Tuesday, August 23, 2011

O verde do dia tinha escorrido das árvores. Escuras folhas de palmeira se abriam contra o céu de monção como pentes pendurados. O sol cor de laranja deslizou por seus dentes tortos, ásperos.

Um esquadrão de morcegos frugívoros voou na penumbra. No jardim ornamental abandonado, Rahel, observada por anões desequilibrados e um querubim esquecido, acocorou-se junto ao tanque estagnado e ficou olhando os sapos saltando de pedra em pedra. Lindos Sapos Feios.

Viscosos. Empelotados. Coaxantes.

Príncipes ansiosos, não beijados, presos dentro deles. Comida para as cobras que se escondiam na grama alta de junho. Deslizar. Dar o bote. Fim do príncipe por beijar.

Era a primeira noite que não chovia desde que chegara.

Se estivesse em Washington, Rahel pensou, por agora eu estaria indo para o trabalho. O ônibus. As luzes da rua. A fumaça dos escapamentos. A forma da respiração das pessoas no vidro à prova de bala da minha cabina. O tilintar das moedas empurradas para mim na bandeja de metal. O cheiro de dinheiro nos meus dedos. O bêbado pontual que chega exatamente às dez da noite: "Ê, você aí! Puta preta! Chupa o meu pau!".

Tinha setecentos dólares. E uma pulseira com cabeças de cobra. Mas Baby Kochamma já havia perguntado quanto tempo mais pretendia ficar. E o que planejava fazer com Estha.

Arundhati Roy - O deus das pequenas coisas

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