Saturday, August 27, 2011

"Me prometam que vocês vão sempre amar um ao outro", ela tinha dito, puxando os filhos para si.

"Prometo", Estha e Rahel disseram. Sem encontrar palavras para dizer que para eles não  existia nem Um, nem Outro.

Pedras de moinho gêmeas e sua mãe. Pedras de moinho entorpecidas. O que eles fizeram iria voltar para esvaziá-los. Mas isso seria Depois.

De Pois. Um som grave de sino dentro de um poço cheio de musgo. Trêmulo e veludoso como pés de mariposa.

Na época, houve só incoerência. Como se todo sentido tivesse deslizado para fora das coisas, deixando-as fragmentadas. Desconexas. O brilho na agulha de Ammu. A cor da fita. A trama da colcha de ponto de cruz. A porta se quebrando devagar. Coisas isoladas que não significavam nada. Como se a inteligência que decodifica os padrões ocultos da vida, que liga reflexos a imagens, lampejos a luz, tramas a tecidos, agulhas a linhas, paredes a quartos, amor a medo, a raiva, a remorso, tivesse repentinamente se perdido.

Arundhati Roy - O deus das pequenas coisas

No comments: