Sunday, November 02, 2025

2 de novembro de 2018

Mudando o mood, saindo um pouco do deboche, é evidente que a eleição do Bolsonaro acendeu em todo mundo o temor da tomada do poder pelo Exército brasileiro (em algum tipo de combinação mais ou menos explícita entre FFAA e setores da sociedade civil). Pois eu tenho um palpite. O Exército, em sentido estrito, vai permanecer 'na dele'. Uma, porque nada indica que teremos ações de resistência que venham a justificar o chamamento de soldados; outra porque já temos tudo o que é necessário para viver em estado de exceção, próximos à experiência de uma Ditadura. E se chama Polícia. Aliás, nos períodos mais tenebrosos de Hitler e Stalin (e regimes totalitários posteriores), a rotina da repressão sempre esteve a cargo da polícia, não do exército. Hannah Arendt se refere constantemente a um 'Estado Policial': a autoridade que tem poder para gerenciar, quarteirão a quarteirão, as delações, as propinas, a vigilância, os enquadramentos, o uso seletivo da violência. Nas periferias essa é a lei vigente desde a invenção da Polícia Militar. Recomendo a leitura de O Crime pelo Avesso: gestão dos ilegalismos na cidade de São Paulo, da professora Alessandra Teixeira. É aterrador, mas muito instrutivo. Aquilo que para as populações pobres do Brasil é claro como a luz do dia, pode estar chegando ao centro do poder político de uma maneira para a qual a esquerda, fenômeno de classe média, não está preparada. Neste contexto, claramente autoritário, os bate-paus por excelência dos governos são as polícias. E se no Exército Bolsonaro será eternamente um oficial de baixa patente e, portanto, passível de, a qualquer momento, ser rejeitado, entre as polícias, tem ficado nítido, ele é ídolo. Com a figura de um Ministro da Justiça 'justiceiro', temos a 'tempestade perfeita' se armando sobre a frágil democracia brasileira.