20 de novembro de 2016
O mundo, de maneira nenhuma, nem nunca, corresponde à binariedade do Facebook. Pão, pão, queijo, queijo, aquilo e não aquilo outro, macho, fêmea, claro, escuro, isso apenas não existe. Durante 3 anos, todos os dias, sem faltar um único sequer, li e postei procurando escolher uma perspectiva - e não duas - sobre as pautas que a rede apresentou. Não se tratou de "achatar" a realidade, ignorando os múltiplos planos que inevitavelmente a compõem. Foi o esforço de adotar um ponto de vista para ser visto. Em política, vale a posição que se assume. Não há espaço, na política, para o "que se tem em mente". A mente é lugar do incomunicável, do íntimo que não se acessa. A política, ao contrário, é das praças, do público. E só a posição que se assume traduz o íntimo do "actante" político. Todas as vezes que me meti a tirar chinfra de dialético, o Facebook trouxe, na mesma hora, alguém pra pegar um dos elementos da antítese proposta, eleger como o "meu equívoco" e, ato contínuo, abduzir o debate para um dos dois pólos e matar a análise. 'Dia' de dialética, é o mesmo 'dia' de diálogo e diabo. O amigo inconveniente, no entanto, é que estava certo. Política não é análise. Mas, divago.
Assumir a posição inegociável de "dilmista", que é o que eu vinha dizendo, tomei como principal atitude desde as Jornadas de Junho de 2013, foi o modo de comunicar que, entre todas as facetas do cubo mágico insolúvel da conjuntura Brasil, aquela - e não outra - era a que eu escolhi como a melhor. O lugar unívoco, não ambíguo, é o corolário da política. Pois a política é a invenção humana que institui a presença do outro. Fora da política, o outro é o bárbaro. É o invasor. A política, enquanto espaço de disputa, legitima a existência do outro. Instaura o respeito. Por tudo isso, desmisturar é fundamental para a prática política. O mundo permanece dialético. Contraditório. Irredutível ao "um". A política não muda o mundo. A política estabelece consensos transitórios. Tensos porque fugazes.
Houve, no entanto, uma mudança. Nosso mínimo arcabouço institucional voltou ao pó de onde viera. As pequenas conquistas derivadas do frágil pacto advindo da Constituição Cidadã de 1988 estão, Deus queira momentaneamente, suspensas. Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína. Por isso, tudo que não seja o pasmo, hoje soa, a meus ouvidos, farsa. Hashtags me dão no saco. Previsões, mesmo as mais obviamente apocalípticas, parecem negacionismo. O que prever, diante do caos? Como assumir posição em terreno movediço? Como "tocar a bola pra frente", se as regras do jogo foram abolidas?
Poderia esticar esse textão até transformá-lo na diatribe mais inócua de todos os meus domingos ensolarados lá fora, mas não há mais nada que eu tenha a dizer a mais. Nenhuma "chave de ouro", frase bacana, conclusão, nem pós-vendas. É aqui, no lugar suspenso dos apalermados, que me encontro. Quer dizer, perdido.
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