10 de novembro de 2018
Os partidários do Escola Sem Partido falam em neutralidade, mas sabem que isso não existe. Se não soubessem, não estariam lutando com unhas e dentes para impôr seu ponto de vista. Eles sabem e sabem com o mais profundo de seus seres. O que pretendem, de modo hipócrita, deixemos claro, é naturalizar, dar status de condição inarredável - como o ar que respiramos, a lei da gravidade, as estrelas, o sal do mar - àquilo que é construção histórica e social: no Brasil tudo o que os movimentos de minoria adjetivam com o termo 'estrutural'. Machismo, racismo, patriarcalismo, classismo, etc. Assim, 'neutro' passa a ser qualquer coisa que concorde e reforce a condição privilegiada de homens, heterossexuais, brancos, escolarizados e ricos. A 'elite do atraso', nas palavras de Jessé Souza. Não à toa, a união de toda essa gente supostamente 'neutra', que não gosta de partidos, movimentos organizados, iniciativas e coletivos, ou seja, não suporta 'política', vai se dar em torno da ideia de lutar 'contra a corrupção'. Consultando 4 ou 5 dicionários, CORRUPÇÃO aparece primeiramente como: 'adulteração das características originais de algo; desvirtuação; deturpação; decomposição orgânica; deterioração; putrefação'. CORRUPÇÃO definida enquanto 'uso de meios ilícitos para obtenção de vantagens', ou 'degradação de valores morais' aparece em acepção secundária, ou mesmo como sentido figurado. Antônimos possíveis? Conservação; manutenção; preservação. 'Neutralidade' e 'corrupção' são dois conceitos muito claros, portanto, para a agenda regressista que pretende obter 'de volta' o país 'conspurcado' por todos aqueles 'outros' que não tinham 'entrado na História', para parafrasear Drummond. Produzem sentido, constroem significado e, por isso, é lícito dizer que os eleitores de Bolsonaro captam suas mensagens (Escola Sem Partido é apenas uma delas) 'com o mais profundo de seus seres'. Tais palavras atuam como senhas, como 'mecanismos de comunicação' internos aos membros de um rebanho. Não é preciso saber 'fazer a leitura' da ideia. Apenas ser capaz de 'receptar', sem maiores hesitações, o 'sinal' emitido pelo grupo de referência. Como quem fareja. Como quem se reúne e ataca em conjunto.
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