Monday, October 28, 2024

2012 - 2024. FOI GOLPE!

 

27 de outubro de 2024

SURFE

Vai daí que eu caí da cama neste domingo encoberto de segundo turno e vi no Instagram a imagem que agora faz par com o textão que vos ofereço.

Ela tem uma legenda: "Young surfer, Noosa Heads, Australia" e é assinada por Matthew Bozec, um cara nascido em Otonabee, no Canadá, especializado em fotos de viagem.

Olhei pra fotografia e me veio a ideia de que ela pode ser uma representação daquilo que penso ser a disputa entre candidaturas do campo democrático num país violento como o Brasil versus o campo da reação, que alguns chamam de conservador, outros de extrema-direita, mas a gente sabe muito bem que o nome correto é campo escravocrata.

O surfistinha com sua prancha olhando o mar encapelado é o candidato/candidata. O mar encapelado (olhando o surfistinha, como diria o Nietzsche) é, por exemplo, o "consórcio que se montou tentando usar a cidade de São Paulo pra um projeto bolsonarista em 2026", fazendo uso aqui das palavras do Guilherme Boulos na última live da campanha, ontem à noite.

O campo escravocrata muda de rosto, de nome, muda mesmo de forma, feitio, configuração, mas sem nunca deixar de ser o mesmo, sempre enorme, um grande oceano que de vez em quando um cidadão, ou uma cidadã atravessa (ou se afoga tentando) a bordo de embarcações tão precárias quanto uma prancha de surf.

Repara na minha metáfora: o corpo do menino no alto da pedra é nítido, mas o mar encapelado é indistinguível. Dele só sabemos o tamanho. Sempre um consórcio. Não apenas o consórcio em São Paulo em 2024, com vistas a 2026. O consórcio perene. O consórcio profundo.

A assimetria entre as forças é brutal. De vez em quando, quando a gente ganha, a gente governa naquele mesmo espaço exíguo do alto da pedra em que está o surfistinha. Cercados por todos os lados.

Sempre foi assim e um surfista foda que nem o Lula provavelmente se mantém na crista da onda porque mais do que ninguém conhece (e aceita) as condições do mar e do tempo.

A praia, a terra firme, não se vê no recorte da foto. É lá onde permanecem sentadas as pessoas que, quando a coisa fica difícil (tipo 14% de vantagem pros reaça), atribuem as vitórias do campo escravocrata aos erros do campo democrático, fazendo de conta que a realidade não é toda ela pré-determinada pela assimetria entre as forças. São essas pessoas que explicam as derrotas do campo democrático pela prancha escolhida errado, pelo estilo do surfista, ou seu despreparo, ou o horário de pegar a onda, ou os problemas do patrocinador, ou... qualquer coisa que se possa atribuir não ao contexto histórico, ao sistema econômico, à geopolítica, aos consórcios e sim às questões específicas do candidato/candidata.

Devem estar confortáveis essas pessoas em seus empregos, ou suas aposentadorias, ou seus canais do Instagram, do YouTube, todos esses lugares secos e firmes, longe das pedras, das ondas, do eleitorado e dos livros do Marx.

Não são elas tampouco quem decide o resultado nas urnas. É o mar, é o mar, é o mar... (como diria o Caymmi)...

A presença dessa turma é residual. Mas, guardadas as devidas proporções, se você me perguntar se o campo escravocrata se beneficia do papo pra peixe-boi dormir deles, não tenho dúvida: sim.

Deixo aqui como meu último ato de campanha os mais sinceros votos de vai-tomar-no-olho-do-seu-cu pro pessoal que fica na praia, fogo nos fascistas e 50 na urna eletrônica.

23 de outubro de 2024

 

16 de outubro de 2024

15 de outubro de 2024

 

APAGÕES

10 de outubro de 2024

 

7 de outubro de 2024

O Zé Serra em formato de coração tá passando na sua timeline pra lembrar que a baixaria ampla, geral e irrestrita nas campanhas começou em 2010.

7 de outubro de 2024

EM 1959 SÃO PAULO ELEGEU CACARECO VEREADOR

Cacareco foi uma rinoceronte fêmea emprestada ao Zoológico de São Paulo.

Nas eleições municipais de outubro de 1959 Cacareco recebeu cerca de 100 MIL VOTOS para vereador. *

A população de São Paulo em 1960 chegaria a 3.781.446 de habitantes.

Faça as contas e veja quanto, em porcentagem, aqueles 100 mil votos representavam.

Não esqueça que em 1959 os analfabetos não votavam. 40% da população. Faça de novo as contas.

