Sunday, August 21, 2011

Tinha braços curtos e grossos, dedos como minissalsichas e um nariz largo e carnoso com narinas abertas. Fundas dobras de pele ligavam seu nariz aos dois lados do queixo e separavam essa parte do rosto do resto, como um focinho. A cabeça era grande demais para o corpo. Ela parecia um feto preservado que tinha escapado de seu frasco de formol de um laboratório de Biologia e se desenrugado e engrossado com a idade.

Guardava dinheiro úmido no sutiã que apertava com força no peito para achatar aqueles seios nada cristãos. Seus brincos kunukku eram grossos, de ouro. Os lóbulos tinham se distendido com o peso e iam até seu pescoço, os brincos pousando em seus ombros como crianças alegres num carrossel. O lóbulo direito havia se rompido uma vez, e sido costurado de novo pelo dr. Verghese Verghese. Kochu Maria não podia deixar de usar seus kunukkus porque, senão, como as pessoas iam saber que, apesar de seu emprego inferior de cozinheira (setenta e cinco rúpias por mês), ela era uma Cristã Síria, Mar Thomite? Não uma pelaya, nem uma pulaya, nem uma paravan. Mas uma tocável, uma cristã de casta superior (em quem a cristandade se instalara como chá de um saquinho). Lóbulos rompidos e costurados eram, de longe, a melhor opção.

Arundhati Roy - O deus das pequenas coisas

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