13 de junho de 2013

Escrito hoje cedo

Sabe aquela história que, vendo um copo com água até o meio, tem gente que acha que o copo está "metade cheio" e tem gente que acha "metade vazio"?

Essa parabolazinha não quer dizer que tudo é relativo. Quer dizer que mudando o ponto de vista o objeto fica igual, mas muda... o ponto de vista.

Tudo é relativo, mas só à nossa pretensão narcisista. Do ponto de vista absoluto do Narciso, qualquer coisa pode se transformar em qualquer outra coisa. Todas, no fim, acabam ficando com a nossa cara. Ou, dito de outra forma: não há um fato e sua interpretação. Há várias maneiras de contar uma história.

O exercício da escuta é um exercício difícil. O exercício da escuta pressupõe considerar que o outro  mereça ser escutado. Não é fácil considerar o outro.

Em dias como hoje, em que milhares de pessoas saíram às ruas e deram com a greve de trens e que outras milhares comparecerão às ruas para se manifestar é indispensável preparar os ouvidos. Tudo bem se cada lado da disputa ficar bem sinalizado, se cada um desempenhar com convicção o papel que escolheu. É muito saudável cada um cuidar, com todo o carinho, de seus próprios interesses. Defender, em alto e bom som, seus interesses. Ajuda a esclarecer. A descer do muro. Ninguém precisa defender o meu interesse, eu mesmo posso cuidar disso.

Não pode esquecer que lá na muvuca, no meio da multidão, na plataforma esperando o trem ou na frente do Municipal, não tem dois lados, tem uma multiplicidade de lados. E eles não estão todos bem definidos. Fora da muvuca tem mais um outro monte de lados. Descendo o porrete na rapaziada mais outro ainda.

Interesse, a palavra, vem de "estar entre", "inter-esse", aquilo que faz a interface ligando o que eu quero e o que o outro quer. É diferente do que eu quero, simplesmente. É o que eu quero diante do que o outro quer, aquilo que precisamos negociar pois está "entre" um e outro.

Essa negociação é sempre provisória. Exige ser atualizada sem cessar. Porque nós não somos pontos fixos no espaço. Nós nos transformamos e, aí, surgem novos pontos de vista.

São Paulo, 13 de Junho de 2013 - 11h30

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Publicado originalmente no Facebook