Saturday, June 24, 2023

24 de junho de 2013

Não vai dar pra dizer que o Fantástico manipulou a cobertura das Manifestações. Matéria longa, espalhada pelo programa inteiro e basicamente correta. Deu, inclusive, maior destaque à faceta pacífica das passeatas, relegando para segundo plano o vandalismo que, estamos todos de acordo, esteve prejudicialmente superdimensionado nos noticiários.

Mais provável pensar em manipulação na edição vídeo-modernista do TV Folha. Cortes rápidos, imagens em grande angular, edição subvertendo a ordem cronológica dos fatos, música contemporânea na trilha garantiram um clima "expressionista" que deixa difícil captar com clareza o que a Editoria estava tentando dizer.

Cada canal com seu público, o Fantástico tendendo sempre a mostrar o mundo mais louro, ensolarado e vestindo tons suaves, a Folha carregando nas cores, tudo meio contaminado pelos tons das luzes amarelada dos postes, com direito a participação de Giuliana Vallone ainda com os hematomas no olho, gravação do Tom Zé e entrevista com a "Bunda Pintada do PCB" (who?).

Coisa importante a se aprender a partir desses episódios é a velocidade com que os meios de comunicação de massa guinaram de postura a cada viravolta do movimento. Isso comprova o que já deveríamos saber e que é a dependência que esses veículos têm das pesquisas de opinião pública. A manipulação se dá, sem dúvida, mas baseada no que os centros de informação indicam como preferências de faixas da população.

O perfil de classe média escolarizada dos manifestantes ficou muito visível nas ruas e agora as estatísticas reforçam: 77% dos participantes têm ou estão cursando o Ensino Superior. Essa parcela da população é a referência para o consumo. É uma parcela da população que a Indústria Cultural leva extremamente a sério.

A cobertura do Fantástico e do TV Folha refletem o público que os assiste. Ambos, pelo menos simbolicamente, identificados com os valores de classe média escolarizada.

Este, um fato fundamental para os acontecimentos de junho de 2013 no Brasil. Presenciamos um grande levante da classe média que vai à escola e que se mostrou profunda e abrangentemente descontente. O que isso significa, ainda não se sabe. Os jornais deste domingo usaram, mais de uma vez, o termo "enigma" para descrever o que se está tentando descrever.

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Publicado originalmente no Facebook

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