São Paulo foi fundamental para eleger Jânio, Maluf, Quércia, Collor, Bolsonaro e tudo o que há de pior no fisiologismo pátrio.

São Paulo tem a cruz dos navegantes portugueses "simbolizando a fé cristã" no brasão.

São Paulo homenageia os bandeirantes com nome de avenida, de estrada, de colégio... com a porra da estátua do Borba Gato!

São Paulo perpetrou o Carandiru: o presídio e o massacre.

A lista é interminável. São Paulo elegeu Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Mamãe Falei, Ricardo Salles, Rosângela Moro...

Aquelas passeatas gigantes de verde-amarelos? Todas na Paulista.

A abstenção elegeu o Dória, em primeiro turno, em 2016. O problema NÃO É de hoje.

Tem nada a ver com voto de protesto. O que São Paulo tem é um estoque, um exército de reserva de gente escrota pronta pra ver o circo pegar fogo e contribuir com um troco pra comprar mais gasolina.

Só quem nunca morou aqui pode fazer de conta que não sabia.

Por isso, amiguinh@, o segundo turno começou ontem à noite e já passa da hora de parar de posar de estupefato com os números do Pablo Marçal. Nem adianta xingar o 'povo' (Boulos, inclusive, venceu nas periferias extremas da cidade).

Isso aqui é São Paulo, cazzo!

E pra quem cê acha que vão migrar os 30% do coach?

E quem vai receber o apoio do Bolsonaro? Quem vai ter a seu favor a máquina municipal E estadual (leia-se Tarcísio de Freitas)?

Porém, somados, Marçal e Nunes permanecem mais ou menos a metade dos votos. A outra metade está em disputa. É matemático.

Só não dá pra deixar pra se manifestar nos stories do Instagram faltando três dias pra eleição, amiguinh@.

O pau tá comendo e é hoje, já, urgente.

Tem que fazer campanha!

Foi assim que o Lula sobreviveu ao mais longo processo de desconstrução de uma personagem pública que o nosso país já assistiu: fazendo campanha em tempo integral.

A partir de 2016, lembra? o Lula entrou no modo campanha. E continua agora, depois de eleito. Isso quer dizer: você não baixa a guarda, você disputa palmo a palmo os corações e mentes como se fosse campanha, mesmo quando não é campanha.

Mas disputa muito mais quando É campanha.

Antes que seja tarde!

A vantagem da Direita em São Paulo é ESTRTUTURALMENTE maior, como eu tentei demonstrar.

Não adianta subir post falando que tá com medo, que não se conforma com o eleitorado paulistano, que tá decepcionado... nada disso contribui. E muito ajuda quem não atrapalha.

São Paulo e o Guilherme Boulos precisam de militância nas ruas, nas redes, no trampo, nas famílias, nos botecos, onde for.

A tarefa é di-fi-cí-li-ma. Tem que tirar a bunda da cadeira AGORA.

E o travesseiro é o lugar prioritário pra chorar. Aqui na jungle é só tiro, porrada e bomba. Nos fascistas.

Bóra pra cima que já começou. Ontem. Estamos atrasados.

📷: Wikipédia / A caveira do Cacareco / Cacareco em 1959 / Zoológico de SP

* À época, a eleição era realizada com cédulas de papel e os cidadãos escreviam o nome de seu candidato de preferência.

15 / 16 de setembro de 2024


16 de agosto de 2024

 

COMEÇOU!

Saturday, October 26, 2024

Jogo do bicho vai morrer, e bets dominaram sonhos do povo

por: Rodrigo Ortega (UOL)

"O jogo do bicho vai acabar", disse o historiador Luiz Antonio Simas em uma palestra no bairro do Bixiga, em São Paulo, no meio de uma rua em que ainda funciona uma banca de bicho.

No evento de lançamento de Maldito Invento dum Baronete  Uma Breve História do Jogo do Bicho (Ed. Mórula), o carioca explicou a previsão sobre o tema de seu livro.

O bicho deixou de renovar seu público e se choca com um esvaziamento da cultura de rua e com "um processo violento de entrada das bets no mercado", ele descreve.

"O mundo está sendo observado pela tela. A rua não está sendo frequentada. A cidade é pensada a partir da circulação do carro e da mercadoria. O bicho é um sintoma", diz Simas.

💧

UOL Seu livro narra outro momento em que o Brasil tentava decidir qual jogo seria "bom" ou não para o país. Você mostra uma contradição entre o jogo do bicho e o turfe.

SIMAS Em 1892, já havia muitas loterias no Rio. O bicho surge visando atrair gente para o Jardim Zoológico de Vila Isabel. Era um empreendimento capitalista do Barão de Drummond, que loteou o bairro para vender terreno.

