Friday, September 08, 2023

8 de setembro de 2019

DEPOIMENTO

No dia em que Dilma, consumado o Golpe, desceu a rampa do Planalto, Lula, ao seu lado, chorava copiosamente. Chorava como quem pranteasse uma perda irreversível. Quem sou eu, pensei, para acreditar que algo ainda pode ser feito, se o maior líder da História do Brasil dá sinais de que a derrota é total? Escrevi um post dizendo: 'jogo a toalha'. E me recolhi como não havia feito desde o dia 17 de julho de 2013.

Essa postura durou até a noite em que Lula se entregou à Polícia Federal e foi levado para Curitiba. Ali, a mensagem que acreditei estar sendo passada pelo ex-presidente era: - Não se enganem. O momento para cessar o enfrentamento é nunca! E retomei minha sempre modesta militância digital.

De lá para cá, quase tudo que se alterou foi para pior. Se no dia em que o Senado aprovou o impeachment o governo popular eleito 4 vezes de forma legítima estava 'cercado' e 'impossibilitado de reação', hoje temos toda a institucionalidade transpassada pela força bruta de uma extrema-direita capaz de ruborizar figuras como Piñera e Le Pen. Seria um cerco 'de dentro pra fora', se é que isso é possível.

No presente, o campo popular está alijado da disputa. A correlação de forças que era, temos agora provas, desigual, evoluiu para a distopia.

Lula chorou, talvez, de cara pro intransponível. Assumiu, depois, para si a tarefa de organizar a resistência viável. Alargar os horizontes do possível. Dimensionar o que havia, há, pode haver, ao alcance.

Nós nos configuramos, assim, e aí podemos incluir o próprio Lula, como a água mole que bate na pedra dura. Quem tem força para remover a montanha não somos nós, muito menos a nossa vontade, menos ainda nossa fé.

Tal como aconteceu com o fim da Ditadura de 1964, as alterações mais imediatas (e elas virão, não há dúvida) serão decididas pelos altos escalões. Num grande acordo nacional.

Lula, o mestre das frestas e das oportunidades e, mais que tudo, um sobrevivente num dos países mais desiguais do Planeta Terra, ensina que a vida é luta. Que a força bruta, principalmente a do dinheiro, capaz de comprar vastos contingentes, cria a ilusão de potência. Mas não é, de verdade, potência. Potência só se consegue aglutinando gente. Dividindo o poder com elas. E de gente esse bando de velhos abrutalhados não entende nada. Dividir, então!... Nem têm na calculadora!

Deixo ao fim desse depoimento, três Rosas:

'A vida é feita de poucas certezas e muitos dar-se um jeito'.

'Quem mói no asp'ro, não fantaseia'.

'Quem elegeu a busca, não pode recusar a travessia'.

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