Rolezinho 2014. 3
O 'NEGÓCIO É FARRA'?
No caso dos rolezinhos, fica cada vez mais claro que há uma disputa de narrativas em curso. Ganha quem explicar melhor a "verdadeira" motivação dos meninos e meninas que comparecem às invasões nos shoppings.
Independente, no entanto, daquilo que os venha mobilizando, esses jovens praticaram, antes de mais nada, uma ação.
E a ação coletiva, ainda que seja decidida por pessoas individuais pelos mais variados motivos, só pode ser efetivada mediante algum esforço conjunto em que a motivação de cada um deixa de contar, de modo que a homogeneidade de origem deixa de ser um requisito.
Agir, no sentido mais geral do termo, significa tomar iniciativa, iniciar, começar, imprimir movimento a alguma coisa.
A ação tem uma sintaxe própria que a conduz do começo ao fim e que está diretamente ligada ao que é mais aparente, mais verificável a "olho nu" (O espaço político, segundo Hannah Arendt é, por definição, o espaço da aparência, daquilo que se mostra e pode ser visto por todos).
A consequência imediata dos rolezinhos é a de interromper o fluxo nos shoppings. Ainda que declarem que estão lá para "tirar umas fotos", "dar uns beijos", "rever os amigos", o efeito concreto é o de uma ação de desobediência, visto que há um conjunto de regras estabelecidas que todos os envolvidos conhecem e praticam e que é posto do avesso.
Por terem se iniciado poucos dias antes que a lei que visava proibir bailes funk em logradouros públicos viesse a ser sancionada pelo prefeito, é lícito supor que os rolezinhos sejam uma resposta a esse novo patamar de criminalização das atividades de lazer da tribo urbana dos funkeiros.
Política é o termo que herdamos dos gregos para designar o espaço artificialmente criado para as discussões referentes ao convívio em coletividade. É o espaço onde os assuntos são disputados, negociados entre os cidadãos. Onde consensos provisórios são pactuados.
Na disputa pela narrativa dos rolezinhos, ganhou força, desde ontem, a versão em que os meninos e meninas querem apenas farra.
O erro básico, parafraseando Hannah Arendt, "é ignorar a inevitabilidade com que os homens se revelam como sujeitos, como pessoas distintas e singulares, mesmo quando empenhados em alcançar um objetivo completamente material e mundano".
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