OTÁVIO FRIAS FILHO. 1957 - 2018
[...] No dia 17 de setembro de 1977 Cláudio Abramo foi afastado da direção da redação da Folha de São Paulo, atendendo a pressões do ministro do Exército, em seguida à publicação de uma crônica assinada por Lourenço Diaféria e tida como ofensiva à memória do duque de Caxias. Ninguém, a rigor, se incomoda com o duque propriamente dito, mas com o símbolo. No caso sobreleva, porém, o pretexto, e resta ver se foi mais dadivoso para o imperador ou para o senhor do feudo. O ministro Sílvio Frota concorria com o general João Figueiredo à sucessão do general Ernesto Geisel, e em função da relevância do seu posto e das suas ambições, era mais cotado na bolsa das apostas. Havia mesmo quem o entendesse qualificado para liderar o enésimo golpe dentro do golpe.
Recordo uma conversa que tive com Octávio Frias de Oliveira no gabinete de Cláudio, nos últimos dias de agosto de 77. Eu tinha informações de que o confronto estava próximo e tudo me levava a crer que a dupla Geisel-Golbery preparava uma esparrela sob medida para o general Frota. Frias não concordava, duvidava das intenções de Geisel, que no seu entender ainda não escolhera o seu sucessor, e dos reais poderes de Golbery. Frota caiu exatamente 25 dias depois de Cláudio, dia 12 de outubro. E Golbery observaria: "Mas se foi Frota quem pressionou, por que não chamam Cláudio Abramo de volta à direção da redação"?
[...] Otavio Frias Filho, diretor da redação e um dos proprietários da Folha de São Paulo, em entrevista publicada pela revista Playboy de maio de 1988, parece ter uma explicação funcional e política para a ascensão e queda daqueles que define como 'os barões' do jornalismo. Trata-se de personagens carismáticas, e entre elas Cláudio Abramo é a mais vistosa. Pelos barões, o jovem Otavio manifesta respeito, com a ressalva da obsolescência, devida à resistente paixão que alimentam pelas mitologias dos anos 70. Pelo jeito, recomenda-se guardá-los em naftalina - com todo o respeito, é claro. Com afetuoso desvelo. Mas seus dias terminaram, só resta mesmo enterrá-los com honra.
A que mitologias Otavio Frias Filho se refere não se entende com clareza. Decerto é difícil distinguir velho e novo neste lugar atrasado. Temos, porém, cidadãos que se têm em conta de moderníssimos, mas até hoje poderíamos classificá-los como Lévi-Strauss definia espécimes da aristocracia paulistana há cinqüenta anos: acham-se muito refinados e não sabem como são típicos. Em todo caso, constatações desse gênero propiciam magros consolos. A oligarquia é típica, mas se mantém a cavaleiro do tempo. A gente apanha e, de quebra, tem de suportar as explicações de quem pretende justificar-se no poder com meras palavras. Fosse só com palavras, estaria apeado.
Mino Carta, Junho de 1988
PREFÁCIO a A Regra do Jogo: o jornalismo e a ética do marceneiro. Cláudio Abramo. Organização e edição: Cláudio Weber Abramo.
© Espólio de Cláudio Abramo, Fábio Cypriano, Pedro del Picchia, Wilson Ferreira Júnior e Luiz Nassif. Cia da Letras, 1989.
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