17 de dezembro de 2020
Se a gente conseguir sair por uns minutos da chave 'é preciso combater o Bolsonaro sem tréguas', está cada vez mais claro q seremos todos vacinados em algum momento em médio prazo.
Isto posto, é absolutamente indispensável continuar a combater o Bolsonaro; o pouco q avançamos até aqui desde o cataclisma de 2016 é resultado direto da diuturna resistência q aos trancos e barrancos o campo democrático e popular tem conseguido bancar.
A atitude do Bolsonaro durante a pandemia é genocida, não menos q isso, e exige ser enfrentada sem tréguas.
A vacina, porém, já é uma realidade. Assim como foi o auxílio emergencial. Personagens menos estúpidos q o Bolsonaro têm sabido tirar melhor proveito pessoal do caos instaurado no país. Oferecem o mínimo para capitalizar os resultados ao máximo. 'Cases de sucesso' mais bem acabados: Dória, Covas e Rodrigo Maia. Por isso não ficaremos sem vacinar.
Vai demorar mais q na Europa? Sem dúvida. Vai ser tudo meio bagunçado? ¡Por supuesto! O bloco de Esquerda vai ter q fazer das tripas coração para barrar a voracidade das bancadas do apocalipse no Congresso e conseguir avanços provisórios? Sim. Porque essa é a regra do jogo.
A partir da Constituição de 1988 havíamos presenciado progressos inegáveis. A universalização da oferta de vagas na Educação Básica, por exemplo. O SUS como referência mundial no combate ao HIV. A saída do Mapa da Fome. Mas o pano de fundo permanecera um lugar inóspito, moldado a partir de matrizes racistas, com pouca oferta de trabalho digno, violência descontrolada, escola, saúde e moradia de baixa qualidade, concentração de riqueza...
O Silvio Almeida disse, lá no começo do ano: 'a pandemia encontra o Brasil como ele é'. Ou seja, não há outro Brasil para onde possamos fugir até q as coisas melhorem.
Esta sabedoria do professor Silvio Almeida não por acaso vem de um homem negro.
As populações de baixa renda - quase 90% dos brasileiros - conhecem muito bem o q é viver à margem do Estado. O q é se equilibrar entre depender das instituições públicas e ter certeza de q em 100% dos casos vão ocupar os últimos lugares da fila.
A experiência de ser obrigado a aguardar o governo para se cuidar e a constatação de q não se dispõe de qualquer controle sobre como, quando e onde vai haver acesso ao cuidado está deixando o segmento branco e escolarizado da população em sobressalto. Tem um quê de inédito, para essas pessoas.
Faz lembrar os versos de 'Haiti', composição em parceria de Gilberto Gil e Caetano Veloso:
(...) "são quase todos pretos... ou quase pretos... ou quase brancos...
Quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos"
As classes médias escolarizadas do Brasil - e a escolarização é o mais determinante marcador social entre nós - têm as benesses do Estado a seu favor desde que passaram a existir, nos tempos de Getúlio Vargas. Moradia, planejamento urbano, transporte, trabalho, escola, segurança, saneamento, água, luz, comida, saúde, lazer...
Durante a pandemia fomos os mais preservados. Por termos acesso a toda aquela lista de privilégios q o Estado nos garante há quase um século.
No processo de sobreviver ao coronavírus as classes médias escolarizadas já saíram 'na frente'. O sentimento, entretanto, de 'estar à mercê' - real, de modo algum imaginário ou ilegítimo - tem nos levado a berrar de maneira incansável.
Que bom. Ao contrário dos 'quase pretos de tão pobres' esse grito não cai tão facilmente no vazio.
É a estranha percepção de si mesmo como 'sujeito de direito', q só alguns no Brasil têm.
Pense no Haiti.



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