Monday, July 31, 2023

31 de julho de 2018


Ao contrário do que parecia óbvio, Jair Bolsonaro saiu ileso do Roda Viva. Por ironia do destino, no mesmo dia em que Neymar Júnior virou picadinho poucos minutos depois de lançar seu comercial-desabafo pago pela Gillette.

Duas diferenças entre um e outro: apenas no YouTube do patrocinador, o camisa 10 tem quase 1 milhão de views e cerca de 60 mil likes ou deslikes. Visto que dali o vídeo viralizou, a repercussão necessariamente tem que ser medida em dezenas ou centenas de milhões, e ao redor de todo o planeta.

O Roda Viva dá traço no Ibope toda semana. Boa parte do país sequer recebe o sinal da TV Cultura.

A segunda diferença: a avalanche de críticas a Neymar partiu diretamente das redes sociais. Bolsonaro foi sabatinado pela imprensa chapa branca da eterna província constitucionalista de São Paulo.

Se havia alguma dúvida sobre a 'arena' das eleições de outubro, passou da hora de saber que só a internet vai permitir o enfrentamento do discurso do golpe. Ainda que o candidato preferencial deles seja Geraldo Alckmin, a segunda opção, Bolsonaro, tem blindagem garantida. Ao contrário, mesmo os candidatos à esquerda sem qualquer chance, como Manuela, permanecerão amordaçados. Ao golpe pertence tudo quanto de mainstream se avista na comunicação do Brasil. E a ovelha raspa o pelo, mas não perde o vício.

Outra discussão que deixa de ter sentido, se é que já teve em algum momento, passa por decidir se é bom ou ruim falar mal das pessoas ruins na internet. 'Um Novo Homem Todo Dia' bateu recordes de menções negativas. Por isso, e só por isso, 'Neymar, Gillette e agência' estudam 'reação', como noticiou o UOL, sem perder a oportunidade para o deboche: 'comercial cai mal', diz a manchete. O pelo e o vício, como queríamos demonstrar.

Bolsonaro no Roda Viva? Não foi confrontado. Repetiu o que sempre diz e ninguém ofereceu resposta - ou pergunta - à altura.

Enquanto as redes sociais transformavam a gilete do reizinho em guilhotina, o candidato a führer saiu do estúdio mais vistoso do que entrou. Barba, cabelo e bigode. Quase ninguém viu, mas os tosquiados fomos nós.

Como se não bastasse, ainda se encontra, na própria rede, gente sinceramente admirada com a eficácia da burrice de Jair Bolsonaro. Não é disso que se trata. O discurso totalitário funciona para os convertidos, não passa daí. E só vai amealhar mais adeptos enquanto não encontrar resposta. Embora Bolsonaro, estatisticamente, não seja a principal ameaça, sua ideologia nefasta precisa ser combatida. Assim como as deles, nossas ferramentas estão disponíveis. Hora de usá-las. Feito lâminas.

Publicado originalmente no Facebook

No comments: