Saturday, January 22, 2011

Um amigo meu, sabido e compositor diz assim: o Caetano está para o Chico assim como eu estou para o Caetano. Um outro amigo, também sabido mas, cientista político, ouviu e comentou: essa proposição põe um monte de coisas no seu devido lugar.

Tem um negócio a se reparar entre Chico e Caetano: enquanto Caetano adotou para sua música popular a persona de um filósofo, Chico escolheu a do narrador.

A partir dessas opções, Chico se colocou numa posição segura, de onde vem se lançando - ininterruptamente - à aventura de tentar encontrar a mais depurada expressão de seu talento.

Caetano, ao contrário, assumiu - também ininterruptamente - posição de risco. Pode-se dizer que se a posição é sempre de risco e não muda, então ela é segura. Mas, não, porque ao preferir a persona do filósofo, Caetano acabou por tentar traficar para a música popular a busca intrínseca à filosofia, a busca pela... verdade. É aí que ele dá sempre a cara pra bater. Essa coragem, sem dúvida, é admirável. Apesar de muito pouco artística.

Chico, como narrador, não quer revelar verdade nenhuma. Paradoxalmente, por isso, é muito mais moderno e "de vanguarda" que Caetano: se há uma movimentação interessante neste princípio de milênio é o valor crescente que vêm ganhando os saberes narrativos. Os saberes singulares, não redutíveis ao espaço dos grandes arcos teóricos. O saber do vivido em oposição ao saber cientificamente presumido. Os heróis de Chico Buarque montam cavalinhos-de-pau que falam inglês. Não se indagam sobre a dor e a delícia do ser. Antes, são. E tentam se entender com isso.

Chico se colocou neste lugar seguro, este lugar factível. De lá ele tem tentado construir uma obra significativa.

Caetano parece preso à própria armadilha, esforçando-se em demonstrar, por exemplo, que a retórica concretista era, como se pretendia, manifestação da verdade. Que se você tiver uma ideia incrível é, mesmo, melhor fazer uma canção. Que quando você junta qualquer coisa com qualquer outra coisa e lasca uma epígrafe, aquilo ali dá liga. Não dá. Às vezes cola. Mas sentido, não faz.

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