27 de abril de 2019
Cachac-eiro, se bem me lembro, assim como maconh-eiro, ou trapac-eiro, remete a vício, compulsão, dependência, coisas assim.
Bolsonaro não deve estar querendo classificar Lula como dependente químico, logo mais agora que o homem emergiu de quase 400 dias de completa e obrigatória abstinência com pele e cabelo saudabilíssimos, sem olheiras, pensamento ágil, discurso articulado e disposição de felino.
Lula tá segurando o rojão muito bem 'sem a cachaça', contrariando até o caro amigo Chico.
Talvez o felliniano Bolsonaro queira insinuar que aquele irmão do Capitão América que chefia a segurança do ex-presidente mantém uma destilaria e abastece a cela especial da PF de Curitiba com garrafas pet cheias de maria-louca.
Mas é improvável.
Bolsonaro chamou Lula de cachaceiro. Não em sentido estrito. Ele quis confirmar o estereótipo que associa gente pobre ao uso excessivo de bebidas alcoólicas baratas. É uma das formas de rebaixar simbolicamente o pobre: negar-lhe a capacidade de auto-controle tão cara às classes abastadas.
Um dos pontos ainda mais baixos a que um brasileiro pobre pode se ver conduzido é a cadeia. O calabouço é o lugar onde se cala a boca do cidadão. É nessa jaula que a busca de desconstruir o homem humano acontece de modo mais totalizante. A prisão pretende ser o lugar da morte em vida. O local do apagamento.
Pois bem, Lula negou a seus inimigos também essa confirmação. Está tão vivo quanto antes. Está mais vivo que nunca. E de lá de dentro, ainda diagnostica: um bando de malucos.
Claro que, também, não em sentido estrito. Maluco aqui é quem governa desgovernado, atira para todos os lados, não sabe dizer a que veio. Ou é o psicopata destruindo nos mínimos detalhes e sem nenhum remorso, as poucas conquistas civilizatórias que obtivemos em 500 anos.
Lula, em sua cáustica lucidez, disse o que todo mundo sabe: o desgoverno de Bolsonaro não obedece lógica alguma que não seja a da destruição pura e simples, o que, convenhamos, é um modo alucinado de funcionar.
Lula soube, também, deixar no ar a desconfiança de que aqueles caras não batem bem da bola.
Bolsonaro não fez por menos. Devolveu de bate-pronto mais uma de suas sandices.
Como queríamos demonstrar.
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