19 de novembro de 2019
Começou a passar o trailer do novo documentário sobre o impeachment da Dilma onde aparece o Carlos Marun dizendo que se a acusação contra a presidenta fosse ter 'roubado um picolé' ele teria votado contra ela da mesma maneira. Dias atrás prenderam o Joesley de novo por causa de delações requentadas que o acusam de financiar a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara. Vejamos: se os deputados foram comprados, nada teria evitado a eleição do Cunha (a esquerda continua até hoje botando a culpa na má influência do Aloizio Mercadante). A eleição do Cunha, por sua vez, tinha o compromisso de travar o governo da Dilma. Missão dada é missão cumprida, travou (mas a esquerda continua botando a culpa na escolha do Joaquim Levy). Chegado o momento do impeachment, mais dinheiro foi enviado para comprar votos de deputados e senadores (essa culpa, a do impeachment ter dado certo, para a esquerda, é do José Eduardo Cardozo). Temer manteve-se no poder mesmo com 3% de popularidade porque, mais uma vez, comprou o Congresso. Bolsonaro foi eleito disparando toneladas de mensagens pelo WhatsApp que custavam até 12 milhões o 'pacote'. De onde saiu todo esse dinheiro? Se não do bolso de gente muito rica? Essa é a explicação! Acabo de ler a entrevista que Paulo Arantes deu para o Brasil de Fato, uma entrevista confusa, cheia de contradições internas e hipóteses não testadas, mas que tem a seguinte passagem:
"A encrenca brasileira é essa: abriu-se a porteira da absoluta ingovernabilidade no Brasil. É o que ficou claro na greve dos caminhoneiros, quando os militares se apavoraram, porque viram que não tinham um efetivo para controlar aquilo, as milícias tomaram conta em boa parte e o conflito para onde vai a conta, ficou migrando. Não há mais nenhum tipo de acordo de concertação social entre as várias categorias sociais, empresários, bancos, agronegócio… Não há mais acordo possível. Ficou claro isso nos últimos cinco anos. Tanto é que ocorreu o impeachment, que era absolutamente desnecessário.
Havia a possibilidade de um rearranjo da casa, como foi no fim da ditadura, para o campo que pode ser chamado de democrático, que vai da extrema esquerda até a centro direita, e repactuarmos alguma coisa depois nos moldes da Constituição de 1988. Como foi no fim da ditadura. Mas o que nós temos agora é um comportamento destrutivo da classe dominante brasileira que está apostando todas as fichas em tirar sua castanha do fogo com o braço da delinquência fascista. Ferre-se o resto. E isso é realmente o inacreditável. Houve várias chances de acordo desde que se instaurou a crise da Era Lulista. Mas eles resolveram puxar o tapete, fazer o impeachment e abrir a porteira do inferno. Um caos político e social".
É cristalino: a ingovernabilidade é a estratégia (mais do que um 'comportamento') destrutiva da classe dominante (e de ninguém mais) para vedar o crescimento de qualquer projeto do 'campo democrático'. Caos político e social. 'Inacreditável', como define o professor Arantes e, no entanto, absolutamente real.
A esquerda assiste a tudo isso atônita e insiste em 'explicar' a crise, as derrotas pontuais, os ataques, colocando-se como um player que disputa em iguais condições frente aos adversários. Auto-engano, ingenuidade, pretensão. Tínhamos, é verdade, a presidência da República e o maior líder popular da História do país. Ambos foram nocauteados. E todo esse processo foi pago pelo andar de cima. É um golpe. Trata-se de um golpe. Inequivocamente golpe. "Ferre-se o resto".
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