Saturday, November 25, 2023

25 de novembro de 2019


Witzel seria aquele grandalhão risível, não fosse o fato de ser um genocida. Genocídio, no dicionário, quer dizer: "extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso".

Segundo o pesquisador Gabriel Feltran, "vivemos num país em que mais de 40 mil jovens - quase sempre pobres, quase sempre pardos e pretos, quase sempre funcionários baixos no mundo do crime - morrem assassinados todos os anos".

Eles representam quase 80% dos 60 mil homicídios anuais desde 2015, segundo o Mapa da Violência no Brasil.

"No Brasil todo", continua Feltran, "já são mais de 1 milhão de assassinados em três décadas. Vinte Maracanãs lotados de pessoas exterminadas por armas de fogo".

A PM e a Civil contribuem para esse quadro. No ano passado elas foram responsáveis por mais de 6 mil mortes em todo o país.

Mas repare que, apesar de termos uma das polícias mais letais do planeta, os 'meninos do crime' estão, principalmente, se matando uns aos outros.

A classe média conservadora resolve essa equação botando a culpa nos 'meninos' e em suas famílias. A classe média progressista patina num charco de desinformação, auto-engano e escapismo. Chora sempre que um 'inocente' é pego no fogo cruzado.

O genocídio em curso tem como característica determinante a seletividade de um Estado que não garante modos de sobrevivência à grande maioria de sua população e que, portanto, não se responsabiliza pela vida de seus jovens.

Os primeiros mortos identificados na chacina do Fallet Fogueteiro no início do ano foram Vitor dos Santos Silva, de 15 anos, Roger dos Santos Silva, de 17, e Enzo de Souza Carvalho, de 18. As famílias reconheceram prontamente que os três tinham vínculo com o crime.

Mas quem, em sã consciência, poderia usar a palavra 'traficante' para designar meninos de 15, 17 e 18 anos? O que pode, além de uma estrutura social doentiamente injusta, determinar as diferenças entre as mortes dos jovens atletas do Ninho do Urubu e o sangue vertido dos corpos de Vitor, Roger e Enzo na biqueira da Eliseu?

Enquanto a sociedade brasileira deixar entregues à própria sorte suas crianças negras e pobres, enquanto não houver um clamor humanista que resgate da violência racista e estrutural aqueles que seriam o 'futuro da nação', continuaremos enxugando gelo. Ou melhor, enxugando sangue derramado no chão de lajotas das bibocas das quebradas. Esperando, temerosos, a chegada do 'fascismo' que já está aqui desde 1500. E que não atinge, nem ameaça, apenas alguns poucos privilegiados.

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