Mas, em pouco tempo, ele toma as ruas e se populariza demais. Vira a loteria de uma cidade pobre, de descendentes de africanos. Em 1895, ele já começa a ser proibido.

O que espanta é a quantidade de loterias legalizadas que havia, mas a repressão vai exatamente na mais pobre e negra. Você só consegue entender isso num contexto em que havia uma criminalização de todas as práticas lúdicas e culturais não brancas.

No turfe, já havia denúncia de manipulação de resultados, e não tinha a menor restrição — pelo contrário, era considerado elegante apostar em cavalos.

Engraçado que os bicheiros hoje têm muita atração por cavalo. Até porque o embrião de cavalo é um dos mercados que mais favorecem a lavagem de dinheiro. É uma ciranda.

UOL A primeira frase do seu livro é: "Só existe jogo do bicho porque primeiro a gente sonha". O sonho do pobre é o pesadelo do rico?

SIMAS É por aí. Era um momento em que o Brasil pensava um projeto civilizatório. Para as elites e uma geração de intelectuais, ele só seria viável com o apagamento das culturas não brancas.

Se você me pergunta uma frase que sintetiza o livro, é a seguinte: não era uma política de combate à pobreza, era uma política de combate ao pobre.

UOL Estamos conversando aqui no bairro do Bixiga, em SP, onde vi outro dia esta cena: num bar de forró, um cara na plateia dava tragos no narguilé e jogava no tigrinho, parecia em transe. Remete ao que você fala da festa, do sonho no jogo do bicho.

SIMAS E de andar no fio da navalha, do perigo. Se você discutir o tigrinho hoje, vai pensar nesse aspecto lúdico do jogo do bicho. Não é loteria de número. É uma lógica onírica, do animal.

Isso cruza com muita coisa: o sonho, o extraordinário, a superstição, a magia cigana, a macumba.

A história cultural do jogo do bicho é muito interessante. São práticas culturais que incomodam, subalternizadas, da qual o jogo faz parte, para o bem ou para o mal.

É um incômodo que não parece que vai passar.

O cara [jogador] praticamente não tem chance de projeção social pela via formal. O país é um projeto de exclusão. Você quer o quê? O jogo do bicho, no auge, era um mercado informal que empregava 300 mil pessoas no Rio.

Até hoje é uma loteria de pobre, barata. Ninguém joga uma fortuna no jogo do bicho, ao contrário do tigrinho e essas coisas.

É o garçom que quer um dinheirinho da cerveja. É a senhorinha que sonhou com o falecido marido e vai apostar no número do túmulo. Práticas culturais de rua que a gente tem tendência a desconsiderar.

UOL Você citou uma incoerência de 1895 e eu cito uma de 2024: entre as bets aprovadas pelo governo está uma chamada Bicho no Pix.

SIMAS Olha isso. É importante citar uma coisa sobre o jogo hoje. Falo com conhecimento de causa e contato com gente nas entranhas do negócio. Eu acho que o jogo do bicho propriamente dito vai acabar.

Primeiro porque já não rende mais para os banqueiros. Chamar de "banqueiro do bicho" hoje é quase vício de linguagem. O bicho não chega a representar 10% do faturamento de um cara de primeira linha.

E, ao contrário das bets, ele não renovou público. Para escrever esse livro, eu passava as tardes em uma banca, e não tem apostador com menos de 40 anos.

Mas as outras loterias, e as que porventura se inspiram no bicho, estão com tudo.

UOL Essa energia do sonho popular vai para as bets? O universo digital pode dominar esse buraco que vai ficar?

SIMAS Sim, porque é humano. Não adianta achar que vai lidar com isso simplesmente com política pública de repressão.

Existem outras camadas difíceis. A gente está falando de um país tremendamente excludente, em que o próprio direito ao sonho é roubado.

UOL Você diz que não quer ser inocente ao contar a história do bicho. Como?

SIMAS Você não pode contar uma história que considere a questão exclusivamente criminal, nem romantizar e desconsiderar que ela cria teias com organizações criminosas.

É complexo: ele nem se resume ao crime e nem deixa de ter aspectos que envolvem uma série impactante de atividades ilícitas.

UOL Evitar essa inocência também é importante hoje, na nova discussão sobre qual jogo deve ser legal ou não?

SIMAS Sim, que a gente entenda a complexidade histórica. A gente vive num país marcado por essa carga de exclusão social. Outras dimensões do jogo devem ser consideradas. Ignorar o sonho do povo não vai funcionar.

