22 de dezembro de 2016
TUDO É DIVINO E, AQUILO, MARAVILHOSO
O hype de ontem foi o filminho com os balangandãs da Clarice. O de hoje, é provável, será a pesquisa do Ibope que indica que o conservadorismo no Brasil está em ascensão.
Claro que vai ter gente ligando uma coisa com a outra. E... dá-lhe polêmica. Bingo!
Minha contribuição para o debate: sobre o conservadorismo brasileiro é indispensável ler Cultura e Política, 1964 - 1969 do Roberto Schwarz. Nesse artigo está escrito, em itálico, "Apesar da ditadura da direita há relativa hegemonia cultural da esquerda no país". Foi publicado em 1970. Sem ele não dá pra começar a discutir a onda conservadora (e a consequente mudança de eixo hegemônico), tema que a intelectualidade democrática havia pautado fortemente já durante as eleições de 2012.
Sobre a Clarice, acredito que o foco nem de longe está naquela sequência ao mesmo tempo ansiosa e interminável de corpos-só-pélvis. A pauta é indústria cultural. O texto que não pode ficar de fora se chama A Crise na Cultura: Sua Importância Social e Política e foi publicado pela Hannah Arendt, salvo engano, em 1958. É nesse ensaio que a Arendt briga com o Adorno e chega a debochar da tal "regressão da escuta". Tudo muito sutil, claro. A autora de On Revolution despreza a tese mais famosa do frankfurtiano e prefere tratar do fenômeno do "filisteísmo".
São dois textos e dois temários tão fundamentais quanto antigos. O fato de permanecerem pouco usados para refletir sobre o Brasil contemporâneo "é por demais forte simbolicamente" para a gente não se abalar.
O Oswald de Andrade dizia: "Só a Antropofagia nos une".
Mas isso nunca foi verdade. O que nos une é o atraso.
Precisamos tirar o atraso. Como diria a Sara Sheeva. Não... péra...
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