24 de junho de 2020
Ontem, ou anteontem, o Claudio Guedes postou um curto relato sobre a viagem razoavelmente longa que fez da Bahia até São Paulo semana passada. Veio de carro, forçado pela mefítica superlotação dos voos na conjuntura que do Corona Vírus se criou. Claudio 'desceu' pela BR 116, a estrada que na minha infância e juventude chamávamos de Rio-Bahia. Eu subi e desci de carro vezes incontáveis a Rio-Bahia quando era pequeno. Anos 60 e 70. Rareei depois de virar adulto. No século XXI, lá pras bandas do Hemisfério Norte, como diria o Pazuello, estive só umas duas ou três vezes e já fui e voltei voando. Avião era caríssimo antes do Lula. Por isso que a gente encarava os três dias e duas noites na 116 de mão dupla, crateras e caminhões a mil em cada curva. Mano, 'fumaça de óleo diesel' daquele tempo, com as janelas do carro abertas (não existia ar condicionado) era fuêda! Virou metáfora no Cálice e não foi à toa. Pois bem, outra coisa que mudou muito do final dos 80 em diante é que devagar mas ininterruptamente a pobreza ao longo daquele percurso diminuiu a olhos vistos. O Brasil pós Constituição se transformou. Ou, pra usar palavra mais corriqueira, progrediu. Em todo lugar, mas de modo especial o Nordeste. Nos governos do FHC tinha muita miséria. Só que antes era ainda pior. A Constituição, vitória das forças democráticas depois de tantos anos de Ditadura, forçou o país a olhar pelos direitos fundamentais. A crônica de viagem do Claudio Guedes em 2020 nos revela que o cenário agora é de terra arrasada. Ela nos conta que o Brasil do Golpe está em frangalhos. Que os sinais de crescente empobrecimento estão por toda parte. 'Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína'. Como nos meus tempos de menino. Ao ler o post me vieram as memórias. Tudo era tão precário! Não pouco. Precário de um modo escandaloso. Ou, se preferir, revoltante. Fez sentido o elenco de pornochanchada que está no Planalto. Os milicos suarentos. O cheiro de tergal que a gente sente nas fotografias. Os discursos sem pé nem cabeça. A descerimônia de oligarca. O gumex! É pra lá que eles nos querem carregar. Prum Brasil de antes da Constituição. Prum Brasil sem as Diretas Já. Sem Vai Passar. Um Brasil de estatísticas falsificadas. De asfixiante pobreza. De mortes desassistidas e nem um pingo de constrangimento por elas. Como se a desigualdade fosse parte da natureza. Do destino. Das forças do Universo. Um Brasil de Deus lhe Pague. Isso nunca foi uma crise. Isso 'daí' é projeto. Que está sendo retomado.
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Publicado originalmente no Facebook
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