Friday, December 22, 2023

22 de dezembro de 2019


PROFESSOR MISÉRIO

Esse senhor que, de tão branco, tem o nariz vermelho, escreve sobre questões da negritude no Brasil há décadas. Sociólogo. Baiano. Antonio Risério.

Hoje ele publicou na Folha um artigo com o título Lugar de Fala é Instrumento para Fascismo Identitário.

Ele tem se sentido cerceado no debate nacional.

Acho possível discutir os termos propostos no texto. Apesar do polemismo lacrador exercido com o profissionalismo de quem já trabalhou ao lado do marqueteiro João Santana, não é puro absurdo o que Risério afirma.

Mas tem um problemão, em dois momentos (tem mais, mas vou me ater a esses dois, gravíssimos).

A frase que inicia o artigo: "Minha intenção, aqui, é colocar o tal do lugar de fala no seu devido lugar". 😲

E, mais pra frente, quando diz perceber "uma onda de violência se encorpando assustadoramente em todo o país".

Para Risério a onda parte "tanto do segmento atualmente mais barulhento da esquerda, cristalizado nos movimentos identitários e suas milícias (eufemisticamente tratadas como 'coletivos'), quanto da extrema direita, com sua ponta de lança na boçalidade bolsonarista".

O enrosco, segundo ele, é que "a crítica esquerdista a uma ascensão do fascismo entre nós tem sido feita de maneira estranha e sintomaticamente seletiva".

E completa: "O que vemos são ataques ao fascismo de direita - e silêncio sobre o fascismo de esquerda. Como no dito popular, os macacos se negam a olhar o próprio rabo". 😱

Aí fudeu, né? Vai colocar 'os macacos' no seu 'devido lugar'?

Num texto sobre racismo?!?

Só pra fechar, é ainda sintomático o exemplo que Risério escolheu para comprovar a 'onda de violência' vinda do lado das 'milícias' dos movimentos identitários: "em 2013, numa feira literária em Cachoeira do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, [...] extremistas identitários impediram o geógrafo Demétrio Magnoli de falar e praticamente o expulsaram da cidade".

Sem dúvida mais um exemplo infeliz de quem quer comparar tiros no ônibus do Lula, execução da Marielle, ou fogos de artifício no barco do Glenn Greenwald com o esculacho de uma figura pública altamente agressiva.

Evidente que um cara com a experiência de escritor que esse homem tem escolheu conscientemente as palavras que usou. Os motivos... vai saber! O resultado é que o texto inteiro fica contaminado.

Vai aqui o link da matéria, aberto para assinantes da Folha:

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