O Beatle Relutante
Harry Kelly & George Harrison |
As casas modestas em que Paul McCartney e John Lennon passaram a infância nos subúrbios de Liverpool foram tombadas pelo Patrimônio Histórico da Grã-Bretanha.
"Essa honraria não foi concedida à humilde residência em que George Harrison nasceu, a poucos quilômetros dos lares de Lennon e McCartney. A casa da rua Arnold Grove, número 12, continua sendo uma propriedade privada e, de modo inexplicável, sem sequer uma placa comemorativa. É um monumento sem identificação; um santuário sem um santo com franja à Beatles; apesar disso, multidões de fãs de todo o mundo peregrinam até o local para, ali mesmo na calçada, fazer uma veneração remota".
Começando a ler a biografia George Harrison: o Beatle Relutante escrita pelo especialista em Beatles Philip Norman. A tradução, excelente, é assinada por Henrique Guerra e por um 'revisor técnico', Gilvan Moura.
Os parágrafos iniciais do livro falando sobre o destino daquelas três casas funcionam como um resumo, ou síntese das imagens de George, Paul e John para a posteridade (leia-se 'hoje em dia'). George é sempre o 'terceiro excluído', apesar da veneração que lhe dedicam milhões de pessoas ao redor do mundo.
Here Comes the Sun tem 1.444.358.736 visualizações no Spotify, a música dos Beatles mais tocada nos serviços de streaming globais.
O 'relutante' do título diz respeito a algo que todo mundo sabe sobre George. Ele é o primeiro beatle a se declarar infeliz com a condição de super astro. E, é provável, dos quatro, o cara que mais renegou a história da banda. Segundo se sabe, George esteve de mau humor a maior parte do tempo em que o grupo existiu, variando apenas o grau de mau humor, ou de má vontade.
Na biografia, Norman afirma que a característica irritadiça acompanhou George a vida inteira, piorando, curiosamente, depois que ele passou a praticar meditação. Nada disso o impediu de viver uma vida repleta de amores, interesses, amizades, parcerias, aventuras, diversão e tudo mais que a fama e a fortuna possibilitam aos poucos escolhidos pelo destino para tê-las, sem perdê-las.
Em todo caso, o adjetivo 'relutante' não está no título por acaso.
Estou apenas no começo do livro e já sei que vou avançar devagar, misturando a leitura sobre George com as oitocentas outras coisas a fazer no dia a dia. Tenho minhas próprias hipóteses sobre a pessoa e sobre o músico Harrison. Mas só poderei decidir se elas se confirmam, ou se valem alguma coisa, depois de lido o livro.
Para ilustrar esse post, uma daquelas preciosidades que qualquer biografia sempre traz: Rock Island Line foi o disco que despertou em George a vontade de fazer música. Na versão do norte-americano Lonnie Donegan, Rock Island Line, composta pelo blues man Lead Belly tornou-se um skiffle, estilo que, diz Philip Norman, "oferecia aos adolescentes britânicos tudo o que há de mais romântico nos EUA — trens de carga, gangues, Nova Orleans — com uma batida frenética tão inebriante quanto a do rock'n roll, mas livre de tumulto e vandalismo" (as sessões do filme Rock Around the Clock com Bill Haley e seus Cometas acabavam inevitavelmente em quebra-quebra e os discos de Elvis eram proibidos de tocar na BBC).
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