22 de agosto de 2019
Ao contrário do que pode imaginar nossa vã filosofia de botequim, o país inteiro está gritando. Gritam nas favelas — por socorro — quando os helicópteros atiram bombas, como numa guerra. Grita a classe média progressista, escandalizada com a desfaçatez do grupo que ocupa a presidência. Gritam os estudantes. Os movimentos sociais. Os jornalistas que não se venderam às grandes corporações. Artistas gritam. Parlamentares do campo popular gritam. Gente de todos os matizes grita. E há ainda os gritos a favor da barbárie. Gritos como uivos, saindo principalmente das caixas de comentários nos veículos que a internet propicia (as panelas estão recolhidas). Há o grito amplificado das autoridades constituídas, esse pode ser um grunhido inarticulado, como os de Bolsonaro e seus ministros, transmitido pela TV. Um silêncio, porém, como se diz num dos clichês mais usados nas redes sociais, ensurdecedor, vem do alto da pirâmide, lá onde habita menos de 1% da população do país, lá dos píncaros da desigualdade brasileira, no Himalaia onde a empatia é um cadáver congelado há séculos, o lócus etéreo e quase abstrato dos super ricos. Dali não se escuta um pio. Candidamente, dia desses, um deles, banqueiro, deixou escapar que nunca se sentiu tão bem. E isso foi tudo. Por trás do caos propagado pelo desgoverno da República estão os super ricos. Eleições não são vencidas com votos. Ganha quem tiver mais dinheiro para gastar na campanha. Propaganda custa muito dinheiro. Alianças muito mais e nós, petistas, aprendemos pela dor essa realidade. Eleições tampouco se resumem à escolha do presidente. Uma trama enorme de gente dos legislativos em níveis federal, estadual e municipal, somados aos prefeitos, governadores e seus vices — sem falar em todas as burocracias — reproduzem holograficamente o macro no micro e vice-versa. Tudo determinado pelo mesmo princípio: ganha e permanece quem tem mais dinheiro e as exceções confirmam a regra. A isso se dá o nome de Democracia Burguesa. Enquanto o presente caos perdurar será porque os super ricos se mantiveram em silêncio. Eles permitiram a ascensão do golpismo. Do lavajatismo. Do bolsonarismo. Eles financiaram, na verdade, todo o processo. Sabem o que querem. E só eles detêm os meios para a pacificação. Lembre-se: no Brasil os atiradores são 'de elite'. Os alvos são 'da Silva'. Williams, Marielles, Lulas. As configurações de 'monopólio da força' foram atualizadas com sucesso. Da selva ouvem-se agora outros gritos, guinchos, gemidos. De mais indefesos alvos. Juntar-se-ão aos nossos. São quase nada. Os alvos e os gritos. Não podem querer ser nada. À parte isso, e sob a mira dos fuzis, temos todos os sonhos do mundo.
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