Friday, January 28, 2011


[...] Roger Ebert, comentando o filme (A Rede Social), observa que existem tradicionalmente três atividades que produzem gênios infantis: matemática, música e xadrez. E sugere que a programação de computadores pode ser uma quarta área. Por que não? Esses geniozinhos têm cérebros capazes de façanhas espantosas mas tendem a ser tímidos, rudes, introvertidos, antissociais. Fala-se a propósito deles na Síndrome de Asperger, que é uma condição próxima do autismo. Zuckerberg, segundo os depoimentos, seria assim; Ebert o compara com Bobby Fischer, o neurótico campeão de xadrez.

A crítica de Peter Travers na Rolling Stone comenta a imagem de Zuckerberg, milionário, sentado sozinho numa sala escura, “com o rosto iluminado pela luz azul do monitor, e fingindo que não está sozinho”. É uma maneira bitolada de ver as coisas. Muita gente pulando carnaval também finge que não está sozinha. Os nerds estão reinventando o mundo à sua imagem e semelhança. Dizer que um computador não faz companhia é tão injusto quanto dizer o mesmo de um livro ou de uma vitrola tocando Beethoven. O Facebook pode dar uma simples ilusão de sociabilidade, mas esta não é mais ilusória, para as pessoas “que não se encaixam”, do que a sociabilidade em carne-e-osso de uma festinha no campus, uma platéia de rock ou um churrasco na laje. O filme mostra que o mundo está cada vez mais formatado pelos nerds, após séculos de ditadura dos extrovertidos.

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