Irmãos: uma história do PCC
Presídio Presidente Venceslau 2 |
A 'problemática' do crime no Brasil não permite solução em médio prazo. Não se trata aqui do debate em torno das causas estruturais diretamente ligadas à miséria. No presente imediato a rede de interesses que se formou em torno do dinheiro produzido pelo crime é o impeditivo central. Gabriel Feltran, professor do departamento de sociologia da UFScar e diretor do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), publicou 'Irmãos: uma história do PCC', onde apresenta parte do resultado de duas décadas pesquisando o chamado 'crime organizado' no Brasil. A seguir transcrevo o texto da orelha do livro, em que Feltran e a obra são apresentados. É o primeiro de uma série de 4 posts através dos quais pretendo apresentar poucos, porém alarmantes, aspectos de um quadro que, tudo indica, só tende a se agravar diante do vácuo de propostas do novo Ministério da Justiça.
IRMÃOS: UMA HISTÓRIA DO PCC
O Primeiro Comando da Capital nasceu na cadeia, em 1993, um ano depois do Massacre do Carandiru. Legitimou sua autoridade no cárcere ao aplicar políticas de interdição do estupro, do homicídio considerado injusto e do uso de crack. Ao longo dos anos, a guerra contra os 'coisa' - como são chamados policiais, facções rivais, estupradores e alcaguetas - se tornou a contra-face da "paz entre os ladrões', premissa que impulsionou a expansão do PCC via regulação econômica de mercados ilegais e reivindicação do monopólio da força e da justiça no crime.
Em 'Irmãos', o sociólogo Gabriel Feltran oferece uma interpretação alternativa àquelas que buscam comparar o PCC com outras organizações criminosas - como os comandos cariocas, as gangues prisionais americanas ou as máfias italianas. Tendo realizado extensa etnografia nas periferias de São Paulo, seu argumento é que o modo de organização do PCC se assemelha às irmandades secretas, funcionando como uma maçonaria do crime - uma rede de apoio mútuo, pautada pelo respeito aos negócios e pela honra do outro irmão.
Feltran percorre os momentos cruciais da história do Comando desde sua criação em Taubaté até as violentas disputas entre facções a partir de 2017. Ele também retrata a presença do PCC nas dinâmicas locais e na regulação da violência cotidiana, bem como o impacto de suas ações em mercados como o de veículos roubados, que movimenta anualmente dezenas de bilhões de reais.
Original e contundente, 'Irmãos' apresenta um país em que o crime conquistou efetiva hegemonia política para parte significativa da população. Nele, o PCC emerge como uma instância de geração de renda, de acesso à proteção, de ordenamento social, de pertencimento e de identificação, desafiando o projeto de uma comunidade nacional integrada, promessa que a redemocratização não conseguiu cumprir.
No comments:
Post a Comment