26 de junho de 2020
Volto a insistir. Temos contribuído para a naturalização do genocídio ao repetirmos os números oficiais da Covid-19. São pelo menos 5 vezes mais os infectados, no mínimo o dobro de óbitos. Os jornais apontam desde março que pessoas vêm morrendo por insuficiência respiratória em quantidades alarmantes. Os sepultamentos aumentaram drasticamente se comparados aos anos anteriores. A diferença entre passado e presente é o coronavírus. Informações mais q suficientes para epidemiologistas, infectologistas, sanitaristas, todo tipo de profissional da saúde e, mais do que ninguém, gestores dos três níveis da Federação saberem o q é imperativo fazer.
Insisto. É falso dizer q a reabertura da vida em comum em todos os lugares esteja sendo tocada desprezando 'critérios de razoabilidade'. O q se vê, ao contrário, são critérios muito claros, porém inaceitáveis. A discussão é outra. Os trabalhadores estarão expostos por tempo indeterminado ao contágio, enquanto as classes abastadas têm à disposição variados meios de se proteger. Na verdade, não vai haver qualquer mudança. Este quadro está pintado assim desde o dia 01 da quarentena. Houve apenas o tempo da epidemia viajar do Centro para as periferias e das capitais para o interior.
Digo de novo. Não existiu jamais qualquer alternativa fora do poder público para resolver problema de tamanha envergadura. O grande responsável, o genocida mór, chama-se Jair Bolsonaro. Ele é o mentor da sabotagem, o protagonista da carnificina. Assumiu o posto quando impediu q o orçamento incluísse as medidas de socorro à população. O discurso amalucado, os passeios e as lives contribuem para o estado de confusão mental em q o país se encontra. Mas, antes, e pior: Bolsonaro não deixou q o dinheiro chegasse às mãos de quem dependia dele.
E... governadores e prefeitos se beneficiaram da estratégia shock and awe permanente do tresloucado do Planalto. São Paulo, Dória e Covas seguiram à risca os critérios de razoabilidade q protegem a parte da sociedade brasileira q vive em padrões europeus. Nas periferias morrem de causas violentas, doenças associadas à pobreza, ou acidentes de trânsito, pelo menos 80 mil pessoas por ano. A Covid-19 não é o 'novo normal'. É o mesmo normal. Dobrado. Mas com hora pra acabar. Ao contrário das estatísticas q citei. Essas vêm se repetindo, sem melhoras, há décadas. Taí o cálculo. A tal da necropolítica q o Silvio Almeida falou. Quem vive. Quem morre. Mapeado. Discriminado na planilha. A planilha foi atualizada. Mas é a mesma desde os tempos do COBOL.
Torno a repetir. Em nenhum momento o poder público esteve 'no escuro', ou 'às cegas'. Os alarmes já haviam soado no mês do Carnaval. O SUS, fazendo jus ao nome de 'sistema' que carrega, tem sido o grande balizador da nossa tragédia. Alertou, previu, planejou, socorreu... O poder público foi quem manipulou a favor de si e do capital os dados disponíveis. Deixou o SUS trabalhar. E a partir daí optou pelo q lhe é mais conveniente.
A conta do genocídio está no colo de Jair Bolsonaro. Municípios e estados, salvo exceções, deixam de cumprir em grande parte suas obrigações de proteção à vida pois se sentem seguros. Não serão cobrados pela parte q lhes cabe. E este ainda é um ano eleitoral.
A sociedade, essa estranha abstração, assimila a 'proposta'. Parece natural q o primeiro programa de distribuição de cestas básicas tenha sido votado em primeira instância (ainda não está definitivamente aprovado) pelos deputados paulistas há apenas UMA semana. Não causa indignação não ter circulado um mísero Avaaz exigindo q Bruno Covas determine o urgentíssimo lockdown.
Loucura? Confusão? Não. É método. Norma. Tem grande 'razoabilidade'. Mas uma razão cínica.
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