempre nos comportando de forma bárbara  torturando, acendendo fogueiras, cortando cabeças, colocando ou lançando bombas, reduzindo à escravidão etc. Aquele que nega a humanidade do outro, rompe o vínculo de pertencimento a um mundo comum e, ao mesmo tempo, coloca a si próprio fora da humanidade: a barbárie é contagiosa.

Educação ou Barbárie? Uma escolha para a sociedade contemporânea. © 2020, Bernard Charlot. Tradução Sandra Pina. Cortez Editora.

Imagem: Gaza City. Omar Al-Qattaa /AFP / Getty Images. Outubro, 2024.