No amplo corredor coberto, o kuthambalam de colunas adjacentes ao coração do templo onde morava o Deus Azul com sua flauta, os tocadores de tambor tocavam e os dançarinos dançavam, suas cores girando lentamente na noite. Rahel sentou-se de pernas cruzadas, encostada no redondo de um pilar branco. Uma lata alta de óleo de coco brilhava na luz bruxuleante do lampião de latão. O óleo alimentava a luz. A luz iluminava a lata.
Não importava que a história já tivesse começado, porque o kathakali descobriu há muito que o segredo das Grandes Histórias é que elas não têm segredos. As Grandes Histórias são aquelas que você ouviu e quer ouvir de novo. Aquelas em que você pode entrar por qualquer parte e habitar confortavelmente. Elas não enganam você com truques e finais emocionantes. Elas não surpreendem você com o imprevisível. Elas são tão familiares como a casa em que se vive. Ou como o cheiro da pele do amante. Você sabe como elas terminam, mas, mesmo assim, você escuta como se não soubesse. Da mesma forma que apesar de saber que um dia vai morrer, você vive como se não fosse. Nas Grandes Histórias você sabe quem vive, quem morre, quem encontra o amor, quem não encontra. E, mesmo assim, você quer ouvir de novo.
Arundhati Roy - O deus das pequenas coisas
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