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Monday, October 21, 2024

21 de outubro de 2020

 


A queda de braço Mijair X Pazuello é mais complicada do q foi com os ministros anteriores. Envolve a vontade da população de querer se ver livre do corona vírus e governos estaduais q têm se preparado para sobreviver à estultícia do despresidente. Também vem depois do grande turning point q foi aquela reunião ministerial q marcou a fritura de Sérgio Moro e do desmantelamento do Gabinete do Ódio. Estatisticamente Papa Bozo mais perde do q ganha quedas de braços. Nos últimos tempos tem tido agenda livre como nunca, porque ninguém consulta ele para nada, como fica claro com o anúncio do acordo MS / Dória, q ele foi o último a saber. Jairo Goldenshower encontrou sua verdadeira vocação no papel de boneco de posto q desempenha na rampa do Planalto. Balança os braços obstinado para chamar a atenção de quem passa. Os donos podem desligá-lo da tomada e ele sabe disso. O bonecão só não é capaz de fazer nada além.

Saturday, October 05, 2024

Ele está entre nós


Bruno Mars chegou ao Brasil para uma série de 15 shows em 5 cidades.

O primeiro deles, fechado e beneficente, aconteceu terça-feira, no Tokio Marine Hall em São Paulo e arrecadou R$ 1 milhão para as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul.

Ontem teve o primeiro show 'de arena', um dos seis que vão lotar o estádio do Morumbi.

Lotar, aqui, significa que todos os ingressos postos à venda foram vendidos. O Morumbi, que em dia de jogo pode receber 85 mil pessoas, para espetáculos musicais deixa entrar até 65 mil.

O Engenhão, no Rio, suporta 40 mil pessoas. Três noites.

O Mané Garrincha, em Brasília, 72 mil. Duas noites.

No Couto Pereira, de Curitiba, 40 mil. Mais dois shows.

No Mineirão, 61 mil.

Tudo SOLD OUT.

Feitas as contas, quase 800 mil brasileiros vão ver o Bruninho.

O Rock in Rio, com 750 artistas, levou 730 mil pagantes ao longo de sete dias e 500 horas de programação.

É um fenômeno, não resta dúvida.

Um fenômeno mundial. Bruno lotou o Tokyo Dome cinco vezes em outubro de 2022 e voltou em janeiro de 2024 para outras sete apresentações. O Tokyo Dome tem 55 mil cadeiras.

Em todo lugar, o resultado é mais ou menos o mesmo. A turnê mundial, já há quase dois anos, está concentrada nos países asiáticos, provavelmente uma demanda que ficou represada dos tempos de pandemia. Sempre em estádios gigantescos. Sempre superlotado.

Um fenômeno que, curiosamente, não alcança com a mesma força a que estávamos acostumados, décadas atrás, os chamados 'grandes meios de comunicação' e, portanto, passa, muitas vezes, longe dos radares de quem não tem o 'perfil' de apreciador do Bruno Mars.

Veja o que estou querendo dizer: no tempo da Madonna, do Frank Sinatra, do Michael Jackson ou da Whitney Houston, quem gostasse ou odiasse um deles, se via exposto quase que em igual proporção à divulgação de seus nomes, acontecimentos, imagens, etc.

O diferencial acontecia entre quem gostava e quem não.

O empresário do Elvis mandou fazer e comercializou bótons escrito I HATE ELVIS para faturar em cima da parcela da população que detestava o Elvis. Ganhou uma grana considerável.

Agora, a diferença está entre quem já ouviu falar e quem não. Porque os 'meios de comunicação' passaram por um processo de pulverização. Sendo assim, um cara que arrasta quase 800 mil pagantes paras seus shows aqui pertinho das nossas casas, ainda continua sendo um artista 'de nicho'. Apenas porque, no atual modelo de negócios da indústria de entretenimento, só existem nichos. Nichos enormes e pequenos nichos. Mas tudo, e cada qual, em seus nichos.

Só pra fechar o raciocínio: Bruno gravou há poucos meses uma música em 'colab' com a Lady Gaga. O 'tamanho' da Lady Gaga na indústria é muito menor do que o 'tamanho' do Bruno. E, provavelmente, mais gente sabe quem é a Lady Gaga do que sabe quem é o Bruno. Provavelmente porque a Lady Gaga é, além de cantora, atriz de cinema e o cinema ainda está longe da pulverização que caracteriza a indústria fonográfica atual.

Um artista de cinema ainda é mais 'universalmente' conhecido do que um artista de música. Talvez, uma hipótese, porque os canais de produção e disseminação da música sejam muito - incomparavelmente - mais numerosos do que os do cinema.