Fotos inéditas de filhos de Augusto Malta revelam o Rio de 1937 a 1945
Fotos inéditas de filhos de Augusto Malta revelam o Rio de 1937 a 1945 e a demolição de 500 prédios para abrir a Av. Presidente Vargas
Conjunto de álbuns fotográficos redescobertos no Arquivo Geral da Cidade do Rio reúne imagens raras da capital entre 1937 e 1945 — período de profundas transformações urbanas que culminaram na abertura da principal avenida do Centro.
Por Larissa Schmidt, RJ2 27/12/2025
Um conjunto de álbuns fotográficos inéditos redescobertos no Arquivo Geral da Cidade do Rio revela imagens raras da capital entre 1937 e 1945 — período de profundas transformações urbanas que culminaram na abertura da Avenida Presidente Vargas.
As cerca de 14 mil fotografias, organizadas em 11 álbuns, mostram bairros, construções e modos de vida que desapareceram para dar lugar à maior via do Centro do Rio.
O material foi encontrado durante o trabalho contínuo de catalogação do acervo do Arquivo Geral, que reúne cerca de 4 milhões de itens identificados, além de outros milhões de documentos, fotos e registros ainda em processo de organização.
Segundo pesquisadores, os álbuns estavam guardados no fundo de um baú e representam um dos achados mais relevantes dos últimos anos.
As imagens retratam diferentes regiões da cidade, como Tijuca, Pavuna, Madureira e o Centro Histórico, incluindo a Praça 15.
Em muitos casos, revelam cenas pouco documentadas até então, como o interior de vilas operárias, trabalhadores em ação e aspectos do cotidiano de áreas que deixaram de existir.
"Não há tantos registros cronográficos oficiais do Rio nesse período. Essas imagens acabam revelando uma cidade até então desconhecida, mostrando tanto o que foi destruído quanto as novas construções", explica o presidente do Arquivo Geral da Cidade, Elizeu Santiago.
Entre os registros mais impactantes estão as fotografias da abertura da Avenida Presidente Vargas, iniciada nos anos 1940. Para a obra, mais de 500 prédios foram demolidos, incluindo igrejas, escolas, casarões e centros de caridade.
A transformação urbana se concentrou principalmente no trecho entre a antiga Praça 11 e a Candelária.
A Igreja da Candelária foi preservada após forte pressão popular.
Outras construções históricas, no entanto, não tiveram o mesmo destino, como a Igreja de São Pedro dos Clérigos, considerada uma joia do barroco carioca e que possuía interior talhado por Mestre Valentim.
As fotos também documentam o processo de demolição e construção, com destaque para a força de trabalho envolvida.
Operários aparecem no alto de edifícios, usando picaretas, martelos e até dinamite — tecnologias da época que ajudaram a redesenhar o Centro do Rio.
A reforma que deu origem à Avenida Presidente Vargas coincidiu com o período da Segunda Guerra Mundial e com o esforço de guerra global — um contraste que, segundo pesquisadores, reforça o caráter monumental da obra.
Fotos dos filhos de Augusto Malta
A autoria das imagens é atribuída principalmente a Aristóteles Malta e Uriel Malta, filhos de Augusto Malta, o primeiro fotógrafo oficial da cidade, cargo criado no início do século 20 durante a gestão Pereira Passos. Em parte das fotos, há assinatura ou identificação direta dos fotógrafos; em outras, a atribuição é feita por padrões técnicos e históricos.
Algumas imagens se destacam pela composição e pela força simbólica, como a de um trabalhador ao lado de um trator, com a Central do Brasil ao fundo, ou a de um homem observando as ruínas de uma área recém-demolida.
Para pesquisadores, os registros vão além do valor documental e ajudam a refletir sobre o impacto humano das grandes obras.
"A gente admira essas imagens hoje, mas é impossível não pensar como foi viver aquela transformação. Era a vida das pessoas que estava indo embora", avaliam.
Fim da Praça Onze
A abertura da Presidente Vargas também significou o desaparecimento da Praça Onze, um dos principais redutos culturais do Rio no início do século 20, marcada pela diversidade étnica, religiosa e cultural.
Foi ali que surgiram manifestações fundamentais da cultura carioca, como o samba e os primeiros desfiles de escolas de samba.
Com a demolição da área, muitos moradores — especialmente os que não eram proprietários — precisaram buscar novas moradias, o que contribuiu para o adensamento de comunidades em morros da cidade.
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