Friday, November 10, 2023

10 de novembro de 2018

Os partidários do Escola Sem Partido falam em neutralidade, mas sabem que isso não existe. Se não soubessem, não estariam lutando com unhas e dentes para impôr seu ponto de vista. Eles sabem e sabem com o mais profundo de seus seres. O que pretendem, de modo hipócrita, deixemos claro, é naturalizar, dar status de condição inarredável - como o ar que respiramos, a lei da gravidade, as estrelas, o sal do mar - àquilo que é construção histórica e social: no Brasil tudo o que os movimentos de minoria adjetivam com o termo 'estrutural'. Machismo, racismo, patriarcalismo, classismo, etc. Assim, 'neutro' passa a ser qualquer coisa que concorde e reforce a condição privilegiada de homens, heterossexuais, brancos, escolarizados e ricos. A 'elite do atraso', nas palavras de Jessé Souza. Não à toa, a união de toda essa gente supostamente 'neutra', que não gosta de partidos, movimentos organizados, iniciativas e coletivos, ou seja, não suporta 'política', vai se dar em torno da ideia de lutar 'contra a corrupção'. Consultando 4 ou 5 dicionários, CORRUPÇÃO aparece primeiramente como: 'adulteração das características originais de algo; desvirtuação; deturpação; decomposição orgânica; deterioração; putrefação'. CORRUPÇÃO definida enquanto 'uso de meios ilícitos para obtenção de vantagens', ou 'degradação de valores morais' aparece em acepção secundária, ou mesmo como sentido figurado. Antônimos possíveis? Conservação; manutenção; preservação. 'Neutralidade' e 'corrupção' são dois conceitos muito claros, portanto, para a agenda regressista que pretende obter 'de volta' o país 'conspurcado' por todos aqueles 'outros' que não tinham 'entrado na História', para parafrasear Drummond. Produzem sentido, constroem significado e, por isso, é lícito dizer que os eleitores de Bolsonaro captam suas mensagens (Escola Sem Partido é apenas uma delas) 'com o mais profundo de seus seres'. Tais palavras atuam como senhas, como 'mecanismos de comunicação' internos aos membros de um rebanho. Não é preciso saber 'fazer a leitura' da ideia. Apenas ser capaz de 'receptar', sem maiores hesitações, o 'sinal' emitido pelo grupo de referência. Como quem fareja. Como quem se reúne e ataca em conjunto.

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